quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Netanyahu e a colonização de ocupação

11-17/11/2010, Khaled Amayreh (de Ramállah), Al-Ahram Weekly, Cairo: Netanyahu: champion of settlers
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Nem bem o primeiro-ministro de Israel Binyamin Netanyahu desembarcou nos EUA essa semana, o governo de Israel anunciou planos para construir 1.300 novas casas exclusivas para colonos judeus na Cisjordânia ocupada.

O novo plano – somado aos demais vários planos para implantar talvez dezenas de milhares de novas unidades residenciais – consuma a decapitação de qualquer esperança que ainda restasse de qualquer tipo de acordo de paz entre Israel e uma impotente e isolada Autoridade Palestina (AP).

A maior parte das novas casas será construída na colônia Har Homa na região de Belém-Beit Sahur e em outras colônias exclusivas para judeus dentro ou em torno de Jerusalém Leste. A colônia de Har Homa (em árabe, Jabal Ab Ghuneim) foi criada – apesar da grita internacional há cerca de 20 anos – com o objetivo de isolar de Jerusalém Leste os palestinos do Sul da Cisjordânia.

A própria Jerusalém Leste já está ocupada por dúzias de colônias, que tornam a ideia de um Estado palestino cada vez mais inviável. Revelou-se, semana passada, que o governo israelense já está organizando grupos de colonos para construir mais 238 apartamentos em Jerusalém Leste. A revelação coincidiu com outra, feita por ativistas dos movimentos pela paz, de que o governo de Israel, em ação coordenada com grupos de colonos judeus, falsifica regularmente títulos de propriedade de terras e outros documentos, para confiscar propriedades de árabes na cidade ocupada.

O plano para nova expansão nas colônias é evidência da indiferença com que o governo de Israel encara o processo de paz. Também é evidência de até que ponto os israelenses serão capazes de ir, em claro desafio aos esforços desesperados do governo Obama, que ainda tenta remendar o já precário processo de paz, na esperança de obter "qualquer coisa" antes do fim do mandato.

O governo Obama, ainda no rescaldo da derrota eleitoral de 2/11, criticou o plano de novas construções nas colônias e declarou-se “profundamente desapontado”. "[O anúncio de novas construções] é contraproducente e mina nossos esforços para que os dois lados retomem as negociações diretas", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Phillip J Cowley. “Temos pedido que os dois lados evitem atos que gerem desconfiança, inclusive em Jerusalém, e continuaremos trabalhando para que as conversações diretas sejam retomadas, para que se chegue a um acordo nessas e noutras questões de definição”.

Mas a reação pareceu mais manifestação de incômodo diplomático, do que tentativa de acalmar os palestinos ou, menos ainda, indicação de que o governo Obama esteja disposto a tomar alguma atitude mais firme contra os israelenses. De fato, o governo Obama só fez garantir a Netanyahu, por vários meios, que Washington não cogita de tomar qualquer medida para dissociar-se do projeto israelense para expandir as construções na Cisjordânia, e que o premier israelense não tem, de fato, motivo para preocupações.

O vice-presidente Joe Biden, por exemplo, disse a Netanyahu que quaisquer diferenças que haja entre Israel e os EUA na questão das colônias em território palestino, são diferenças de tática, que de modo algum abalarão as indestrutíveis relações que unem os dois aliados. Biden disse a Netanyahu, como vários jornais noticiaram, que as relações entre Israel e EUA continuariam intocadas, "apesar" das diferentes ideias sobre novas colônias. "Nossas relações permanecem literalmente inabaláveis".

Por ironia, as únicas críticas que Netanyahu recebeu contra sua política anti-paz na Cisjordânia vieram de membros da comunidade de judeus norte-americanos, que parecem estar perdendo a paciência com a eterna política, praticada pelos israelenses, de usar os judeus norte-americanos e o destaque que têm na política interna dos EUA, para promover o racismo, o fascismo e a expansão das colônias na Palestina ocupada, à custa do fracasso do processo de paz. Durante discurso na Assembleia Geral da Federação Judia em New Orleans, na 2a-feira, Netanyahu foi várias vezes vaiado pela plateia.

Segundo a imprensa israelense, o primeiro incidente aconteceu logo ao início do discurso, quando alguém interrompeu Netanyahu aos gritos de “O juramento de lealdade deslegitima Israel!”. Outros gritaram slogans contra a ocupação de terras palestinas e contra atos de selvageria praticados por colonos judeus na Cisjordânia. Netanyahu respondeu com cinismo. Disse que tinha esperanças de que “discussões sem precondições” com os palestinos levariam a um acordo de paz em, no máximo, um ano.

O premier israelense ignorou as dezenas de milhares de moradias exclusivas para colonos judeus construídas ilegalmente nos territórios palestinos ocupados e as centenas de milhares de judeus que vários governos israelenses sempre deslocaram para a Cisjordânia para ocuparem terras pertencentes aos palestinos. De fato, em lugar de cuidar das verdadeiras dificuldades geradas pela expansão das colônias contra um já moribundo processo de paz, Netanyahu dedicou-se quase exclusivamente ao que chamou de “ameaça iraniana” e exigiu que os EUA recorram ao uso de força militar para obrigar os iranianos a suspender seu "programa nuclear".

Israel é o único país do Oriente Médio que todo o mundo suspeita que armazene bombas atômicas.

Por sua vez, os funcionários da Autoridade Palestina nada fazem além de repetir obviedades sobre as dificuldades que a política de colonização israelense cria para o processo de paz. Em sua mais recente declaração, o presidente da AP, Máhmude Abbás, disse que se falará na hora certa. Quando? Ninguém sabe. Abbas e seus ministros estão sendo responsabilizados pelo governo Obama por não terem conseguido convencer Israel a suspender as construções na Cisjordânia. A popularidade de Abbas – como o processo de paz – está em ruínas.

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