* José Flávio Abelha
O inesquecível líder sindical Zacharias Roque, a quem tive a honra de assessorar, pobre, negro, de pouquíssimas letras, era um gênio em comunicação e de uma sabedoria ímpar, a sabedoria do povo. Foi cassado pela ditadura instalada em 64, não foi preso nem molestado e morreu sem saber o motivo da arbitrariedade.
Era um fraseador como poucos. Filósofo sem saber; ensinava através de frases curtas.
Aprendi com ele uma lição que me deu consistência política para ver e entender circunstâncias, os bastidores, e, acima de tudo, confiar desconfiando.
A frase é emblemática, altamente significativa: ATRÁS DE MORRO TEM MORRO.
Na prática, o pequeno morro da prainha na minha restinga esconde o Pão de Açúcar, mais alto algumas dezenas de vezes, e este esconde o Cristo Redentor, mais alto ainda.
A fumaça dos fogos dos comícios eleitorais, embaciando nossos olhos durante este ano, não nos deixou ver muitos assuntos que estão ficando esquecidos, quando não, jogados à margem da estrada, para depois, como Fênix, ressurgirem das cinzas e alguém, tonitruante, dizer que não se tomou conhecimento porque ninguém quis ouvir.
Em paralelo às mentiras assacadas contra a agora eleita Presidenta da República, navegaram em mar de almirante algumas notícias e fatos.
Certa manhã apresentaram ao Presidente Lula o CARRO VERDE. A salvação da lavoura ecológica. Pensei numa engenhoca toda feita de ar que a ciência conseguiu comprimir para transformar-se em peças sólidas. Ledo engano.
O chamado CARRO VERDE é de aço, ou alumínio ou pior, de plástico. Se não for de madeira. Nada que não polua.
O combustível, esse é o pulo do gato: gasolina e eletricidade. A gasolina, o mundo sabe que é um sub produto do petróleo, que os ecologistas desejam banir deste mundão. Poderia ser de álcool, que polui muito menos, mas é coisa nossa, brasileira, a nossa resposta às outrora 7 irmãs. A eletricidade, então, é o nó górdio “empecilho aparentemente insuperável; dificuldade que parece não ter solução” (Fui ao Houaiss).
O CARRO VERDE, feito de metal, pneus não mais do leite das seringueiras e sim do poluidor petróleo, o combustível líquido, a velha e poluidora gasolina, e a eletricidade, o grande engodo.
Aqui no Brasil a energia seria hidráulica, mas existem os bagres e pererecas que, certamente, vão impedir novas hidroelétricas para fornecer tamanha demanda.
Nos EUA boa parte da energia é gerada na maior fonte de poluição do mundo, o carvão, na França, a energia nuclear, restando, para um futuro remotíssimo, os velhos cata-ventos, agora chamados de energia eólica, e mais o que os verdes e nossos amigos tentarem inventar para destruir a nossa grande descoberta e que estamos ensinando aos países pouco desenvolvidos, o álcool.
Curioso é que não ouvi falar no óleo e na graxa, que o Brasil já fabrica com inúmeras oleaginosas, mamona, palma e não sei mais quantas dezenas de fontes RENOVÁVEIS, pois temos os quatro elementos necessários à produção dos combustíveis: água, terra, sol e braços, tudo em abundância.
Realmente não sei que CARRO VERDE é esse, que novidade é essa que já roda em Belo Horizonte faz um tempão e que foi experimentado, também em Minas Gerais, pelo Exército, nos idos da década de 40.
Leitoras e leitores, lembrai-vos de Zacharias Roque: atrás de morro tem morro.
Na campanha eleitoral que se encerrou a 31 de outubro nunca se viu tanta mentira ser publicada na chamada grande mídia.
Jornalões, rádios e revistas das poucas famílias que dominam o mercado, pautaram a campanha. Descaradamente um grupo de políticos deu entrada no STF, se não estou enganado, com um recurso contra um grupo contrário, baseado tão e simplesmente em recortes de jornais. Tentativa de pautar o Supremo. Avoluma-se agora a discussão sobre um código de ética, ou coisa parecida, para jornalistas.
De um lado, uma gritaria geral, do outro, aplausos, visto que alguns jornalistas estão perdendo a compostura em nome da liberdade de imprensa, tal qual existe nos EUA principalmente.
Acontece que lá os gringos agem com liberdade, aqui no Brasil alguns vão além e resvalam para a libertinagem entendida como insubmissão, indisciplina, indecência e sem-vegonhez aos mais comezinhos princípios da ética e respeito, aos leitores e às verdadeiras vítimas de tanto descaramento.
A Folha publicou uma ficha policial da candidata Dilma. Vendo que ultrapassara todos os limites da ética jornalística, pois o documento era falso, desmentiu e PT saudações.
Acontece que TODOS os simpatizantes do candidato Serra divulgaram a ficha, à exaustão. Qual teria sido a providência de um jornal sério? Alertar, também à exaustão, que divulgara uma ficha falsa e que ela estava sendo usada indevidamente. Mas isso não aconteceu. Ou seja, eu publico, desminto e vocês façam o que bem entenderem.
A gritaria contra o possível código de ética ou coisa parecida está se alastrando.
A causa?
Lembrem-se da lição de Zacharias Roque: Atrás de morro tem morro.
E muito mais ficou sem que o povo soubesse, tomasse conhecimento.
Dizem que tudo se baseia na 5ª Emenda da Constituição dos EUA, aquela mesma Constituição que proibia transportar porco morto de cabeça para baixo, quando entrou em vigor.
*Mineiro, autor de A MINEIRICE e outros livretes, reside na Restinga de Piratininga/Niterói, onde é Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltd. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar.
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