20/11/2010, Franklin Lamb, Al-Manar, Beirute
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
“Empurramos esses [apagado] para onde queremos que fiquem, Maura! Agora, assista, enquanto fatiamos o Hezbollah em mil pedaços. Quem pensam que são? Usaremos a [Resolução do Conselho de Segurança da ONU n.] 1.757 e, dessa vez, acabaremos o serviço. Disse a Israel para ficar longe do Líbano, porque o exército de Israel não pode derrotar o Hezbollah e incendiariam toda a região. Vou cuidar disso. Será meu presente de Natal ao Líbano” – disse Jeffrey Feltman em conversa com sua ex-assessora e hoje embaixadora dos EUA no Líbano Maura Connelly, em visita dia 17/10/2010 ao deputado Walid Jumblatt em sua casa.
Dia 12/12/2008, Naharnet.com noticiou que “o ex-embaixador Jeffrey Feltman dos EUA entregou ao primeiro-ministro Fuad Siniora o que o diplomata norte-americano descreveu como seu presente pessoal de Natal ao Líbano. Mr. Feltman garantiu ao primeiro-ministro Siniora que forçará Israel a retirar-se da vila de Ghajar antes do final de 2008.”
De fato, nem o primeiro-ministro Fuad Siniora nem o Líbano jamais receberam o prometido presente para o Natal de 2008, e as tropas e tanques de Israel continuam na cidade libanesa de Ghajar, apesar da crescente pressão para por fim à ocupação do norte de Ghajar, que, em clara violação do que dispõe a Resolução UNSCR 1.701, Israel invadiu em julho de 2006 e de onde, desde então, recusa-se a sair.
Em 2010, nesse final de ano, Jeff volta ao tema do Papai Noel. Outra vez está garantindo aos seus aliados libaneses que o bom velhinho lhes trará de presente a cabeça do Hezbollah, para adornar a árvore de Natal. O motivo de tanto otimismo é que EUA e Israel estão convencidos de que conseguirão, com a Resolução n. 1.757, o que tentaram, mas não conseguiram com a Resolução n. 1.559 – que visava a tirar da Resistência Libanesa as suas armas de defesa. Dia 11/11, o vice-premier e ministro do Desenvolvimento Regional de Israel Silvan Shalom previu que “depois de condenado pelo Tribunal Especial da ONU para o Líbano, o Hezbollah será obrigado a cumprir o que determina a Resolução n. 1.559. Desarmado o Hezbollah, assistiremos ao colapso da aliança Síria-Líbano-Irã-Turquia”.
O grande troféu seria Hasan Nasrallah
Pelo que já se sabe, o novo projeto de EUA-Israel foi elaborado a partir de modelos estratégicos que, dentre outros pressupostos, assumem que vários membros do Hezbollah, inclusive provavelmente também o secretário-geral Hassan Nasrallah, serão indiciados, julgados e condenados, in absentia é claro, por envolvimento no assassinado, dia 14/2/2005, do primeiro-ministro libanês Rafiq Hariri.
O gabinete do Conselheiro Jurídico do Departamento de Estado dos EUA tem repetido vaidosamente, na Casa Branca, que essas novas possibilidades são produto da insistência daquele departamento, em 2005, para que se instituísse um Tribunal Especial para o Líbano nos termos do Cap. 7º da Carta da ONU. Esse Cap. 7º autoriza uso de força armada internacional ilimitada para fazer cumprir sentenças de Tribunais Especiais, no caso, do Tribunal Especial para o Líbano.
Israel, violador serial de leis internacionais – inclusive de mais de 60 Resoluções da ONU – também não tem perdido ocasião de proclamar seu apoio integral às decisões do Tribunal. Já declarou que as mais conceituadas bancas de advogados do mundo podem ser mobilizadas a qualquer momento para assessorar o trabalho da acusação no Tribunal Especial para o Líbano comandada por Daniel Bellemare do Canadá.
Poucas horas depois de Israel ter dado instruções à secretária de Estado Clinton, no sentido de que ninguém teria o que temer, porque não haveria meios para deter o Tribunal ou evitar que a sentença condenasse o Hezbollah, bastando para tanto que os EUA garantissem meios financeiros para o funcionamento do Tribunal, a Casa Branca anunciou dotação extra de 10 milhões de dólares e conseguiu que a Grã-Bretanha acrescentasse mais 1,8 milhão. Ainda se espera a contribuição da França. Hoje, o Tribunal Especial do Líbano está bem suprido de dinheiro e assim continuará até a conclusão dos trabalhos.
Conforme declarações obtidas em entrevistas com dois altos funcionários do Gabinete da Procuradoria do Tribunal Especial do Líbano, confirmadas por declarações oficiais de funcionários do governo norte-americano, há boas razões para acreditar que Jeffrey Feltman e Silvan Shalom farão o que for preciso para “acabar o serviço”. Os dois governos têm repetido que o Tribunal Especial do Líbano é legítimo nos termos da legislação internacional, uma vez que foi instituído por Resolução do Conselho de Segurança, fundamentada no disposto no Cap. 7º da Carta da ONU e nos princípios constitucionais do Líbano, ao contrário de tudo que o Hezbollah e os inimigos do Tribunal têm declarado.
Segundo um dos advogados do Departamento de Estado dos EUA, “Se o Tribunal Especial para o Líbano indiciar e condenar um único membro do Hezbollah, nós ganhamos. Um motorista, um menino de recados, não faz diferença. Isso feito, o Conselho de Segurança tem vários meios para paralisar o Hezbollah. Por exemplo: se aplicarem sanções econômicas ao estilo das que se aplicaram contra o Irã, mas contra o Líbano, para perdurarem até que o Hezbollah entregue os condenados? Os libaneses só pensam em dinheiro. Com essas várias seitas matando-se umas às outras, em pouco tempo o país estará dividido; o passo seguinte será a guerra civil. Se, além disso, racionarmos a comida deles e forem obrigados fazer dieta... E se se aplicarem sanções contra a Síria? Restará a EUA e Israel só o trabalho de varrer os cacos e fazer o que já deveríamos ter feito há meio século: instalar por aqui governos que realmente entendam as realidades regionais e internacionais.”
Telavive e Washington consideram fúteis os esforços de Hezbollah e Síria para impedir que prossigam os trabalhos do Tribunal Especial para o Líbano, porque entendem que a opinião do Líbano sobre o TEL não seria relevante. O Tribunal foi instituído pelo Conselho de Segurança da ONU e nada que o Parlamento, o Gabinete ou o povo libanês tenham a dizer terá qualquer efeito. O Líbano só continuaria a aparecer na fotografia como a cena do crime. E porque alguns dos suspeitos vivem no Líbano. Exceto por isso, o Líbano é considerado completamente irrelevante no trabalho do TEL.
Assessor do Congresso dos EUA já disse que “usaremos todas as ferramentas e meios, intimidação e outros meios com que a comunidade internacional conta para destruir o Hezbollah. Na próxima etapa, nem se verá grande envolvimento dos EUA e de Israel. Apenas assistiremos ao jogo das arquibancadas. Caberá à ONU tomar e fazer valer todas as decisões legais e políticas para prender todos os que sejam julgados e condenados. Aí está o xis da questão, e motivo pelo qual o Hezbollah está muito, muito preocupado. Se não está, deveria estar.”
Outro assessor do mesmo gabinete acrescentou, em mensagem por e-mail: “Está bem claro: o TEL é o instrumento legal internacional perfeito para destruir o Hezbollah, derrubar o governo na Síria, criar conflitos insolúveis entre sunitas e xiitas por toda a Região, provocar uma guerra civil no Líbano e derrubar os Mulás no Irã. Será como se Cheney continuasse no comando.”
Depois das condenações pelo TEL, dado por garantido que incluirão membros do Hezbollah, fontes em Washington contam com que Israel lance a mais massiva e cara campanha de propaganda pela mídia internacional, de difamação do Hezbollah, da Síria e do Irã, campanha à qual se unirá o governo dos EUA e de alguns de seus aliados europeus, além da sempre aproveitável Micronésia.
O objetivo da campanha será unir a opinião pública mundial contra os supostos assassinos xiitas de um primeiro-ministro sunita. Mais de uma dúzia de projetos conjuntos de EUA-Israel que fracassaram no Líbano na última década, desde a base aérea em Kleiat a tumultos de rua para encobrir ações de sabotagem dos cabos de fibra ótica das telecomunicações, poderão voltar a ser tentados, depois que receberem o sinal verde da lei internacional e o aval de plena legitimidade do Conselho de Segurança da ONU.
O projeto inclui reforçar as ameaças públicas de que Israel está pronto para atacar o Líbano, apesar de o Pentágono saber que Israel não tem condições de enfrentar o Hezbollah libanês e dificilmente voltará a tê-las, dentre outros fatores porque a opinião pública regional e internacional já se manifesta contra qualquer nova agressão que parta de Israel.
Segundo o Deputado Kamel al-Rifai, do Bloco Parlamentar Lealdade à Resistência, o vice-secretário de Estado dos EUA para Assuntos do Oriente Próximo Jeffrey Feltman, o ministro das Relações Exteriores da França Bernard Kouchner, e o senador John Kerry dos EUA informaram o governo do Líbano, em recente visita a Beirute, que há risco real e iminente de Israel atacar o Líbano. Al-Rifai disse ao jornal Asharq al-Awsat, dia 15/11/2010, que o Hezbollah já tem informações de que o governo dos EUA liberou Israel para agir como melhor lhe parecer em relação ao Líbano. O Deputado al-Rifai disse também que a mesma mensagem foi passada também ao governo da Síria.
Por todas essas razões, o Tribunal Especial para o Líbano está sendo considerado como oportunidade extraordinariamente favorável para que EUA e Israel retomem o controle na Região. Na campanha de propaganda pela mídia, os ataques serão centrados contra Sayed Nasrallah – que EUA e Israel temem, porque vêem nele, simultaneamente, um líder político de prestígio e estatura semelhantes aos de Nasser e, ao mesmo tempo, um líder muçulmano que inspira respeito em todo o globo.
Sayed Nasrallah é visto como líder político com potencial para unificar as muitas cisões entre xiitas e sunitas – por isso, precisamente, Washington e Telavive consideram-no extremamente perigoso.
O que pensa o Hezbollah
Dia 11/11/2010, o secretário-geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah falou sobre o Tribunal Especial para o Líbano,
“O Tribunal Especial para o Líbano foi criado para acusar xiitas pelo assassinato do mais importante líder sunita da Região; em seguida, o TEL deve condená-los e expedir mandato de prisão. Pedirão então ao governo do Líbano, que tem acordos firmados com os EUA para esses casos, que prendam os condenados. Para prendê-los, o exército libanês terá de enviar soldados e forças de segurança contra a Resistência. Assim, nossos inimigos contam com provocar uma guerra civil no Líbano.”
E Nasrallah continuou:
“Em linhas gerais, o plano é esse. Nem os EUA, nem a entidade sionista e os financiadores do TEL têm qualquer preocupação com o que aconteça ou possa acontecer ao Líbano. O Líbano em si não é importante. De fato, nem o mártir Hariri, nem os sunitas, nem os xiitas, nem muçulmanos, nem cristãos, nem o Movimento Futuro, nem o Bloco 14 de Março, nem o Bloco 8 de Março, nada disso tem qualquer importância para os EUA. A única coisa que importa aos EUA é “Israel”. E Israel tem muito interessem em ferir a Resistência , em nos eliminar, isolar, enfraquecer. Israel tem interesse, sobretudo, em separar a Resistência de suas legítimas bases populares – por isso, precisa distorcer a imagem da Resistência. As crenças, os princípios morais e o desejo da Resistência têm de ser destruídos. Por isso construíram esse plano: pensando em forçar a Resistência a render-se.”
Pouco depois, outro deputado do Hezbollah no Parlamento libanês, Nawaf Mousawi, falou diretamente à mídia:
“O Partido da Resistência está preparado para todos os cenários. Nada que façam ou tentem surpreenderá o Hezbollah. Estamos preparados para vários tipos de respostas. A cada alternativa, corresponde um cenário. Se as coisas tomarem o rumo que nos interessa, estamos preparados. Mas se as coisas tomarem rumo que não nos interessa, e falharem todos os nossos esforços para superar a crise criada pelo inimigo, também estamos preparados. Tentem o que tentarem, sempre encontrarão a Resistência preparada e a postos”, disse Mousawi.
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