sexta-feira, 26 de novembro de 2010

[Vila Vudu] Pseudo jornalismo, mais uma vez, no colunismo da Folha de S.Paulo

“He,he,he,he... Como diz o Beto, é muito engraçado...” em Dói o fígado de O Globo
[Em homenagem aos blogueiros independentes e ao presidente Lula]

D. Eliane,

a gente aqui da Vila Vudu não gosta de polícia, nem de jornalistas, nem de americanos, mais ou menos em geral. Os pobres somos cheios de saberes de sobreviventes, ótimos saberes. E nossos muitos saberes de sobreviventes nos ensinaram que polícia, jornalista e americano raramente valem e prestam nem a décima parte do que dizem que valham e prestem.

Mas a gente acha que pode acontecer de polícia, jornalistas e americanos causarem pequeno dano, por pior que seja o indigitado, caso a caso e pessoalmente analisado, se há controle social democrático sobre o que qualquer um deles faça. O importante é que a gente SEMPRE avalia caso a caso, do ponto de vista do interesse da democracia e do NOSSO interesse. E, sempre, cuidando muito para que os nossos saberes de sobreviventes, só de experiência feito, não virem preconceito. Tá cheio de policiais, jornalistas e americanos que nós respeitamos muito.

Mas nunca, jamais, jamais, never, not ever, jamais, alguém aqui da Vila Vudu ouvira falar dessa (1) jornalista e (2) americana de que a senhora fala hoje como se ela fosse um Paul McCartney da luta pela felicidade dos pobres e dos democratas. Contudo, foi só googglearmos a moça, pra descobrir que: 

Roxana Saberi, jornalista free-lancer e ex-Miss Dakota 1997, natural de Fargo, North Dakota (a cidade daquele filme, lindo, Fargo, remember?) foi presa no Irã (onde vivia há seis anos, fazendo pesquisas para um livro sobre o “o povo e a cultura do país” e mandando matérias para o Canal Fox News), no início de 2009, segundo disse à imprensa o pai dela -- depois de falar com a filha já presa, por telefone -- “por ter comprado uma garrafa de vinho”. Foi condenada por espionagem a oito anos de prisão. A sentença foi depois anulada e ela foi solta dia 11/5/2010. 

Dia 19/4/2010, o presidente Mahmoud Ahmadinejad – provavelmente convencido de que jornalista americana que faz pesquisa sobre o povo e a cultura do Irã durante seis anos, no Irã, e, depois de seis anos de pesquisa no Irã ainda achava que poderia entrar no botequim e comprar uma garrafa de vinho, boa pesquisadora não era – escreveu pessoalmente aos juízes que cuidavam do caso da moça, muito civilizada e democraticamente, e ordenou: 

“Encareço a importância de que se observem rigorosamente todos os trâmites legais no processo dessa tal de Roxana Saberi, porque tudo, nesse caso, me cheira a armação, e, depois, vai sobrar é pra mim”. 

Melhor dizendo: isso foi o que o presidente Ahmadinejad PENSOU, aliás, muito sabiamente. O que ele de fato escreveu foi: 

“Encareço a importância de que se observem todos os trâmites legais no processo da jornalista norte-americana Roxana Saberi, de modo a que lhe sejam assegurados todos os direitos legais e humanos e civis de ampla defesa, direitos que devem ser respeitados integralmente e não devem ser nem levemente arranhados”.  

Depois de solta, Saberi publicou um livro (aqueeeele, o das pesquiiiiisas que, depois de seeeete anos, ainda não haviam ensinado à pesquisadora que comprar vinho no Irã é tão proibido quanto comprar heroína em Alegrete, RS): Between Two Worlds: My Life and Captivity in Iran, lançado pela editora Harper Collins dia 30/3/2010. 

Desde então, a moça de Fargo, North Dakota, anda pelo mundo promovendo seu livro. Como Sarah Palin, que também foi miss, também trabalha para o canal Fox News e também sabe cavar seus espaços (“Drill, dude, drill!”) a moça passou a viver, simultaneamente, de seus dotes físicos e intelectuais-oratórios pressupostos muito jornalísticos & só conversa fiada.

E assim, nesse périplo, ontem, Saberi deu côs costados em Brasília, na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, tradicionalmente comandada pelo PT – mas, infelizmente para os negócios de Saberi, em momento em que até o PT tinha mais o que fazer e não quis perder tempo com conversê de jornalista americana em campanha para divulgação de propaganda anti-Irã, impingida como jornalismo aos tolos (e também, pelo visto, a jornalistas tolos da Folha de S.Paulo). 

Então, a moça só encontrou, para recebê-la, o Chico Alencar do PSOL (partido especialista em ouvir e dizer tolices a tolos) e a D. Eliane Cantanhede da Folha de S.Paulo (jornal que ouvir, nunca ouve, mas também é especialista em repetir tolices a leitores tolos). Não deu sorte, a moça. ISSO é indiscutível.

Enquanto isso, o presidente Lula estava reunido com blogueiros, lindos, belos jornalistas, jornalistas inteligentes, progressistas, democráticos, os quais, na opinião de D. Eliane seriam “engajados” – palavrinha safadinha, que D. Eliane deve ter recolhido de algum manual de propaganda da CIA para a Guerra Fria dos anos 50 [risos, risos] e requentou hoje, pra assustar as senhoras-de-santana e donas danuzas e maitês de sempre.

De omitir e mascarar esses fatos – todos cuidadosamente omitidos e mascarados em grandissonâncias ditas “constitucionais” e pretensamente morais e NUNCA jornalísticas, nem éticas, nem morais, nem sequer decentes –, a senhora, D. Eliane, produziu a sua coluna de hoje, idêntica – senão pelo detalhe de aí incluir aquela Sarah Palin de Dakota do Norte – à ridícula coluna, de ontem, do Jânio de Freitas. 

Até quando?! Quem precisa do colunismo da Folha de S.Paulo?!

Até no Sudão há jornalismo e jornalistas mais democráticos que os jornalistas paulistas empregados dos jornalões paulistas e da Rede Globo. O Irã, aliás, tem pelo menos uma rede de televisão muuuuito melhor que a Rede Globo. Os blogueiros, por exemplo, já sabem disso!  

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SOBRE: ELIANE CANTANHÊDE (elianec@uol.com.br), 25/11/2010, “Ouvidos de mercador”, Folha de S.Paulo, p.2 (assinantes) 
 
BRASÍLIA - Enquanto Lula dava entrevista a blogueiros engajados e o Rio registrava ontem 33 veículos incendiados e 21 mortos só nesta semana, a jornalista americana Roxana Saberi contava a um punhado de pessoas na Câmara como foi presa e humilhada por cem dias no Irã, reclamando a força emergente do Brasil para cobrar liberdade e os direitos civis no país.

"Quando você não tem voz, como é importante que falem por você!", implorou, emocionada.

Pela Constituição, artigo 4º, as relações internacionais são regidas por dez princípios. O segundo é a "prevalência dos direitos humanos". Com o Irã, porém, a política "ativa e altiva" passa longe disso. 

Lula arranha a bela imagem internacional do Brasil ao comparar as manifestações contra o regime Ahmadinejad a "chororô de time derrotado" e ao permitir que o Brasil continue teimosamente se abstendo nos foros de direitos humanos, inclusive no caso iraniano.

Roxana queria ser recebida por Lula, que estava com os seus blogueiros, ou, quem sabe, pelo Itamaraty, ocupado com o ministro de Negócios Estrangeiros de uma outra ditadura, a do Sudão. Contentou-se com o Congresso e com o assessor internacional, Marco Aurélio Garcia. Ela insiste em que o Brasil reveja seu voto covarde quando o Irã voltar ao banco dos réus em dezembro. Parece perda de tempo.

A palestra de Roxana foi na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, tradicionalmente comandada pelo PT. Mas nenhum parlamentar do partido foi ouvi-la, e o próprio presidente, o petista Luiz Couto, só chegou no final. O único deputado era Chico Alencar (PSOL).

OK. Todos tinham mais o que fazer, mas, se o governo não está nem aí para as vítimas do Irã, o Congresso tem de se unir à opinião pública brasileira no grito internacional pelas liberdades e pela segurança individual e coletiva no Irã. Como no Sudão e em todos os demais regimes de força. Sem esquecer a guerra no Rio, evidentemente.

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