segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A mídia em debate

Anderson Felix 14 de novembro de 2010 - Posted in: Textos Hypnos
O Instituto Hypnos conversou com a jornalista Bernadette Siqueira Abrão para discutir a Mídia brasileira. No momento em que se encerra mais uma eleição e que se discute a regulamentação dos meios de comunicações, é mais do que necessário esclarecer alguns dos problemas que cercam a atividade jornalística. 

Baby, como gosta de ser chamada, é graduada e pós-graduanda em Filosofia (USP), formação que lhe permite lançar um olhar mais profundo e crítico sobre a comunicação. Além disso, tem experiência na editoração de livros didáticos e paradidáticos de filosofia, além de manter os blogues parallaksis.blogspot.com e parallakismundo.blogspot.com. Acompanhe a entrevista a seguir.

Hypnos - A imprensa é formadora de opinião? Qual foi a influência da mídia nesse processo eleitoral?
Baby – Vou falar em mídia, como um todo, não apenas em imprensa (a mídia impressa). Eu diria que ela não “forma” opinião porque seu objetivo não é a formação de ninguém. “Formar” é um conceito que envolve educação, estímulo à elaboração criativa, e a mídia está muito longe de proporcionar isso. 

O que ela faz é divulgar seu ideário em reportagens, editoriais, comentários, análises. Como a mesma mensagem é repetida à exaustão, em formatos diferentes, os leitores/ouvintes/telespectadores acabam se convencendo de que ela é verdadeira. Nesse sentido, o que a mídia faz é propaganda de sua ideologia. Isso não é formar opinião e sim impor ideias, valores. E não se trata de uma prática nova. É muito antiga e virou objeto de reflexão de muitos pensadores, como Niezstche, Marx e Engels, o pessoal da Escola de Frankfurt, Michel Foucault, Pierre Bourdieu, Noam Chomsky, Armand Mattelart, Gilles Deleuze, Jean Baudrillard… 

Para usar uma linguagem marxista, o que a mídia faz é impor a ideologia da classe dominante à classe dominada até que esta se convença de que essa ideologia é sua e a defenda, e a reproduza. 

Uma análise de Chomsky e Edward S. Herman da mídia estadunidense produziu um livro, Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass Media [Consenso fabricado: a economia política da comunicação de massa] e uma teoria: o modelo da propaganda

O livro é o resultado das análises que ambos fizeram sobre os meios de comunicação dos Estados Unidos e mostra que esses meios são corporações submetidas ao jogo competitivo do mercado. Como dependem dos anúncios (de empresas e do governo), colocam os interesses corporativos e políticos acima do interesse público. 

O modelo que Chomsky e Herman desenvolveram pode ser aplicado à indústria midiática da maioria dos países. Como indústria, ela precisa vender para lucrar; por isso, é guiada pela lógica e pelos poderes do mercado. Segundo Chomsky e Herman, isso a leva a selecionar as notícias que publica, bem como o tratamento que dá a elas.

Isso ficou claríssimo na campanha eleitoral deste ano. Os ataques à candidatura de Dilma Rousseff, a Lula e ao PT pareciam coordenados por um comando central que usava todos os meios à disposição (jornais, revistas, rádio, TV, internet) para divulgar e fazer repercutir as mesmas acusações, a mesma ladainha. 

Um pesquisador do futuro, que decida entender o Brasil por meio dessa mídia, concluiria que vivemos numa ditadura conduzida por terroristas, sem liberdades civis, com a consciência seduzida pelo programa Bolsa Família, com a mídia amordaçada. 

Esse pesquisador, ao confrontar o país produzido pela mídia com a realidade, teria enorme dificuldade em entender como os meios de comunicação que se diziam amordaçados tinham a liberdade de dizer tudo o que queriam; como o presidente criticado conseguia índices altíssimos de aprovação popular se era dominado por “forças terríveis”, como disse Serra em seu discurso de 31 de outubro, resgatando Jânio Quadros e a imagem que a mídia corporativa fazia de Lula; como uma terrorista conseguiu se eleger primeira presidente do Brasil e, o mais óbvio, como esse governo ditatorial, terrorista, manipulador, terrível, permitia a realização de eleições livres, o exercício sem restrições da democracia liberal. Esse pesquisador acabaria defendendo a tese de que a mídia, para impor sua ideologia, precisa distorcer a realidade.

H. A mídia não vê com bons olhos qualquer iniciativa do governo que vise melhorar a atividade jornalística, sob o argumento de que esse papel cabe apenas à sociedade. Por outro lado, o baixo nível educacional parece deixar essa mesma sociedade à mercê dos grandes grupos econômicos e de comunicação. Qual seria, então, o caminho para o aprimoramento do trabalho jornalístico?
B. Mas não é o governo que toma essas iniciativas, é a própria sociedade! As sugestões do Plano Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH3) e da 1ª. Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) foram dadas pela sociedade civil organizada, depois de muita discussão em consultas e audiências públicas em todo o país. 

A mídia corporativa – essa mesma mídia que grita a favor da liberdade de desinformar, de enganar o público, e chama isso de “liberdade de expressão”, “liberdade de imprensa” e outras expressões vazias, não explicitadas, não conceituadas – foi convidada a participar desses debates mas recusou-se. Essa é uma questão importante. Em vez de levar suas propostas para uma discussão democrática, a mídia preferiu continuar aquartelada em suas trincheiras, de onde dispara jargões por meio de suas metralhadoras giratórias (repórteres, “comentaristas”, cronistas etc.), frases de efeito que agradam a certa classe média desinformada, que não conhece nem mesmo a história recente de seu país, que nunca ouviu falar dos pensadores que mostraram o funcionamento do jogo capitalista e em que tipo de manipulação, de imposição ele se apoia. 

É um pessoal carente de cultura, de ideias, acrítico, que repete o que lê e assiste sem nunca parar para pensar se isso corresponde ou não à realidade. São os fantoches mergulhados na hiperrealidade, conceito de Jean Baudrillard que cabe com perfeição na mídia corporativa brasileira. Baudrillard também afirmou que os meios de comunicação de massa são um “discurso sem resposta”. 

A comunicação, diz, pressupõe troca, interlocução e responsabilidade por aquilo que se diz, e isso não existe na relação mídia-público. 

O problema, para Baudrillard, está no modelo elaborado pelo linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913), que se baseia na simples transmissão e recepção da informação. Nesse modelo, aquele que transmite a mensagem é ativo, ao passo que quem a recebe tem um papel passivo: apenas recebe, ou “sofre” (para usar um termo aristotélico), a ação. 

Quando o receptor se transforma em transmissor, repete a mensagem recebida, reproduzindo o modelo. Veja como isso é sério, seriíssimo: esse tipo de comunicação não permite o diálogo, excluindo “a reciprocidade e o antagonismo entre os interlocutores”, como escreve Baudrillard no artigo Requiem for the Media [Réquiem para a mídia]. Por não permitir a troca, as mídias de massa promovem a não comunicação

Elas falam, mas impedem a fala do outro. 

É essa “natureza unilateral” da comunicação, segundo Baudrillard, a responsável pelo sistema que integra poder e controle social. 

Como esse modelo se reproduz no mundo político e econômico, o público não tem espaço para se expressar, debater e influir nas decisões que afetam sua vida. Quando ele faz isso formalmente, em audiências públicas previstas pela legislação brasileira, a mídia corporativa desvirtua as propostas do público e as ataca como riscos à tal “liberdade de imprensa”. Ora, isso é fazer propaganda de seu próprio ideário, é impedir o debate democrático de fatos, modelos, ideias. É a tentativa de impedir a liberdade do público de se manifestar. Ou seja: a mídia pode falar e fazer o que quiser, o público não. Se isso for a democracia propalada pela mídia corporativa, fujamos dela!

Outra questão importantíssima é a concessão de licenças para rádio e TV. Vamos entender um pouco isso. 

Para funcionar, rádios e TVs dependem de sinais eletromagnéticos, que constituem um espectro que é público, isto é, de todos nós, cidadãos brasileiros (no caso do Brasil, óbvio). 

Esses sinais são concedidos às redes de rádio e TV pelo governo – que concede as licenças para uso dos sinais como representante dos cidadãos. Acontece que os critérios para a concessão de tais licenças são tudo, menos cidadãos. Só as consegue quem tiver ligações políticas privilegiadas, poder, muito dinheiro. 

Na verdade, essas pessoas – incluindo políticos, o que é proibido por lei – obtêm as concessões para transformar as estações de rádio e TV em empresas privadas submetidas ao jogo do mercado, que fabricam os produtos que bem entendem, vendendo-os aos anunciantes por preços altíssimos. Esses preços são baseados na média de audiência dos produtos, isto é, os programas. 

Ou seja, além de ser alijado da concessão das licenças, de não influir nos critérios para essas concessões, o público, com sua audiência, dá lucro às grandes redes de rádio e TV. E em troca, o que recebe? Uma programação que chega a ser bizarra, que usa e estimula o preconceito, a intolerância, o bullying, a violência… 

As exceções são muito raras. 

Os chefes de programação costumam dizer que o público gosta das bobagens que vão ao ar. Falácia. O público não tem é escolha. Não há um único canal comercial com programas realmente alternativos ao padrão que as próprias redes criaram. Então a cidadã e o cidadão que chegam em casa cansadas(os), que vão preparar o jantar para a família e querem uma distração, ligam a TV ou o rádio e acompanham o que lhe é oferecido. Dizer que isso é escolha é falsear a realidade.

No momento em que o público decide tomar para si o seu direito de dar ou renovar as concessões, que impõe critérios para ceder as licenças de uso do espectro eletromagnético, a mídia corporativa grita como se tivesse sido golpeada de morte. 

Ora, o que quer o público? Vejamos algumas das propostas da Confecom. 

Elas dizem respeito à veiculação de conteúdos nacionais e regionais produzidos de maneira independente e de conteúdos educativos, culturais, informativos e ambientais de países latino-americanos; à criação de núcleos comunitários de comunicação, para fornecer aparatos técnicos e instrumentais à sociedade e permitir que ela construa, socialize e discuta suas próprias produções; à criação de programas educativos, para jovens, que abordem os direitos das mulheres e coíbam a violência de gênero; à fiscalização e à punição para rádios e TVs que desvalorizem, depreciem ou estigmatizem crianças e minorias historicamente discriminadas e marginalizadas (negros, LGBTs, comunidades de terreiro, mulheres, pessoas com deficiência, idosos e indígenas, entre outros); a criação de redes locais e regionais de rádios públicas, estatais e comunitárias. Ou seja, são propostas que levam à abertura e à diversidade, ao respeito do outros, do diferente, à participação do público na programação, que retiram da mídia o que ela tem de estigmatizador e preconceituoso, que privilegiam a liberdade cidadã, não a imposição da ideologia dominante. 

É por isso que a mídia grita. Porque a ela não interessa veicular conteúdo cidadão. Por quê? Porque esse conteúdo, teoricamente, ao não reproduzir a ideologia dominante, abrirá espaço para que as pessoas conheçam outros pontos de vista, outras realidades culturais, o que as levará a comparar, a distinguir – enfim, a pensar, e a pensar criticamente. E a exigir cada vez mais qualidade e isenção de uma mídia interessada apenas em seus próprios lucros e em seu próprio poder.

Esse mesmo público, e não o governo, propôs, na Confecom, a criação de Conselhos de Comunicação nos âmbitos federal, estaduais e municipais, com membros eleitos, para garantir o direito humano à comunicação, a regulação de conteúdos veiculados pelas mídias, as políticas de concessão de licença de funcionamento de rádios e televisões. A mídia tem é que brigar com o público, não com o governo. Mas como brigar com o público significa perder audiência e, portanto, lucro, a mídia bate no governo e convence a audiência a ficar contra algo que só irá beneficiá-la. Isso é a “democracia” da mídia? Mais uma vez: fujamos dela.

Uma programação culturalmente diversificada, como quer a sociedade civil, não resolve o problema da educação no Brasil, mas ajuda a exercitar o pensamento ao oferecer informações variadas, pontos de vista diferentes – meios para o público fazer comparações, discernir, escolher aquilo com que se identifica e entender o porquê da identificação. Além disso, o público transforma o monólogo em diálogo ao participar diretamente da programação, ao elaborar conteúdo para ela. Tudo isso amplia o horizonte cultural de uma sociedade. A mídia, ao se opor a essas propostas, opõe-se a essa ampliação do horizonte cultural da sociedade brasileira. É preciso denunciar isso.

H. A imprensa se diz livre e democrática. Entretanto, casos como o da demissão da colunista Maria Rita Kehl do Estadão depois de publicar o artigo Duas medidas – que se opunha ao editorial de apoio a Serra -, parecem contradizer isso. Como você analisa esse aspecto comum à mídia brasileira?
B. É evidente, por tudo que foi dito até aqui, que a mídia só pode mesmo reivindicar a liberdade de desinformar, de impor seu ideário, de manter um monólogo prejudicial à sociedade. Ao distorcer as notícias segundo seus próprios critérios, a mídia impede o público de conhecer os vários aspectos que compõem um acontecimento, um fenômeno. Privado disso, da informação completa, isenta dos filtros midiáticos, o público não tem como exercer seu direito de livre pensamento, de livre expressão, de livre escolha. Suas avaliações ficam prejudicadas porque se baseiam em apenas um lado da história: o que a mídia quer que ele saiba. Seu conhecimento, sua capacidade de julgamento e sua consciência, portanto, são manipulados. Discuto esses tópicos e os perigos a que eles levam no meu novo livro, que sairá no ano que vem e que ainda não tem título definitivo.

Quanto à Maria Rita Kehl, para ser muito sincera, nunca entendi como o Estadão a convidou e menos ainda como ela aceitou o convite. São propostas de vida e de pensamento opostas, como ficou claro no episódio do desligamento dela do corpo de colaboradores. Uma pena, porque a Maria Rita é das poucas cabeças inteligentes com espaço na mídia corporativa. 

A situação esclareceu o que o jornal entende por “liberdade de imprensa”. É essa a liberdade que queremos? Claro que não. Por isso é preciso discutir conceitos. O que é liberdade? O que é informação? O que é liberdade de informação? O que é liberdade de expressão e de imprensa? Quando essas coisas vierem a debate, a máscara da mídia cairá.

H.  Qual a importância da internet para disponibilizar e democratizar o acesso à informação? Os jornalistas que se opõem à chamada grande imprensa utilizam a web para se comunicar?
B. Veja você que interessante é analisar a internet. É o típico exemplo que foge ao maniqueísmo, ao modelo que reduz a multiplicidade da vida a “bem” ou “mal”, a “bom” ou “mau”. 

Analisar a internet é ser obrigado a colocar esse modelo de lado, a juntar bom e mau, bem e mal, a aprofundar a reflexão, levando-a ao campo da diversidade de premissas e de argumentações, a chegar a conclusões às vezes conflitantes e a elaborar um novo tipo de crítica. Isso leva ao exercício do pensamento, que faz muito bem à elaboração de juízos independentes do consenso fabricado e imposto pela mídia. 

A internet é tudo aquilo que a crítica diz dela, mas também é tudo aquilo que os aficcionados afirmam dela. Bem, mal, mais ou menos – enfim, tudo cabe nela. 

Na campanha eleitoral, por exemplo, só ficávamos sabendo da verdade dos fatos pela internet, pelos blogueiros independentes. A única exceção, em relação à mídia, é a Carta Capital, revista semanal dirigida por Mino Carta e com um corpo de jornalistas excelentes, que fazem jus ao título de jornalistas. Vão atrás da notícia e veiculam tudo que descobrem, sem sofrer censura do patrão e sem a orientação de publicar apenas aquilo que privilegia alguns e detona outros, segundo os caprichos dos acordos corporativos da classe dominante. 

Fora a Carta Capital e o Brasil de Fato – este francamente à esquerda no espectro político –, foi nos blogues que a gente conseguia saber o que realmente acontecia nos bastidores das campanhas. Aí era possível ter a dimensão da tragédia, no sentido das alianças políticas, dos apoios, do que havia por trás de cada manchete da mídia corporativa. 

Foi nos blogues e na Carta Capital que soubemos, por exemplo, do apoio da TFP e de grupos monarquistas à candidatura Serra, e dos factoides criados por esse pessoal de extrema direita – é preciso arranjar outro termo para classificá-los, porque “extrema direita” não diz exatamente quem é essa gente e o que postula; fascistas é uma expressão que talvez os defina mais adequadamente – para tumultuar e impedir o debate político, afastando os temas realmente relevantes naquele momento para apresentar visões dogmáticas e reducionistas de assuntos que remetem diretamente à laicidade do Estado e ao direito que cidadãs e cidadãos têm a decisões que dizem respeito a sua própria vida. 

É engraçado que as Igrejas, ao condenar o sexo antes do casamento e o uso da camisinha, ao satanizar as mães solteiras, obrigando muitas ao aborto, venha posar de “defensora da vida”. Ora, que vida? A da mãe não conta? E o que é vida? Coisas assim devem ser estabelecidas por lei ou pela consciência de cada um?  Religião e Estado podem dizer ao cidadão quais devem ser suas preferências sexuais, com quem manter união conjugal, obrigá-lo a ter filhos indesejados? Será que ao Estado não compete pôr em prática políticas públicas de proteção a todos os segmentos da sociedade, não apenas àqueles que obedecem a um certo padrão cultural, de base judaico-cristã?


Voltando a nosso tema, quem denunciou o uso político dos preconceitos foram os jornalistas independentes, em seus blogues, e a mídia “não alinhada” ao poder corporativo midiático. Eles forneciam munição para nós, militantes, rebatermos as acusações da direita explicando o que havia por trás das ditas “denúncias”. 

Esses jornalistas permitiram o desmonte dos factoides da mídia corporativa. Ao informar corretamente, eles prestaram um enorme serviço à república e à democracia, permitindo que a verdade viesse à tona e entrasse no debate, que de outro modo seria pautado pela mídia dominante.

A internet permite que isso aconteça. Eu, por exemplo, tenho dois blogues – um de defesa dos direitos dos palestinos e da Palestina , outro com análises sobre o mundo feitas por gente séria e renomada sem espaço na mídia corporativa – que veiculam coisas que a mídia omite. 

Muita gente que tinha uma noção distorcida e fabricada da Palestina, do Hamás, do Hizbollah, me diz que só ficou sabendo do que acontecia no Oriente Médio, de verdade, depois de acompanhar meu blogue. Era gente que acreditava na propaganda sionista – e os sionistas dominam a indústria da comunicação e do entretenimento, entre outros setores-chave, dando somente a sua versão dos fatos. Não fosse a internet, essa propaganda danosa não só aos palestinos, mas ao mundo, continuaria soberana.

O drama é que o acesso à internet ainda é restrito, não alcança todo o público. Por outro lado, muita gente que navega procura portais da própria mídia corporativa. Assim, além de popularizar o acesso à web, é preciso mudar a educação, as bases da educação, o modo como ela é exercida, para que os cidadãos possam realmente se beneficiar da internet, como usuários e como elaboradores de conteúdo. Lembremos, porém, que tudo é processo: não existe “fim da história” e a ideia iluminista de progresso com happy end foi para o rol das utopias há muito tempo. Por isso, mãos à obra sempre, sem descanso, para ampliar os nossos espaços, o espaço público, deste país.

Outro fenômeno importante, forte, sobretudo nos EUA, é o fim dos jornais impressos, que passam a existir apenas na internet. Eles foram perdendo leitores até se tornar inviáveis economicamente, e a internet significa uma redução brutal de custos. Aqui, o Jornal do Brasil já adotou essa solução para continuar existindo. O que ainda precisa ser pesquisado é se os jornais e as revistas impressos perderam leitores porque é possível ler notícias na internet ou se as notícias obtidas na internet, de fontes múltiplas, acabaram revelando a pobreza dos noticiários de jornais e revistas, o que levou o público a parar de lê-los. Seja como for, a base dessa mudança radical foi e é, sem dúvida, a internet.

About the Author

Graduado e Mestrando em Filosofia pela PUC-SP, é professor da rede de ensino paulista. twitter.com/felixideia


Enviado pela Vila Vudu
Extraído de Instituto Hypnos

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