*José Flávio Abelha
A sabedoria chinesa ensina:
"Só há uma forma de não contrariar um tigre.
É deixar-se devorar".
O Governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, ao implantar nas favelas cariocas as UPP's (Unidade De Polícia Pacificadora) contrariou os chefões do tráfico de drogas, desalojou as quadrilhas e entregou às comunidades um território livre da bandidagem que cobrava dos moradores até pedágio para entrar e sair de onde moravam.
Com isso, como dizemos no interior de Minas, cutucou a fera com vara curta. Contrariou o tigre e, como no samba de Paulo César Pinheiro e Wilson das Neves, o morro desceu sem ser carnaval, e digo eu, com uma comissão de frente composta por menores de idade que estão espalhando o terror no Grande Rio, com incêndios de veículos e enfrentamentos com armas de grosso calibre. Menores que podem escolher nas urnas toda a linha administrativa da nação, do vereador ao presidente da república, mas não podem sofrer os rigores da lei. Só os benefícios!
O entrevero está assustador e as autoridades resolveram enfrentar o tigre, também com armas de guerra. Ocorre-me uma velha idéia: Um surto de violência pede uma ação violenta. Os bandidos resolveram pagar para ver quem tem, realmente, garrafas para vender, e o governo aceitou o desafio.
No meio do tiroteio que a todos assusta, com a fumaça da pólvora embaciando a visão, algumas perguntas estão ficando sem resposta.
Segundo a mídia comenta à exaustão, a determinação para esse surto de fúria teria partido da liderança presa em Catanduva e outros longínquos presídios. Essa suspeita deveria ser o estopim de um clamor de quem tem voz neste país, do Deputado estadual ao Senador, da OAB, da ABI, das ONG's, dos atentos Procuradores e da mídia, para se investigar o mistério da comunicação de quem está detido em prisão de segurança máxima, com os seus liderados, encastelados nas favelas cariocas.
Quem tem acesso a esses líderes do crime organizado? Como chegam até eles os celulares mais sofisticados? Quem está servindo de pombo-correio?
Até agora, hoje, não ouvi qualquer representante do povo protestar nas tribunas das casas legislativas sobre esse mistério, a OAB não pede providências à Polícia Federal e quejandos para uma rigorosa identificação dos pombos-correios, a ABI não faz qualquer pronunciamento, as ONG's estão mudas e a mídia tão-somente com a sua enfadonha repetição dos fatos, criando um clima de temor na população, dando azo aos mais desencontrados boatos.
O secretario de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, José Maria Beltrame, em entrevista, ontem, abriu uma excelente reflexão sobre a impunidade, a menoridade e os acontecimentos atuais na Capital carioca. Deixou escapar na sua fala que partiu de longínquo presídio a determinação para aterrorizar o Estado, jogar contra a parede nossas autoridades mas, acentuou também, que a nossa legislação precisa ser revista, com urgência.
A propósito, entremeada na enxurrada noticiosa desse trágico enfrentamento uma notícia pode ter passado desapercebida, aquela que informava estar o famosíssimo senhor Cacciola obrigado, agora, a somente dormir na prisão, podendo passar o dia em liberdade. Se bem me recordo, quando se premiou o referido banqueiro com um discutível hábeas corpus, já o ítalo-brasileiro se encontrava ou estava a caminho da sua querida Roma. Irá agora o ilustríssimo cumprir o restante da pena aqui no Brasil ou terá, brevemente, de ser novamente caçado na Europa?
Está coberto de razão o Secretário Beltrame, hoje uma unanimidade até entre os jornalistas globais. O Jabor, revirando os olhos e alargando gestos tal qual fazia Carmem Miranda para mostrar os balangandãs, um similar que nunca chegará a genérico do Paulo Francis, elogiou as atitudes corajosas do Secretário mas, infelizmente, não denunciou de onde sai o dinheiro para a aquisição do armamento pesado da bandidagem, não obstante, todos sabemos que sai da banda-podre da sociedade, que entope as ventas do pó que os traficantes entregam "a domicílio", conforme uma socialite carioca, às gargalhadas, contou a uma repórter.
Podemos diminuir a nossa intranqüilidade presente. São Paulo já passou por coisa pior na década anterior, cujo saldo de mortos beirou a casa dos oitenta e não deixou de ser a grande capital. Copa do Mundo e Olimpíadas? Puro terrorismo que os países suplentes estão fazendo, tentando mostrar ao mundo que o Rio de Janeiro não pode sediar nada, ainda que faltem 4 e 6 anos para os eventos. Pombas! A Alemanha perdeu sua condição de grande país depois da matança de atletas durante as Olimpíadas de 72 em Munique? O México com a permanente crise dos cartéis e contrabando de pessoas e armas, deixou de sediar a Copa de 86? A Grécia deixou de sediar as Olimpíadas de 2004 embora com TODAS as obras inacabadas e uma desorganização generalizada?
De uma coisa os bandidos estão sentindo na pele, até que enfim, a lei infalível da física que diz : "Toda ação provoca uma reação de igual intensidade e em sentido contrário".
*Mineiro, autor de A MINEIRICE e outros livretes, reside na Restinga de Piratininga/Niterói, onde é Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltd. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.