segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Exército boliviano se recicla


Publicado em 21/11/2010 por Mário Augusto Jakobskind

Enquanto o jornal da “ditabranda”, a Folha de S.Paulo, foi procurar nos arquivos da ditadura a ficha da Presidenta eleita Dilma Rousseff e O Globo divulgava o dossiê da ditadura, um fato dos mais relevantes na América Latina acontecia em um país vizinho do Brasil.  
O Exército boliviano, que durante anos protagonizou golpes sangrentos e alguns, como o de Hugo Banzer, nos anos 70, com o apoio da ditadura brasileira, neste ano de 2010 fez a sua opção.
Em comunicado firmado pelo general Antonio Cueto, comandante da corporação, feito por ocasião das comemorações dos 200 anos de sua criação, o Exército se declarou socialista, antiimperialista e anticapitalista. O militar assinalou que a Constituição do país promulgada em 2009 “dá lugar a que o Exército surja como uma instituição socialista, comunitária’’”. E acrescentou: “nos declaramos antiimperialistas, porque na Bolívia não deve existir nenhum poder externo que se imponha, queremos e devemos atuar com soberania e viver com dignidade”. “Também nos declaramos anticapitalistas porque este sistema está destruindo a mãe terra”.
Quer dizer, os militares bolivianos se reciclaram para um novo tempo que vive o país sob o comando do Presidente Evo Morales. As ditaduras ficaram para trás e os protagonistas responsáveis por torturas e assassinatos de representantes do povo ocupam hoje o lixo da história, o mesmo acontecendo em outros países da América Latina.  
Mas a Folha de S. Paulo e O Globo não estão nem aí. O jornal paulista empenhou ao máximo sua assessoria jurídica para conseguir o dossiê de Dilma daquele período de trevas. A jovem Dilma deu a sua contribuição na luta do povo brasileiro contra a ditadura, o que intriga a Folha de S., Paulo, que naquele mesmo período emprestava carros para a repressão. E O Globo engordava na estufa da ditadura, como diria Leonel Brizola.
O Supremo Tribunal Militar cedeu os arquivos e o jornal da família Frias se posicionou através da advogada Tais Gasparian afirmando que o fato “foi uma vitória da sociedade, mais que uma vitória da Folha de São Paulo”.
Não é por aí. A sociedade brasileira tem consciência de que arquivos do gênero conseguidos pela Folha não têm o menor valor. O que se quer saber, isto sim, é, por exemplo, quais grupos empresariais financiaram a repressão e confirmar a participação da Folha de S. Paulo naquele período de trevas. O que se quer é a divulgação de arquivos que podem ajudar a esclarecer muitos fatos daquele período, não dossiês formulados com base em torturas de presos políticos. Mas a isso o Estado brasileiro resiste.
O ano está chegando ao fim, o Brasil e a América Latina estão procurando avançar e compensar o tempo perdido por governos neoliberais e ditaduras. Há setores que a cada eleição perdem terreno, inconformados com os novos tempos. Um exemplo disso, que já pertence ao passado, foi o comportamento do candidato derrotado na última eleição presidencial. José Serra, que antes de 64 chegou a presidir a União Nacional dos Estudantes (UNE), eleito por indicação da Ação Popular com o apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB), deu uma guinada de 180 graus em seu currículo e se alinhou com os setores mais a direita do espectro político brasileiro. Até os integralistas tentaram sair do lixo da história manifestando apoio ao candidato tucano.
Não foi à toa, portanto, que Serra em várias oportunidades criticou duramente o governo boliviano querendo até vinculá-lo à concessão de facilidades ao narcotráfico. Utilizou argumentos infundados, mas que no fundo ajudaram os eleitores a conhecer melhor o perfil do candidato.
Mas todo cuidado é pouco, porque os setores que não se conformam com os novos tempos podem tentar de tudo para evitar que no Brasil e na América Latina haja avanços significativos que resultem em distribuição de renda, no fortalecimento do mercado interno e perda de privilégios dos setores que sempre detiveram riquezas em detrimento da maioria do povo.
Nesse contexto, o colunista Nicholas Kristof do The New York Times considerou a Venezuela uma “república bananeira”, o que valeu uma resposta imediata do embaixador da República Bolivariana nos Estados Unidos.
Para o diplomata Bernardo Alvarez o termo “’república bananeira” não é só degradante, mas tem claras vinculações com o imperialismo e não se pode aplicar à realidade venezuelana. “O termo refere-se a países pequenos, amplamente dependentes de produtos agrícolas, dominados por pequenas e incontáveis elites, servis aos interesses empresariais estadunidenses”, argumentou o embaixador. Não é o caso da Venezuela, que é conhecida mais pelo seu petróleo do que por seus produtos agrícolas e preserva a sua soberania.  
Álvarez referiu-se também a questão da desigualdade social nos Estados Unidos, que se ampliou nos últimos tempos e comparou o que acontece por lá com o que foi feito na Venezuela em dez anos com os programas sociais. A Venezuela ganha de goleada.
Como o jornal The New York Times é utilizado muitas vezes como fonte pelos colunistas de sempre, é importante o leitor destas bandas ter a informação sobre a polêmica, até para ter mais elementos para fazer o julgamento.
Em suma: vamos aguardar o desenrolar dos acontecimentos para ver o que nos espera nos próximos anos sob a batuta da primeira mulher eleita Presidenta deste país continente contemplado com um bilhete premiado com as riquezas do pré-sal,  avaliadas  em 10 trilhões de dólares, e não bilhões como foi informado aqui na semana anterior.
enviado por Ed Brigaboa

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.