A incontestável vitória de Dilma Rousseff tem um significado especial. Ela simboliza a ascensão social e econômica de milhões de brasileiros
Por Leonardo Attuch
Para além da continuidade nas políticas econômica e social, Leonardo Attuch, redator-chefe da Dinheiro, aposta em uma ênfase maior às mulheres na composição do novo governo.
Dia D. O 31 de outubro de 2010 será lembrado para sempre como o Dia Dilma. O dia em que o Brasil consagrou, pela primeira vez em sua história, uma mulher como presidente da República. Dilma Vana Rousseff, uma mineira de 62 anos, chega ao poder pelos votos de 55,7 milhões de brasileiros, 12 milhões a mais do que seu oponente José Serra.
Um resultado convincente, incontestável e que revela um significado óbvio: a presidente eleita é o retrato de um Brasil feliz e que pretende seguir no mesmo rumo, com crescimento econômico e inclusão social.
"Como a primeira mulher a chegar à Presidência da República, eu não tenho o direito de errar.
E eu não vou errar"
De um país onde mais de 40 milhões de pessoas – praticamente uma Espanha – foram incorporadas à classe média e ao mercado de consumo nos últimos anos. E onde a erradicação da pobreza extrema já parece ser uma meta alcançável num horizonte relativamente curto.“Eu pretendo honrar a confiança dos brasileiros”, disse Dilma Rousseff, na noite do domingo 31, ao saber do resultado final. “Vou dar tudo de mim e um pouco mais.”
Chegar à Presidência da República de qualquer nação relevante nunca é fruto de uma escolha pessoal – é quase sempre destino. Da militância estudantil ao Palácio do Planalto, Dilma construiu uma trajetória única e absolutamente original. Combateu a ditadura militar, foi presa, incorporou-se à vida política no Rio Grande do Sul, enfrentou o apagão elétrico como secretária de Minas e Energia do governo gaúcho e foi descoberta pelo PT às vésperas da posse de Luiz Inácio Lula da Silva em seu primeiro mandato.
Rumo mantido: Lula cumprimenta sua candidata pela eleição. "Valeu, Dilma", disse ele
Trabalhadora, firme e disciplinada, ela foi aos poucos conquistando seu espaço em Brasília e soube se impor sobre outros nomes do PT que antes pareciam mais fortes. Ao longo da campanha, mostrou fibra, determinação e transmitiu mais credibilidade e sinceridade ao eleitor.
Ganhou não apenas pela popularidade transferida a ela pelo presidente Lula, mas também por seus próprios méritos. Um deles, o de contribuir, com a coordenação do Programa de Aceleração do Crescimento, para o novo ciclo de desenvolvimento que se inicia no Brasil.
Afinal, os ventos que a levam ao Palácio do Planalto são, sobretudo, econômicos. A média de crescimento do PIB nos oito anos do governo Lula foi de 4%, o que foi suficiente para gerar mais de 14,5 milhões de empregos com carteira assinada. São brasileiros que, como a grande maioria da população, progrediram nos últimos anos.
“O ganho não foi apenas econômico, mas essencialmente de autoestima”, avalia o professor e ex-ministro Delfim Netto. “Perdemos definitivamente o nosso complexo de vira-latas.”
No campo social, a curva de redução da pobreza extrema, que já vinha caindo desde 1994, com a implantação do Plano Real, acentuou-se nos últimos anos. Eram 26,6% da população em 2002 e hoje são 15,5%. E a renda média do trabalho também avançou de forma mais rápida.
No início do governo Lula, um trabalhador que vivesse com o salário mínimo necessitava de 175 horas de trabalho para adquirir uma cesta básica – em 2009, eram necessárias 109 horas.
“Com mais renda, milhões de brasileiros entraram no mercado e foram ao varejo para ter acesso a bens de consumo indispensáveis”, avalia a empresária Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza, uma das maiores redes varejistas do País.
Aos ganhos de renda, somou-se uma oferta de financiamentos jamais vista no País. No início do governo Lula, o estoque das operações de crédito era de R$ 400 bilhões – hoje, o volume é de R$ 1,6 trilhão.
Esse R$ 1,2 trilhão a mais fez com que o País se transformasse no quarto maior mercado de veículos do mundo e experimentasse uma revolução no mercado imobiliário. O Brasil, nas palavras de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, passou a colher os “dividendos da estabilidade”.
Dilma herdará, portanto, um país no auge de saúde econômica e financeira no dia 1º de janeiro de 2011, quando receber a faixa presidencial das mãos de Luiz Inácio Lula da Silva.
A média das estimativas de mercado aponta uma tendência de crescimento de 5,5% nos próximos quatro anos. A inflação deve permanecer dentro da meta de 4,5%, e a dívida interna pode cair para pouco mais de 30% do PIB.
São números alvissareiros. Pela primeira vez, o Brasil elege uma liderança que chega ao poder sem grandes incêndios econômicos a apagar. Dilma, portanto, terá a oportunidade de fazer com que o Brasil avance em áreas como educação, saúde, segurança e infraestrutura. E, neste último campo, o Brasil não tem escolha.
Gerar mais energia e modernizar estradas, portos e aeroportos será essencial não apenas para garantir a continuidade do crescimento, como também para preparar o Brasil para dois eventos de porte global: a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. A vantagem é que, apesar do desafio, o Brasil tem os recursos necessários para superá-lo.
Já como presidente eleita, Dilma Rousseff emitiu vários sinais importantes – e todos eles na direção correta. O primeiro foi a escolha do ex-ministro Antônio Palocci como seu braço direito. Palocci será sempre uma âncora relevante não apenas na economia, mas também na articulação política.
No tocante à equipe, há também indícios de que os dois timoneiros da economia, Guido Mantega e Henrique Meirelles, poderão continuar nos postos que ocupam. E Dilma também falou sobre os primeiros desafios, como o de enfrentar a guerra cambial antes mesmo da posse – ela será convidada de honra da próxima reunião do G20, em Seul, na Coreia do Sul, nos dias 11 e 12 de novembro.
Por fim, Dilma também sinalizou que fará um governo de políticas afirmativas em relação às mulheres, ajudando a construir um país em que todos tenham oportunidades iguais. Sim, Dilma, a mulher também pode. Sim, Dilma, você pode!
Especial - A presidente Dilma
extraído da Revista IstoÉ
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