Fotógrafo francês confirma presença de
mercenários norte-americanos na Ucrânia
15/5/2014, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Mercenários "MADE IN USA" são vistos na cidade de Krasnoarmeisk no Donbass |
O jornal do
exército dos EUA, Stars & Stripes, lamenta os rumores sobre mercenários
norte-americanos na Ucrânia, que já circulam abertamente na
imprensa-empresa alemã:
O gabinete da Chanceler e o serviço de
inteligência alemã recusaram-se a desmentir ou confirmar, desenvolvimento que
infla ainda mais as suspeitas, num país onde as tensões alcançam níveis
altíssimos, no momento em que se discutem as reações alemãs às ações da Rússia
na Ucrânia.
A matéria
trata do segundo vazamento, pelo governo alemão, para o tablóide Bild –
e que já identificamos
aqui como tentativa para criar distância entre a Alemanha e as
políticas dos EUA na Ucrânia:
Em apenas uma semana, sete dias, houve dois
“vazamentos” muito importantes para o Bild
– jornal transatlântico, de muito prestígio, apoiador da chanceler Merkel; nos
dois casos, inculpando os EUA pelas dificuldades que o povo da Ucrânia está
enfrentando. São “vazamentos” que devem ter saído da chancelaria e, sejam
verdadeiros ou falsos, confirmam, sim, que há antagonismo dentro do governo
alemão, nos ramos político e de segurança centrais, contra os planos dos EUA.
Andrey Denisenko, um dos assassinos de Krasnoarmeisk com mercenários "MADE IN USA" Na foto menor Denisenko em Kiev - 22/3/2014 |
Os vazamentos
podem trazer mais verdade do que estou supondo. A revista francesa Paris
Match, popular e prestigiosa, investigou
os recentes incidentes em Krasnoarmeysk, no leste da Ucrânia, onde uma
gangue de paramilitares interrompeu a votação do referendo sobre mais
autonomia para a região, e assassinaram dois apoiadores da federalização da
Ucrânia. A revista reuniu e publicou provas fotográficas de que aquela gangue
era comandada por agentes paramilitares do partido fascista Setor Direita
(Pravy Sektor):
As imagens mostram Andrey Denisenko, um dos
comandantes do Setor Direita, num grupo de pistoleiros mascarados que atacaram
um posto de votação no domingo na pequena cidade de Krasnoarmeysk, a cerca de 60 km da ‘capital’ dita
“separatista”, Donetsk. Depois de ocuparem a prefeitura local por várias horas,
os pistoleiros mascarados atiraram a queima-roupa contra um civil e, na
sequência, mataram dois outros manifestantes desarmados.
Esses
bandidos do Setor Direita foram contratados (vídeo no final do parágrafo) para
o “batalhão especial Denjpr” da recém criada ‘guarda nacional’ e são pagos pelo
oligarca Ikhor Kolomoysyi.
Mas há
notícia – e furo – melhor, maior e mais importante nessa matéria.
Jerome
Sessini, experiente fotógrafo de guerra da Agência
Magnum, que trabalhou no Iraque, no Afeganistão e em outros pontos
conflagrados, estava em Krasnoarmeysk e registrou algumas observações
muito interessantes:
Jerome Sessini |
Várias testemunhas disseram que ouviram os
pistoleiros falando com forte sotaque do oeste da Ucrânia. Observaram também
que alguns dos pistoleiros pareciam originais da área do Cáucaso, provavelmente
mercenários da Chechenia. Outros pistoleiros jamais diziam palavra e
pareciam estrangeiros, conhecendo pouco a região. O fotógrafo francês
Jerome Sessini passou cerca de uma hora cara a cara com os pistoleiros, antes
de que eles abrissem fogo. “Pelo que vi, a atitude geral deles pareceu-me de
gente super treinada, e a precisão dos movimentos deles davam a impressão de
que se tratava de mercenários norte-americanos, ou gente treinada por
mercenários norte-americanos” [com os quais se cruza com frequência nos fronts
de guerra em todo o mundo (NTs)] – disse Sessini.
Não posso garantir 100%, mas acho que há 95% de
certeza” – disse o fotógrafo, que várias vezes já interagiu com agentes de
empresas privadas de ‘segurança & combate’ contratados pelos militares
norte-americanos ao longo dos anos em que cobriu as guerras do Afeganistão e do
Iraque.
Há muitos
anos, quando eu participava de competições de artes marciais, eu sabia dizer,
só de ver a atitude de um ou outro competidor, de qual dojo saíra o meu
oponente, onde fora treinado; na maioria das vezes, bastava observar os rituais
de aquecimento antes da luta. Quem está envolvido há muito tempo na atividade
de observar, identificar e documentar homens em guerra sabe também classificar
qualquer tipo de “forças especiais” e suas respectivas “escolas de formação e
treinamento”, só de observar a atitude que tenham numa ou noutra circunstância
especial.
Andrey Denisenko, de óculos escuros, um dos comandantes do Pravy Sektor (Setor Direita) acompanhado dos mercenários "MADE IN USA" |
Com o interesse
dos EUA, sobretudo nos campos de gás na Ucrânia, já cada dia mais desavergonhadamente
aparente, não é absolutamente inconcebível que
empresários estejam contratando mercenários norte-americanos (ou são
contratados por um ou outro oligarca interessado, ou por “agência-de-três-letras”
[CIA,
FBI, são taaaaantas!] para converter as gangues de bandidos fascistas
em milícias aproveitáveis para assassinar a oposição civil.
Agora, as
observações de Sessini acrescentam probabilidade e verossimilitude aos vazamentos
feitos pelo governo alemão ao jornal Bild : a contratação de
mercenários norte-americanos para fazer o serviço imundíssimo coisa deixa de
ser “inconcebível” e entra na categoria do “provavelmente aconteceu exatamente
desse modo”.
ATUALIZAÇÃO: Algumas das
fotos de Jerome Sessini, feitas em Krasnoarmeysk, inclusive as imagens que
mostram os assassinatos, já estão sendo distribuídas
também na revista Times.
[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama
Song” (também conhecida como “Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”)
dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927)
de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois
autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny.
Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no
primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre
aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os
quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). No Brasil, produzimos versão
SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em “Cida Moreira canta Brecht”,
que incorporamos às nossas traduções desse blogMoon of Alabama, à guisa
de homenagem. Pode ser ouvida a seguir:
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