sábado, 10 de maio de 2014

Hiper-hipocrisia de Kerry alcança a estratosfera

8/5/2014, [*] Finian CUNNINGHAM, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

John "MENTIROSO PATOLÓGICO" Kerry
Putin : "Ele [Kerry] mente abertamente. E ele sabe que mente"!
Como o Secretário de Estado dos EUA, John Kerry consegue? Quando você começa a achar que a hipocrisia desse homem, a capacidade para mentir e enganar alcançaram os limites máximos, o principal diplomata norte-americano dá jeito de fazer mais um salto quântico, para re-engambelar o público. O pensamento irracional do homem já ultrapassou o ponto de não retorno: ninguém mais conseguirá resgatá-lo, de volta a órbita de diálogo humano inteligente.

O mais recente surto de Kerry aconteceu quando, tensíssimo, ele tentava desqualificar os referendos planejados para as regiões leste da Ucrânia, nesse fim de semana. As votações foram organizadas pelos residentes de Donetsk, Lugansk e Slavyansk, dentre outros locais, para determinar um novo arranjo constitucional para aqueles mesmos cidadãos. Pode acontecer de o referendo concluir a favor de uma Ucrânia federalizada, na qual cidades do leste como Carcóvia e Donetsk tornem-se autônomas em relação à capital, Kiev. Ou pode acontecer de o referendo concluir pela secessão, como o povo da Crimeia já decidiu fazer e já fez.

Qualquer observador razoável poderia ver, nos referendos, um momento admirável da democracia local em ação, quando as próprias pessoas determinam o sistema político de governo que desejam e as políticas sociais e econômicas associadas. Claro que um experiente diplomata dos EUA, que, aparentemente, só faz proclamar as virtudes da democracia, teria motivos para elogiar esse exercício popular de liberdade.

Nem tão claro assim.

Nada claro, no caso de John Kerry, nada claro no caso de todo o governo dos EUA. Kerry estava lívido, essa semana, ao falar dos referendos planejados para toda a Ucrânia. Falando ao lado de Lady Catherine Ashton, burocrata nomeada, nunca eleita, encarregada da política exterior da União Europeia, Kerry disse:

Rejeitamos completamente essa tentativa ilegal para rachar a Ucrânia (...) É o manual da Crimeia, outra vez.

A referência pejorativa à Crimeia foi golpe baixo; Kerry falava do referendo legal e perfeito realizado na península do sul, dia 16/3/2014, quando vasta maioria dos votantes crimeanos decidiu separar-se da Ucrânia e requerer sua reincorporação à Rússia.

Catherine Ashton (E), Secretária de Relações Exteruores da UE e John Kerry, Secretário de Estado dos EUA abraçados na MESMA MENTIRA (6/5/2014)
Os norte-americanos são absolutamente incapazes de conviver com essa realidade legal e democrática; então, se põem a tentar denegrir a própria prática democrática; por isso falaram do “manual da Crimeia”, como se fosse algum perigoso “golpe” cerebrado pelos russos para “roubar terra” e territórios ucranianos. O golpe é sempre o mesmo, onde se veja a mão de Kerry: se você não tem razão nem argumentos a seu favor, então, ofenda quem estiver por perto.

Kerry referiu-se ao exercício democrático de autodeterminação no leste da Ucrânia como “ridículo”; e ameaçou que, se o referendo prosseguir, Washington castigará a Rússia com sanções econômicas mais duras. ATENÇÃO: Observem aí a falsa premissa, que Kerry apresenta como se fosse fato verdadeiro: a Rússia seria culpada por o povo da Ucrânia estar exercendo o direito universal à autodeterminação...

Em mais uma escandalosa pirueta mental, o Ministro de Relações Exteriores de Washington insiste em que as eleições presidenciais marcadas para 25/5/2014, pela junta neonazista/neofascista apoiada pelo governo de Obama em Kiev são eleições legítimas e invioláveis. A junta de Kiev, presidida pelo autoproclamado primeiro-ministro e “amigo” de Washington, Arseniy Yatsenyuk [“Yats” – como o chama Victoria Nuland], tomou o poder dia 22/2/2014, depois de invadir o gabinete do presidente eleito, Viktor Yanukovich. ATENÇÃO, Sr. Kerry: isso, sim, são fatos! Aqui não há uma linha de opinião subjetiva.

Victoria "Foda-se a UE" (C) ladeada por elementos da "Junta de Kiev; à direita dela o "inefável" chefe do Partido Nazista Svoboda, Oleh Tyahnybok; atrás vemos o ex-boxeur Vitaly Klitschko; e à esquerda dela o não menos "inefável" Yats! 'Taí o Banderastão! 
Assim sendo, na cabeça de Kerry, a eleição presidencial é válida, apesar de convocada por uma gangue de golpistas, cuja “autoridade” é, para dizer o mínimo, muito precária. Mas os referendos que a população exige e quer realizar no leste e no sul da Ucrânia, e a serem realizados com autoridade inerentemente democrática indiscutível, seriam “ridículos”, “uma farsa”... Que tipo de raciocínio é esse?! É como se Kerry e os norte-americanos já tivessem perdido completamente a vergonha, qualquer vergonha, e, agora, só fizessem repetir que “sim, porque sim, porque sim, porque queremos que assim seja, e acabou a conversa”...

Kerry ameaçou que, se Moscou não apoiar a realização de eleições presidenciais como Kiev deseja, no final de maio, será a ‘'linha vermelha'’ para mais sanções econômicas contra a Rússia.

Por sua vez, o Ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que realizarem-se eleições em pleno surto de agitação e violência em toda a Ucrânia [e antes de ter sido feita a reforma da Constituição] é “absurdo”. Muita gente concorda com esse argumento racional e claro.

Só na semana passada, morreram cerca de 90 pessoas em batalhas de rua entre forças armadas pró-Junta-de-Kiev apoiadas pelo ocidente, e brigadas de autodefesa popular, que continuam a ser formadas em dúzias de cidades e vilas. Essas milícias refletem a oposição das comunidades locais contra o regime dos golpistas de Kiev apoiados pelo governo Obama/União Europeia. A pior violência aconteceu no porto de Odessa, no Mar Negro, na 6ª-feira passada (2/5/2014), onde mais de 40 manifestantes anti-Kiev foram mortos, quando o prédio onde estavam foi invadido e incendiado por apoiadores da junta neonazista de Kiev. Tragicamente, as vítimas haviam participado de manifestação pacífica a favor de um referendo para decidir sobre a federalização, como na região do leste do país.

Nazistas do Partido Svoboda e o Pravy Sektor não abandonam a Praça Maidan
Quase a metade – talvez muito mais que a metade – da população total de 45 milhões de ucranianos veem a junta-em-Kiev como governo de impostores, sem mandato democrático. O regime de Kiev pode ter apoiadores na Praça Maidan e na região oeste do país, em torno de cidades como Lviv. Mas esse apoio absolutamente não implica autoridade legal para governar o país. Aos olhos de muitos ucranianos, sobretudo russos étnicos do leste e do sul, o único mandato que a junta de Kiev tem para governar lhes chegou de fora para dentro – de Washington, Berlin e outros aliados europeus.

Para os manifestantes anti-Kiev, federalistas ou pró-Rússia, o que está acontecendo no país deles é um processo de golpe para “mudança de regime” apoiado pelo ocidente, que pôs no poder um regime neonazista – um governo que acolhe a colaboração de fascistas ucranianos, que tiveram participação ativa no extermínio em massa de milhões de ucranianos eslavos, durante a IIª Guerra Mundial.

Essa mudança de regime fomentada e facilitada foi a culminação de três meses de violentos movimentos de rua provavelmente provocados e sustentados pela CIA, com ocupação de prédios públicos. O massacre de mais de 100 manifestantes e policiais da política antitumultos (os “Berkut” ucranianos) dia 20 de fevereiro, por atiradores espalhados pelos prédios em torno da Praça Maidan e a serviço dos golpistas, foi a gota d’água, que forçou o presidente a abandonar o governo; na sequência, a junta neonazista apoiada pelo ocidente assumiu o poder. A junta é constituída de membros do partido fascista “Partido da Pátria” e de neonazistas do partido Svoboda, cujos paramilitares organizados no chamado “Setor Direita” (Pravy Sektor) constituem hoje a “guarda nacional” e “forças policiais especiais” empregadas na repressão a manifestações que continuam a surgir em todo o país.

John Kerry sempre foi homem de duas caras e duplipensar
Sinal claro da ilegalidade que o ocidente gerou para a Ucrânia, a junta em Kiev está pagando “prêmios” em dinheiro para policiais e informantes que ajudem a reprimir a oposição política. Já se vê bem claramente que a mudança-de-regime à moda EUA nada tem a ver com democracia ou favorecer a associação do país com a União Europeia: o projeto é, todo, do começo ao fim, movimento geopolítico mais amplo de agressão contra a Rússia.

A hiper hipocrisia e o duplipensar de Kerry exemplificam o problema geopolítico mais amplo de por que os EUA tanto precisam escalar o conflito com a Rússia. Os EUA não podem deixar espaço aberto à vigência e à aplicação de leis internacionais, sequer pode haver espaço para diálogo, por simples que seja, porque os EUA agem sempre, integralmente, à margem da lei, um estado-criminoso, que não teria qualquer dever de agir legalmente.

Vladimir Putin
Isso, precisamente, foi o que escreveu o presidente Vladimir Putin da Rússia, em coluna no New York Times, ano passado (11/9/2013):

Analisei atentamente o pronunciamento do presidente Obama à nação, na terça-feira. E gostaria de discordar do que ele disse sobre o excepcionalismo dos Estados Unidos. É extremamente perigoso encorajar as pessoas a considerarem-se elas mesmas excepcionais, seja qual for a intenção. Conclusão inescapável desse tipo de ideia é “somos a raça eleita”.

Por que, então, a surpresa? Sempre foi perfeitamente esperável que Washington, mais dia menos dia, se pusesse a colaborar com neonazistas em Kiev. O governo dos EUA trabalhar aliado a fascistas totalitários não é nem novidade nem contradição: é “avançada” natural...
______________________________________


[*] Finian Cunningham nasceu em Belfast, Irlanda do Norte, em 1963. Especialista em política internacional. Autor de artigos para várias publicações e comentarista de mídia. Recentemente foi expulso do Bahrain (em 6/2011) por seu jornalismo crítico no qual destacou as violações dos direitos humanos por parte do regime barahini apoiado pelo Ocidente. É pós-graduado com mestrado em Química Agrícola e trabalhou como editor científico da Royal Society of Chemistry, Cambridge, Inglaterra, antes de seguir carreira no jornalismo. Também é músico e compositor. Por muitos anos, trabalhou como editor e articulista nos meios de comunicação tradicionais, incluindo os jornais Irish Times e The Independent. Atualmente está baseado na África Oriental, onde escreve um livro sobre o Bahrain e a Primavera Árabe.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.