8/5/2014, [*] Finian CUNNINGHAM, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
John "MENTIROSO PATOLÓGICO" Kerry Putin : "Ele [Kerry] mente abertamente. E ele sabe que mente"! |
Como o Secretário
de Estado dos EUA, John Kerry consegue? Quando você começa a achar que a
hipocrisia desse homem, a capacidade para mentir e enganar alcançaram os
limites máximos, o principal diplomata norte-americano dá jeito de fazer mais
um salto quântico, para re-engambelar o público. O pensamento irracional do
homem já ultrapassou o ponto de não retorno: ninguém mais conseguirá
resgatá-lo, de volta a órbita de diálogo humano inteligente.
O mais
recente surto de Kerry aconteceu quando, tensíssimo, ele tentava desqualificar
os referendos planejados para as regiões leste da Ucrânia, nesse fim de semana.
As votações foram organizadas pelos residentes de Donetsk, Lugansk e Slavyansk,
dentre outros locais, para determinar um novo arranjo constitucional para aqueles
mesmos cidadãos. Pode acontecer de o referendo concluir a favor de uma Ucrânia
federalizada, na qual cidades do leste como Carcóvia e Donetsk tornem-se
autônomas em relação à capital, Kiev. Ou pode acontecer de o referendo concluir
pela secessão, como o povo da Crimeia já decidiu fazer e já fez.
Qualquer
observador razoável poderia ver, nos referendos, um momento admirável da
democracia local em ação, quando as próprias pessoas determinam o sistema
político de governo que desejam e as políticas sociais e econômicas associadas.
Claro que um experiente diplomata dos EUA, que, aparentemente, só faz proclamar
as virtudes da democracia, teria motivos para elogiar esse exercício popular de
liberdade.
Nem tão claro
assim.
Nada claro,
no caso de John Kerry, nada claro no caso de todo o governo dos EUA. Kerry
estava lívido, essa semana, ao falar dos referendos planejados para toda a
Ucrânia. Falando ao lado de Lady Catherine Ashton, burocrata nomeada,
nunca eleita, encarregada da política exterior da União Europeia, Kerry disse:
Rejeitamos completamente essa tentativa ilegal
para rachar a Ucrânia (...) É o
manual da Crimeia, outra vez.
A referência
pejorativa à Crimeia foi golpe baixo; Kerry falava do referendo legal e
perfeito realizado na península do sul, dia 16/3/2014, quando vasta maioria dos
votantes crimeanos decidiu separar-se da Ucrânia e requerer sua reincorporação
à Rússia.
Catherine Ashton
(E), Secretária de Relações Exteruores da UE e John Kerry, Secretário de Estado dos EUA abraçados na MESMA
MENTIRA (6/5/2014)
|
Os
norte-americanos são absolutamente incapazes de conviver com essa realidade
legal e democrática; então, se põem a tentar denegrir a própria prática
democrática; por isso falaram do “manual da Crimeia”, como se fosse algum
perigoso “golpe” cerebrado pelos russos para “roubar terra” e territórios
ucranianos. O golpe é sempre o mesmo, onde se veja a mão de Kerry: se você não
tem razão nem argumentos a seu favor, então, ofenda quem estiver por perto.
Kerry
referiu-se ao exercício democrático de autodeterminação no leste da Ucrânia
como “ridículo”; e ameaçou que, se o referendo prosseguir, Washington castigará
a Rússia com sanções econômicas mais duras. ATENÇÃO: Observem aí a falsa
premissa, que Kerry apresenta como se fosse fato verdadeiro: a Rússia seria
culpada por o povo da Ucrânia estar exercendo o direito universal à
autodeterminação...
Em mais uma
escandalosa pirueta mental, o Ministro de Relações Exteriores de Washington
insiste em que as eleições presidenciais marcadas para 25/5/2014, pela junta
neonazista/neofascista apoiada pelo governo de Obama em Kiev são eleições
legítimas e invioláveis. A junta de Kiev, presidida pelo autoproclamado
primeiro-ministro e “amigo” de Washington, Arseniy Yatsenyuk [“Yats” – como o
chama Victoria Nuland], tomou o poder dia 22/2/2014, depois de invadir o
gabinete do presidente eleito, Viktor Yanukovich. ATENÇÃO, Sr. Kerry: isso,
sim, são fatos! Aqui não há uma linha de opinião subjetiva.
Assim sendo,
na cabeça de Kerry, a eleição presidencial é válida, apesar de convocada por
uma gangue de golpistas, cuja “autoridade” é, para dizer o mínimo, muito
precária. Mas os referendos que a população exige e quer realizar no leste e no
sul da Ucrânia, e a serem realizados com autoridade inerentemente democrática
indiscutível, seriam “ridículos”, “uma farsa”... Que tipo de raciocínio é
esse?! É como se Kerry e os norte-americanos já tivessem perdido completamente
a vergonha, qualquer vergonha, e, agora, só fizessem repetir que “sim, porque
sim, porque sim, porque queremos que assim seja, e acabou a conversa”...
Kerry ameaçou
que, se Moscou não apoiar a realização de eleições presidenciais como Kiev
deseja, no final de maio, será a ‘'linha vermelha'’ para mais sanções econômicas
contra a Rússia.
Por sua vez,
o Ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que
realizarem-se eleições em pleno surto de agitação e violência em toda a Ucrânia
[e antes de ter sido feita a reforma da Constituição] é “absurdo”. Muita gente
concorda com esse argumento racional e claro.
Só na semana
passada, morreram cerca de 90 pessoas em batalhas de rua entre forças armadas
pró-Junta-de-Kiev apoiadas pelo ocidente, e brigadas de autodefesa popular, que
continuam a ser formadas em dúzias de cidades e vilas. Essas milícias refletem
a oposição das comunidades locais contra o regime dos golpistas de Kiev
apoiados pelo governo Obama/União Europeia. A pior violência aconteceu no porto
de Odessa, no Mar Negro, na 6ª-feira passada (2/5/2014), onde mais de 40
manifestantes anti-Kiev foram mortos, quando o prédio onde estavam foi invadido
e incendiado por apoiadores da junta neonazista de Kiev. Tragicamente, as
vítimas haviam participado de manifestação pacífica a favor de um referendo
para decidir sobre a federalização, como na região do leste do país.
Nazistas do Partido Svoboda e o Pravy Sektor não abandonam a Praça Maidan |
Quase a
metade – talvez muito mais que a metade – da população total de 45 milhões de
ucranianos veem a junta-em-Kiev como governo de impostores, sem mandato
democrático. O regime de Kiev pode ter apoiadores na Praça Maidan e na região
oeste do país, em torno de cidades como Lviv. Mas esse apoio absolutamente não
implica autoridade legal para governar o país. Aos olhos de muitos ucranianos,
sobretudo russos étnicos do leste e do sul, o único mandato que a junta de Kiev
tem para governar lhes chegou de fora para dentro – de Washington, Berlin e
outros aliados europeus.
Para os
manifestantes anti-Kiev, federalistas ou pró-Rússia, o que está acontecendo no
país deles é um processo de golpe para “mudança de regime” apoiado pelo
ocidente, que pôs no poder um regime neonazista – um governo que acolhe a
colaboração de fascistas ucranianos, que tiveram participação ativa no
extermínio em massa de milhões de ucranianos eslavos, durante a IIª Guerra
Mundial.
Essa mudança
de regime fomentada e facilitada foi a culminação de três meses de violentos
movimentos de rua provavelmente provocados e sustentados pela CIA, com ocupação
de prédios públicos. O massacre de mais de 100 manifestantes e policiais da
política antitumultos (os “Berkut” ucranianos) dia 20 de fevereiro, por
atiradores espalhados pelos prédios em torno da Praça Maidan e a serviço dos
golpistas, foi a gota d’água, que forçou o presidente a abandonar o governo; na
sequência, a junta neonazista apoiada pelo ocidente assumiu o poder. A junta é
constituída de membros do partido fascista “Partido da Pátria” e de neonazistas
do partido Svoboda, cujos paramilitares organizados no chamado “Setor Direita” (Pravy
Sektor) constituem hoje a “guarda nacional” e “forças policiais especiais”
empregadas na repressão a manifestações que continuam a surgir em todo o país.
John Kerry sempre foi homem de duas caras e duplipensar |
Sinal claro
da ilegalidade que o ocidente gerou para a Ucrânia, a junta em Kiev está
pagando “prêmios” em dinheiro para policiais e informantes que ajudem a
reprimir a oposição política. Já se vê bem claramente que a mudança-de-regime à
moda EUA nada tem a ver com democracia ou favorecer a associação do país com a
União Europeia: o projeto é, todo, do começo ao fim, movimento geopolítico mais
amplo de agressão contra a Rússia.
A hiper
hipocrisia e o duplipensar de Kerry
exemplificam o problema geopolítico mais amplo de por que os EUA tanto precisam
escalar o conflito com a Rússia. Os EUA não podem deixar espaço aberto à
vigência e à aplicação de leis internacionais, sequer pode haver espaço para
diálogo, por simples que seja, porque os EUA agem sempre, integralmente, à
margem da lei, um estado-criminoso, que não teria qualquer dever de agir
legalmente.
Vladimir Putin |
Isso,
precisamente, foi o que escreveu o presidente Vladimir Putin da Rússia, em coluna
no New York Times, ano passado (11/9/2013):
Analisei atentamente o pronunciamento do
presidente Obama à nação, na terça-feira. E gostaria de discordar do que ele
disse sobre o excepcionalismo dos Estados Unidos. É extremamente perigoso
encorajar as pessoas a considerarem-se elas mesmas excepcionais, seja qual for
a intenção. Conclusão inescapável desse tipo de ideia é “somos a raça eleita”.
Por que,
então, a surpresa? Sempre foi perfeitamente esperável que Washington, mais dia
menos dia, se pusesse a colaborar com neonazistas em Kiev. O governo dos EUA
trabalhar aliado a fascistas totalitários não é nem novidade nem contradição: é
“avançada” natural...
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[*] Finian Cunningham nasceu em Belfast,
Irlanda do Norte, em 1963. Especialista em política internacional. Autor de
artigos para várias publicações e comentarista de mídia. Recentemente foi
expulso do Bahrain (em 6/2011) por seu jornalismo crítico no qual destacou as
violações dos direitos humanos por parte do regime barahini apoiado pelo
Ocidente. É pós-graduado com mestrado em Química Agrícola e trabalhou como
editor científico da Royal Society
of Chemistry, Cambridge, Inglaterra, antes de seguir carreira no
jornalismo. Também é músico e compositor. Por muitos anos, trabalhou como
editor e articulista nos meios de comunicação tradicionais, incluindo os
jornais Irish Times e The
Independent. Atualmente está baseado na África Oriental, onde escreve um
livro sobre o Bahrain e a Primavera Árabe.
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