sexta-feira, 2 de maio de 2014

Mais uma ideia totalmente louca do Banderastão (ex-Ucrânia)

1/5/2014, The Saker, The Vineyard of the Saker  
Tradução: mberublue


The Saker
Todo santo dia produz sua cota de notícias completamente insanas que vêm dos fundões da Ucrânia/Banderastão. Hoje não é exceção. Vejam vocês mesmos esta manchete do site da BBC:

“Enquanto a crise se aprofunda, a Ucrânia restabelece o serviço militar obrigatório”

Para os telespectadores zumbificados em frente à TV, talvez soe significativo. Mas que sentido tem isso? Temos que voltar no tempo, para lembrar de onde vem o exército ucraniano e como era quando da independência do país, da URSS.

Destruí meus arquivos há tempos e simplesmente não tenho paciência para fuçar na internet durante horas, na busca do que a Ucrânia herdou da URSS em termos militares. Eu já tinha conhecimento que eles herdaram o que comumente se chama de “2º escalão estratégico”, que pode traduzir-se, numa linguagem bem simples, por “sistemas modernos de armamento, não; mas em grande quantidade”. De repente, me deparei hoje com um interessante artigo da mídia russa, que acabou por me fornecer exatamente a informação de que eu estava precisando: uma descrição do tipo de armamento e de pessoal de que dispunham as forças armadas ucranianas no início, logo após a independência.

Ucrânia oriental - região revoltada (cor mais escura)  contra o "Banderastão" - 1/5/2014
Pelo visto, a Ucrânia tinha:

700.000 militares em serviço
14 divisões de fuzileiros motorizados.
4 divisões de tanques
3 divisões de artilharia
8 brigadas de artilharia
4 brigadas Spetsnaz
2 brigadas aerotransportadas
7 regimentos de helicópteros de ataque
3 exércitos aéreos (mais ou menos 1.100 aviões de combate)
1 Exército de Defesa Aérea independente. 

Nada mau, n’é?

Atualmente, existe todo tipo de especulação sobre o número das forças militares ucranianas. Essas especulações vão desde várias dezenas de milhares, até uns poucos milhares. Na realidade, tudo sempre depende do modo de contar e do objeto da contagem. Deve-se deixar bem claro que de nada adianta contar feijões, se o exército ucraniano é tão relutante e/ou tão incapaz de esmagar uma rebelião de apenas algumas centenas de homens armados apoiados por sua vez por alguns milhares de civis desarmados (falo aqui apenas sobre pessoas que estejam efetivamente guarnecendo barricadas e ocupando prédios, não sobre simpatizantes da causa). Falando sério: a insurgência pró-Rússia no leste ucraniano poderia ter sido vencida só com um batalhão bem treinado de tropas aerotransportadas. O regime não tem nem isso.

Por quê?

Duas razões concorrem para esta situação: a primeira é que existe um fluxo constante de relatórios consistentes e que se confirmam, dando conta de que os insurgentes pró-Rússia e os soldados ucranianos simplesmente resistem a atirar uns contra ou outros, mesmo quando recebem ordens nesse sentido. Além disso, consta que ambos os lados mantêm contatos regulares, tendo firmado um acordo informal de não atirarem uns nos outros.

A outra razão é, claro, 22 anos de “democracia”. Não esqueça que apenas nove anos de democracia quase destruíram a Rússia, que, por volta de 1998-9, estava à beira de um colapso total. Alguns fatores contribuíram para impedir que acontecesse, principalmente a nomeação de Putin, mas a Rússia esteve mesmo muito perto de simplesmente deixar de existir como Estado unitário. Agora pense: se em apenas 8/9 anos, a “democracia” conseguiu causar isso a um gigante como a Rússia, dá para imaginar o que fez a um país muito menor e fraco, como a Ucrânia, decorridos 22 anos.

Ativistas expulsam da Procuradoria de Donetsk a guarda do Banderastão em 1/5/2014
Raciocine que se os militares foram apenas e simplesmente abandonados; o resto da economia foi pilhado, completa e entusiasticamente, pelos oligarcas. Pense em Berezovski, pense em Khodorkovski e depois multiplique por 10 ou 20; e amplie o período de constante prevaricação, de nove para 22 anos. Você verá que é muito surpreendente que ainda exista algo levemente assemelhado a uma economia na Ucrânia. É verdade que muito do que restou está localizado no leste e é mantido respirando através do apoio do dinheiro russo. E tenho que dizer que, mesmo não sendo eu admirador do sistema soviético, reconheço que o simples fato de que a “democracia” levou tanto tempo para destruir a Ucrânia é testemunho da capacidade de resistência do que eu gostaria de chamar “dinâmica de capital” deixada pela União Soviética, para os Estados que a sucederam. A própria Rússia só resistiu ao absoluto terror econômico dos anos 1990, graças a essa “dinâmica” herdada da URSS.

É por isso que não é de se admirar que as pessoas acabem tendo saudade nostálgica da era soviética – por um mecanismo de defesa, de autoproteção, o ser humano tende a recordar o que foi bom, muito mais facilmente que o que foi mau (e quem serviu ao exército e teve treinamento de campo sabe muito bem disso). E se torna inegável que, comparando-se as atuais promessas vazias e os horrores da “democracia” e o sistema soviético, o sistema soviético mostre-se muito, mas muito, melhor.

Agora, já é claro que a Ucrânia eventualmente conseguiu perder tudo o que recebera da União Soviética. Já não há o impulso da esquerda. A Ucrânia está completamente parada no tempo e se desintegra com rapidez.

Com tudo isso, o que dizer da ideia de voltar ao alistamento militar obrigatório de recrutas?

Para dizer pouco, é estupidez realmente fantástica. Não há outra maneira de dizer.

Primeiro, e por mais paradoxal que possa soar, a Ucrânia não precisa de militares, e para nada, pela simples razão de que não pode pagar para tê-los. Na realidade, um país está MUITO mais seguro sem militares, de que com militares inúteis, porque os militares podem justificar um ataque de país inimigo, mas a ausência deles torna um ataque muito improvável, pela falta de justificativa para a agressão, pelo menos em termos políticos. Mais. Custa décadas e quantia substancial de dinheiro (re)fazer um militar. Como a Ucrânia na crua realidade não pode pagar por isso, por que se preocupa?

Também deve ser levado em conta que a via militar não é a adequada para lidar com insurgências. Nem com os de língua russa no leste, nem com os banderistas do oeste. Essa é tarefa para forças militares responsáveis pela segurança interna, que têm equipamento e treinamento totalmente diferentes do que recebem exércitos regulares. Em outras palavras, a Ucrânia neste momento necessita primeiro e principalmente de forças equivalentes à Berkut – precisamente a força que a Junta acabou de desmobilizar.

Ativistas ocupam a Procuradoria em Donetsk após expulsar guarda do Banderastão em 1/5/2014
Agora, considere a economia. Existiria alguma sabedoria em pôr para fora da economia um segmento enorme de jovens, precisamente no momento em que eles são mais necessários, pelo dinamismo e capacidade de produção? Por quanto tempo permanecerão fora da economia? Leva entre quatro a seis meses, para treinar um soldado. Depois, o tempo normal de serviço é de seis a 12 meses, dependendo do sistema que o exército adote. Em outras palavras, um jovem recruta é tirado de casa, do mercado e da economia, por, no mínimo, um ano completo. Isso – sem sistema que funcione perfeitamente e sem bom enquadramento jurídico – pode ser catastrófico.

Além disso, o que se tornará essa força enorme, mal paga, mal alimentada e mal treinada? Virará mão de obra escrava, para deleite dos generais. Poderá ser utilizada para construir casas e reformar estradas, mas, como força de combate, será zero à esquerda. Acrescente o seguinte: em país quebrando, o que é mais provável que aconteça, com a força recrutada? Virará distribuição gratuita de armas de fogo.

Finalmente, mas não menos importante, Turchynov e Iatsenyuk enganam-se a si mesmos: um grande exército ucraniano não seria menos pró-Rússia, por ser grande. Qual a vantagem de criar um enorme exército se, na realidade, tudo o que se faz é aumentar o número de soldados em serviço, os quais mudarão de lado, para acabar ajudando os civis de língua russa? Não me lembro: mencionei que os maiores centros populacionais da Ucrânia se localizam no leste?

Francamente: a proposição de voltar a ter um enorme exército, com o retorno do recrutamento, é insanidade total, nada mais, nada menos. Só queria saber quais os loucos idiotas do ocidente que deram a Turchynov e Yatsenyuk essa ideia maluca. McCain? Hillary? Kerry?

Mas nem tudo são más notícias. A boa nova é que esse tipo de coisa doida mostra que os líderes da Junta perderam de vez qualquer noção de realidade. E cada medida oficialmente e pomposamente anunciada só faz piorar as coisas.

A continuar este ritmo de besteiras, o fim do Banderastão pode estar bem perto.


The Saker

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