7/5/2014, [*] Pepe Escobar, RT –Rússia Today
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Entreouvido no
quiosque “Bico do Corvo” na Vila Vudu e registrado por um dos tradutores: A imbecilização ativa da opinião
pública no Brasil-2014, promovida por jornais, jornalismos e “jornalistas
nacionais”, prossegue em todos os veículos do GRUPO GAFE (Globo, Abril, Folha
de SP, Estado). Por exemplo-amostra:
·
Em
O Globo de 8/5/2014 em: “Separatistas
pró-Rússia rejeitam adiar referendo em Donetsk”
·
Folha de S.Paulo de 8/5/2014 em: “Separatistas
ucranianos decidem realizar referendo no domingo”; e
·
Também
na Folha de S.Paulo, mais noticiário FALSO, distribuído por Agências
internacionais, que o sub-do-sub do sub-jornalismo brasileiro COMPRA, para
re-impingir aos próprios consumidores, quer dizer, vocês-aí! Tenham a santa
paciência! 8-))).
Ucrânia federalista, 5/5/2014 - foto de Sergey Supinnsky |
O Fundo Monetário Internacional, FMI, aprovou um “empréstimo”
de 17 bilhões de dólares à Ucrânia. Os primeiros
US$ 3,2 bilhões chegaram
na 4ª-feira (7/5/2014).
É essencial
identificar as condições associadas a esse “empréstimo” estilo Máfia. Nada que
sugira, nem de longe, que haja à vista algum renascimento de alguma economia
ucraniana. O esquema é inextrincavelmente associado às notórias políticas de
“ajuste estrutural” tamanho único do FMI, que centenas de milhões de pessoas
conhecem bem, da América Latina e Sudeste da Ásia ao Sul da Europa.
Os mudadores
de regime em Kiev fizeram o
dever de casa, lançando o inevitável pacote de austeridade – de aumento de
impostos e congelamento de aposentadorias, a aumento seco de mais de 50% no
preço do gás natural para calefação dos lares ucranianos. O “povo ucraniano” não conseguirá pagar as próprias contas,
no próximo inverno.
Como bem se
pode prever, o empréstimo gigante nada tem a ver com beneficiar “o povo
ucraniano”. Kiev está em
bancarrota. Há credores de todos os tipos, de bancos ocidentais à Gazprom – que tem a receber nada menos que $2,7 bilhões. O “empréstimo” pagará o que é devido a esses
credores; para nem falar que $5 bilhões do
total que o FMI empresta hoje está sendo emprestado para pagar – claro! –
empréstimos anteriores do próprio FMI. Nem é
preciso dizer que grande parte dos fundos serão devidamente rapinados – à moda
afegã – pela matilha de oligarcas hoje alinhados com o governo de “Yats”, em Kiev.
O FMI já alertou que a Ucrânia está em recessão e pode vir a carecer de uma extensão do
empréstimo já concedido. No idioma de duplifalar do FMI, tratar-se-á de “recalibração significante do programa”. É o que
acontecerá, segundo o FMI, se Kiev perder o controle do Leste e do Sul da
Ucrânia – o que já parece ser opera in progress.
O Leste da Ucrânia é o coração industrial do país – com o
PIB per capita mais alto e onde estão indústrias e minas chaves, principalmente
na região deDonetsk, precisamente a mais fortemente
mobilizada contra os mudadores-de-regime em Kiev aliados dos
neofascistas/neonazistas. Se a
conflagração atual persistir, implicará que também as exportações e a
arrecadação desabarão.
Eis, pois, o
que o FMI prescreve para o bando de oligarcas – alguns dos quais financiam
muito ativamente e diretamente as milícias do Setor Direita: Enquanto vocês
enfrentarem rebelião popular no leste e no sul da Ucrânia, estejam sossegados; vocês, sim, receberão mais dinheiro do
FMI, aí adiante, não demora. Podem chamar de rota de colisão, no capitalismo de
desastre.
Militantes nazi-fascistas do Pravy Sektor (Setor Direita) montam guarda no Parlamento ucraniano em Kiev (28/3/2014) - foto: Genya Savilov |
Queremos
invasão, invasão, invasão
Entrementes,
a Escola
Obama de diplomacia de delinquentes juvenis nunca melhora: o “plano” é forçar Moscou a “invadir”. Os
lucros seriam vastíssimos. Washington destruiria de
uma vez por todas a emergente parceria estratégica entre União Europeia
(especialmente Alemanha) e Rússia; parte de uma interação mais orgânica entre
Europa e Ásia; manteria a Europa sob o tacão dos EUA perenemente; e daria novo
prestígio ao RobocopOTAN, depois da humilhação que padeceu no
Afeganistão.
Bem, não são
delinquentes juvenis, à toa. Esse plano brilhantíssimo esquece um componente
crucial: achar soldados em número suficiente, dispostos a cumprir ordens de Kiev. Os mudadores-de-regime desmobilizaram a
polícia federal antitumultos da Ucrânia, a unidade Berkut. Grande erro – porque são profissionais, porque são mal
remunerados, e porque agora, tendo-se sentido traídos e abandonados, os ex-Berkut
estão ao lado dos ucranianos que querem a federalização.
O que o “Ministério-da-Verdade”
ordenou que toda a imprensa-empresa ocidental chame de “separatistas pró-russos” (ver epígrafe) são, de fato, a favor da
federalização da Ucrânia: são ucranianos federalistas. Não querem separar nada de lugar algum. Não querem unir-se
à Federação Russa. O que querem é uma Ucrânia federalizada, com províncias
fortes e autônomas.
Enquanto
isso, no Oleogasodutostão...
Washington está ativamente querendo que a confrontação
entre Rússia e União Europeia escape completamente a qualquer controle, no front do gás.Até 2050, o gás natural responderá por 25% das carências da União Europeia. Desde 2011 a Rússia é a
principal fornecedora, à frente de Noruega e Argélia.
A Comissão
Europeia (CE), antro de burocratas, concentra-se agora em ataques contra o
gasoduto Ramo Sul da Gazprom – cuja construção começa em junho. A Comissão Europeia insiste que os acordos já
assinados entre Rússia e sete países da União Europeia infringiriam as leis da
União Europeia (éé?! E como
não perceberam antes?!). A Comissão
Europeia quer que o Ramo Sul seja projeto “Europeu”, não projeto da Gazprom.
Ora, ora,
depende de muita diplomacia a sério e de políticas internas de vários países
europeus membros da União Europeia. Por exemplo, Estônia eLituânia dependem 100% da Gazprom. Alguns países, como a Itália, importam mais de 80% da
energia que consomem; outros, como o
Reino Unido, só 40%.
Operários trabalham nas
tubulações feitas para as obras oleogasoduto South Stream na fábrica da Metais OMK
em Vyksa na região de Nizhny, Novgorod 15/4/2014. (foto:Sergei Karpukhin)
|
É como se a
Comissão Europeia acordasse repentinamente do torpor habitual, e decidisse que
o Ramo Sul é futebolzinho político. Günther Oettinger, da Comissão
da União Europeia para energia, está tocando a corneta das leis de proteção à
concorrência na UE chamadas “terceiro pacote de energia” – o qual, na essência,
só visa a forçar a Gazprom a abrir o
Ramo Sul a outros fornecedores. Moscou já
apresentou queixa-crime à Organização Mundial do Comércio [orig. World Trade Organization (WTO)].
Aplicação
rigorosa de lei da União Europeia da qual ninguém jamais ouvira falar é uma
coisa; fatos em campo são outra. O Ramo Sul pode custar mais de 16 bilhões de
euros – mas será construído, mesmo se tiver de ser financiamento previsto no
orçamento da Rússia.
Além do mais,
a Gazprom, só em 2014, já assinou vários novos negócios com
parceiros na Alemanha, Itália, Áustria e Suíça. A italiana ENI e a francesa EDF já eram parceiras desde o início. Alemanha, Itália, Bulgária, Hungria e Áustria estão
profundamente envolvidas no Ramo Sul. Não surpreende
que nenhum desses países favoreça novas sanções contra a Rússia.
Quanto a
algum movimento substancial pela União Europeia para encontrar novas fontes de
oferta, é processo que demorará anos – e que deve envolver a melhor fonte
alternativa existente, o Irã, assumindo-se que, ainda esse ano, se alcance
algum tipo de acordo nuclear com o P5+1. Outra fonte
possível, o Cazaquistão, exporta menos do que poderia (porque o país enfrenta
problemas de infraestrutura).
Assim sendo,
voltemos então à tragédia ucraniana. Moscou não
“invadirá”. E por que invadiria? O ajuste estrutural do FMI será ainda mais devastador para a Ucrânia, que uma guerra;
pode acontecer até de a maioria dos ucranianos acabar forçada a suplicar ajuda
da Rússia. Berlim não se porá em posição antagonista
contra Moscou. E assim
então, se vê que a retórica de Washington, de “isolar”
a Rússia, aí está, à vista de todos, como o que realmente é: delinquência
juvenil.
O que resta
ao Império do Caos é rezar para que o caos se alastre por toda a Ucrânia, consumindo a energia de Moscou. E tudo
isso, só porque o establishment de Washington borra nas calças, de medo de uma potência
emergente na Eurásia. Aliás: de
duas, não de uma: Rússia e China. Pior: duas, e
estrategicamente alinhadas. Muito pior: tendendo a integrar Ásia e Europa.
Assim se
entende o quadro: uma gangue de velhotes norte-americanos assustados, fazendo
caretas de delinquentes juvenis: “Não gosto de você. Estou de mal de você. Vou
linchar você. Quero que você morra”.
[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São
Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The
Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista
de política de blogs e sites como: Tom Dispatch,
Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today, The Real News Network Televison e Al-Jazeera. Seus artigos podem
ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu
e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
− Globalistan:
How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red
Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007.
− Obama
Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
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