segunda-feira, 12 de maio de 2014

Síria, 2014: “O Irã e o presidente Assad venceram a guerra”

11/5/2014, [*] Simon Tisdall (em Teerã), The Guardian, UK
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

O Presidente Bashar al-Assad saúda o povo à saída do Opera House em Damasco
Muitos já dizem que a estratégia ocidental na Síria encorajou radicais e saiu-lhe pela culatra, fazendo aumentar a ameaça contra a segurança da Europa, agora que os jihadistas começam a fugir da Síria para seus países de origem. Altos funcionários iranianos dizem que:

Os norte-americanos só falavam de substituir Assad, mas… por quem? A única coisa que conseguiram foi encorajar grupos radicais, e tornar as fronteiras muito menos seguras.

O Irã e o presidente Bashar al-Assad, íntimo aliado dos iranianos venceram a guerra na Síria, e a campanha orquestrada pelos EUA em apoio à tentativa da oposição para derrubar o regime sírio fracassou completamente – disseram ao The Guardian vários altos funcionários iranianos.

Alaeddin Borujerdi
Em séries de entrevistas em Teerã, altos funcionários, dos que modelam a política externa iraniana, dizem que a estratégica do ocidente na Síria pouco fez além de estimular radicais, gerar e alimentar o caos e, feitas as contas certas, saiu-lhes pela culatra, agora que as forças do governo sírio, comandadas pelo presidente Assad, já assumem total controle da situação em campo.

Vencemos na Síria – disse Alaeddin Borujerdi, presidente da comissão de política externa e segurança nacional do Parlamento do Irã, e elemento muito influente dentro do governo. O regime permanecerá. Os norte-americanos perderam tudo.

O terrorismo perpetrado pelos grupos jihadistas ligados à al-Qaeda e indivíduos armados financiados por países sunitas muçulmanos árabes são agora a principal ameaça que o povo sírio enfrenta, disse Borujerdi. Muitos combatentes estrangeiros, que viajaram para a Síria, da Grã-Bretanha e outros países europeus, logo voltarão para casa.  Nos preocupa agora a segurança futura da Europa – Borujerdi continuou.


Amir Mohebbian
Amir Mohebbian, estrategista conservador e conselheiro do presidente disse que:

(...) foi fácil para nós vencermos o jogo na Síria. Os EUA absolutamente não entendem a Síria. Queriam substituir Assad mas… nem perceberam que não havia alternativa para eles. Só conseguiram encorajar grupos radicais e tornar as fronteiras ainda menos seguras. Aceitamos que é preciso mudar, na Síria – mas gradualmente. Se não for assim, será o caos.

O Irã muçulmano xiita é o mais poderoso apoiador regional de Assad, e sabe-se que investiu bilhões de dólares para promover o governo de Assad desde os primeiros movimentos de oposição, em março de 2011. Ao lado da Rússia, principal fornecedora de armas para o regime sírio, o Irã salvou Assad contra todas as tentativas de golpe com “mudança de regime” que o ocidente organizou contra ele.

Analistas ocidentais dizem que o Irã está engajado numa luta regional por poder, ou guerra à distância, que vai bem além da Síria, contra os estados árabes sunitas do Golfo, principalmente a Saudi Arabia. Portanto, Teerã teria agora óbvio interesse em proclamar a vitória do regime sírio alawita, que luta contra muitos rebeldes sunitas. Mas funcionários iranianos e especialistas regionais negam que essa seja a motivação principal.

Majid Takht-Ravanchi
Majid Takht-Ravanchi, Vice-Ministro de Relações Exteriores do Irã, disse que a prioridade é aceitar que o golpe falhou e restaurar a estabilidade na Síria, antes das eleições presidenciais previstas para o próximo mês.

O extremismo e a desordem na Síria têm de ser enfrentados com seriedade pela comunidade internacional. Os países que estão fornecendo terroristas e forças extremistas têm de parar de alimentar o terror e os terroristas – disse Takht-Ravanchi.

O Irã tem boas relações com o governo sírio, o que não implica que nos ouçam sempre – ele continuou. E negou que o Irã tenha fornecido armas e combatentes das unidades dos Guardas Revolucionários, para ajudar a derrotar os terroristas sunitas, como disseram agências ocidentais de inteligência. O Irã tem presença diplomática ali. Nada há de estranho ou de diferente, nisso. Não precisamos armar o governo sírio  – disse ele.

Apesar de sua influência com Damasco e o Hezbollah, a milícia libanesa xiita que luta ao lado das forças do governo sírio, o Irã foi sempre excluído das conversações internacionais para forjar um acordo de paz, por causa de objeções dos EUA e da Grã-Bretanha, que alegam que Teerã não reconhece a importância de Assad deixar o governo.

Mas depois da semana passada, quando os rebeldes mantidos e armados pelo ocidente e pelos países do Golfo afinal se retiraram derrotados, da estratégica cidade de Homs – a capital da revolução síria –, alguns políticos e comentaristas ocidentais também já concluíram que Assad venceu.

Os EUA e estados árabes do Golfo seus aliados forneceram dinheiro, equipamento e armas aos terroristas ativos na Síria. Ano passado, o Presidente dos EUA, Barack Obama, aproximou-se muito perigosamente de lançar mísseis de ataque contra o governo de Assad, sob o falso pretexto de que o exército sírio teria usado armas químicas. Mas o ataque não se consumou e a decisão de Obama, de retroceder, foi interpretada em Teerã e em Damasco, como sinal de que os EUA já não estariam muito ativamente empenhados em continuar a tentar vencer aquela guerra.

Mohammad Marandi
Entendo que os norte-americanos cometeram erro enorme na Síria e acho que sabem disso, embora jamais o admitam. Se tivessem aceitado o Plano Annam, em 2012, que teria mantido Assad no governo, com um cessar-fogo respeitado por todos e eleições monitoradas pela comunidade internacional teriamos evitado tudo isso .
O Irã sempre acreditou profunda e sinceramente que não teríamos outra possibilidade, se não a de garantirmos total apoio ao governo de Assad. Qualquer outra via teria resultado no colapso da Síria, e o país teria sido perdido para os terroristas. Calcula-se que mais de 150 mil pessoas tenham perdido a vida no conflito sírio, e pelo menos 9 milhões perderam as casas e locais de moradia.disse Mohammad Marandi, professor universitário em Teerã




[*] Simon Tisdall é Editor Assistente para Assuntos Internacionais do The Guardian e colunista política externa. Anteriormente, sediado em Washington, DC – EUA, publicou vários artigos sobre Política Internacional em inúmeras jornais e revistas norte-americanos. Entre 1996 e 1998 foi o Editor de Assuntos Internacionais do The Observer.

Um comentário:

  1. Apoio completamente o presidente sírio Assad, da mesma forma em relação ao Irã e o papel deste na "guerra civil(...)" insuflada pelos americasnos... depois de ver as inumanas imagens de execuções com soldados, parentes destes, padres e cristãos sírios decapitados pelos "rebeldes(...)" insuflados,treinados,armados e pagos pelos americanos, jamais poderia ser de outra forma...

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