29/5/2014, [*] Nick Cunningham
− Testosterone PIT
Traduzido por mberublue
"Fraccking" - fraturação da rocha xistosa. Processo de extração |
O setor de extração de gás/petróleo do xisto dos
Estados Unidos pode ser bem menos forte do que muita gente pensa. Em análise
mais recente, Bloomberg News descobriu um elevado nível de endividamento
das indústrias do setor, com muitas companhias se endividando mais e mais,
desapontadas com suas receitas.
Nos
últimos quatro anos, relata a pesquisa, quase dobrou a dívida contraída pelas
empresas de petróleo e gás de xisto. Enquanto as companhias perfuradoras
necessitaram dobrar os empréstimos para se expandir, suas receitas nesses
quatro anos não seguiram o mesmo ritmo, crescendo meros 5,6%.
O
caso é que embora muitos poços de petróleo e gás de xisto ofereçam uma produção
inicial espetacular, esta cai verticalmente após o primeiro ou segundo ano. Se
as empresas não conseguirem pagar suas dívidas nesse pico inicial, acabam com
muito mais dificuldades nos anos seguintes do que anteciparam. Elas caem em uma
espiral descendente em que uma grande parte de suas receitas tem que ir para o
pagamento de dívidas.
Das
61 companhias pesquisadas, a Bloomberg
concluiu que mais ou menos uma dúzia está gastando 10 % de suas receitas apenas
para pagar os juros das dívidas contraídas.
Diagrama de prospecção de gás de xisto |
O
que significa haver tantas companhias de perfuração de gás/petróleo de xisto
lutando para obter algum lucro? Quer dizer que o entusiasmo com o qual tantos
investidores colocaram dinheiro nas companhias do xisto pode ter chegado ao
fim. A indústria está abalada.
As
empresas em pior situação – aquelas que estão muito endividadas – sem um
portfólio de produção em crescimento, podem estar a caminho da falência.
Conforme vão caindo os elos mais fracos, consolidam-se e permanecem em campo
apenas os produtores mais fortes e organizados.
É
normal que qualquer indústria sofra um abalo, quando diminui o ímpeto inicial
de crescimento. Ocorre que, ao contrário da indústria de tecnologia, por
exemplo, na indústria do gás/petróleo de xisto, a sorte econômica das
companhias ramifica-se para além delas, atingindo seus empregados e investidores.
Se
as companhias perfuradoras começam a fracassar, o crescimento da produção de
óleo e gás natural pode diminuir drasticamente ou mesmo parar. A administração
de informações energéticas projeta em seu mais recente Panorama Anual de Energia que a produção de gás natural nos Estados Unidos crescerá a um
percentual de 1,6% ao ano até meados de 2040, o que quer dizer que a produção
deverá se expandir para admiráveis 55%.
Os
dados podem estar sendo oferecidos de forma muito otimista, levando-se em
consideração que as empresas neste mesmo instante estão lutando para ter
rentabilidade na venda do xisto. Dito de outra forma, nos preços atuais, a
produção pode não ser sustentável. Para que o crescimento continue no mesmo
nível, o preço tem que subir.
Movimentação do solo superficial causada por "fracking" |
Seja
o crescimento mais lento, sejam os preços mais elevados, de qualquer maneira,
ambos os cenários alterariam de forma dura as expectativas sobre a imagem
vendida pelos Estados Unidos quanto à sua matriz energética. Como exemplo, se
para manter o crescimento, o preço do gás necessitar de uma majoração, isso
diminuiria muito a oportunidade da exportação de grandes volumes de gás natural
liquefeito (GNL), porque as companhias americanas enfrentariam difícil
competição para a venda do gás americano que teria que ser liquefeito para ser
depois vendido a preço mais elevado para os consumidores ávidos no leste
asiático.
Como
resultado, as companhias que investem dinheiro na construção de terminais de
exportação de gás natural liquefeito, que custam bilhões de dólares, poderia
começar a achar esse gasto um tanto exagerado.
Um
abalo na indústria do xisto teria consequências também no setor de energia
elétrica, dado que o estancamento da produção de gás de xisto seria como uma
espécie de bênção para a energia renovável. Esperava-se que o gás natural seria
usado em grande escala para a geração de energia elétrica, mantendo os preços
da eletricidade estáveis, mesmo porque a produção de gás estaria sempre em
ascensão. Como essas expectativas parecem erradas, abre-se espaço para outras
formas de geração de energia elétrica. Já que carvão e a energia nuclear são
cada vez menos competitivos no século 21, criou-se uma janela de oportunidades
enorme para a energia renovável.
Poluição dos aquíferos causada pela extração de gá de xisto por "fracking" |
Em
relação ao petróleo, uma produção fraca do xisto quer dizer que os Estados
Unidos continuarão a contar com a importação de petróleo no lugar da produção
nacional. Mesmo que isso não queira dizer grande coisa, o fato é que a
indústria americana de petróleo não pode mais vir com a conversa fiada de
“independência energética” o que quer dizer que o Congresso terá que se
confrontar com o fato de que os EUA precisam encontrar alternativas ao petróleo
no longo prazo.
Caso
a indústria de gás/petróleo do xisto começar a vacilar, começará também a mudar
esse ópio para muitos problemas energéticos dos Estados Unidos que se chama
“revolução do xisto”.
Em
tempo: Aqui está o porquê de ser uma ilusão, conversa fiada, vento quente, o
papo de que a exportação de gás natural liquefeito dos EUA “vai tirar a Europa
das Garras da Rússia” e ganhar muito dinheiro abastecendo o Japão sedento de
energia. Não passa de uma isca suculenta no jogo das grandes negociatas.
[*] Nick
Cunningham é um escritor
que vive em Washington DC - escreve sobre assuntos que envolvem desde energia
até questões ambientais.
Pode ser encontrado no twitter: @nickcunningham1
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