O Divino
Direito à Usurpação
Raul Longo |
Por Raul
Longo
Amigo:
Como escrevi
a princípio, não quero te infundir pessimismo, mas ainda há pouco recebo outra
notícia daí, mais exatamente de Espanha, que me faz pensar muito sobre este
esteio do sistema capitalista: a usurpação.
Uma notícia
publicada por “El País”, mas retirada de circulação pelos editores do mais
tradicional veiculo da imprensa espanhola, por motivos aparentemente dúbios que
plenamente se elucidam pelas justificativas do próprio “El
País”.
Na verdade a
notícia não trás de nada novo. Apenas confirma o que tu, a Gabriela, todos os
portugueses, espanhóis, gregos, italianos, franceses, cipriotas e cada europeu
já sabe. Mesmo assim foi retirada de circulação do site do “El
País”.
Juan Torrez López |
No artigo o
economista Juan Torrez López do Conselho Científico da AATC - Espanha, sob o
título “A Alemanha contra a Europa”, informa que de 1998 até
2008 a
riqueza dos 10% mais ricos da Alemanha passou de 45% para 53% do total das
riquezas daquele país. Não há nisso nada de anormal, pois sabemos que o
crescimento do capital sempre foi o alvo, o objetivo máximo do projeto
capitalista.
Mas tu bem
sabe que após a exposição dos objetivos, todo projeto determina as metas, as
ações desenvolvidas para atingi-los. É o que fazes em teus projetos culturais,
não é isso? Observando a história recente, podemos concluir que no pós-guerra o
capitalismo estabeleceu como meta a expansão da sociedade de consumo para gerar
o admirável aumento do capital no Hemisfério Norte.
As metas ou
ações referentes ao outro hemisfério são bem outras, mas aí para o norte não
mais as extorsões da miséria dos tempos vitorianos descritos por Dickens, não
mais reduções salariais e aumento de hora/trabalho vividamente narradas por
Zola. Foram ceifadas as vinhas da ira de Steinbeck e desde o início da década de
50 se semeou a classe média do Hemisfério Norte.
E assim os
inimigos samurais reconstruíram o arrasado Japão, transmudados nos íntimos
capitalistas da Tozan ou Mitsubshi. Os fornecedores de armamentos e equipamentos
para as invasões nazistas, como a Krupp, se tornaram grandes produtores de
suprimentos para a ascensão de uma classe média que promoveria o boom do
capital inclusive neste Terceiro Mundo, como aqui no Brasil a Volkswagen
introduziu os alegres rituais dos “domingões” na praia em “Brasílias”
amarelas.
Elio Petri, cineasta italiano |
Mesmo alguns
renitentes do capitalismo primitivo, como a Máfia siciliana, acabaram aderindo
às tentadoras evidências de maior rendimento pelas metas do capitalismo
oficializado e legalizado. Sob as bênçãos do Vaticano e conforme o registro de
Elio Petri, enfim a classe operária alcançou o paraíso ou nele caiu como Pato
Donald.
Embora
camponeses continuassem vagando em busca de sobrevivência, pulmões operários
continuassem arrebentando em oficinas insalubres e crianças sendo abandonadas às
marés da falta de sorte neste mundo cristão e hereditário; o amargo Tio Patinhas
tomou gosto de milk-shakes e a
liberdade foi alcançada dentro de uma calça jeans
desbotada.
Apesar da
realidade de índios, negros, nordestinos, periferias e favelas, também aqui se
chegou à segurança dos Shoppings
Centers, com todos se redimindo no maravilhoso mundo das compras e
desabrochando para um paradisíaco cotidiano “a cores”.
Tom Zé |
Como cantava
Tom Zé, o avanço industrial veio trazer nossa redenção e o capital privado
cresceu em todo o mundo não comunista. Com a falência do capitalismo de estado
da União Soviética, para gaudio da ocidental civilização cristã, neste lado do
mundo só restou mesmo a teimosia cubana que continua mantendo a mania de que
todos têm de ser iguais perante os direitos à Vida.
O que pode
ficar muito bonito lá nos sermões das montanhas bíblicas, mas na realidade dos
embargos capitalistas soa como pornográfica heresia, como bem demonstra a
justificativa do “El País” pela matéria suspensa revelando que no mesmo período
em que cresceram em 8% as riquezas de 10% dos mais ricos da Alemanha, os ganhos
dos 40% que compõem a classe média de lá caíram 4% e do restante 50% mais
pobres, em 3 por cento.
Parece
terrível, mas evidente que metade da população alemã pode muito bem se virar com
apenas 1% do capital acumulado pelo país, afinal foi o que sempre se fez neste
Hemisfério Sul com muito maiores proporções populacionais e bem menores saldos
restantes dos débitos de extravios e remessas ao exterior (Alemanha inclusive),
oficializadas ou não.
Aqui no
Brasil, por exemplo, apenas 1% da população detêm as grandes riquezas e há
países em que apenas uma pessoa é rica: o ditador.
Esse é o caso
da Nigéria que tem a maior população da África e é o maior produtor de petróleo
daquele continente. Com área pouco maior do que metade da área do estado
norte-americano do Alaska estima-se que até o final deste século a população da
Nigéria será maior do que a dos Estados Unidos inteiro.
Embora pareça
alarmante isso de tantas crianças adormecerem famintas, é preciso lembrar que,
em compensação, muitas delas sequer despertam.
Não estou
sendo irônico, sardônico ou tétrico. Apenas sou realista, pois o que esse
momento da Europa exige é realismo para poder entender porque entre 1998 e 2008
não se cumpriu a meta capitalista de repasse dos salários distribuídos para a
população aos patrões detentores do capital da Alemanha, através do consumo dos
40% da classe média que administra o que é produzido pelos 50% de mais pobres.
Os objetivos
do projeto capitalista são inquestionáveis, mas por que não se cumpriram as
metas instituídas no pós-guerra? Por que dessa vez os capitalistas alemães
trataram ao próprio povo como se fosse outro qualquer do Terceiro Mundo?
Para entender
isso e de como a usurpação pela força dos primórdios da humanidade evoluiu para
a divinização que justifica a aparentemente insólita justificativa dos editores
do “El País”, precisamos fazer um pequeno retorno na
história.
Como sabes a
história foi inventada por quem inventou a escrita. De antes da escrita apenas o
que há são indícios pesquisados por paleontólogos, arqueólogos, antropólogos e
outros dedicados observadores do que não foi registrado por não haver escrita
que os documentasse. A esses indícios considera-se como
Pré-História.
Ao inventar a
escrita o homem passou a registrar até a história do que nunca aconteceu, como
fizeram os sumérios que há cerca de 4 mil anos antes de Cristo descobriram que
poderiam gravar sinais em placas de barro fresco que, depois de cozidos e secos,
preservariam estes sinais como documentos do que ali foi imprimido, ainda que
não houvesse acontecido.
Codificaram
aqueles sinais, cada um com um significado, e assim surgiu a escrita. Para
marcar o barro usavam pequenos objetos em forma de cunha e o processo tomou o
nome de escrita cuneiforme.
Posteriormente
outras civilizações da antiguidade desenvolveram diferentes representações
entalhadas ou desenhadas em pedras e pergaminhos. Esses sistemas foram chamados
de escritas hieroglíficas e também interpretaram a história das primeiras
civilizações através de mitologias como na cuneiforme os sumérios contaram suas
próprias versões. Em uma delas um de seus deuses é deixado pela irmã e o filho
de ambos que partem a explorar o mundo desconhecido. Saudoso, o deus molda em
barro as imagens daqueles entes queridos e, mais tarde, infunde-lhes vida
lavando as esculturas com seu próprio sangue. Para os sumérios, assim surgiram
os primeiros seres humanos.
Em outra
lenda registrada pela escrita cuneiforme, os sumérios representam a evolução
cultural de seus ancestrais através de dois irmãos: Ab-el e K-im. O primeiro um
coletor como os estudiosos concluem terem sido as atividades de sobrevivência
dos primeiros grupos humanos que se mantinham exclusivamente do que coletavam da
natureza através da caça, pesca, etc. K-im teria introduzido a agropecuária. De
fato, os indícios do surgimento das atividades agrícolas indicam aos sumérios
que substituíram o nomadismo por costumes e providências de povos sedentários,
tornando-os os construtores das primeiras cidades da história da
humanidade.
Os recursos
hídricos eram fundamentais para o desenvolvimento da agricultura e provavelmente
os sumérios a ela se dedicaram por se estabelecerem às margens do Tigre e
Eufrates que formam a Mesopotâmia, mas em suas escritas cuneiformes contavam-se
procedentes de mais ao norte de onde emigraram fugidos das hecatombes do final
do último período glacial, comprovado pelas ciências
geológicas.
Assurbanipal |
Registrada 3
milênios depois por uma escrita cuneiforme mais desenvolvida utilizada pelo rei
Assurbanipal, dos assírios, a lenda de como Ziusudra escapou do diluvial degelo
construindo uma arca é relatada na “Epopeia de Gilgamesh”, onde ao herói é
conferido o nome Utnapishtim, para séculos mais tarde, já depois da extinção da
civilização e do povo sumério, ser reinterpretado como Noé
.
Muito popular
entre todos os povos que descenderam dos primeiros a alcançar a civilização
suméria, provindos do sul da Península Arábica. Uma única etnia que recentemente
o Projeto Genoma confirmou originada na Somália e Etiópia, na África. Após
atravessar o Mar Vermelho através dos milênios foram migrando ao norte pelo
chamado corredor Sírio, onde a Palestina e o Líbano margeiam o Mediterrâneo.
Desviando de outras tribos aguerridas e violentas que vindas do oriente, da
Mongólia e do atual Turcomenistão, ocuparam a região entre o Mediterrâneo e o
Mar Negro, outrora Anatólia e hoje Turquia, aqueles primeiros emigrantes da
desértica Arábia não apenas se depararam com a fertilidade das terras
mesopotâmicas, mas ali também encontram os primeiros ambientes urbanos e a
primeira civilização humana. Desse encontro se desenvolveu a civilização
acadiana, depois a assíria e, por fim, a Babilônica.
Cerca de
3.500 anos depois do surgimento da escrita, exatamente em 598 a . C., o rei da Babilônia
invadiu a Palestina e fez cativa a uma tribo que, como todas as demais, também
se expressava pelo idioma de um dos povos da mesma etnia comum à toda a região,
os arameus. Esse idioma, o aramaico, é o ancestral comum do hebreu e do árabe
moderno, e também era empregado pelos babilônicos.
Pacíficos
pastores nômades e de menor tradição cultural, os hebreus, bastante
influenciados pelas crenças e costumes desenvolvidos nas cidades e aldeamentos
onde periodicamente se estabeleciam nos intervalos de seus movimentos
migratórios, preocupavam os patriarcas que percebiam na integração de seus clãs
aos costumes e crenças dos “primos”, a dissolução da própria liderança. Situação
agravada nas décadas de confinamento numa das maiores megalópoles da época, os
patriarcas perceberam que para conter seu povo das tentações babilônicas teriam
de criar leis rígidas e para fundamentá-las se dedicaram a absorver a história e
os conhecimentos dos então já extintos sumérios. Histórias e conhecimentos
anteriores aos povos aramaicos, mas preservados no acervo cuneiforme da
biblioteca da Babilônia.
Um desses
conhecimentos foi a matemática desenvolvida pelos acádios, assírios e
babilônicos a partir dos conceitos aritméticos criados pelos sumérios. A
influência desses conceitos entre os hebreus foi tamanha que se os empregou
inclusive na composição da adaptação das lendas sumérias, adotadas como história
do povo hebreu. O Torá, por exemplo, se inicia nos livros do Pentateuco. Entre
esses 5 livros (penta = 5), um leva o título de Números e expõem a prática dos
conceitos aritméticos sumérios em recenseamento da tribo hebreia.
Mas nem só do
lendário sumério preservado pelos babilônicos se construiu as mitológicas
origens daqueles pastores de reduzidos e irrelevantes antecedentes históricos,
conforme a arqueologia constatou ao longo do século passado a partir da casual
descoberta, em 1928, de desconhecida e soterrada cidade de Ugarith.
Ruinas de Ugarith |
Importante
porto da antiguidade mediterrânica, nas bibliotecas de Ugarith se encontrou o
mais evoluído e simplificado sistema de escrita cuneiforme já conhecido e que
serviu de chave para decifração de todos os anteriores, permitindo às pesquisas
desenvolvidas no decorrer do Século XX a confirmação das reais origens de vários
eventos que ajudaram a compor a mitologia hebraica, posteriormente transcrita
para a Bíblia.
A lenda das 7
pragas do Egito e a abertura das águas do Mar Vermelho, por exemplo, se
evidenciaram na confirmação do terremoto de 1.680 a . C. em Kalliste (atual
Santorini) no vulcânico arquipélago das Cíclades, no Mar Egeu. Registros
históricos de diversas civilizações do planeta e modernos estudos geológicos
indicam que o impacto da erupção em Kalliste teve efeito em praticamente todo o
planeta e historiadores acreditam ter provocado o colapso da civilização
Minoica, além de inspirar diversos mitos, inclusive o utilizado por Platão ao
idealizar a Civilização Atlântica.
Adaptada para
cerca de 4 séculos depois, a sequência das pragas lançadas ao povo do Egito são
perfeitamente compreensíveis através da geologia e pela observação de
ocorrências similares em diversas regiões do mundo. Não foram apenas as águas do
Nilo que se avermelharam pelo desprendimento de minerais ferruginosos após um
evento sísmico, assim como nuvens de gafanhotos desentocados da terra já
esvoaçaram em outras regiões sob idênticas situações.
Escavações
arqueológicas confirmaram que nos aposentos destinados às crianças das famílias
egípcias se as acomodava em beliches presos às paredes e o piso era privilégio
exclusivo aos primogênitos, por ser o ponto mais fresco e ventilado pela aragem
que adentrava sob as portas. Sob estas largas frestas teria circulado o gás
pesado depreendido do subsolo durante movimentos sísmicos. De alta densidade
esse gás não se expande além de alguns centímetros acima do res do chão e foi
pelos costumes domiciliares daquela civilização que sua fatalidade se tornou
seletiva.
Toda a
sequência dos eventos descritos pela lenda obedece a uma cronologia
geologicamente correta e se pode presumir que pela importância da civilização
egípcia na época estes eventos seriam registrados pelos cronistas da época com a
mesma profusão que recentemente se registrou e comentou o atentado de 11 de
Setembro nos EUA.
Inclusive o
recuo do mar alargando o istmo do Suez, depois tragado pelas águas em efeito
igual ao que pudemos testemunhar pelas imagens do tsunami que se abateu sobre a
Tailândia.
Tucídides Historiador grego |
Japonesa, a
palavra indicativa do fenômeno não foi utilizada por Tucídides, mas o
historiador da Grécia antiga foi o primeiro a relacionar os tsunamis aos abalos
sísmicos como o que teve o epicentro em Kalliste, atual Santorini. E o que
conferiu a vitória dos gregos em uma das batalhas da Guerra do Peloponeso em
470 a .C.,
foi registrado por Heródoto, considerado pela cultura ocidental como o pai da
história.
A civilização
egípcia foi a que mais influenciou todas as demais da região por cerca de 3
milênios, mas o principal motivo de ser a mais vasculhada pela arqueologia desde
o século XVIII de nossa era é por ter sido a que produziu mais registros
iconográficos de seus hábitos e costumes cotidianos. Praticamente não há o que
tenha ocorrido em Tebas,
Mênfis ou Thinis, de mais comezinho, que não tenha sido
documentado pelos egípcios.
Até mesmo o
mais antigo registro da reflexoterapia, uma técnica complementar para tratamento
de saúde que muitos imaginam de origem chinesa, é o de um afresco encontrado
pelos egiptólogos, um ramo específico de estudo da mais pesquisada das
civilizações da antiguidade.
No entanto,
sobre os hebreus apenas uma breve referência inscrita em uma pedra polida
confeccionada nos tempos de Merenpath, 4º Faraó da XIX dinastia e sucessor de
Ramsés II. Pela singularidade da referência aquela lousa de pedra polida é
chamada de Estela de Israel apesar de ali, além de notícias sobre incursões do
exército egípcio em terras de diversas outras tribos, apenas se inscrever a
frase: “Israel está devastado, a sua semente não existe
mais”.
Segundo o
Torá e a Bíblia, José teria sido vendido por seus irmãos ao Egito e interpretara
os sonhos do Faraó Apopi I da XV dinastia e a última dos invasores hicsos.
Expulsos os hicsos, todo o Egito voltou ao poder de dinastias naturais do país e
apesar das inúmeras referências ao faraó que ocupava o trono contracenando com
Moisés no Êxodo, não é citado seu nome.
James Ussher (1581 – 1656) |
Devido às
imprecisões cronológicas do relato bíblico, o arcebispo irlandês James Ussher
(1581 – 1656) considerou ter sido Amenófis (em grego) ou Amen-hotep, da XVIII
dinastia. Outros pesquisadores imaginam ter sido um dos Ramsés da XIX dinastia.
De qualquer forma o mais longo período dos 3 séculos de permanência hebreia
entre os egípcios teria transcorrido exatamente quando aquela civilização se
fez mais profícua em iconografias e relatórios hieroglíficos dos ativos escribas
que minuciosamente registravam os acontecimentos dos reinados de importantes
faraós como Tutmés, Tutankamon, Horemheb e Akhenaton, primeiro a idealizar e
instituir o monoteísmo pelo culto exclusivo ao deus Aton.
Outra
contradição entre a lenda e os documentos históricos explica, inclusive, a razão
de não ter ocorrido no Egito, como em tantos outros impérios da Antiguidade,
notáveis rebeliões de escravos. A maioria social egípcia era formada por
camponeses que embora destinassem tudo o que produziam para o estado, eram
homens livres que pagavam impostos. Abaixo desse segmento vinham os escravos
utilizados em serviços domésticos ou públicos na manutenção da urbanidade. Esses
serviços podiam ser pesados quando, como mais comum, exerciam a função de
calceteiros; ou abjetos como recorrente função de limpadores de fossas e
latrinas. Mas jamais seriam empregados em edificações de grandes obras que
exigiam perícias das quais os próprios egípcios muito se orgulhavam de serem os
mais especializados da época. De forma alguma confiariam na inabilidade dos de
outras origens, escravos ou não.
Os
trabalhadores em construções de pirâmides eram escolhidos a dedo por capatazes
experientes, pois seriam os que formariam a corte do Faraó após a pirâmide ser
cerrada. Além da atraente oportunidade para uma vida eterna, era um privilégio
confirmado pelas escavações arqueológicas que revelaram entre as vilas
destinadas a estes trabalhadores nas proximidades dos túmulos faraônicos a
instalação de casas de banho. Além de ambientes femininos e recadinhos em papiro
reveladores de que as condições sociais daqueles trabalhadores os tornavam
bastante requestados pelas mulheres.
Analisada a
partir da divisão das funções e tarefas entre os antigos egípcios, a conclusão
mais óbvia é de que na estrutura daquela sociedade não havia espaço para um
escravagismo em larga escala que promovesse a subjugação de todo um
povo.
Além da total
ausência de vestígios que comprovem a lenda da permanência hebreia no Egito,
apesar do judaísmo desenvolver inúmeros rituais em comemoração à fuga
messiânica, nunca entre os judeus se manteve algum indício que denotasse
qualquer assimilação da mais influente cultura e civilização da época, com a
qual teriam convivido intestinamente por aproximadamente 3 séculos.
Dos 60 anos
de permanência na Babilônia os hebreus ainda conservam inúmeras outras
assimilações além das naturais absorções e reinterpretações da mitologia
mesopotâmica e as habilidades matemáticas, mas da alegada permanência no Egito
só poderia ser citado o monoteísmo episódico, restrito aos 18 anos de reinado de
Akhenaton. No entanto, as descobertas arqueológicas em Ugarith apontam origens
bem mais próximas a todos os povos aramaicos para explicar o monoteísmo judaico.
Todos os
povos aramaicos, hebreus inclusive, embora dedicassem respeito a El, o deus dos
cosmos, mais cultuavam a Baal, responsável pelo equilíbrio e variações
climáticas da Terra, de que dependiam para a produção de alimentos. Ainda assim,
como importante porto para outro povo da mesma etnia, os fenícios, criadores do
alfabeto que ainda hoje empregamos e também inventores da navegação, em Ugarith
a organização das estrelas tinham grande importância e muito se recorria a El
para que de suas cósmicas distâncias facilitasse a leitura nos céus dos caminhos
exatos a serem percorridos nas imprevidências dos mares.
Segundo a
mitologia judaica Jacó, o terceiro patriarca dos hebreus, teria recebido a
visita de um dos mensageiros de El: MiguEL, GabriEL, RafaEl, etc..., designação
das específicas funções dos anjos como serviçais de El. E aquele veio
especialmente para desafiar Jacó que, pela coragem de enfrentá-lo, é escolhido
para conduzir ao povo ao qual substitui o nome, designando-os responsáveis pela
difusão de seu ira. Yisra’El, a Ira de El.
Ziusudra, o Noé sumério |
Ao Ziusudra
sumério com o nome de Noé, os patriarcas herdeiros de Jacó conceberam um filho:
Sem. E a este Sem, filho de um mito anterioridade milenar indicaram como
progenitor de toda aquela etnia oriunda da África, ainda hoje identificada como
semitas. E para se distinguirem dos demais, elegeram El como deus único.
Reafirmaram o poder desse deus apontando Baal como seu antípoda. Aproveitando
uma das designações honoríficas do deus: Baal Zebub, criaram o contraponto
necessário para a confirmação da reinterpretação do mito pelos clãs que
conformavam os antigos hebreus.
Mais tarde,
todos esses elementos míticos foram assimilados pelo Império Romano num esforço
de continuidade do poder através da Igreja Católica como responsável pela
expansão do cristianismo e, alguns séculos depois, a mesma mitologia é adotada
pelos demais semitas através da criação do islamismo pelo profeta Maomé que, de
toda essa história, é o único personagem de existência realmente
comprovada.
Desculpe por
me estender tanto por estes fatos aparentemente anacrônicos, mas se fez
necessário para aclarar as origens dos motivos que provocam teus receios e as
preocupações de Gabriela. Foi preciso contar tudo isso para que se possa
perceber o poder do mito que hoje oprime financeiramente toda a Europa e demais
povos de todo o mundo, pois em recompensa as mitológicas humilhações da
escravidão no Egito é que se escreveu no Torá e se reproduziu nos versículos 10
e 11 do capítulo 6 do Deuteronômio bíblico que El, com outro dos tantos nomes
evoluídos desta primeira designação, teria afirmado aos hebreus: “Sou O Senhor teu Deus e te darei terras com
grandes e boas cidades que não edificaste, e casas cheias de tudo o que há de
melhor e não produziste, cisternas que não cavaste, vinhas e oliveiras que não
plantaste.”
E assim, a usurpação
que até então era produto exclusivo da força passou a ser compreendida pelas
culturas que herdaram aquela mitologia como um direito divino. E é exatamente
nesse direito em que se baseia a justificativa da editoria do “El
País” para ter retirado o artigo do seu site explicando que “continha
afirmações que este jornal considera inapropriadas”.
Atente! Não
se questiona a veracidade das informações. Não se as considera pouco confiáveis.
Apenas: inapropriadas.
Ou seja, por
direito divino os editores do “El País”, o mais tradicional informativo da
Espanha, usurpam o discernimento de seus leitores tal como, pelo mesmo direito
divino, os capitalistas alemães usurpam 90% da população daquele país e de toda
Europa, inclusive de vocês de Portugal.
Só resta aos
portugueses e demais europeus discernirem a que direitos irão recorrer para
definir seus futuros. Mas até aqui contei apenas o conteúdo mítico/teológico do
direito divino da usurpação. Na próxima vou contar como e por quem se
aplica.
Contra quem
não é preciso dizer mais nada, pois isso bem o sabes.
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