Conversa dos EUA é repetição de
repetição de repetição...
28/4/2012, Robert Fisk,
The Independent
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Comentário/pergunta enviado por
e-mail para a redecastorphoto:
“Será que o povo dos EUA é tão
IDIOTA que não percebe a FARSA recidiva dos seus POLÍTICOS e da IMPRENSA-EMPRESA
“morteamericana”?
Robert Fisk |
Será
que não há meio para escaparmos do teatro das armas químicas? Primeiro, a
“inteligência militar” de Israel diz que o exército da Síria teria
usado/provavelmente usou/poderia talvez usar armas químicas. Depois, Chuck
Hagel, secretário de Defesa dos EUA, surge em Israel, para prometer mais armas
para Israel já super mega over militarizada – nem menciona as mais de 200 bombas
atômicas do arsenal de Israel – e repete a conversa da “inteligência” de Israel
sobre o uso/provável uso/possível uso/talvez uso de armas químicas pelo governo
sírio.
Aí
então o bom velho Chuck volta a Washington e conta ao mundo que:
(...) esse negócio é sério. Temos de reunir todos
os fatos.
Dianne Feinstein |
A
Casa Branca conta ao Congresso que agências da inteligência dos EUA,
presumivelmente as mesmas antes referidas como “inteligência” de Israel, porque
o pessoal ali trabalha sempre em perfeita harmonia, têm “graus variáveis de
confiança” na avaliação. Mas a senadora Dianne Feinstein, presidente da Comissão
de Inteligência do Senado – a mesma que deu jeito de defender todas as ações de
Israel em 1996, depois de Israel ter massacrado 105 civis, a maioria crianças,
em Qana no
Líbano – já diz, da Síria, que:
(...)
as linhas vermelhas foram evidente e
claramente transgredidas e é preciso agir para evitar uso em larga
escala.
E
lá vem o mais velho e gasto clichê da Casa Branca – ultimamente usado
exclusivamente contra o Irã e o provável/possível desenvolvimento de armas
atômicas:
Todas
as opções estão sobre a mesa.
Qualquer
sociedade normal já estaria em estado de atenção, sirenes tocando, sobretudo nas
redações das empresas-imprensa. Mas, não.
Jornalistas
dedicam-se a lembrar o mundo que Obama disse, sim, que o uso de armas químicas
na Síria “mudaria o jogo” – pelo menos, os jornalistas norte-americanos admitem
que a coisa é jogo. – E jornalistas e mais jornalistas “confirmam”, pela
repetição, o que ninguém, até agora, confirmou.
Usaram
armas químicas. Em dois estúdios da televisão canadense, os produtores me
abordam brandindo a mesma manchete. Digo logo que, se me perguntarem,
desmontarei, ao vivo, aquela “prova” lixo. Então, repentinamente, a matéria
desaparece dos dois programas de entrevista. Não porque não venham a usar a
“prova” lixo (usarão logo depois), mas porque não querem correr o risco de
alguém dizer, pela televisão, que aquilo tudo pode bem ser um amontoado de
sandices.
A
CNN não se inibe. Perguntaram ao repórter da CNN em Amã o que se sabe sobre o
uso de armas químicas. E ele:
Menos
do que o mundo gostaria de saber. É a psique do regime de Assad...
Mas...
e alguém tentou saber alguma coisa? Ou algum jornalista perguntou a pergunta
óbvia que ouvi de um homem da inteligência síria, em Damasco, semana passada:
Dado
que a Síria pode causar dano infinitamente maior se usar os seus jatos
bombardeiros MiG, por que usaria armas químicas?
Além
disso, dado que tanto o governo Assad quanto seus inimigos acusaram-se
mutuamente de estar usando armas químicas... Por que Chuck teme mais as armas
químicas do governo sírio? As armas químicas dos “rebeldes” estariam, talvez,
liberadas?
Tudo
se resume àquele clichê, o mais infantil dos clichês: que EUA e Israel
teme(ria)m que as armas químicas de Assad “caiam em mãos erradas”. Em outras
palavras, temem que todas essas “químicas” acabem no arsenal dos mesmíssimos
“rebeldes”, sobretudo islamistas fundamentalistas, que Washington, Londres,
Paris, Qatar e Arábia Saudita estão apoiando. Se essas mãos são “erradas”, então
as armas do arsenal de Assad estariam em “mãos certas”.
Era
exatamente o que se dizia, exatamente, das armas químicas que havia no arsenal
de Saddam Hussein – até que foram usadas contra os curdos.
Dizem
os jornalistas que em três incidentes específicos pode(ria)m ter sido usadas
armas químicas na Síria: em Aleppo, onde os dois lados acusam-se (mas os vídeos
de hospitais foram publicados pela televisão estatal síria); em Homs,
aparentemente, em pequena escala; e nos arredores de Damasco. E, embora a Casa
Branca pareça ter esquecido esse detalhe, três crianças sírias refugiadas
chegaram ao hospital no norte de Trípoli, no Líbano, com profundas, terríveis
queimaduras pelo corpo.
Há
aí vários problemas. As bombas de fósforo provocam queimaduras profundas e é
possível que gerem defeitos em fetos. Mas os EUA não estão dizendo que o
exército sírio teria usado bombas de fósforo (que é bomba química). Afinal de
contas, os EUA usaram bombas de fósforo na cidade iraquiana de Fallujah, onde há
hoje um assustador aumento no número de nascituros com defeitos de formação.
Talvez
o horror que o governo sírio provoca no ocidente deva-se às notícias sobre
tortura pela polícia secreta síria. Mas aqui também há um problema: há apenas
dez anos, os EUA também faziam “entrega especial” de homens inocentes, entre os
quais um cidadão canadense, exatamente àquelas mesmas prisões sírias, para serem
interrogados e torturados pelos mesmos torturadores da mesma polícia secreta
síria.
E,
já que se falou de armas químicas de Saddam, há mais uma: os componentes
químicos dessas armas hoje amaldiçoadas eram (então) fabricados por uma empresa
de New Jersey e entregues
em Bagdá pelos
EUA.
Mas
nas redações, hoje, não se fala de nada disso, é claro. Quem entre em qualquer
redação de qualquer rede de televisão, só vê jornalistas que leem jornais. E
quem entre em qualquer redação de jornais... só vê jornalistas que assistem à
televisão, dia e noite. O sistema é osmótico. Todas as manchetes são a mesma
manchete: o governo sírio usa armas químicas. E assim seque o
teatrinho.
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