domingo, 21 de abril de 2013

O estado de guerra orwelliano nos EUA: Carnificina e duplifalar da imprensa-empresa


17/4/2013, Norman Solomon, Commondreams
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Norman Solomon
Depois das bombas que mataram e mutilaram tão horrivelmente na Maratona de Boston, políticos e jornalistas da imprensa-empresa dos EUA [sempre caninamente repetidos por políticos e jornalistas da imprensa-empresa no Brasi] não se cansam de repetir discursos de compaixão – e incansáveis “duplipensar e duplifalar”, que George Orwell definiu como:

...empenho em apagar e fazer esquecer todos os fatos inconvenientes.

Em sincronia com veículos comerciais em todo o país, o New York Times estampou manchete de apavorar, na 1ª página da edição da 4ª-feira:

Bombas de Boston Carregadas para Estraçalhar, dizem autoridades.

A matéria falava de uma panela de pressão cheia de pregos e pedaços de metal;

...montada para disparar fragmentos pontudos de metal, contra todos que estivessem no campo de explosão.

Explosão da bomba caseira próxima da chegada da maratona de Boston
Muito menos improvisadas e pesando quase 500 kg, as bombas CBU-87/B de fragmentação estavam classificadas sob a categoria de “munição de efeitos combinados”, quando foram disparadas, há 14 anos, por um bombardeiro que levava o nome de “Tio Sam”.

A imprensa-empresa nos EUA praticamente nem noticiou o “evento”.

Bomba de fragmentação (ing. cluster bomb) aberta e as "bolinhas" (ing. bomblets)
Numa 6ª-feira, ao meio-dia, forças da OTAN lideradas pelos EUA lançaram bombas de fragmentação sobre a cidade de Nis, na área vizinha de um mercado de legumes e frutas.

As bombas explodiram perto de um complexo hospitalar e de um mercado, causando mortes e cobrindo de estilhaços as ruas da terceira maior cidade da Serbia – leu-se em despacho do San Francisco Chronicle, dia 8/5/1999.

E:

Numa das ruas que leva ao mercado, viam-se corpos estilhaçados, entre cenouras e vegetais, em poças de sangue. Um dos cadáveres coberto por um lençol, de uma mulher, ainda tinha na mão a cesta de compras cheia de cenouras.

Destacando que bombas de fragmentação “explodem no ar e espalham pregos e fragmentos de metal sobre vasta área”, o correspondente da BBC, John Simpson, escreveu no Sunday Telegraph:

Usadas contra alvos humanos, as bombas de fragmentação estão entre as armas mais selvagens do moderno arsenal bélico.

Nos EUA, “armamento selvagem” não significa armamento proibido. De fato, para o então comandante-em-chefe, Bill Clinton e seus cérebros militares belicistas,  assessores em Washington, “selvagem” é um dos atributos positivos das bombas de fragmentação. Cada uma delas dispara cerca de 60 mil fragmentos afiados de metal contra o que o fabricante das bombas descreve como “alvos moles”.

Funcionamento das Bombas de Fragmentação e suas "bomblets" (ing.)
Um raro repórter diligente, Paul Watson do Los Angeles Times noticiou, de Pristina, Yugoslavia:

Em cinco semanas de ataques aéreos, dizem testemunhas locais, os aviões da OTAN têm disparado bombas de fragmentação, que lançam bombas menores, de explosão retardada, sobre vastas áreas. No jargão militar, essa munição menor é chamada bomblets  [ap. “bombinhas”]. O Dr. Rade Grbic, cirurgião e diretor do principal hospital de Pristina, vê, diariamente, provas de que a expressão “bombinha” apenas mascara o trágico impacto desse tipo de munição. Grbic, que salvou a vida de dois meninos albaneses feridos quando outras crianças brincavam com uma bomba de fragmentação não detonada encontrada no sábado, disse que nunca, em toda a vida, fez tantas amputações.

A matéria do LA Times citava o Dr. Grbic:

Sou ortopedista há 15 anos, trabalhando em região de conflito onde sempre se veem ferimentos terríveis, mas nunca antes vimos, nem eu nem meus colegas, o que vimos depois que as bombas de fragmentação começaram a ser usadas. São ferimentos extensos e profundos. Os membros estão de tal modo destroçados, que a única via possível é a amputação. É terrível, terrível.

O relato prossegue:

Só o hospital de Pristina já recebeu entre 300 e 400 feridos por bombas de fragmentação desde que começou a guerra aérea da OTAN, dia 24 de março. Metade das vítimas são civis. Esse número não inclui os mortos pelas bombas de fragmentação, nem os feridos em outras regiões da Iugoslávia. O número total de vítimas é muito superior. A maioria das vítimas são atingidas pelas bombas menores, programadas para explodir algum tempo depois de lançadas, quase sempre já no solo.

Adiante, já durante a invasão e nos primeiros tempos da ocupação, militares dos EUA lançaram bombas de fragmentação no Afeganistão. E também usaram munição de fragmentação no Iraque.

Hoje, o Departamento de Estado ainda se opõe à proibição desse tipo de arma, como se lê na página oficial 
As bombas de fragmentação são comprovadamente úteis do ponto de vista do interesse militar. A eliminação delas do arsenal dos EUA poria em risco a vida de nossos soldados e dos soldados de nossos parceiros de coalizão.

E o Departamento de Estado prossegue:

Além disso, as bombas de fragmentação frequentemente resultam em muito menos dano colateral que bombas unitárias, como o que seria causado por bombas maiores ou fogo mais amplo de artilharia, se usados para a mesma missão.

Vai-se ver... Os que encheram uma panela de pressão com pregos e pedaços pontiagudos de metal e a explodiram em Boston raciocinaram exatamente como, e tão pervertidamente quanto, o Departamento de Estado!

Mas que ninguém espere esse tipo de leitura dos jornais comerciais diários ou das redes comerciais de televisão – nem, sequer, de redes “públicas” do tipo da National Public Radio (NPR) em programas como “Morning Edition” e “All Things Considered”, ou do Public Broadcasting System (PBS) e seu “NewsHour”.

Quando o assunto é matança e mutilação de seres humanos, esses veículos imediatamente assumem o pressuposto “alto padrão moral” preventivo da Casa Branca.

Em seu romance 1984, Orwell escreveu sobre o reflexo condicionado de:

...paralisar, encurtar, como que por instinto, parar sempre um passo antes de qualquer pensamento ousado, considerado perigoso (...), para não ser perturbado, entediado ou repelido por qualquer ideia ou linha de pensamento que leve a alguma heresia.

Esse duplipensar e duplifalar – incansavelmente reforçado pelo jornalismo comercial de massa – preserva-se ainda dentro de uma zona proibida à crítica, na qual nenhuma ironia radical é admitida, e que admite, no máximo alguma autossátira, pressuposta menos danosa à coerência intelectual e moral.

Todo o noticiário distribuído por veículos das empresas de jornalismo comercial sobre as crianças mortas e feridas em Boston, cada relato da horrenda mutilação de braços e pernas, faz-me lembrar de Guljumma, uma menina que tinha sete anos quando a encontrei em um campo de refugiados afegãos, num dia do verão de 2009.

Guljumma
Naquela época, escrevi que 
Guljumma contou o que aconteceu uma manhã, ano passado, quando ela dormia em casa, no vale Helmand, no sul do Afeganistão. As bombas explodiram às 5h da manhã. Morreram parentes seus. Ela perdeu um braço.

Os EUA não ofereciam qualquer tipo de ajuda humanitária às várias centenas de família que viviam, em condições miseráveis, no campo de refugiados nos arredores de Cabul. O único contato significativo que jamais houve entre Guljumma, o pai dela e o governo dos EUA foi quando a casa deles foi bombardeada.

A guerra favorece todo tipo de abstrações jornalísticas, mas Guljumma não é abstrata. É tão concreta quanto as crianças cujas vidas foram arruinadas para sempre, pelas bombas na Maratona de Boston.

Problema é que os mesmos veículos de jornalismo comercial que não se cansam de falar da preciosidade das crianças feridas em Boston mantêm-se absolutamente indiferentes às crianças como Guljumma.

11 crianças assassinadas pelo terrorismo dos EUA-OTAN no Afeganistão em 7/4/2013
Pensei também nela quando vi o noticiário e uma foto horrenda, dia 7/4/2013, de um dia em que 11 crianças, no leste do Afeganistão, tiveram ainda menos sorte que Guljumma. Aquelas crianças morreram num ataque aéreo da OTAN-EUA.  
Para os jornalistas empregados do jornalismo comercial norte-americano, ali nem havia notícia; para os militares norte-americanos, não foi grande coisa.

Os cachorrinhos de circo dançam quando o domador estala o chicote – escreveu Orwell – mas os cachorrinhos realmente bem treinados são os que dão seus saltinhos, quando nem se ouve o chicote.


2 comentários:

  1. Comentário enviado por e-mail e postado por Castor

    As narrativas oficiais do 11 de Seembro de 2001 passaram, então, de chofre, a eliminar a queda do terceiro edifício, nas cercanias de Wall Sreet, logo das Torres Gêmeas. A des-memória daquele terceiro prédio+a da investida de outro avião contra o Pentagono, edificação bem mais baixa que as duas Towers of the WTC (World Trade Center)+derrubada cheia de mistérios do "quarto" avião sobre um bosque na Pennsylvânia - empanarão para sempre a clareza das tragédias.

    Como isso me ocorreu durante uma viagem do Galeão para Brasília, quando soubemos, perplexos, do ocorrido, ao desembarque, o piloto nos disse que só pilotos eximiamente bem treinados poderia ter feito aquilo tudo. Agora, em Boston, uma terceira bomba explode na Biblioteca Municipal de Cambridge, logo no início a imprensa-empresa diz que nada tem esta a ver com as duas outras e fica por isso mesmo. Ninguém cobra mais o assunto, todos vivem agora em torno das panelas de pressão e nas mochilas pretas...

    ArnaC

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    1. (Resposta enviada por e-mail e postada por Castor)

      ArnaC e Amigos,

      Há numerosas avaliações de pessoas respeitáveis e técnicos, que demonstram, sob vários ângulos e enfoques, que a versão oficial sobre o 09/11/2001 é desprovida de qualquer sustentação.

      Especificamente sobre o Pentágono, há uma entrevista de importante general reformado norte-americana, com expressivo currículo, inclusive como especialista em bombas necessárias para destruir edifícios de concreto armado. Ele mostrou ter sido um míssil que abriu o buraco de cinco metros de largura no edifício.

      É muito conhecido também que os Boeings supostamente seqüestrados tinham envergadura de bem mais de 30 metros e que não foi encontrado no local qualquer destroço de avião, nem sequer de seus motores, em que há materiais mais insuscetíveis de ser pulverizados. Além disso, o espaço aéreo de Washington é o mais bem vigiado do mundo, sendo impossível que qualquer avião, mormente um sem qualquer dispositivo de ocultação para radares, pudesse penetrar esse espaço.

      Quanto as torres gêmeas, sabe-se que foram implodidas e tudo reduzido a pó ou a pedacinhos bem pequenos de metal. Somente explosivos especiais de uso militar produzem temperaturas de 1.300 graus centígrados, as necessárias para derreter estruturas de aço, com ligas especiais. Houve em Madrid um edifício que queimou durante 30 horas, onde nada sobrou, exceto as estruturas metálicas, que permaneceram inteirinhas após esse incêndio.

      A literatura e os filmes sobre tudo isso é abundante, embora pouquíssimo divulgada – et pour cause.

      Abraço,

      Adriano Benayon

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