sábado, 13 de abril de 2013

Thatcher (no Brasil, foi o ex-FHC) forjou a aliança entre neoliberais e neoconservadores


12/4/2013, Shir Hever, The Real News Network - TRNN(vídeo)
Traduzida da transcrição pelo pessoal da Vila Vudu

Shir Hever é Pesquisador de Economia e estuda os aspectos econômicos da ocupação israelense dos territórios palestinos (TPOs). Tem inúmeros relatórios e estudos publicados sobre o tema especialmente para o Centro de Informação Alternativa, uma organização palestino-israelense ativa em Jerusalém e Beit-Sahour. Elabora a sua tese de doutoramento (PhD.) sobre a privatização da segurança em Israel. Seu primeiro livro é: Political Economy of Israel’s Occupation: Repression Beyond Exploitation [Economia Política de Ocupação de Israel: Repressão Além Da Exploração].


SHIR HEVER, economista do Alternative Information Center: Dia 8/4/2013, morreu Margaret Thatcher, de infarto, aos 87 anos.

Thatcher foi a primeira mulher Primeira-Ministra da Grã-Bretanha – cargo que ocupou de 1979 a 1990. Foi chamada de “A Dama de Ferro” e recebeu o título de baronesa. A palavra “tatcherismo” foi cunhada a partir de seu nome é designa um tipo de política pública que nasceu com ela, mas não morreu com ela.

Margaret Thatcher foi eleita líder do Partido Conservador da Grã-Bretanha em 1975; sempre foi política de extrema direita e com essa política venceu as eleições de 1979 e manteve-se por 11 anos como Primeira-Ministra.

A ascensão de Thatcher ao poder marcou mudança histórica que se viu acontecer em outras partes do mundo, por exemplo, no governo de Ronald Reagan nos EUA. [1] Marcou um esforço declarado para reverter os benefícios oferecidos pelo Estado de Bem-Estar, sob o argumento que o estado de bem-estar desestimula as pessoas para o trabalho duro como meio para melhorar de vida. Foi período de intensa repressão aos sindicatos, sob o argumento de que seria preciso “flexibilizar” o mercado de trabalho e privatizar o patrimônio do estado, na crença de que as empresas privadas seriam mais eficientes que o Estado, para administrar o patrimônio social [“flexibilizar” foi o mote incansável, também, dos governos de FHC no Brasil (NTs)].

Thatcher fez aprovar leis para limitar a ação dos sindicatos (leis de 1980, 1982, 1984, 1988, 1989 e 1990). Essa legislação enfraqueceu o poder de barganha dos sindicatos, e o desemprego aumentou durante seu governo (mais de meio milhão de novos desempregados). O desemprego aumentou sobretudo na Irlanda do Norte e em áreas industriais da Inglaterra e da Escócia.

Thatcher fez avançar a privatização em larga escala, política que ela trabalhou para apresentar como recomendável, avançada e legítima em todo o mundo. Privatizou a British Aerospace e de Cable & Wireless, a Jaguar, a British Telecom, a Britoil e a British Gas. Depois de 1987, privatizou a British Steel, a British Petroleum, a Rolls Royce, a British Airways e empresas de água e eletricidade. A privatização desenfreada trouxe dinheiro rápido, por pouco tempo, para o Tesouro Britânico, mas, no longo prazo, tudo que essas empresas geraram de lucro ao longo dos anos foi diretamente para o bolso de proprietários privados.

Essas políticas tiveram consequências duras e imediatas para a economia britânica. Os níveis de renda dos 10% mais ricos aumentaram rapidamente, enquanto a renda média do restante da população permaneceram estagnados.

Durante o governo de Thatcher, a desigualdade cresceu rapidamente. O número de crianças vivendo em condições de pobreza extrema mais que duplicou.

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MARGARET THATCHER, primeira-ministra britânica: Se vocês comprimem os incentivos, de cima para baixo, não importa quanto cada um ganhe, e dizem “eu fico com a parte do leão só para mim e vocês não põem a mão nela ... Eles dizem “OK, então não ficarei com a parte do leão”. E param de criar a riqueza extra que os beneficia e beneficia toda a sociedade.

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HEVER: Essas políticas, que se tornaram conhecidas como “tatcherismo”, baseiam-se na ideologia neoliberal. Quando Thatcher disse “não existe essa tal de sociedade”, ela manifestava o extremo individualismo promovido pela escola econômica neoliberal.

Essa ideologia cultiva a liberdade, e vê a liberdade econômica (e o direito à propriedade privada) como um dos mais básicos direitos humanos [no Brasil, é a ideologia cultivada e propagandeada pelo Instituto Milênio (NTs)].

Mas apesar da aparente moralidade do neoliberalismo, as políticas de Thatcher eram extremamente conservadoras. Enquanto fazia cortes nos serviços públicos garantidos pelo Estado de Bem-Estar, ela aumentava os gastos militares para armar o exército britânico ainda para a Guerra Fria.

Mas aquelas armas não foram usadas contra a União Soviética: o inimigo da hora foi a Argentina. Quando, em 1982, a Argentina invadiu as Ilhas Falkland [Malvinas] e South Georgia, que a Grã-Bretanha considerava território britânico “dependente”, a Grã-Bretanha retomou o controle dessas ilhas mediante ação militar. Morreram centenas de soldados (a maioria dos quais, argentinos), e a Argentina rendeu-se depois de 74 dias de guerra.

A vitória militar rendeu a Thatcher o codinome de “Dama de Ferro” e fez inflar sua popularidade, bem quando os protestos contra suas políticas econômicas atingiam o pico, o que a levou a vencer as eleições de 1983, e continuar com aquelas políticas.

Thatcher opôs-se às sanções contra a África do Sul durante o apartheid. Referia-se ao Congresso Nacional Africano, de Mandela, como “típica organização terrorista”. Falava da África do Sul como “aquela terra de amalucados”, sugerindo que Nelson Mandela jamais conseguiria governar o país.

Sempre apoiou Israel e foi o primeiro Primeiro-Ministro britânico a visitar Israel, em 1986.

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THATCHER: Claro que quando o presidente da Comissão, Mr. Delors, disse numa conferência de imprensa, dia desses, que quer que o parlamento europeu seja o corpo democrático da comunidade, queria que a Comissão fosse executiva e queria que o Conselho de Ministros fosse o senado. Não, não e não!
Ou talvez os Trabalhistas concederiam tudo isso, facilmente. Talvez aceitassem uma moeda única, a total abolição da libra esterlina. Talvez, totalmente incompetentes como são em temas monetários, adorariam entregar toda a responsabilidade, como fizeram ao FMI, a um banco central.

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HEVER: O legado de Margaret Thatcher portanto, não são só as políticas econômicas de extrema direita, em nome do individualismo. Ela foi também um dos agentes que forjaram a aliança entre o neoliberalismo e o neoconservadorismo, com ênfase na segurança, em valores conservadores e domínio pela força das armas, com sistema econômico que se declara livre, mas contribuiu para aumentar as desigualdades sociais.

Thatcher morreu essa semana, mas a aliança entre neoliberais e neoconservadores que ela ajudou a forjar permanece forte até hoje, não só no Reino Unido, mas em todo o mundo capitalista.



Nota dos tradutores
[1]  No Brasil, são os anos da ascensão de FHC, que teve início difícil: de 1978 (quando se candidata ao Senado e é derrotado por Franco Montoro; só chegaria ao Senado em 1983; em 1985 é derrotado por Jânio Quadros, em eleição para a prefeitura de São Paulo; em 1993, passa de ministro das Relações Exteriores no governo do presidente Itamar Franco, para ministro da Fazenda) até 1994, quando afinal é eleito presidente pela primeira vez, antes da “reeleição” comprada de 1998. Ver em: PSDB Nunca Mais.

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