sexta-feira, 12 de abril de 2013

Pepe Escobar: “O Emirado Islâmico do Siriastão”


12/4/2013, Pepe Escobar, Asia Times Online - The Rovig Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Pepe Escobar
PARIS. E agora, as mais recentes notícias, recém chegadas do Emirado Islâmico do Siriastão. Esse programa chega até vocês graças ao alto patrocínio da empresa CCGOTAN (o Conselho de Cooperação do Golfo, também chamado Conselho Contrarrevolucionário do Golfo; e a Organização do Tratado do Atlântico Norte). Não deixem de assistir, please, à mensagem de nossos patrocinadores: os governos dos EUA, Grã-Bretanha, França, Turquia, além da Casa de Saud (Arábia Saudita) e do Emir do Qatar.

Tudo começou nos primeiros dias dessa semana, com uma proclamação de um elusivo líder da al-Qaeda Central,
Ayman al-Zawahiri
Ayman “O Doutor” al-Zawahiri, de algum local desconhecido nas áreas tribais do Paquistão (não se sabe é como O-O-Obama, com lista & licença para matar e toda aquela esquadrilha de drones, não consegue encontrá-lo).

Al-Zawahiri conclamou todas as brigadas islamistas envolvidas no Jihad-business de lutar contra o governo do presidente sírio Bashar al-Assad, a fundar um emirado islâmico, passport du jour que levará a um califato islâmico.

Dois dias depois, o Estado Islâmico do Iraque – “al-Qaeda no Iraque”, para todas as finalidades práticas – anunciou, em vídeo estrelado pelo líder Abu Bakr al-Husseini al- Qurashi al-Baghdadi, um espetacular affair de fusão & aquisição: doravante, a al-Qaeda de al-Baghdadi operará unida com o grupo jihadista Jabhat al-Nusra, da oposição síria. A nova empresa atenderá pelo nome de “Estado Islâmico do Iraque e Levante”.

Mas, logo no dia seguinte, o líder supremo do Jabhat al-Nusra, o sombrio Abu Muhammad al-Joulani, disse que sim, juramos fidelidade ao Xeique da al-Qaeda, Doutor al-Zawahiri. Mas nada de affair de fusão & aquisição com a al-Qaeda no Iraque. Nem pensar.

Monty Python, genial grupo inglês de comédia em: A Piada Mais Engraçada do Mundo

Infiéis desentendidos e intrigados de Washington a Pequim talvez suponham, se quiserem, que seja enredo de Monty Python. Mas é mortalmente sério; sobretudo porque a Casa de Saud; o Emir do Qatar; Erdogan, o turco neo-otomano; e o Reizinho de Playstation da Jordânia – apoiados por Washington – continuam a armar os “rebeldes” sírios e assim continuarão até o Juízo Final. E um dos principais beneficiários dessa orgia de armas a mancheias foi e é – e quem mais seria?! – a gangue do tal affair de fusão & aquisições conhecida como o Emirado Islâmico do Iraque e Levante.

Espancá-los com a nossa opção

Todos os grãos de areia do deserto sírio-iraquiano sabem que os “rebeldes” que realmente fazem a diferença em termos de combates na Síria são os militantes da frente Jabhat al-Nusra – centenas de transnacionais degoladores, dados a suicídios-bomba.

Mapa atualizado da atividade dos "rebeldes" da CCG-OTAN na Síria
Eles controlam, no caso em tela, alguns importantes subúrbios de Aleppo. Já perpetraram montanhas de sequestros, torturas e execuções sumárias. E, no que mais conta, já assassinaram montanhas de civis. E trabalham para impor a lei da Xaria sem concessões. Não surpreende que sírios de classe média letrados os temam mais que qualquer coisa letal à qual o governo de Assad recorra.

Al-Baghdadi admitiu o óbvio: que os jihadis sírios são anexos aos jihadis iraquianos, dos quais – crucialmente importante – estão obtendo experiência de combate real. Afinal, foram esses iraquianos hardcore que combateram contra o exército dos EUA, especialmente entre 2004 e 2007. O tomate do kebab é que a própria frente al-Nusra foi fundada por sunitas sírios que combateram ao lado de sunitas iraquianos no Iraque.

E eis aí a tarefa a que se dedica a Casa de Saud. Os sauditas competem numa maratona regional contra a al-Qaeda, para ver quem arregimenta maior número de sunitas fanáticos para combater os apóstatas iranianos, tanto no Iraque como no norte do Levante. A Casa de Saud é doida por qualquer jihadi, local ou transnacional, desde que não inventem de infernizar dentro da Arábia Saudita.

John Kerry
A sopa de letras que são as agências de inteligência dos EUA já devem saber disso tudo. Ou logo se confirmará a suspeita de que passem o tempo assistindo a reprises dos filmes de Monty Python. Alguma razão parecia estar prevalecendo, quando um confuso, atrapalhadíssimo Departamento de Estado, em discurso de John Kerry, reverteu a síndrome de Ártemis de Hillary Clinton e, mês passado, falou de o governo de Assad e os “rebeldes” negociarem – qualquer coisa. Mas de pouco serviu, porque, na mesma cena, Kerry cometeu ato de grave temeridade, ao proclamar que, entre os jihadistas, haveria “moderados”.

Mas foi quando, no início dessa semana em Jerusalém, bem quando estava para ser anunciado o affair de fusão & aquisição entre jihadismos Síria-Iraque... Kerry repetiu que, para Obama, “todas as opções permanecem sobre a mesa”, em termos de ataque norte-americano contra... o Irã!  
Abandonai toda a esperança, vós, corretores geopolíticos, nesse vale de lágrimas. O Departamento do Estado continua tão confuso e sem noção como sempre; nenhum adulto racional dá sinal de perceber qualquer diferença entre jihadistas sunitas linha-duríssima – do tipo que faz acontecer o 11/9 – e iranianos tipo “eixo do mal”.

Organização Jabhat al-Nusra, grupo terrorista ligado a alQaeda atuando na Síria.
É financiado pelos EUA-OTAN e petromonarquias do Oriente Médio
Os europeus parecem ter, pelo menos, segundas intenções. Os franceses anunciaram essa semana que querem convencer a União Europeia e o Conselho de Segurança da ONU a listar a frente Jabhat al-Nusra, como “organização terrorista”. Mas escafedem-se todos, à procura de toca para se esconder, quando se levanta a questão de o que acontece, nesse caso, com o processo de fornecer armamento aos “rebeldes” sírios. É óbvio que, nesse status quo, a frente Jabhat al-Nusra está fazendo a maior festa.

Pois semana que vem, todos se encontrarão novamente – os principais produtores desse filme horrendo, abaixo de qualquer classificação, intitulado “Operação Especial de Mudança de Regime”, com alguns atores marginais-coadjuvantes. Lá estarão EUA, britânicos e franceses, Turquia, Alemanha, Itália, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Qatar e Arábia Saudita. Concordarão com manter a operação de armar o pessoal-lá – e planejam super turbinar o processo.

Nuri al-Maliki
E o que anda fazendo a CIA, nessa confusão toda? Sempre, como sempre, obrando para que a confusão aumente bem: estão apoiado as milícias xiitas iraquianas aprovadas por Bagdá, para que se ponham a caçar os jihadis superstars do Estado Islâmico do Iraque e do Levante. O Primeiro-Ministro do Iraque, al-Maliki até já requereu que lhe sejam fornecidos drones da CIA, para bombardeá-los diretamente para o paraíso. Por sorte ainda não teve sorte. Por enquanto.

Bagdá já entendeu os sinais que veem no vento: consequência direta da ideia de dividir para governar, os jogos de sunitas-contra-xiitas dos norte-americanos foram incansavelmente estimulados ao longo de, já, dez anos; o próximo estágio é mais uma guerra civil, à moda do que está sendo feito na Síria, também no Iraque. A inteligência iraquiana está perigosamente infiltrada por jihadistas do Emirado Islâmico do Iraque. No deserto, não há fronteiras: a província de Anbar assiste atentamente ao que se desenrola na Síria, como ensaio final, figurino e maquiagem, do que acontecerá no Iraque.

É como se o recém nascido Emirado Islâmico do Iraque e do Levante mal pudesse esperar para retornar àqueles dias macabros, sinistros, de 2004 a 2008, quando o número de cadáveres empilhados fazia tremer qualquer Bruce Willis. E o que poderá fazer um Pentágono que já bate em retirada? Mais operação choque-e-pavor, tudo outra vez? Não, claro que não. Essa opção não está na mesa para o Iraque, nem para o Emirado Islâmico do Siriastão: só está na mesa para o Irã.


2 comentários:

  1. porque es el único petróleo que aún no tienen? (además del de Venezuela)

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    1. Não é só extração de petróleo, mas a passagem do oleogasoduto IPI (Irã, Paquistão, Índia) que deverá alcançar o sul da China... É o nojento jogo geopolítico de dominação dos EUA.

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