Dama de ferro? Enferruge em paz |
Publicado
em 16/04/2013 por Mário Augusto
Jakobskind*
A
morte de Margaret Thatcher de alguma forma provocou um fenômeno raro, não só na
própria Grã -Bretanha como também em várias partes do mundo. Desta vez a morta
não virou santa, muito pelo contrário. Foi hostilizada pelos que sofreram as
agruras do modelo neoliberal implantado pela dama de
ferro.
A
torcida do Liverpool, pelo menos desde 1989 quando ocorreu um episódio
repressivo sangrento com mais de 90 mortos, cantava com palavras comemorativas a
morte da dama de ferro. Além disso, a política de Thatcher fez muito mal aos
trabalhadores da região. Antes mesmo de se tornar primeira ministra, ao ocupar o
Ministério da Educação, Margaret Thatcher cortou o leite das crianças nas
escolas.
Quando
Augusto Pinochet estava em prisão domiciliar em Londres aguardando pedido de
extradição para a Espanha feito pelo juiz Baltazar Garzón, madame Thatcher
visitava o ex-ditador e agradecia a ele por ter ajudado o Reino Unido durante a
guerra das Malvinas. Thatcher chegou até a afirmar que Pinochet restabeleceu a
democracia no Chile.
Como
se não bastasse, antes mesmo do reconhecimento de Pinochet, Madame Thatcher
dizia que Mandela era terrorista. E assim caminhava a dama de
ferro.
Independente
de tudo isso, por aqui os defensores da política criminosa executada pela dama
de ferro chegaram a comentar como seria bom para o Brasil ter uma dama de ferro
para levar adiante as reformas necessárias para, segundo eles, modernizar o
país. Esta foi a opinião exposta pelo analista econômico das Organizações Globo,
Carlos
Alberto Sardenberg.
Mas,
no Congresso, o Senador Roberto Requião, do PMDB do Paraná, discursou lembrando
passagens nefastas protagonizadas pela dama de ferro, deixando perplexos alguns
senadores acostumados com a cultura da santificação de personagens que morrem,
sobretudo os propagadores da ideologia da falecida dama de
ferro.
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Eleição
venezuelana - Um mês
após a morte do Presidente Hugo Chávez, a direita venezuelana e seus apoiadores
pelo mundo afora comemoravam o acontecimento. Em alguns muros de Caracas, por
exemplo, os apoiadores do candidato Henrique Capriles pichavam a seguinte frase:
“viva o câncer”.
Nos
primeiros dias que se seguiram a morte de Chávez, a mídia conservadora ainda
procurou esconder o contentamento, mas aos poucos transferiu o ódio que nutria
pelo Presidente ao seu herdeiro político, Nicolás Maduro.
E
nos dez dias da campanha eleitoral venezuelana, a mesma mídia de mercado,
apoiadora em gênero número e grau de madame Thatcher, encheu a bola de Capriles.
Não tiveram a coragem de concluir que o candidato da direita pudesse ganhar de
Maduro.
Mesmo
com a eleição de Maduro, a direita de todos os quadrantes continuará tentando
produzir fatos midiáticos com o objetivo de enfraquecer o presidente eleito e
evitar a continuidade da Revolução bolivariana.
Maduro
é o sucessor do comandante da Revolução Bolivariana, Hugo Chávez. E ninguém
poderá dizer que não há democracia na Venezuela. Capriles com o apoio do governo
estadunidense tenta contestar a eleição denunciando fraude, passando por cima
das conclusões de observadores estrangeiros, entre os quais os integrantes da
Fundação Carter.
Maduro
ganhou por pouco mais de 200 mil votos de diferença, enquanto Capriles se elegeu
governador de Miranda com 30 mil votos de diferença. Mas isso a mídia de mercado
prefere não lembrar, porque enfraqueceria os argumentos do candidato apoiado
pelo Departamento de Estado norte-americano.
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No
vizinho Paraguai,
as atenções se voltam para o próximo domingo (21), quando cerca de três milhões
e 500 mil eleitores estarão escolhendo o próximo Presidente da República,
renovando a Câmara dos Deputados, integrada por 80 parlamentares, e 45
senadores.
Na
disputa presidencial, o candidato do Partido Colorado, Horacio Cartes despontava
em primeiro lugar nas pesquisas, seguido de perto pelo indicado pelo Partido
Liberal Autêntico, o ex-ministro do governo Fernando Lugo, um tal de Efrain
Alegre, apoiado pelo atual presidente de fato Federico Franco, que assumiu a
presidência depois de um golpe parlamentar. Mas novas pesquisas indicavam
alterações do quadro, o que torna difícil uma previsão.
Mario
Ferreiro, candidato de esquerda, aparecia em terceiro lugar, enquanto outro
candidato de esquerda, Aníbal Carrillo Iramaín, da Frente Guazú, o partido de
Lugo, encontrava-se mais abaixo. O presidente deposto por golpe parlamentar,
Fernando Lugo, é candidato ao Senado.
Horacio
Cartes é acusado de ter vínculos com o narcotráfico e domina a venda de cigarros
falsificados na fronteira do Paraguai com o Brasil. Cartes nega a primeira
acusação.
Para
se ter uma ideia do perfil de Cartes, ao ser indagado sobre o que faria se
tivesse um filho gay e defendesse a
união afetiva, o candidato respondeu sem pestanejar: “daria um tiro nas minhas
próprias bolas”.
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Mário Augusto Jakobskind* é correspondente no Brasil do semanário uruguaio
Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor
internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário
Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de “América que não está na mídia, Dossiê Tim
Lopes - Fantástico/IBOPE”.
Enviado por Direto
da Redação
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