Enviado e publicado por Pedro Porfírio no Blog do Porfírio
Título
original: A terça-feira que abortou o golpe na
Venezuela
Nesta terça-feira
(16/4/2013) o governo venezuelano abortou um Golpe de Estado apoiado pela
imprensa-empresa local e tramado pela CIA (EUA), com a direita derrotada nas
eleições de domingo (14/4/2013) e elementos das Forças Armadas. Com a prisão de
oficiais comprometidos e serenidade ante as provocações, o plano da CIA gorou
por hora
Nicolás Maduro em pronunciamento oficial como presidente eleito |
A
Venezuela viveu nesta terça-feira, 16 de abril, o dia mais tenso de sua vida
constitucional desde o frustrado golpe de abril de 2002. Até as quatro da tarde
estava em marcha um plano golpista que foi temporariamente abortado pela
maturidade política da militância chavista e pela firme demonstração de
autoridade do presidente Nicolás Maduro, com o apoio dos vários escalões das
Forças Armadas Nacionais Bolivarianos.
Desde segunda-feira, quando o chefe
oposicionista de direita Henrique Capriles Radonski, derrotado nas eleições presidenciais
de domingo, ordenou protestos violentos contra a proclamação de Maduro como
vencedor das eleições, com o apoio de mercenários paramilitares em pelo menos 15
estados do país, sua expectativa era de criar uma situação semelhante a de 13
anos atrás, que redundou na deposição por dois dias do presidente Hugo Chávez.
A agitação de rua levaria a uma
sedição militar sob a liderança de dois generais e nove oficiais da Guarda
Nacional, que operariam a partir do Comando de Apoio Aéreo de La Carlota. No entanto, uma rápida ação da Direção de Inteligência
Militar deteve os potenciais sublevados ainda na noite de domingo, no mesmo
momento em que
Capriles Radonski declarava que não reconhecia o resultado
anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral e ordenava as ações violentas de
segunda-feira.
No plano internacional, o golpe teve o
apoio ostensivo do governo norte-americano, que ainda não formalizou o
reconhecimento da vitória de Maduro, e da Espanha, que lançou suspeitas sobre o
pleito. Na manhã de terça-feira, enquanto a militância orgânica do Partido
Socialista Unido da Venezuela se preparava para o contra-ataque sob o comando de
Jorge Rodrigues, Maduro deu um ultimato ao governo espanhol e este reconsiderou
sua postura.
Durante toda a segunda-feira, as
agitações de rua ficaram por conta dos grupos ligados a Capriles, que apostava
num confronto de grandes proporções com centenas de mortes. Com a ajuda de
para-militares armados, esses grupos atacaram repartições públicas, tentaram
tomar a estação estatal de TV e forçar uma paralisação das empresas por ordens
dos patrões.
Blanca Eekhout |
Maduro avisou que poderia radicalizar
com a tomada das empresas por seus trabalhadores. “fábrica parada será fábrica
ocupada” – advertiu a deputada chavista Blanca Eekhout, em emocionante
pronunciamento na Assembléia Nacional. Mas as organizações sociais chavistas
surpreenderam e não reagiram à violência espalhada, apesar das sete mortes
registradas, 62 feridos e de mais de mil pessoas atendidas nos hospitais das
cidades onde os grupos de direita incendiavam objetos nas ruas e atacavam
inclusive sete Centros de Diagnóstico Integral, onde trabalham médicos e
enfermeiros cubanos dentro de um convênio que já produziu grandes mudanças
positivas nos índices de saúde dos venezuelanos.
Esses ataques, que tiveram requintes
de violência e destruição, foram registrados nos Estados de Táchira, Miranda,
Anzoátegui, Carabobo e Zulia. O pretexto usado era de que havia propaganda de
Maduro nesses centros médicos.
Os sete mortos foram atacados em
pontos diferentes do país quando ainda celebravam a vitória de Maduro. Alguns
foram atingidos por balas disparadas pelos para-militares contratados pelo
“Comando Simon Bolívar”, o comitê eleitoral do candidato da direita. O relato
documentado dos crimes, com os nomes das vítimas e as condições em que foram
executadas, foi apresentado no final da tarde de terça-feira pelos ministros do
Exterior, Elias Jaua, e Comunicação e Informação, Ernesto Villegas.
A resposta firme
contra a tentativa de golpe
Na
Assembléia Nacional, o seu presidente, deputado Diosdado Cabello,
responsabilizou Capriles Radonski pela violência desencadeada. Coronel da
reserva e parceiro de Hugo Chávez desde a insurreição militar de 1992, Cabello
escreveu em sua conta no twitter:
“Capriles fascista, eu vou
pessoalmente cuidar para que você pague por todos os danos que está causando ao
nosso país e ao nosso povo”.
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Na sessão da tarde de terça-feira, a
deputada Blanca Eekhout,
segunda-vice presidente da Assembléia, depois de emocionado discurso, leu uma
resolução aprovada pelos colegas apoiando as investigações do Ministério Público
e acusando formalmente Capriles pela onda de violência de
segunda-feira.
Com o passar do dia, o líder
direitista foi se vendo isolado, apesar do apoio reiterado do governo
norte-americano. Ele contava com uma grande marcha hoje à sede do Conselho
Nacional Eleitoral, onde fica a memória de todo o processo eleitoral, numa
movimentação que poderia degenerar na invasão de suas instalações e destruição
dos seus documentos.
Depois de
reunir-se com o comando das Forças Armadas, o presidente Nicolás Maduro
anunciou, ao meio dia, a proibição dessa marcha que teria consequências
incontroláveis.
O recuo dos golpistas
isolados
Até as quatro da tarde, Capriles e seu
staff se mostravam dispostos a
desafiar a proibição. Mas a repercussão negativa das ações violentas de
segunda-feira, as dúvidas sobre qual atitude tomaria a militância chavista
organizada e a detenção dos 11 oficiais que puxariam o golpe militar o deixaram
confuso.
Às cinco da tarde, convocou uma
entrevista coletiva, com a presença de jornalistas estrangeiros, e anunciou seu
recuo, alegando que fora informado por amigos da inteligência militar que os
chavistas infiltrariam provocadores dentro da marcha. Não era bem isso: ele
queria transformar o centro de Caracas numa praça de guerra, más já começava a
ver-se ameaçado até de perder o cargo de governador do Estado de Miranda, diante
de acusações documentadas de incitação à sublevações.
Ao final da coletiva, mudou totalmente
seu discurso inicial, conclamando seus partidários com ênfase a não saírem de
casa hoje: “quero dizer aos
venezuelanos e ao governo que todos nós aqui estamos prontos para abrir um
diálogo para que esta crise possa ser resolvida nas próximas
horas”.
Informado
que a recontagem prevista de 54% das urnas havia sido encerrada sem registrar um
único erro, tentou se explicar: “Não se
trata de reconhecer ou não os resultados eleitorais de domingo. Estou
simplesmente pedindo a recontagem de todos os votos”.
Acusado pelo Ministério Público de não
haver apresentado nenhum documento que justificasse a incitação à desordem, ele
disse que hoje fará chegar ao CNE petição neste sentido.
A ameaça golpista
ainda persiste
Apesar do anúncio do próprio
presidente Nicolás Maduro de que todos os focos de violência haviam sido
neutralizados, com a prisão de mais de 150 pessoas envolvidas diretamente nos
ataques de rua, ainda acho cedo para dizer que a intentona golpista foi
totalmente debelada.
Esta foi a maior operação já comandada
pela CIA, através de algumas ONGs financiadas pelos Estados Unidos, e teve
relativo êxito: primeiro, com a morte do líder Hugo Chávez, à semelhança do que
aconteceu com o líder palestino Yasser Arafat. Depois com a votação do
oposicionista, que derramou muito dinheiro na compra de votos em redutos
chavistas, enquanto prometia manter todos os programas sociais do governo.
Neste caso, houve um deslocamento de 1
milhão de votos dados em outubro a Chávez para Capriles, o personagem sob medida para o
golpe: 41 anos, bilionário, audacioso, carismático, celibatário é um fanático da
direita (foi da TFP da Venezuela) bem treinado: já no golpe de 2002, quando era
deputado, teve atuação de destaque, inclusive na invasão à Embaixada de
Cuba.
Na liderança dos países exportadores
de petróleo, a Venezuela tem hoje a maior reserva do mundo e adota um programa
de diversificação econômica que tem sido muito interessante para empresas
brasileiras e argentinas. Ao contrário do que imaginava a direita e seus
monitores da CIA, Maduro, um ex-motorista de ônibus, demonstrou nessas últimas
48 horas que vai ser um osso duro de roer, com a mesma têmpera do coronel Hugo
Chávez e uma militância orgânica maior.
Já na sexta-feira próxima, 19/4/2013,
estará prestando juramento como novo presidente da República Bolivariana da
Venezuela. E isso ainda não foi engolido pelos que conceberam o sofisticado
golpe “tecnológico” que tirou a vida do Comandante Chávez aos 58 anos e quase
trouxe a direita golpista de volta ao poder em Caracas.
Obrigado pela informação via face do Eduardo Guimarães do blog Cidadania.com.
ResponderExcluirSomos Davis contra Golias (gorilas) A blogosfera é a funda com pedras certeiras contra o golpe. America Latina, berço de uma nova civilização, onde vai imperar a solidariedade no mundo do trabalho.
Um sistema cooperativista nos moldes atuais de uma Mondragon dos paises bascos. (Paradoxo espanhol!)
Prezado Luiz
ExcluirO mérito da reportagem é do nosso amigo Pedro Porfírio e seus contatos na com link na nossa postagem. Nós só copiamos.
Abraço
Castor