Bancada fundamentalista na Câmara dos Deputados |
Publicado
em 09/04/2013 por Mário Augusto
Jakobskind*
O
caso do pastor Marco Feliciano, que se arrasta há um mês, não se restringe
apenas ao parlamentar, muito menos à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da
Câmara dos Deputados. Trata-se de uma ofensiva conservadora, especialmente
fundamentalista religiosa, que representa um retrocesso para o país.
Feliciano,
segundo a Folha de S. Paulo, agora em defesa protocolada no Supremo Tribunal
Federal, confirmou suas anteriores declarações racistas afirmando que “paira
sobre os africanos uma maldição divina”.
Remover
Feliciano do cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias é
uma necessidade, sem dúvida, mas não basta. Ele representa uma excrescência da
política brasileira e é preciso frear a ousadia de seus pares que formam a
Frente Parlamentar Evangélica.
Se
isso não for feito o quanto antes, o Parlamento brasileiro acabará até aprovando
projeto do Deputado João Campos , do PSDB, que, pasmem, na
prática levará ao fim do estado laico.
O
correligionário de Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso,
entre outros, elaborou proposta incluindo as entidades religiosas de âmbito
nacional entre aquelas que podem propor ação direta de inconstitucionalidade e
ação declaratória de constitucionalidade ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Se
aprovado em plenário, já foi na Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania da Câmara dos Deputados, o projeto irá para votação no Senado. Se este
retrocesso não for abortado, as entidades religiosas poderão questionar decisões
judiciais já adotadas pelos Ministros do STF, desde a autorização para o uso de
células troncos até a união estável para casais do mesmo sexo.
Podem
imaginar como um retrocesso dessa natureza em pleno século XXI
repercutiria no exterior? Enquanto os Parlamentos da Argentina e Uruguai aprovam
a união estável, no Brasil uma Frente Parlamentar Evangélica se mobiliza até
para acabar com a laicidade do Estado.
Como
se não bastasse a desmoralização da Comissão de Direitos Humanos sob a
presidência de Feliciano, integra também o espaço agora dominado pelos
fundamentalistas uma outra excrescência da política brasileira, o Deputado Jair
Bolsonaro, que além de defensor veemente do golpe de 64, em várias ocasiões
chegou a justificar a tortura.
Mas
a ocupação da Comissão pelos fundamentalistas se deve basicamente a partidos
como o PMDB, PT, PSDB, PC do B e outros, que se desinteressaram pelo tema
deixando que o Partido Social Cristão (PSC) indicasse Feliciano.
Além
de declarações racistas e homofóbicas, bem como proceder de forma autoritária e
policialesca como presidente da Comissão ao proibir a entrada do povo em
sessões, para não falar das acusações de estelionato que responde no STF,
Feliciano tem passado dos limites com menções sobre “satanás” e outras contra
parlamentares que não rezam por sua cartilha fundamentalista.
Tem
até vídeo em que este senhor farsante afirma que as mortes de John Lennon e do
grupo Mamonas Assassinas foram uma ação de deus. Pode uma coisa destas presidir
a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados?
Neste
contexto, que não se restringe ao PSC, soma-se a recente declaração do Senador
do PSDB, Aécio Neves considerando o golpe de 1964 como “revolução de
64” . O
político mineiro se traiu, porque geralmente os que se utilizam da referida
linguagem sempre apoiaram a quebra da ordem constitucional que representou a
derrubada do Presidente João Goulart.
Para
completar a ofensiva conservadora, que passa também pela Opus Dei, o Governador
de São Paulo tem como assessor particular um tal de Ricardo Salles, defensor
veemente do golpe de 64 e fundador do grupo intitulado Endireita Brasil.
Salles
representa a velha direita, acoplada a nova direita que ao longo dos últimos
anos tem feito de tudo para doar o que ainda resta sob controle do Estado
brasileiro. Nesta ofensiva se inserem os leilões de petróleo, já marcados para
maio próximo, e que tiveram início no governo entreguista de FHC.
Por
estas e muitas outras, se não houver uma maciça mobilização dos movimentos
sociais, o Brasil será palco em breve de um retrocesso que remonta aos piores
momentos de sua história no século passado.
Seria
uma espécie de repetição como farsa, agora caminhando para 50 anos, do golpe
civil militar de 64.
________________________
Mário Augusto
Jakobskind* é
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do
Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da
Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor,
entre outros livros, de América que não
está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE.
Enviado por Direto da Redação
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