15/8/2010, Seth Weintraub, CNN, Fortune
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Seth Weintraub |
Entreouvido
na Vila Vudu: Caetano
Veloso disse, dia desses, que lê O Globo exclusivamente
pra saber “o que é que O Globo sabe”. É perfeito. Foi quando descobrimos
que nós também só lemos jornais brasileiros e assistimos (bem pouco, nos dois
casos) à televisão brasileira, só, exclusivamente, pra saber o que é que aqueles
caras sabem. De fato, os jornalistas brasileiros e “especialistas” empregados
das grandes empresas-imprensa sabem praticamente nada, de coisa alguma que nos
interesse, aos pobres. Mas pensam que sabem tudo.
Então,
dão bandeira pouca, o que é sempre bobagem. Sorte nossa.
O
artigo abaixo, já velho (é de 2010), é típico da situação em que se deve ler
alguma coisa, não para aprender o que não se saiba, mas, sim, exclusivamente,
para ver o que é que esses caras sabem, que nós ainda nem sabemos que não
sabemos, mergulhados nessa nossa infinita ignorância brasileira de segunda mão
(quando o cara nem tem meios para começar a aprender, porque nem sabe, ainda,
que não sabe).
Essa
ignorância de segunda mão é a herança mais pesada que ainda carregamos, do
colonialismo, da dependência, de 300 anos de escravidão, tempo durante o qual o
Brasil aprendeu a conviver harmoniosamente e em paz, com o inconvivível: a
própria escravidão. Tempo durante o qual se cevou a universidade brasileira que
há hoje. Tempo durante o qual – e foram 300 anos! – o Brasil viciou-se em
ideologia de segunda mão: quando nem a ideologia engana todos, completamente,
todo o tempo (como Robert Schwarz explica, tão belamente, pensando a partir de
Machado de Assis), mas é ideologia, mesmo assim, suficientemente “objetivada”
(Debord vive!) e potente para paralisar o pensamento original, local, novo.
Disso se fez, além da universidade brasileira, também a imprensa-empresa no
Brasil, de fato desde sempre, mas muito especialmente a partir do final do
governo Vargas, nos anos 50. Até hoje, é a mesma imprensa-empresa, de
jornalismo-zero.
Então,
é o seguinte: não se trata de todos lerem o que aí se lê e se borrarem
imediatamente, de medo; nem é pra se porem a dar xiliques “éticos”, “porque” “a
Google” está fazendo e acontecendo, ou “porque” a Google não é “ética”. É claro
que a Google está fazendo e acontecendo, ora bolas! E por que não estaria?! É
claro que não é, nem ética, nem democrática: é uma empresa comercial
norte-americana, toda investida em recolher os lucros financeiros e políticos
que possa auferir uma empresa comercial no coração do império, nesses anos
finais do império.
O
que interessa, pois, não é denunciar que “a Google manipula informação”. É claro
que a Google manipula informação. O que interessa é aprender, com a Google, como
a Google manipula a informação; e decifrar a informação que Google veicula, para
manipular a informação da Google.
Antropofagia
da boooooooooa!
______________________________________________
Leiam
o artigo supracitado a seguir:
Jared Cohen em 2007 |
Na esperança de aplicar soluções
de tecnologia, para resolver os problemas do mundo, a Google acaba
de contratar Jared Cohen, homem de tecnologia e insider
em Washington.
Ouviram-se
rumores, mês passado, que põem Jared Cohen na pista de alta velocidade, no
império Google. Cohen é famoso por seu trabalho como “tuiteiro-em-chefe” do
Departamento de Estado, onde trabalhou durante dois governos. É sujeito
fascinante.
Cohen foi contratado no governo
Bush, pela
equipe de planejamento político do Departamento de Estado de Condoleezza Rice,
quando tinha 24 anos, imediatamente depois de formar-se mestre em Filosofia em
Oxford , como bolsista Rhodes. Desde então, se converteu em
diplomata inacreditavelmente bem relacionado e muito viajado, especialista em
“Governança para o Século 21” . É autor de um livro, Children
of Jihad [Filhos da Jihad] onde prega o uso da tecnologia
para promover o progresso social no Oriente Médio e em outros locais.
Há boatos de que Cohen anda
ocupadíssimo construindo uma nova entidade para a Google, que está sendo
chamada, provisoriamente, de “Google Ideas” [1].
“Ideas” é um think-tank dentro da empresa Google, coordenada a partir de
New York. Nesse outono (set/out de
2010), Cohen trabalhará em tempo integral para a Google. Seu trabalho será
imaginar iniciativas para aplicar soluções tecnológicas aos problemas do mundo
em desenvolvimento.
Outra
fonte diz que a atual patroa de Cohen, a Secretária de Estado, Hillary Clinton,
já sabe de sua partida iminente. A empresa Google disse a essa coluna “Fortune”
que não comenta esse tipo de assunto. Consultado, Cohen também não respondeu.
Cohen conta, em sua lista de
amigos, com Jack Dorsey, criador do Twitter e da empresa Square, além de figuras do
entretenimento, como Whoopi Goldberg e Jimmy Buffett.
Não
que seja estranho à empresa Google. Abaixo, uma conversa (em inglês), em
março/2010, entre Eric Schmidt, presidente executivo da Google, Jared Cohen e
Alec Ross:
A
parte mais interessante está no fim, mas se tiverem tempo assistam a toda a
entrevista. Ou assistam a uma versão mais curta, de jan/2008, em inglês, mas
mais fácil de acompanhar:
Artigo
publicado em Stanford (“Diplomacy
2.0” )
conta a história da ascensão de Cohen até a importância que tem hoje em
Washington:
Cohen,
que viajou longa e amplamente pelo Oriente Médio, acompanhava desenvolvimentos
em solo, seguindo os postados, no Twitter, de dissidentes iranianos e de Mir
Hossein Mousavi, candidato da oposição, traduzidos para o inglês e o farsi.
Todas as denúncias de fraude na reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad e a
violenta repressão do governo que se seguiu, estavam voando para o mundo
exterior em comentários de 140 caracteres e menos que isso.
Cohen
leu que o serviço de microblog seria desligado para manutenção no Irã. Apesar de
o desligamento ser rotina e de curta duração (a acontecer no meio da noite, pelo
horário dos EUA), o desligamento pôs em pânico os líderes dissidentes. Dado que
o governo do Irã estava bloqueando a transmissão de texto por celulares, o Twitter tornara-se linha de
sobrevivência. Os protestos estavam chegando ao pico: o que aconteceria se o Twitter fosse desligado no meio de um
dia turbulento?
Cohen
escreveu, por e-mail, ao seu amigo Jack Dorsey, co-fundador e presidente da
empresa Twitter. Dorsey participara
de uma delegação do Vale do Silício que Cohen levara ao Oriente Médio na
primavera anterior, para prospectarem negócios na reconstrução do Iraque. Numa
série de mensagens de e-mails, Cohen perguntou a Dorsey se a empresa
sabia do papel repentinamente vital que estava desempenhando no cenário
internacional.
O resto – mais ou menos – é
história. A empresa Twitter aceitou
adiar por algumas horas o upgrade programado, e aquele único duto de
livre expressão (sic) para os iranianos continuou ativo, sem interrupção no Irã.
O governo iraniano acusou o governo Obama de intromissão em seus assuntos
internos, mas um porta-voz disse que a ação de Cohen era “absolutamente
consistente com nossa política nacional. Somos defensores da liberdade de
expressão.
No
final daquele ano, a rede CNN incluiu a mensagem de Cohen à empresa Twitter na lista de “10 Top
Moments” da internet da década, ao lado do lançamento da empresa Facebook e da introdução do iPhone.
Jared Cohen com:
____________________
Atualização,
mais interessante, desta semana, depois que Wikileaks divulgou NOVOS zilhões de
telegramas da empresa Stratfor,
vários deles tratando dos contatos e movimentos do “jovem Cohen” e seu “Google
Ideas”, ativamente a serviço do Departamento de Estado [em
8/4/2013, Information Clearing House Iazan al-Saadi em: Google
Involved in “Regime Change”: WikiLeaks (gentilmente enviado por nosso
correspondente Chico Villela)] onde se lê um resumo:
(...) “Google Ideas”, que Cohen dirige, é um novo animal. Segundo matéria publicada em julho passado no Financial Times a empresa “Google Ideas” parece aliar sensibilidade de ativista idealista à busca, da empresa Google, por expansão global continuada – o que mistura e confunde as linhas de separação entre negócios e ação política. Schmidt e Cohen chamam “Google Ideas” de “think/do-tank” [aprox. “instituto que produz pensamento e ação”] interessado em abordar questões políticas e diplomáticas mediante recursos de tecnologia da comunicação.
O
primeiro evento público do “instituto de pensar e fazer”, em parceria com o
Conselho de Relações Exteriores e o Tribeca Film Festival, foi realizado em
junho passado em Dublin. Reuniu cerca de 80 extremistas “regenerados”, entre os
quais neonazistas e ex-radicais muçulmanos, membros de gangues norte-americanas
e outras, num “Summit Against Violent
Extremism” [Cúpula contra extremismo violento].
O anúncio do evento distribuído
pela página
da empresa Google dizia que a reunião visa a
“iniciar uma conversação global sobre como melhor evitar que os jovens abracem o
radicalismo e des-radicalizar jovens
radicais”; e que as ideias geradas na cúpula de Dublin serão incluídas em estudo
a ser publicado no final do ano”.
Um dos frutos da Cúpula foi a
criação do grupo “Against Violent
Extremism”, aparentemente uma rede para os
que participaram da Cúpula em Dublin. Além de simples networking, o grupo
também faz propaganda de alguns projetos à procura de financiamento. Quase todos
os projetos visam ao Oriente Médio, como uma “Contracampanha Al-Awlaki” (Anwar
al-Awlaki é o cidadão norte-americano, nascido no Iêmen, que foi assassinado, em
setembro do ano passado pelos EUA, alegadamente por suas conexões com a
al-Qaeda).
Mas
o site “Against Violent Extremism” não parece estar ativo. A última atualização,
na lista de projetos à procura de financiamento foi feita em setembro; e o
último anúncio relacionado ao trabalho do grupo é de
outubro/2012.
Nota
dos tradutores
[1]
A
“entidade” foi criada. Tem página na
internet. Em 2011
já
estava associada ao Conselho de
Relações Exteriores dos EUA. No mesmo ano, foi matéria
de Financial Times , porque, naquele ano (e também no ano
anterior), foi premiada pela Brookings
Institution, como “melhor think-tank criado nos últimos 18 meses. E o
Conselho de Relações Exteriores foi premiado
como “o melhor think-tank do mundo, no uso de mídia digital e
social”.
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