10/6/2014, Entrevista concedida
por Vladimir Putin à Prensa Latina e Itar Tass (Editada por Russia Today TV)
Traduzida do espanhol pelo pessoal da Vila Vudu
Estamos
interessados numa América Latina unida, forte, economicamente sustentável e
politicamente independente, que se está convertendo em parte importante do
mundo multipolar e emergente – disse o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
O líder russo fez várias importantes
declarações numa entrevista concedida às agências Prensa Latina e Itar-Tass, na
véspera de partir em viagem por vários países latino-americanos. Abordou amplo
leque de temas de interesse comum, da cooperação comercial até a importância da
Copa do Mundo de Futebol, que está chegando ao final no Brasil e imediatamente
será levada à Rússia, onde será realizada em 2018.
O respeito da América Latina à
liberdade e a outras culturas
Segundo o presidente russo, na região
latino-americana há fortes tradições de
respeito à liberdade, a outros povos e culturas, e praticamente não há disputas
entre estados; tampouco se vê, entre os países latino-americanos o jogo de “dividir
para governar”. Em vez disso, os países latino-americanos mostram-se dispostos
a trabalhar conjuntamente para defender a sua casa latino-americana comum.
Putin garantiu que atualmente a
cooperação com os Estados da América
Latina é uma das direções chaves e muito promissoras da política exterior da
Rússia. o multilateralismo nos assuntos
mundiais, o respeito às leis internacionais, o fortalecimento do papel central
da ONU e do desenvolvimento sustentável são os princípios que nos unem –
enfatizou. O presidente russo agradeceu aos latino-americanos o apoio às
iniciativas internacionais promovidas pela Rússia, incluídas a desmilitarização do espaço, o fortalecimento da segurança
internacional em matéria de informação, a inadmissibilidade de glorificar-se o
nazismo.
É
crucialmente importante para nós que, nas relações entre Rússia e América do
Sul mantenha-se uma continuidade
que reflete os interesses fundamentais e nacionais, independentemente da
formação política que lidere num ou noutro país, nesse momento – afirmou.
É inconsistente a ideia de impor a
outras nações modelos alheios de desenvolvimento
Em relação a atual ordem mundial, o
presidente russo considera que “ele mundo
do século 21 é global e
interdependente, pelo qual nenhum Estado o grupo de Estados pode resolver os
principais problemas internacionais por sua conta. Mesmo assim, cada intento de
estabelecer algum “oásis de estabilidade e segurança” está condenado ao
fracasso.
Segundo Putin, os diversos desafios e ameaças dos tempos modernos exigem que todos nos
oponhamos às tentativas para impor a outras nações os modelos de
desenvolvimento alheios. Advertiu que essa
atitude já havia demonstrado sua inconsistência. Não apenas não ajuda a
resolver conflitos como, também, desestabiliza e gera o caos em assuntos
internacionais.
Referindo-se ao escândalo da espionagem
massivo pelos EUA, opinou que trata-se
não só de pura hipocrisia nas relações entre aliados e parceiros, mas, também,
é ataque direto à soberania dos estados, além de violação de direitos humanos e
da privacidade. Assegurou que a
Rússia está disposta a cooperar para elaborar um sistema de medidas para
garantir a segurança da informação
internacional.
La CELAC e a União Aduaneira, dispostas
a cooperar
Em referência à integração
russo-latino-americana, o presidente russo qualificou como promissor o início dos contatos entre a CELAC e os países membros da
União Aduaneira, o Espaço Econômico Comum.
Estamos
abertos a interatuar de maneira substancial também com outras associações de
integração na região latino-americana, inclusive no marco da comunidade que
está emergindo. Refiro-me à União de Nações Sul-americanas (UNASUL), ao Mercado
Comum do SUL (MERCOSUL), à Aliança
Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), à Aliança do Pacífico (AP), ao Sistema de Integração Centro-Americano (SICA) e à Comunidade do Caribe (CARICOM) – disse.
Especificou que a Rússia está interessada em criar alianças plenas, tecnológicas, de
projetos e produção com os países da região, aproveitar ao máximo as possibilidades
das economias complementares, cooperação em
questões tão importantes como o petróleo e o gás, a hidroenergia e a energia
atômica, a construção de aviões e de helicópteros, as infraestruturas e, nos
últimos tempos, também os biofármacos e a tecnologia da informação.
Aprecio
muito o diálogo com a presidenta argentina
A Argentina é hoje o principal parceiro estratégico da
Rússia na América Latina, na ONU e no G-20.
Nossa
visão das principais questões de política internacional é parecida ou coincidente. Entendemos ambos
que é preciso formar uma nova estrutura mundial, mais justa e multicêntrica,
que se baseie no Direito Internacional e no papel central, de coordenação, da
ONU – disse Putin, que
disse também que aprecio muito o diálogo
construtivo e confidencial com a presidenta Cristina Fernández de Kirchner.
Na
última década, o volume do comércio russo-argentino multiplicou-se por seis, e
alcançou 1,8 bilhões de dólares, o que nos permite considerar a Argentina um
dos principais sócios econômicos e comerciais da Rússia na região da América
Latina – continuou o
presidente russo. Acrescentou que merecerá
atenção especial a intensificação da cooperação tecnológica e investimentos, especialmente
nos setores de energia, energia atômica e maquinaria. Referiu-se também à
cooperação na Antártida, que nos parece
promissora.
Sobre a possibilidade da integração da
Argentina ao grupo BRICS, disse que a Rússia vê com interesse o desejo do
governo argentino de unir-se ao grupo, mas lembrou que no momento, por questões
práticas, não se pensa em aumentar o número dos países BRICS. Antes de incluir novos membros, temos de
otimizar os vários formatos de cooperação já estabelecidos no grupo – concluiu.
Em Cuba, Rússia está disposta a recuperar as oportunidades perdidas
As relações russo-cubanas baseiam-se
numa longa tradição de amizade inquebrantável e na grande experiência de uma
cooperação frutífera que é única em muitos aspectos. Nos anos 90 do século 20, os ritmos de nossa
cooperação bilateral reduziram-se um
pouco e os sócios estrangeiros de outros países nos superaram em várias áreas
– Putin confessou. Mas, o presidente russo garantiu, os dois países estão dispostos a recuperar as possibilidades perdidas.
Hoje
Cuba é um dos principais sócios da Rússia na região. Nossa cooperação é de
caráter estratégico e está orientada para o longo prazo. Temos uma coordenação estreita no campo da política
exterior e no marco das organizações multilaterais. Nossas posturas em relação
a muitos temas globais e regionais coincidem – disse o presidente Putin.
Especificou que atualmente se estudam grandes projetos no campo da indústria, altas
tecnologias, energia, aviação civil, uso pacífico do espaço cósmico, medicina e
biofármacos. Uma das áreas mais importantes de nosso trabalho conjunto é
intensificar os intercâmbios culturais.
O presidente disse que, devido ao desenvolvimento em Cuba da Zona
Econômica Especial de Mariel, várias empresas russas manifestaram interesse em
novas cooperações, em especial empresas que fabricam produtos metálicos e
plásticos, peças de reposição para automóveis, montagem de tratores e de
maquinaria pesada para a indústria ferroviária. Referiu-se também ao projeto da companhia Zarubezhneft S.A. que,
em agosto de 2013 começou a perfurar o primeiro poço de exploração no poço Boca
de Jaruco.
O potencial da cooperação com o Brasil não está completamente
desenvolvido
O presidente confirmou que a Rússia apoia o Brasil como candidato digno
e forte para um posto permanente no
Conselho de Segurança da ONU. Disse que tem
certeza de que o Brasil, país potente e de rápido crescimento tem função
importante na formação da nova estrutura mundial multicêntrica.
Segundo o presidente russo, apesar que
há muito tempo Rússia e Brasil manterem ativo diálogo político, com cooperação militar, técnica e cultural, o potencial da
cooperação econômica e comercial com o Brasil não está sendo completamente
aproveitado. Além disso, no atual
contexto de insegurança da economia mundial, vê-se alguma redução do
intercâmbio comercial bilateral (3,3% em 2013). Para corrigir essa situação
necessitamos diversificar os vínculos comerciais: aumentar as trocas no campo
dos artigos de alta tecnologia e maquinaria, desenvolver a cooperação nas áreas de aviação e energia e na
agricultura.
Nova sede do Mundial de Futebol: do
Brasil à Rússia
O chefe de Estado russo disse que,
atendendo a convite da presidenta do Brasil e do presidente da FIFA assistirá à
final do campeonato, para participar na cerimônia de transferência do título de
país anfitrião. Em 2018, a Rússia acolherá
pela primeira vez em sua história esse evento esportivo tão popular. Em
fevereiro e março já realizados os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno em
Sochi e sabemos muito bem como é difícil organizar um evento dessas dimensões.
Putin disse também que a Rússia acompanha a experiência brasileira
na preparação para os Jogos Olímpicos em 2016. Revelou que a Rússia guarda algumas “surpresas”, para
ultrapassar o país anfitrião de 2016: incluímos
na lei federal um regime especial para vistos de entrada no país para estrangeiros
que vão ajudar a preparar o campeonato de 2018. Nas vésperas das competições e
durante a celebração, não só os participantes oficiais – atletas, árbitros,
treinadores, etc. – mas também os torcedores poderão visitar a Rússia sem
precisar de visto de entrada.
Finalmente, o presidente destacou a participação latino-americana no Mundial. Disse que está acompanhando de perto sempre que o horário permitiu, e apreciou o futebol brilhante, espetacular que mostraram as seleções.
Finalmente, o presidente destacou a participação latino-americana no Mundial. Disse que está acompanhando de perto sempre que o horário permitiu, e apreciou o futebol brilhante, espetacular que mostraram as seleções.
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