9/7/2014, Primeiro Canal
Republicano de TV, Donetsk
Vídeo e transcrição traduzida
ao ing. (sem revisão). Começa em 1’06.
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
A verdade é
que os alvos primários que foram atacados em Slaviansk e Kramatorsk não foram
posições da nossa Milícia de defesa, embora essas posições fossem perfeitamente
conhecidas, nem foram atacados bairros periféricos da cidade. O inimigo só atacou fábricas, empresas e
instalações industriais. Em Nikolaievka, em especial, o inimigo continuou a
bombardear a Usina Termoelétrica durante três dias sem parar, mesmo todos
sabendo que lá não havia forças da Resistência. E, além disso, o bombardeio
continuou durante um dia inteiro, mesmo depois que nós já havíamos nos
retirado. Em outras palavras, o
bombardeio não tinha objetivo militar.
Do mesmo
modo, o bombardeio foi dirigido contra o distrito industrial, onde estão
instaladas numerosas fábricas em Slaviansk e onde nenhum dos nossos soldados
das forças de defesa jamais pôs os pés. Sequer instalamos postos de controle
ali. Pois as fábricas foram regularmente e metodicamente bombardeadas pela
artilharia de Kiev.
Entrevistador: Bom-dia, hoje, no estúdio desse nosso Primeiro
Canal Republicano de televisão, para falar aos cidadãos da República Popular de
Donetsk, RPD [orig. ing. DPR (Donetsk People’s Republic)], está
conosco o ministro da Defesa e presidente do Conselho de Segurança, Igor
Ivanovich Strelkov.
Igor
Strelkov: Bom-dia.
Entrevistador: E o
comandante da Milícia Popular da RPD, Pavel Gubarev.
Pavel
Gubarev: Bom-dia.
Entrevistador: Igor
Ivanovich, a palavra é sua.
Igor
Strelkov: Quero dar as
boas-vindas aos que nos assistem e nos ouvem, e dizer que, nesse momento tão
difícil para o povo da República Popular de Donetsk, sinto-me feliz de poder
estar aqui com vocês, e que possa, com vocês, defender nossa pátria-mãe comum,
a Rússia, a qual, como creio, estende-se das fronteiras dessa formação chamada
Ucrânia, até o Extremo Leste.
Estamos aqui
lutando, precisamente, pela Rússia. E lutamos também pelos direitos das
Repúblicas de Donetsk e Lugansk. Lutamos pelos direitos de autodeterminação de
vocês, pelo direito de usar a língua de vocês, de viverem a cultura e o modo de
vida de vocês. E pelo direito de manterem-se livres de obrigações impostas a
vocês por gente para a qual a terra de vocês e a sociedade de vocês não passam
de objeto de maquinações políticas e de especulação financeira de vários tipos.
Gente que vive em estado de subserviência, sob controle externo e nem se dá o
trabalho de tentar esconder isso. Por isso lutamos e continuaremos a lutar. E
espero que possamos continuar a contar com o apoio de vocês.
Não me
preparei especificamente para um comunicado ou discurso; passei o dia ocupado
com questões de planejamento estratégico. Não tenho texto para ler aqui. O
pessoal da TV preparou algumas perguntas e espero que, respondendo as perguntas
deles conseguirei também dar respostas às suas preocupações sobre o que está
acontecendo, como prosseguem as hostilidades e como planejamos continuar a
defender a República. Se nosso anfitrião se dispuser a iniciar as perguntas,
estamos à disposição.
Tropas Ukies chegam a Slaviansk |
Chegou o
momento de deixar Slaviansk
Entrevistador: Igor
Ivanovich, temos aqui uma pergunta que se ouve sempre: porque Slavyansk
rendeu-se e por que as forças retornam a Donetsk e cidades próximas?
Igor
Strelkov: Desde o
início das hostilidades, Slaviansk serviu como um escudo para Donetsk. Com
nossas posições em Slaviansk, montamos um escudo para proteger todo o
território da RPD [República Popular de Donetsk] e da RPL [República Popular de
Lugansk, orig. LPR, Lugansk People’s
Republic]. Nos interpusemos contra o centro da ofensiva do inimigo e
dividimos suas forças, o que deu às lideranças sociais e políticas nas duas
Repúblicas a oportunidade para organizar-se e, atuando conforme o nosso
exemplo, tomar da Junta as rédeas do poder [local]; em certa medida, impedindo
que a Junta se fixasse.
Por isso,
dizemos que a tarefa foi completada – essa específica tarefa – que nas duas
Repúblicas, em Donetsk e em Lugansk, os governos estabeleceram-se como era
desejo do povo, em termos de implementar a soberania do Estado e realizar o
referendo, e de criarem suas próprias forças armadas. Nesses termos, sim,
entendemos que nossa tarefa foi completada substancialmente.
É natural
que Slavyansk tenha-se tornado e continue a ser, para mim pessoalmente e para
nós todos, uma cidade muito importante, cidade à qual estamos profundamente
conectados. Indubitavelmente, tivéssemos oportunidade de mantê-la, teríamos
continuado a defendê-la pelo tempo que pudéssemos. Mas a situação militar que
se formou ali significava que continuar a manter Slavyansk teria levado a
baixas que não poderíamos admitir na Milícia; e manter a cidade já não atendia
a nenhum objetivo nem estratégico nem tático.
O inimigo
concentrou ali quantidade gigantesca de artilharia e um grupo blindado próximos
à cidade. Não poderíamos continuar a manter nossa posição por muito mais tempo,
sem quantidades adequadas de armamento pesado, artilharia e, sobretudo,
munição. Passo a passo, sempre contendo o inimigo, ganhando um dia depois do
outro, continuamos a nos retirar para os limites da cidade. E finalmente chegou
o dia em que a situação alcançou o ponto em que compreendemos que o círculo se
fechara em torno da cidade; e que o plano tático do inimigo não é nos atacar
mas, simplesmente, pôr abaixo a cidade, destruí-la completamente com artilharia
e depois dizimar nossa infantaria com os tanques.
Compreendemos
que nos falta armamento suficiente para nos defender contra esses movimentos. É
falta grave, falta-nos, mesmo, tudo. O inimigo simplesmente passaria a nos
matar, nos próximos dias, sem que pudéssemos agir correspondentemente.
Nessa
situação, a decisão foi tomada. Eu, pessoalmente, tomei a decisão. Não dividi a
responsabilidade com ninguém. E dei conhecimento dela apenas ao Conselho
Militar que agiu imediatamente. A decisão foi de proceder à retirada, salvar a
guarnição e a cidade, da destruição sem sentido. Seria destruição, mesmo, sem
sentido, porque seríamos bombardeados de longe, de uma distância contra a qual
não teríamos meios para responder. Tomei também a decisão de realocar os
destacamentos experientes em combate para novas posições, nas quais pudessem
continuar a defender a República.
Além do
mais, como descobrimos depois que saímos do cerco, naquele mesmo dia o inimigo
tomou Artyomovsk, expulsando de lá a pequena força de nossa milícia que estava
lá acampada. Assim se criou real perigo de que não só Slaviansk, mas também
toda a região, inteira, de Kramatorsk-Druzhkovka-Konstantinovka viesse a ser
cercada e sitiada. De fato, essa é precisamente a razão pela qual, porque o
inimigo estava já começando a cortar nossas linhas de comunicação, foi tomada a
decisão pela retirada também de outras cidades, porque defende-las, depois de
estarem cercadas, praticamente não teria qualquer propósito. Só teria resultado
em mais vítimas desnecessárias e mais desnecessária destruição.
Áreas controladas no Donbass em 6/7/2014 |
Os heróis da
retirada de Slavyansk
Entrevistador: Obrigado.
Nós aqui entendemos que os homens que deram cobertura à sua retirada são
heróis. O senhor pode nos falar mais sobre eles?
Igor
Strelkov: Não foram
mais de algumas dúzias de homem que ficaram para trás para cobrir a nossa
retirada. De fato, cumpriram admiravelmente a tarefa deles. Tanto quanto sei
até agora, a maioria deles já saiu da área cercada. Além disso, acabo de ser
informado de que também o grupo que protegeu nossa retirada de Nikolayevka, os
13 combatentes daquele grupo também saíram do cerco com sucesso e deslocaram-se
para Seversk, com baixas mínimas.
Prontidão de
Donetsk para resistir a um sítio
Entrevistador: Temos aqui
outra pergunta: a cidade de Donetsk está preparada, nesse momento, para
defender-se contra sítio prolongado e para uma ofensiva?
Igor
Strelkov: Bem, não
posso dizer, de modo algum, que aquela cidade esteja pronta para defesa, dentre
outros motivos porque a cidade como um todo continua a operar como em tempos de
paz. Até aqui não se tomou qualquer medida defensiva. O estágio em que estão as
preparações de defesa na cidade até aqui é o mesmo em que estava Slaviansk há
dois meses. Em outras palavras, as fortificações existentes são suficientes
para deter Carros Blindados de Transporte de Soldados [orig. APCs, Armoured Personnel Carriers] e
algo como a Guarda Nacional ou destacamentos do Ministério do Interior.
Quanto às
colunas de blindados do inimigo, que agora está usando massivamente tanques e
artilharia, a cidade só com muita dificuldade conseguirá defender-se contra
eles, e ao custo de baixas significativas do nosso lado das milícias. Mas
estamos tomando medidas urgentes, diariamente, para assegurar que a cidade
esteja preparada para combate. No que tenha a ver com erigir fortificações.
No que tenha
a ver com o espírito da população, é aparente, todos veem, que os moradores de
Donetsk continuam a viver exatamente como em tempos de paz. Continuam sem
entender, ou recusam-se a acreditar que um ataque pode acontecer onde o inimigo
– as unidades de punição coletiva e os esquadrões da morte ucranianos – lançar
barragem massiva de artilharia e ataques aéreos contra áreas residenciais. Ora...
por bom tempo nós também não acreditávamos.
Mas depois
de um mês, ou, mais precisamente, três meses de sítio, mas um mês de sítio
ativo, acabamos por ter de nos convencer de que o inimigo escolhera a tática,
não de agir contra nossas unidades armadas, as unidades de autodefesa da
Milícia, mas uma tática terrorista de destruir – a destruição da
infraestrutura, destruição de instalações industriais. É isso, e por estranho
que possa parecer a alguns, embora absolutamente não me pareça estranho.
A verdade é
que os alvos primários que foram atacados em Slaviansk e Kramatorsk não foram
posições da nossa Milícia de defesa, embora elas fossem perfeitamente
conhecidas, nem foram atacados bairros periféricos da cidade. O inimigo só
atacou fábricas, empresas e instalações industriais.
Em
Nikolayevka, em especial, o inimigo continuou a bombardear a Usina
Termoelétrica durante três dias sem parar, mesmo todos sabendo que lá não havia
forças da Resistência. E, além disso, o bombardeio continuou durante um dia inteiro,
mesmo depois que nós já havíamos nos retirado. Em outras palavras, o bombardeio
não tinha objetivo militar. Do mesmo modo, o bombardeio foi dirigido contra o
distrito industrial, onde estão instaladas numerosas fábricas em Slaviansk e
onde nenhum soldado das forças de defesa jamais puseram os pés. Sequer
instalamos postos de controle ali. Pois as fábricas foram regularmente e
metodicamente bombardeadas pela artilharia de Kiev.
Em outras
palavras, o objetivo do qual estamos falando nunca foi expulsar da cidade as
nossas forças de defesa. Isso não interessa ao inimigo. O inimigo ali tinha o
objetivo claro de causar a maior destruição possível à infraestrutura, enquanto
fazia crer que estaria expulsando a nossa milícia. O objetivo não era militar.
O objetivo era privar as pessoas dos seus empregos, das moradias, dos meios
necessários para manter a vida diária. De fato, o objetivo era forçar a
população ao êxodo, porque não encontrarão meios para sobreviver nem depois de
cessadas as hostilidades.
Estou firmemente
convencido de que o atual governo ucraniano e o comando do exército ucraniano
não se deterão antes de fazer o mesmo também em Donetsk. Que ninguém se iluda –
mesmo que sejamos forçados a nos retirar daqui, nem assim o governo da Ucrânia
permitirá que os moradores de Donetsk continuem a viver aqui.
A chamada
Europa Unida não deseja ter de enfrentar a concorrência da indústria de
Donetsk. Não querem a concorrência contra nossos cientistas. A única coisa que
querem ver aqui é um território do qual possam recolher algumas centenas de
milhares, talvez mesmo um milhão de unidades individuais de trabalho barato,
para usá-las na Europa. É só o que querem.
Pavel
Gubarev: Além do gás,
é claro.
Igor
Strelkov: Não vou
falar sobre o gás, porque não é minha especialidade. Mas é certo que estão aqui
para destruir o coração industrial do Donbass, o qual, em primeiro lugar, impõe
importante concorrência à indústria europeia e, em segundo lugar, trabalha
quase completamente, ou, pelo menos, em grau significativo, para o complexo
militar-industrial russo.
Milícianos de autodefesa em Donetsk |
Suficiência
das Forças de Defesa (as Milícias)
Entrevistador: A julgar
pelas declarações deles, eles absolutamente não querem ver pessoal russo em
nosso território. Mas sentimos essa terra como nossa terra – a República
Popular de Donetsk, a República Popular de Lugansk. Não deixaremos nossa terra.
Mas quero falar especificamente das Forças de Defesa, as Milícias. Temos forças
suficientes, considerando as que foram recrutadas por Pavel Gubarev?
Igor
Strelkov: Não, claro
que não, absolutamente não. Mesmo que só para uma cidade, de um milhão de
habitantes, sem contar o restante da República, temos poucos milicianos. O
território da cidade é imenso. E o território da RPD controlado por nosso
governo também é muito grande.
É impossível
estabelecer controle seguro e defender todo o nosso território com as forças
com que contamos hoje. Se se considera a superioridade colossal do inimigo, eu
diria que ele tem domínio absoluto sobre nós, em termos de blindados e artilharia,
mesmo sem contar o domínio aéreo. É absolutamente difícil, é impossível,
defender nosso território com as forças que temos hoje.
Gostaria
também de acrescentar ao que já disse até aqui, que é impossível fazer “meia
guerra”, guerra pela metade. É erro supor que alguns, em alguns pontos,
conseguirão defender essa República com forças reduzidas e orçamento muito
pequeno. Temos de mobilizar recursos, mobilização séria. Infelizmente, esses
recursos, em primeiro lugar e sobretudo em termos de armamento e munição, não
foram preparados. Hoje, simplesmente não existem.
Se esses
recursos existissem, implementaríamos mobilização geral sem hesitar. Não
importaria se ¾ do pessoal em idade para mobilização militar fugisse de prestar
serviço militar; o ¼ restante bastaria. Infelizmente, não podemos fazer a
mobilização. Seja como for, temos condições para armar, equipar e treinar, de
forma rápida pelo menos, vários milhares de voluntários em bem pouco tempo.
Entendo que
aproximadamente de oito a dez mil homens bastaria para deter completa e
irrevogavelmente o exército ucraniano, que só obteve as primeiras vitórias
porque havia muitos buracos em nossa defesa, e porque eles tinham meios de
locomoção que nós não tínhamos. Nossos meios de locomoção continuam em estado
miserável. Nossas linhas de suprimento não estão tão mal. Mas continuaremos a
lutar e continuaremos a detê-los.
Contudo, sem
participação mais ativa da população do Donbass na defesa, será muito difícil
contê-los. Precisamos de pessoal. Repito: temos de alistar de oito a dez mil
homens nas fileiras das Milícias, para assegurar nossa defesa. Que sejam
voluntários ou recrutados, não faz diferença.
Voluntários da autodefesa de Donetsk |
Precisamos
também de profissionais militares
Entrevistador: Há falta
específica de voluntários com qualificações específicas, ou conhecimento
técnico ou profissional?
Igor
Strelkov: Em primeiro
lugar, precisamos de todos. Precisamos de todos os tipos de profissionais com
todos os tipos de qualificação militar e também precisamos de gente com
conhecimento técnico específico. Em guerra, não é difícil dar treinamento
especial em poucos dias, particularmente durante as hostilidades. Mas
profissionais superqualificados que jamais viram guerra ou treinamento militar,
se são postos em situação de fogo real, de modo geral revelam-se imprestáveis
como combatentes. Os militares sabem bem disso.
A ameaça
contra Donetsk (e preparar um Exército)
Entrevistador: Temos aqui
várias questões difíceis dos nossos telespectadores: o que os civis devem
fazer? O que devem esperar? O perigo é realmente grave? O senhor já comentou
algumas dessas questões, mas pode falar um pouco mais sobre o perigo que
estamos enfrentando?
Igor
Strelkov: Não quero
assustar ninguém, mas acredito que, sem ajuda real e efetiva da Rússia, se a
Rússia não nos der ajuda militar direta, a Junta de Kiev, que já está
completamente fora de controle com certeza usará todo o arsenal de forças e
meios que tem à sua disposição, sobretudo porque as decisões não são tomadas em
Kiev, nem na Ucrânia, mas, principalmente, do outro lado do oceano. E lá já
está decidido destruir completamente o Donbass. Ou eles empurrarão a Rússia
para uma guerra global aqui, em território da Ucrânia, ou arrancarão daqui tudo
que querem arrancar, sem aquela guerra. E por essa razão, continuarão a
avançar, bombardear, pôr por terra o que encontrem pela frente.
Repito o que
já disse: cada homem deve tomar sua própria decisão. Se é homem, tem de estar
preparado para guerrear pela sua terra. Claro, nem todos podem fazê-lo do mesmo
modo, seja por questões morais ou características pessoais ou de personalidade.
Absolutamente não são todos que podem seguir esse caminho. Mas falando bem
francamente, o número de voluntários que já surgiram nos últimos três meses, da
população do Donbass, de vários milhões de habitantes, terra dos mineiros,
gente experiente em condições difíceis de vida e trabalho, tem sido muito
baixo.
Gostaria de
partilhar aqui uma informação, porque sei que muitos já teriam se unido às
nossas milícias, se houvesse garantias [financeiras] para as suas famílias.
Igor Strelkov por Christopher (The Saker) |
Entrevistador: Absoluta
verdade.
Igor
Strelkov: Agora já
podemos oferecer algumas garantias [financeiras] às famílias dos que se
alistem. A partir desse mês, planejamos pagar aos membros das Milícias somas
que, me parecem, serão bem significativas, pelos padrões locais: de cinco a
oito mil hryvnia. Nosso plano é
começar a fazer esses pagamentos em julho. Assim, é possível que mais
voluntários possam unir-se a nós. Em outras palavras, estamos criando um
exército regular, de militares profissionais.
Negociações
com Ossetia do Sul
Entrevistador: Entendido.
Outra questão: o senhor falou de negociações em andamento. O senhor falou sobre
a Rússia. Mas e quanto à Ossétia do Sul, que reconheceu nossa independência?
Igor Strelkov: Não posso responder essa pergunta.
Ataques aéreos
contra a Mina de Carvão n. 21 (Pokrovka)
Entrevistador: OK. Outro
assunto. O que aconteceu na Mina de Carvão n. 21 em Pokrovka?
Sukhoi Su-25 da FA da Ucrânia |
Igor
Strelkov: Um jato
Su-25 atacou com cinco foguetes o que lhes pareceu que fosse um dos nossos
destacamentos. Mas errou o alvo.
Entrevistador: Há feridos?
Mortos?
Igor
Strelkov: Não. Sem
baixas. Como lhe disse, erram o alvo.
A Situação em
Snezhnoye e em Saur-Mogila
Entrevistador: Muito bom. É
boa notícia. E o senhor pode comentar a situação militar na cidade de Snezhnoye
e em Saur-Mogila? Como estão nossos milicianos?
Igor
Strelkov: Estão bem.
Há um destacamento estacionado lá. Primeiro, quero dizer que o Batalhão Vostok
está lá, comandado por comandante bastante competente. Deu conta de organizar
seus combatentes de modo que eles continuam a manter as posições chaves com
número mínimo de baixas.
Creio que
continuaremos a conseguir manter Snezhnoye e áreas nos arredores. Já enviamos
para lá reforços substanciais. Não permitiremos que o inimigo consiga abrir
caminho na direção do rio Don nem bloquear o corredor que agora nos conecta à
região de Lugansk.
Coordenação
com Lugansk
Entrevistador: Significa
que nesse momento temos coordenação com Lugansk?
Igor Strelkov: Ainda não é coisa que mereça muitas
comemorações. Nossa coordenação ainda é fraca, mas está melhorando aos poucos.
Comando
Unificado e Recrutamento de Forças Armadas
Entrevistador: É minha
opinião pessoal, mas também de vários de nossos telespectadores que nos
escrevem, que é preciso haver coordenação unificada ou um gabinete do
comandante do exército ao qual os voluntários possam comparecer para se alistar
nas Milícias e ser dirigidos, dali, para os diferentes batalhões. Até aqui, o
que temos feito é divulgar vários números de telefone durante nossa
programação. Ajudaria muito, se houvesse um gabinete de comando unificado.
Igor
Strelkov: É, essa é a
lei da psicologia humana. A história já mostrou que é verdade, em muitas
ocasiões. Mas o processo de transformar unidades guerrilheiras em exército
regular, em formações regulares armadas, é processo muito difícil. É muito
complexo. Há muitos fatores objetivos e subjetivos envolvidos. Infelizmente,
não há varinha mágica que faça tudo acontecer depressa e ao mesmo tempo. Seja
como for, essa é tarefa prioritária para nós, porque, naturalmente, a situação
de haver vários grupos, com diferentes comandos separados, não pode continuar.
Não é aceitável, nem do ponto de vista de operações militares futuras, nem do
ponto de vista da necessidade de manter o exército em ordem na retaguarda.
Hoje afinal
tivemos uma reunião conjunta, da qual participaram comandantes de unidades das
milícias e os que vêm de outras regiões, como o Batalhão Vostok e o Batalhão
Oplot. Chegamos a um importante acordo com respeito à delimitação de nossas
esferas de responsabilidade, com respeito à criação de gabinetes de comandos
regionais e o comando conjunto do comandante da cidade; e com respeito à
introdução da lei marcial nas áreas adjacentes às posições do inimigo. Até
agora, não temos planos de instituir nem lei marcial nem toque de recolher na
cidade inteira. Esperaremos que o inimigo use força direta; não vemos
necessidade de complicar prematuramente a vida dos cidadãos.
Denis Pushlin e Aleksandr Borodai |
Negociações
com a Federação Russa
Entrevistador: Nosso
governo, Pushlin, Borodai, pelo que entendi, estão nesse momento em Moscou.
Andrei Purgin está aqui. Há negociações em andamento com Moscou?
Igor
Strelkov: Não posso
comentar sobre isso, porque no momento trabalho exclusivamente em questões
militares.
Entrevistador: Sim, senhor.
Obrigado. No próximo programa, Katya Mikhailova convidará representantes da
República que possam comentar e responder essas perguntas.
Incidentes com
milicianos em Donetsk
Igor Strelkov: Gostaria de acrescentar mais uma coisa.
Infelizmente, e não esconderei isso, a chegada a Donetsk de número considerável
de nossos milicianos, muitos dos quais passaram semanas em trincheiras, levou a
vários incidentes. Felizmente, ninguém resultou ferido no processo.
Peço que os
moradores de Donetsk por favor compreendam que as pessoas que acabam de chegar
aqui passaram não só por estresse severo, mas por perigo mortal durante semanas
e, até, durantes meses.
Por exemplo,
o Batalhão Semionovka algumas vezes perdeu até 20 homens, entre mortos e
feridos, num só dia. Foram feridos, mas não se dispersaram. A Milícia sofreu
bombardeio massivo inclusive de armas químicas, bombas incendiárias, munição de
fragmentação, e ataques de artilharia dos mais pesados calibres.
Nem todos os
combatentes estavam suficientemente bem preparados para chegar em formação a
uma cidade que vive vida absolutamente normal, depois do que passaram nas
trincheiras e Slaviansk e Kramatorsk, cidades que estão completamente destruídas
e foram ferozmente atacadas.
Nem todos
reagiram adequadamente a essa repentina mudança nas circunstâncias. E houve
casos de combatentes que manifestaram comportamento impróprio ante moradores da
cidade. Pode ter acontecido de alguns terem suposto que tudo lhes seria
permitido, dado que voltam como heróis. É verdade que são heróis, porque
mantiveram as próprias posições sob fogo. Alguns foram ofendidos.
Ukies usam bombas de fósforo em Slaviansk |
Mas, repito,
não houve vítimas a lamentar e ninguém resultou ferido por efeito dessas ações.
Mais uma vez peço desculpas por esses incidentes e quero assegurar a todos que
o comando da Milícia trata com extremo rigor essas questões. [Incidentes como
esses] são indício de falta de disciplina.
Todas as
bebidas alcoólicas são proibidas nas milícias. É regra que existia já em Slaviansk
e mantivemos aqui, com máximo rigor. Combateremos com firmeza todos os sinais
de desmazelo e desleixo.
Devo
acrescentar ainda que, em circunstâncias de guerra, puniremos severamente a
prática de qualquer crime. Crimes assim definidos pelo Código Militar, é claro.
Outros crimes não se incluem entre nossas responsabilidades.
Criminosos
que sejam condenados por prática de crimes em nossa área de operações serão
julgados em cortes militares de campanha. Além disso tudo, como fui informado,
há vários moralmente instáveis, que estão tentando obter vantagens das
circunstâncias de interregnum.
O exército,
é claro, tomará todas as medidas necessárias para garantir a ordem. Não
agradará a todos, mas não há outro modo possível.
*** FIM DA
ENTREVISTA ***
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