30/7/2014, [*] Greg Shupak, Jacobin Magazine blog.
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Blindados de Israel invadem Gaza |
A violência
dos israelenses não é “sem sentido”: ela segue uma lógica colonial.
Entende-se
que, para muitos, as ações de Israel na Faixa de Gaza sejam massacre e
carnificina como tais. É interpretação
plausível para a matança de 1.284 palestinos, pelo menos 75% dos
quais são civis, e ferir outros 7.100.
Ver Israel
como dedicado a derramamento gratuito de sangue parece até mais razoável, como
conclusão, à luz do
massacre de 63 pessoas em Shujaiya
depois de “uso extensivo de fogo de artilharia em
dúzias de áreas populosas em toda a Faixa de Gaza” que deixou cadáveres
“espalhados pelas ruas”, ou o bombardeio de abrigos da ONU abertos para acolher os que
fugiam da violência. É conclusão também tentadora, baseada em relados
de Khuza’a, área no interior do território da Faixa, e que também foi
cenário de mais um massacre pelos israelenses.
Mas descrever
essa violência como ‘'maldade em si'’, como ‘'perversão'’ ou como ato sem outro
objetivo além do assassinato em si deixa escapar a própria lógica que preside
tudo que Israel está fazendo com sua Operação Linha de Proteção, agora, mas que
de fato faz há muito tempo, ao longo de toda sua história.
Como diz
Darryl Li, em “A
Solução Nenhum Estado”,
“Desde 2005, Israel vem desenvolvendo um experimento raro, talvez sem precedentes, de gestão
colonial na Faixa de Gaza”, procurando sempre “isolar os palestinos de qualquer
contato com o mundo exterior, torná-los absolutamente dependentes da caridade
externa” e, simultaneamente, cuidar de “absolver Israel de qualquer
responsabilidade em relação a eles”.
Essa estratégia,
prossegue Li, é o modo pelo qual Israel trabalha para manter maioria de judeus
nos territórios que controla, de modo a poder continuar a negar direitos iguais
para o restante da população.
Gaza - escola da ONU, aulas sob escombros |
Suprimir a resistência
palestina é crucial para o sucesso do experimento
israelense. Mas há um corolário, a saber, uma interação cíclica entre o
colonialismo israelense e o militarismo norte-americano.
Como explica
Bashir Abu-Manneh, há uma
relação entre o imperialismo norte-americano e as políticas sionistas.
Políticos
norte-americanos creem que uma aliança com Israel ajuda os EUA a controlar o
Oriente Médio. Assim sendo, os EUA viabilizam o colonialismo e a ocupação
israelenses, o que, por sua vez, cria contextos para mais intervenções dos EUA
na região, que podem ser usados para tentar aprofundar a hegemonia
norte-americana.
O autor diz
também que “os EUA têm determinado grandes resultantes econômicas e políticas”
na região desde, pelo menos, 1967, e que Israel desempenha “papel crucial nas
realizações norte-americanas. Em Israel-Palestina, o que se tem é que a força e
uma paz colonial alternaram-se como principais instrumentos de política”. Mas,
em todos os casos, permanece sempre “o mesmo objetivo, constante: a supremacia
dos judeus na Palestina – o máximo possível de terra, com o mínimo possível de
palestinos sobre ela”.
O que os dois
analistas, Li e Abu-Manneh destacam é a preocupação de Israel com manter os
palestinos em estado de impotência. Conduzida simultaneamente por sua própria
agenda de ocupação com colonização e por sua função como parceira dos EUA no
sistema geopolítico, Israel dedica-se a tentar equilibrar (I) seu desejo de maximizar o território que controla e (II) o imperativo de minimizar o número
de palestinos vivos nos territórios que Israel aspira a usar para seus próprios
objetivos.
Israel destrói a infraestrutura da Palestina |
Um modo de
destruir qualquer sinal do poder dos palestinos tem sido deixado bem à vista na
Operação Linha de Proteção, durante a qual a violência dos israelenses foi
aplicada a detonar quaisquer sinais da independência palestina – daí a
conclamação que fez o ministro da
Economia, Naftali Bennett, para
“derrotar o Hamás”.
Resultado
disso tudo, é que os palestinos não estão expostos exclusivamente à violência
mais extrema. Também a capacidade de os palestinos viverem autonomamente na
Palestina histórica tem sido atacada. A destruição
da infraestrutura no recente ataque
contra a única usina de produção de eletricidade de toda a Faixa de Gaza é
sinal bem claro disso. O massacre-crime israelense em curso não põe fim só à
vida de indivíduos palestinos, mas também visa a arrancar dos palestinos como
povo a capacidade de viver independentemente em sua terra tradicional
histórica.
Quando nega
aos refugiados o direito natural protegido por lei de retornar, Israel deixa
ver abertamente a tática de que se serve para manter o quadro demográfico com
que sonha, criando condições inóspitas para a existência autônoma dos
palestinos; ao mesmo tempo, a mesma tática também pode assegurar a Israel “o
máximo possível de terra, com o mínimo possível de palestinos sobre ela”.
A violência
regida por essa lógica não é exclusividade do sionismo. É traço central no
colonialismo e tem paralelo histórico, por exemplo, na Trilha das Lágrimas nos
EUA ou no Canadá, com a limpeza étnica das planícies mediante o processo de provocar
premeditadamente grandes fomes entre os povos nativos. A Operação Linha de
Proteção, dos israelenses, hoje, é ação desse tipo.
Hospital de El-Wafa - atacado por míssil de Israel em 11/7/2014 |
Impedir que
um povo proveja a própria sobrevivência é um meio de sabotar a capacidade de
viverem autonomamente. Esse é o sentido do ataque
de Israel contra 46 barcos pesqueiros de Gaza, ou dos ataques
do 16º Dia da Operação Linha de Proteção contra as
áreas plantadas no norte da Faixa de Gaza, na cidade de Gaza, na Faixa de Gaza
Central, em Khan Yunis e em Rafah. Assim é que se tem de entender que Israel
tenha-se dedicado a destruir
2/3 dos moinhos de trigo de Gaza, e unidades que produziam ração
para 3.000 animais (para nem falar dos animais cuja morte
também foi provocada). Assim é que se deve interpretar o que a Dra. Sara Roy,
de Harvard, descreve como deliberada destruição de longo prazo e o desmanche
da economia da Faixa de Gaza, ações que, a menos que haja aumento
considerável na ajuda oferecida pelo Alto Comissariado para Refugiados da ONU,
provocarão fome em massa.
Impedir
absolutamente que os palestinos promovam a própria sobrevivência e de suas
famílias é também roubar-lhes a capacidade de funcionar por conta própria. Essa
é uma das implicações de “drogas psicotrópicas para pacientes de doenças
mentais, trauma e ansiedade” terem desaparecido dos estoques de medicamentos e
de o hospital
de Shifa;
(...) precisar com urgência de neurocirurgiões,
anestesiologistas, cirurgiões plásticos e gerais e ortopedistas, além de 20
leitos para UTI, uma máquina digital C-ARM para cirurgias ortopédicas, três
mesas de cirurgia e sistema de iluminação para todas as cinco salas cirúrgicas.
Essa é a ação
– como
dizem os Médicos sem Fronteiras, em conclamação para que Israel “pare de bombardear
civis cercados em locais sem saída” – que já matou dois paramédicos e feriu
dois outros, quando tentavam resgatar feridos de Ash Shuja’iyeh. Essa é a
implicação de Israel
ter destruído 22 instalações de atendimento a doentes e feridos, inclusive
pelo menos um ataque
direto contra o hospital al-Aqsa e a destruição
do hospital o hospital
de reabilitação el-Wafa, que foram atacados dias seguidos, várias vezes.
Israel destrói Mesquitas e centros de refugiados |
Esses ataques
a hospitais foram causa de uma carta
aberta publicada num dos mais prestigiosos periódicos médicos do mundo,
The Lancet, na qual 24 médicos e cientistas relatam ter ficado
(...) horrorizados ante o massacre de civis em
ações militares em Gaza, disfarçadas como se fossem ações para punir
terroristas, massacre que não poupou ninguém, inclusive pacientes em cadeiras
de rodas, em camas hospitalares e em leitos de doentes em hospitais.
Ataques a
instituições religiosas, traço que se vê em todos os projetos de ocupação com
colonização, são outro modo de interferir na independência dos palestinos. 88
mesquitas de Gaza foram danificadas, o que equivale a dizer que foram
danificados 88 pontos nos quais as comunidades gazenses reuniam-se e tinham
contato entre elas.
O ataque de
Israel contra a cultura palestina também deve ser compreendido como ato de
violência contra os palestinos como povo. As culturas não são estáticas e vivem
processo infinito de construção, desconstrução e reconstrução das próprias
narrativas, de tal modo que os grupos se autocompreendem como específicos e são
compreendidos como tais por membros de culturas diferentes.
A capacidade
de um povo para contar suas próprias histórias sobre eles mesmos é aspecto
chave de sua existência autônoma. Impedir a capacidade de os palestinos
desenvolverem essas práticas e respectivas narrativas é mais um crime de
Israel, quando destrói a casa do poeta
Othman Hussein e a casa do artista
Raed Issa; quando mata o cameraman Khaled Reyadh Hamad em Shujaiya e Hamdi Shihab, motorista da
agência de notícias Media 24 de Gaza; quando ataca
jornalistas falantes de árabe da al-Jazeera e da BBC; ou quando destrói o prédio onde funcionava
a rádio Sawt
al-Watan.
Israel destruiu a casa do poeta Othman Hussein |
Minar a
capacidade de um povo educar os seus jovens, treiná-los para trabalhar e
ensiná-los a pensar criticamente é mais um meio para minar a possibilidade de
existência independente. Por isso Israel destruiu
completamente ou em parte, 133 escolas
palestinas.
Ao mesmo
tempo em que destrói instituições culturais e educacionais para impedir que os
palestinos reproduzam-se culturalmente, Israel
promove matança em massa de 229 crianças palestinas, com 1.949 outras crianças
feridas; é o meio mais claro, e mais horrendo, de literalmente
cortar a capacidade de os palestinos continuarem a existir como grupo. É o
significado de Israel
ter traumatizado 194 mil crianças, dependentes hoje de assistência
psiquiátrica. É o significado também de Israel “racionar” o atendimento a “cerca
de 45 mil grávidas na Faixa de Gaza, das quais 5 mil foram desalojadas”.
Israel impede
também diretamente a vida dos palestinos quando destrói
ou danifica gravemente as residências de 3.695 famílias palestinas, e cria condições nas quais se torna
virtualmente impossível levar avante as atividades do dia a dia que dão forma à
continuidades de outras gerações. Israel é
causa hoje de 1,2 milhão de palestinos “não terem acesso, ou só terem
acesso limitado a água e a serviços de esgoto, devido a danos no sistema de
eletricidade ou falta de combustível para fazer funcionar geradores”.
Todos nós,
cidadãos de estados que ajudam Israel a fazer o que faz, temos de forçar nossos
governos a parar de colaborar com Israel. Enquanto não conseguirmos que parem,
todos nós somos responsáveis por essa horrorosa violência lógica – que Israel “explica”
todos os dias.
[*] Greg Shupak ensina JORNALISMO na University of Guelph no Canadá
O MUNDO EXIGE A IMEDIATA REPARAÇÃO MORAL E FINANCEIRA DESTE NEGÓCIO CRIADO SOB A APROVAÇÃO DA COROA BRITÂNICA!
ResponderExcluirReino Unido foi o mentor, articulador da brilhante ideia de criar o Estado de Israel em terra Palestina - então cabe à Inglaterra responder à Justiça criminalmente, todos os atos de guerra, perdas humanas, culturais , financeiras - perdas e danos corrigidas pela Lei de Mercado, idêntica a praticada no tempo de paz, acrescida de multas proporcionais desde 1948 ,no Tribunal Internacional.
A Monarquia inglesa que engendrou e financiou a destruição da Nação Palestina terá que arcar com as consequências do Grande Negócio que seu governo arquitetou após a segunda Guerra Mundial.
*
O MUNDO EXIGE A IMEDIATA REPARAÇÃO MORAL E FINANCEIRA DESTE NEGÓCIO CRIADO SOB A APROVAÇÃO DA COROA BRITÂNICA!
*
Israel destruiu completamente ou em parte, 133 escolas palestinas.
É A LÓGICA DO MERCADO !
O MUNDO EXIGE A IMEDIATA REPARAÇÃO MORAL E FINANCEIRA DESTE NEGÓCIO CRIADO SOB A APROVAÇÃO DA COROA BRITÂNICA!
ResponderExcluirReino Unido foi o mentor, articulador da brilhante ideia de criar o Estado de Israel em terra Palestina - então cabe à Inglaterra responder à Justiça criminalmente, todos os atos de guerra, perdas humanas, culturais , financeiras - perdas e danos corrigidas pela Lei de Mercado, idêntica a praticada no tempo de paz, acrescida de multas proporcionais desde 1948 ,no Tribunal Internacional.
A Monarquia inglesa que engendrou e financiou a destruição da Nação Palestina terá que arcar com as consequências do Grande Negócio que seu governo arquitetou após a segunda Guerra Mundial.
*
O MUNDO EXIGE A IMEDIATA REPARAÇÃO MORAL E FINANCEIRA DESTE NEGÓCIO CRIADO SOB A APROVAÇÃO DA COROA BRITÂNICA!
*
Israel destruiu completamente ou em parte, 133 escolas palestinas.
É A LÓGICA DO MERCADO !