1/7/2014, Vladimir Putin, Moscou, Kremlin
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Reunião com Embaixadores e Representantes Permanentes da Rússia
Tenho esperanças de que o pragmatismo acabará
por prevalecer. Temos de nos livrar de ambições. Pôr fim às tentativas para
criar um mundo-quartel [1], todos em fila, regidos por
“ordem-unida”, vivendo sob regras únicas de comportamento e de vida. Temos de
começar, finalmente, a construir relações baseadas na igualdade, no respeito
mútuo e na atenção aos interesses comuns. É tempo de todos admitirmos o direito
do outro, de ser diferente; o direito de todos os países de viver a vida como escolham,
sem ter de obedecer ao que outros lhes digam que façam ou deixem de fazer.
(Vladimir
Putin, Kremlin, 1/7/2014).
VLADIMIR
PUTIN, PRESIDENTE DA RÚSSIA
Colegas,
amigos,
Reuniões com
o corpo diplomático tornaram-se tradição. Precisamos dessa conversa direta para
fazer uma avaliação geral da situação mundial, definir objetivos de política
externa atuais e de longo prazo e adiante, que deem base para coordenar mais
efetivamente o trabalho de nossas missões no exterior.
Gostaria de
começar dizendo que nosso Ministério de Relações Exteriores e nossas embaixadas
estão sob muita pressão; vê-se, sabe-se que estão, mas essa pressão não
diminuirá. Só aumentará, assim como a exigência de que mostremos eficiência,
precisão e flexibilidade em nossas ações, para preservar interesses nacionais
da Rússia.
Vocês sabem o
quanto os desenvolvimentos internacionais podem ser dinâmicos e imprevisíveis.
Parecem ser empurrados ao mesmo tempo e, infelizmente, nem todos são
desenvolvimentos de caráter positivo. O potencial para conflitos está crescendo
no mundo, velhas contradições vão-se tornando sempre mais agudas e novas vão
sendo provocadas. Deparamo-nos com esses desenvolvimentos, às vezes sem esperar
por eles, e observamos com lástima que a lei internacional não está
funcionando, as normas mais básicas de decência são desrespeitadas e a mais
irrestrita permissividade vai ganhando predominância.
É o que vemos
agora, também na Ucrânia. Temos de entender claramente que os eventos
provocados na Ucrânia são o resultado concentrado da conhecida política de
contenção [orig. the concentrated outcome of the notorious deterrence policy].
Como vocês sabem, essa política tem profundas raízes históricas e é claro que,
infelizmente, essa política não terminou com o final da Guerra Fria.
Na Ucrânia,
como provavelmente viram, nossos compatriotas estavam sendo ameaçados, povo
russo e povos de outras nacionalidades – cujas língua, história, cultura e
direitos legais, vale a pena recordar, são protegidos por convenções europeias.
Quando falo de russos e cidadãos falantes do russo, refiro-me a pessoas que se
consideram, elas mesmas, parte da ampla comunidade russa, que não precisam ser
necessariamente russos étnicos, mas que se consideram o povo russo.
O que nossos
parceiros esperam de nós, enquanto se desdobram os desenvolvimentos na Ucrânia?
Claramente não tínhamos o direito de abandonar os residentes da Crimeia e de Sebastopol
à mercê de militantes nacionalistas e radicais; não podíamos permitir que nosso
acesso ao Mar Negro fosse significativamente limitado; não podíamos permitir
que forças da OTAN chegassem eventualmente às terras da Crimeia e Sebastopol,
terra da glória militar russa, e mudassem cardinalmente o equilíbrio de forças
na área do Mar Negro. Implicaria nós cedermos praticamente tudo por que a
Rússia lutou desde os tempos de Pedro, O Grande ou talvez desde antes – questão
que compete aos historiadores decidir.
Quero deixar
bem claro para todos: esse país continuará a defender ativamente os direitos
dos russos, nossos compatriotas no exterior, usando todos os meios disponíveis
– de meios políticos e econômicos a operações sob os termos da lei humanitária
internacional e o direito à autodefesa.
Quero
destacar que o que aconteceu na Ucrânia foi o clímax de tendências negativas em
questões internacionais que vinham fermentando já há anos. Há muito tempo vimos
alertando sobre isso. Agora, infelizmente, nossas previsões se concretizaram.
Ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov
Vocês sabem
dos recentes esforços para restaurar, para manter a paz na Ucrânia. O pessoal
do Ministério de Relações Exteriores e o próprio Ministro tomaram parte ativa
nisso. Vocês sabem das numerosas conversas telefônicas que temos mantido sobre
isso.
Infelizmente,
o presidente Poroshenko resolveu reiniciar a ação militar; e nós falhamos –
quando digo “nós”, falo de meus colegas na Europa e eu, pessoalmente – porque
não conseguirmos convencê-lo de que a estrada para uma paz segura, estável e
inviolável não será alcançada pela guerra.
Até o
presente momento, o Sr. Poroshenko ainda não foi associado diretamente às
ordens para iniciar ação militar, e só recentemente assumiu plena
responsabilidade, e não só militar, mas também política, que é muito mais
importante.
Também ainda
não conseguimos entrar em acordo sobre a importância de tornar pública a
declaração aprovada pelos ministros de Relações Exteriores da Alemanha, França,
Rússia e Ucrânia [de 22/2/2014], sobre a importância de manter a paz e
buscarmos soluções aceitáveis para todos.
Quero chamar
a atenção de vocês para o fato de que, depois que o cessar-fogo foi declarado,
não se iniciaram negociações substantivas (como vocês dizem) sobre como
resolver a situação em campo. Virtualmente, houve um ultimato para o
desarmamento. Mesmo assim, o cessar-fogo não foi completamente um mau passo,
embora insuficiente para resolver a situação com vistas ao longo prazo, de um
modo aceitável para todo o povo que vive no país, inclusive os que vivem nas
áreas do sudoeste.
Uma
Constituição foi divulgada, mas sem jamais ter sido discutida. Dentro da
própria sociedade ucraniana ainda se discute se a Constituição é boa ou má, mas
não houve nem está havendo qualquer discussão com a população do leste.
Claro, tudo
que se passa na Ucrânia é assunto interno do estado ucraniano. Muito nos dói
ver morrer tantos, especialmente civis. Como vocês sabem, o número de
refugiados que procuram a Federação Russa está aumentando. Claro que
garantiremos assistência a todos os necessitados. Mas assassinar jornalistas é
inaceitável. Ainda ontem repeti exatamente essa frase ao presidente da Ucrânia,
mais uma vez.
Minha opinião
é que estamos assistindo a um esforço dirigido a eliminar representantes da
mídia. Aplica-se a jornalistas russos e a jornalistas de outros países. A quem
a reportagem séria provoca medo? Provavelmente, aos criminosos, é claro, aos
que cometem crimes. Esperamos que as autoridades ucranianas cumpram o que prometeram
e investiguem os crimes.
E outros
pontos de alta conflagração estão aparecendo no mapa do mundo. Há déficit de
segurança na Europa, no Oriente Médio, no Sul e no Leste da Ásia, na região do
Pacífico Asiático e na África. Os sistemas globais de economia, finanças e
comércio estão cada dia mais desequilibrados, e valores espirituais são
atropelados.
Não cabe
dúvida alguma de que a ordem do mundo unipolar não se realizou. Povos e países
erguem a voz a favor da autodeterminação e da identidade civilizacional e
cultural, o que conflita com as tentativas de alguns países para manter sua
dominação sobre a esfera militar, na política, nas finanças, na economia e na
ideologia.
Sei que isso
não nos alcança diretamente, mas o que está sendo feito aos bancos franceses só
pode ser motivo de indignação na Europa em geral, e aqui, como em outros
países. Sabemos da pressão que nossos parceiros norte-americanos estão
aplicando contra a França para impedi-los de fornecer os [helicópteros]
Mistrals à Rússia. Sabemos até que já sugeriram que, se a França não fornecer
os Mistrals, as sanções serão silenciosamente levantadas dos bancos deles, ou,
pelo menos, serão significativamente diminuídas.
O que é isso,
se não chantagem? Será modo correto de agir na arena internacional? Além do
mais, quando falamos de sanções, sempre assumimos que sanções são aplicadas
considerando o que dispõe o artigo 7º da Carta das Nações Unidas. Porque, se o
que esse artigo dispõe não for considerado, não haverá sanções no sentido legal
do termo, mas outra coisa diferente, algum outro instrumento político
unilateral.
Há 20 anos,
os 20 últimos anos, nossos parceiros têm tentado convencer a Rússia das boas
intenções deles, do seu desejo de unir-se para desenvolver cooperação
estratégica conjunta. Mas, simultaneamente, eles expandem a OTAN, ampliando a
área sob controle militar e político da OTAN, cada dia para mais perto das fronteiras
da Rússia.
E quando os
russos, no pleno exercício de nosso direito, perguntamos: “Vocês não acham que
seja possível e necessário discutir com a Rússia?”, o que nos respondem é:
“Não. Esse assunto não diz respeito à Rússia”. Os que insistem nessa
exclusividade “só para eles”, não gostam, de modo algum, da política russa
independente. Os eventos na Ucrânia provam isso.
Os eventos na
Ucrânia provam também que um modelo de relações carregado de padrões ambíguos e
de duplifalar não dá certo com a Rússia.
Ainda assim,
tenho esperanças de que o pragmatismo acabará por prevalecer. Temos de nos
livrar de ambições, dar fim às tentativas para criar um “mundo-quartel”, com
todos em fila regidos por “ordem-unida”; mundo de regras únicas de
comportamento e de vida. Temos de começar, finalmente, a construir relações
baseadas na igualdade, no respeito mútuo e na atenção aos interesses comuns. É
tempo de todos admitirmos o direito do outro, de ser diferente; o direito de
todos os países de viver a vida como escolham, sem ter de obedecer ao que
outros lhes digam que façam ou deixem de fazer.
Colegas,
em sua
política externa, a Rússia tem agido consistentemente a partir da noção de que
se deve buscar solução para conflitos globais e regionais não mediante o confronto,
mas mediante a cooperação, as concessões e o compromisso. Advogamos a
supremacia da lei internacional, com pleno apoio ao papel de liderança da Organização
das Nações Unidas, ONU.
A lei
internacional deve ser cogente para todos e não deve ser aplicada
seletivamente, para servir aos interesses de seletos países, ou seletos
conjuntos de países, e, ainda mais importante, deve ser interpretada também
consistentemente. É impossível interpretar a lei numa direção hoje, e em
direção completamente diferente amanhã, conforme “ordenem” os interesses
políticos dominantes num dia ou no outro.
O
desenvolvimento mundial não pode ser unificado. Mas, sim, podemos cuidar de
questões comuns, ver os diferentes negociadores como parceiros, não como
concorrentes, e estabelecer a cooperação entre os estados, em suas estruturas associativas
e de integração.
São esses os
princípios pelos quais já fomos guiados no passado e que continuam a nos guiar
hoje, na integração que promovermos na Comunidade de Estados Independentes
(CEI) [orig. Commonwealth of
Independent States (CIS)]. Estreitar laços de amizade e desenvolver
cooperação econômica vantajosa para todos com nossos vizinhos é prioridade
estratégica crucial para a política externa de longo prazo da Rússia.
Comunidade dos Estados Independentes (CEI) |
A força que
anima a integração da Eurásia é o trio Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão. O
Acordo da União Econômica Eurasiana, assinado em Astana dia 29/5/2014,
simboliza um passo qualitativamente novo em nossas relações. Potente centro de
desenvolvimento econômico que atrai negócios e investimentos, está sendo
formado um mercado comum na Eurásia. Por isso nossos parceiros na CEI mostram
tanto interesse nessa união. Espero que em pouco tempo a Armênia seja
incorporada a essa união, como membro pleno. E as negociações com o Quirguistão
estão em fase avançada. Estamos abertos também a outros estados na CEI.
Ao
promovermos o projeto de integração da Eurásia, de modo algum buscamos nos
isolar do resto do mundo; estamos prontos a considerar a possibilidade de criar
zonas de livre comércio com estados individuais e associações e uniões
regionais, em primeiro lugar, é claro, com a União Europeia.
A Europa é
nosso parceiro econômico natural e mais significativo. Esperamos com ansiedade
encontrar novas oportunidades para expandir nossa cooperação comercial, abrir
novos prospectos de investimento mútuo e remover barreiras comerciais. Para
isso, é preciso uma atualização da base contratual legal de nossa cooperação e
a estabilidade e previsibilidade dos laços, sobretudo em áreas tão
estrategicamente importantes como a energia. Estabilidade em todo o território
da Eurásia, e desenvolvimento sustentável das economias da União Europeia e da
Rússia, dependem de cooperação bem coordenada, baseada na consideração dos
interesses mútuos.
Sempre
correspondemos com alta eficácia à nossa importante reputação como fornecedores
confiáveis de recursos energéticos e investimos no desenvolvimento da
infraestrutura do gás. Junto com empresas europeias, como vocês provavelmente
sabem, construímos um novo sistema de dutos para transporte de gás chamado Ramo
Norte [orig. Nord Stream] sob o Mar Báltico. Apesar de algumas
dificuldades, promoveremos também o projeto Ramo Sul, sobretudo depois que
políticos e empresários europeus já começam afinal a entender que se alguns só
querem simplesmente usar a Europa a favor de seus próprios interesses, o
resultado é que a Europa se vai tornando refém de abordagens ideologizadas e de
visão curta.
Voltando à
questão da Ucrânia: a violação, pela Ucrânia, dos compromissos que assumiu para
comprar nosso gás natural, é hoje problema de todos nós. Kiev recusa-se a pagar
o que deve. É posição absolutamente inaceitável. Ainda não pagaram a conta correspondente
a novembro-dezembro do ano passado; e, então, não havia por lá nenhum tipo de
discussão ou guerra.
Yulia Timoshenko |
Nossos
parceiros estão usando flagrante chantagem – aí está; trata-se disso. Exigem
redução absolutamente descabida e sem qualquer justificativa nos preços dos
bens que lhes vendemos, embora haja acordo assinado em 2009, com o qual todas
as partes concordaram de boa fé. Agora, como os senhores sabem, a corte em Kiev
já cancelou todas as acusações que foram feitas contra a primeira-ministra Timoshenko,
da Ucrânia, e que assinou aquele acordo-contrato. Assim, as autoridades da
corte em Kiev admitem que, naquele acordo, tudo foi feito não só conforme a lei
internacional, mas também conforme a lei ucraniana. O problema é que não querem
fazer o que o acordo prescreve, nem querem pagar pelo gás que já receberam.
A partir de
16/6/2014, como os senhores sabem, transferimos a Ucrânia para um sistema de
pagamento “no pedido”, de pagamento adiantado, de modo que receberam exatamente
a quantidade de gás pela qual pagarem. Hoje, não pagaram; então, ficam sem gás
– só no chamado “modo reverso”. Sabemos bem o que é esse modo reverso: é falso,
nada há de modo “reverso” num gasoduto. Como alguém poderia enviar gás
simultaneamente para as duas direções, no mesmo gasoduto? Ninguém precisa ser
especialista em trânsito e transporte de gás, para compreender que é
impossível. Estão tentando golpes, truques, com alguns de nossos parceiros: de
fato, estão pegando gás nosso, e pagando alguns parceiros ocidentais na Europa,
que não estão recebendo o volume que deveriam receber. Sabemos muito bem o que
está acontecendo.
Até aqui
ainda não tomamos nenhuma medida, só porque não queremos que a situação
deteriore. Mas... cada um que tire suas próprias conclusões da situação. A coisa
principal é que consumidores e fornecedores honestos de gás não podem ser
prejudicados pelas ações de políticos e burocratas ucranianos.
Em termos
gerais, todos nós – Ucrânia, nossos parceiros europeus e nós – temos de
considerar com máxima seriedade a questão de como reduzir a probabilidade de
qualquer tipo de situação de riscos políticos ou econômicos, ou de força maior,
no continente.
Quanto a
isso, quero lembrar também aos senhores que dia 25 de agosto/2014 assinalaremos
os 40 anos do Ato Final da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa.
Esse aniversário é boa razão, não só para voltarmos aos princípios básicos da
cooperação no continente que foram dispostos em 1975, mas, também, para, em
conjunto, fazê-los funcionar, contribuir para que se enraízem na prática política
europeia.
Ato Final da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa |
Temos de
trabalhar consistentemente para varrer da Europa todos os tipos de golpes
inconstitucionais; todos os tipos de interferência em assuntos internos de
países soberanos; o recurso repetido a atos de chantagem e a ameaças nas
relações internacionais; e, em todos os casos, o apoio a forças radicais e
neonazistas.
Todos nós na
Europa carecemos de uma rede de segurança que assegure que os precedentes que
já vimos no Iraque, na Líbia, na Síria – e desgraçadamente tenho de dizer: que
já vimos também na Ucrânia – não se tornem contagiosos. Esse contágio é
especialmente perigoso na área pós-soviética, porque os estados ainda não
acumularam poder político ou econômico, ainda não têm um sistema político
estável. É muito importante que as Constituições desses estados sejam tratadas
com extremo cuidado e muito respeito.
Por que isso
é importante – e não só na área pós-soviética, mas em toda a Europa? Porque
mesmo naqueles países da Europa Ocidental e da Europa Oriental onde as coisas
parecem ir muito bem, há também contradições étnicas e sociais ainda ocultas,
que repentinamente se podem tornar agudas, podem servir de estímulo para
conflitos e extremismo, e podem ser usadas por forças externas para agitar a
situação social e política e forces, com vistas a uma mudança antidemocrática
de regime ou de poder, com todas as consequências negativas que daí advêm.
Garantias
firmes de segurança indivisível, de estabilidade, de respeito pela soberania e
de não interferência em assuntos internos uns dos outros devem ser a base que
nós podemos usar para construir um espaço comum para cooperação econômica e
humanitária que se espalharia, do Oceano Atlântico para o Oceano Pacífico (já
falei sobre essa região de cooperação econômica e humanitária que se estende de
Lisboa a Vladivostok).
Peço ao
Ministério de Relações Exteriores que trabalhe nisso e trace um conjunto de
propostas sobre isso, com foco especial na inadmissibilidade de quaisquer
tentativas para influenciar processos políticos internos de um ou outro país,
por ação que parta de fora do país. Trata-se de trabalhar sobre o tradicional
princípio da não interferência nas realidades europeias modernas e iniciar
discussão internacional séria sobre essa questão.
Precisamos
também continuar a fortalecer o vetor oriental de nossa diplomacia, para que
usemos mais intensamente o impressionante potencial da região do Pacífico
Asiático no interesse de maior desenvolvimento para nossa país, em primeiro
lugar, claro, da Sibéria e do Extremo Oriente. Temos de continuar a dirigir a
política da Rússia na Ásia e no Pacífico na direção de manter a segurança de
nossas fronteiras orientais e de apoiar a paz e a estabilidade na região.
Organização de Cooperação de Xangai (OCX) (clique na imagem para aumentar) |
A liderança
que a Rússia assumirá na Organização de Cooperação de
Xangai (OCX), e as conferências da OCX e dos países BRICS que acontecerão
em Ufa no verão de 2015 [2] trabalham a favor disso.
Temos de
fortalecer a parceria entre todos e a cooperação estratégica com a República
Popular da China. Pode-se dizer que já se configurou na arena internacional uma
forte conexão russo-chinesa. É conexão baseada numa coincidência de modos de
ver os processos globais e as questões regionais chaves. É fundamentalmente
importante observar que a amizade russo-chinesa não se dirige em oposição a
ninguém: não estamos construindo uniões militares. Bem ao contrário, temos aí
um exemplo de cooperação igualitária, respeitosa e produtiva entre estados no
século 21.
Planejamos
desenvolver ainda mais nossas relações com nossos parceiros tradicionais nessa
área do mundo: com Índia e Vietnã, que desempenham papel cada dia mais
importante no mundo; com o Japão e outros países, inclusive os estados ASEAN.
Planejamos usar mais o potencial dos crescentes mercados na América Latina e na
África, e a grande experiência de relações políticas e humanitárias com os
países dessas regiões.
Países da ASEAN (Association of Southeast Asian Nations) |
Nossos
contatos com os EUA são tema importantíssimo para todo o mundo. Não temos
intenção de reduzir nossas relações com os EUA. É verdade, sim, que as relações
bilaterais não vivem seus melhores momentos, mas – e quero destacar isso – não
por culpa da Rússia. Tentamos ser parceiros previsíveis e conduzir nossos
negócios de modo igualitário. Em troca disso, nossos interesses perfeitamente
legais, foram muitas vezes ignorados.
Agora, sobre
vários tipos de reuniões internacionais.
Se somos
encarregados da função de observadores, sem voto decisivo em questões chaves
que são de vital importância para nós, nesse caso essas reuniões têm pouco
interesse para nós. Não devemos sacrificar nossos interesses vitais só para
poder sentar e observar. Nossos parceiros acabarão por entender o que, aliás, é
óbvio. Até aqui, temos ouvido excesso de “ultimatos” e lições de o que fazer ou
não fazer. Mesmo assim, permanecemos prontos para dialogar – evidentemente,
desde que seja diálogo respeitoso, entre iguais.
Colegas,
A complicada
e imprevisível situação no mundo impõe pesadas demandas ao profissionalismo dos
diplomatas russos. O pessoal do Ministério de Relações Exteriores em Moscou e
nas embaixadas russas pelo mundo trabalharam efetivamente e de modo coordenado,
durante a grave situação com a Crimeia e a Ucrânia, e quero agradecer-lhes por
isso, com especial destaque aos chefes de missão e ao pessoal diplomático da
missão de representantes da Rússia na ONU e em outras organizações
internacionais chaves.
Temos de
continuar trabalhando com a mesma energia e dignidade, em espírito de tato,
discrição e senso de medida, é claro. Nossa posição tem de ser baseada em
princípios claros e inamovíveis da lei internacional e sob fundamentos legais e
históricos, de verdade, justiça, e da força da superioridade moral.
De minha
parte, posso dizer que a liderança de nosso país continuará a fazer todo o
necessário para assegurar-lhes boas condições para o exercício da atividade
profissional dos senhores. Como sabem, já assinei as ordens executivas que
aumentam os salários do pessoal do Ministério de Relações Exteriores. Os
salários dos que trabalham no escritório central terão aumento, em média, de
140%.
As
aposentadorias do pessoal diplomático que se aposente depois de 1/1/2014, terá
aumento de 350% em média. Os chefes de missão diplomática terão aumento de 400%
em média, no equivalente em rublos. O valor adicional da aposentadoria de
embaixadores e de enviados especiais também aumentou consideravelmente.
Os salários
em rublos para o pessoal das missões diplomáticas serão aumentados adiante, em
breve, a partir de 1/1/2016, e também será aumento de 400%. Espero que esses
passos estimulem o potencial dos recursos humanos do Ministério, e nos tornem
ainda mais efetivos na aplicação de nossa política exterior.
Peço também
ao governo que acelere a decisão de dar garantias adicionais ao pessoal de
outras agências e ao pessoal técnico e administrativo que trabalha em missões
russa no exterior, especialmente em situações nas quais haja ameaças
terroristas.
O Ministério
de Relações Exteriores levantou a questão de dar status legal oficial de tipo especial,
ao serviço diplomático na Rússia. Examinaremos a proposta.
Assim concluo
essas observações de abertura. Obrigado aos representantes da mídia, pela
atenção com que acompanham nosso trabalho.
Notas dos tradutores
[1] Ou: “um mundo-trincheira”; ou: “um mundo-caserna”, dentre outras
traduções possíveis. Orig (ing.). world barracks.
[2] “O presidente Putin virá ao Brasil para assistir à final
da Copa do Mundo no Rio de Janeiro, dias antes de participar da cúpula
dos BRICS, que será realizada entre os dias 14
e 15 de julho em Fortaleza, Brasil” (27/6/2014, 13h27, Diário da
Rússia).
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