Importante
desenvolvimento para a Resistência
11/7/2014, The Saker, The Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
The Saker |
Além do que
parece ter sido ataque devastador contra uma coluna de blindados Ukies,
há vários importantes desenvolvimentos que aconteceram recentemente e que acho
que têm de ser reportados aqui:
A 79ª Brigada Ukie quase destruída
1) Com o retorno de Strelkov a Donetsk, a
ordem e a unidade de comando nas forças da Resistência parecem tem sido
restauradas, e resolvidos os desacordos entre Strelkov e Alexander Khodakovskii
(ex-comandante da unidade “Alpha” de Donetsk).
2) Em conferência conjunta de imprensa,
Igor Strelkov , Alexander Borodai e Vladimir Antiufeev (encarregados
respectivamente de assuntos militares, políticos e segurança do estado)
anunciaram a formação de um conselho de comandantes militares que será
encarregado de todos as unidades militares na Novorrússia. Na mesma
conferência de imprensa, anunciaram também ampla evacuação (voluntária) de civis
dos subúrbios de Donetsk. A cidade, claramente, está preparando-se para um grande
ataque, seguido de sítio.
Strelkov, Borodai, Antiufeev |
3) Houve disputa feroz entre Igor Strelkov
e Sergei Kurginian, que acusou Strelkov
de ter abandonado Slaviansk e que disse que os novorrussos estão agora
recebendo mais e melhor ajuda da Rússia, que antes. Embora Borodai tenha
acusado Kurginian de espalhar propaganda pró Ukie ou EUA, eu pessoalmente
acredito que o papel de Kurginian é tranquilizar o público russo, de que a
sociedade civil russa, sim, está fazendo todo o possível para ajudar a
Resistência (ninguém jamais fala de qualquer ajuda oferecida pelo governo russo).
Sergei Kurginian |
Seja qual for
o caso, Alexander Borodai acertou tudo quando relatou que suas consultas e
encontros em Moscou foram
(...) muito
bem-sucedidas e conto muito com o amparo da Federação Russa em futuro o mais
próximo possível. No momento, o povo russo já nós está dando ajuda colossal,
seja em termos de voluntários seja em termos de ajuda humanitária. Espero que
essa assistência continue a crescer.
Não há dúvidas de que alguma espécie de “acordo”
foi firmado entre os líderes de Novorrússia e o Kremlin, embora, claro, os
detalhes vão permanecer secretos e a assistência será apresentada como vinda do
“povo russo”, o que é muito diferente de vir do governo russo, apesar de haver
aí a interessante questão de entender por que Borodai teria de ter longas
reuniões em Moscou, para obter ajuda do povo russo [riso].
4) Aparentemente, os Ukies estiveram
reforçando sua artilharia na fronteira com a Crimeia, mas o consenso é que,
embora aqueles sistemas tenham alcance para atingir cidades crimeanas, a
resposta russa seria de tal ordem, que qualquer ataque dos Ukies ali
sempre será movimento suicida. Os russos já reforçaram rapidamente e firmemente
suas capacidades na Crimeia, as quais hoje incluem total cobertura do espaço
aéreo (usaram ali a versão atualizada do sistema de defesa S-300 - vídeo no fim do parágrafo - com um
redeslocamento dos bombardeiros russos de combate). Até o ministro Sergei
Lavrov, sempre suave e contido, disse com todas as letras, sem nenhuma
suavidade, que não aconselha ninguém a atacar a Crimeia, porque a Rússia
retaliará.
5) A Força Aérea Ucraniana continua a
perder aeronaves regularmente. Hoje, outro Su-25 Ukie foi derrubado
perto de Lugansk.
Su-25 da Ucrânia |
6) Em outro interessante desenvolvimento
recente, Igor Strelkov anunciou que os soldados que lutam com os militares
novorrussos passarão
a receber salário, em valor mais que adequado, pelas normas ucranianas. Claramente, mais um sinal de que “alguém”
está agora financiando a Resistência.
Meu palpite é
que Poroshenko dirá que o Grad MLRS
que hoje destruiu quase toda a 79ª Brigada Ukie teria sido disparado da
Rússia. A primeira razão pela qual acho que dirá isso é que, assim, terão
meios, ele, mas, sobretudo, seus patrões nos EUA, para reacender a histeria
russofóbica. A segunda razão é que se esses Grads tiverem saído Rússia,
nesse caso as unidades Ukies que estejam em pontos distantes da
fronteira russa estariam em relativa segurança; mas, se os Grads foram
disparados pela Resistência, de dentro da Novorrússia, nesse caso todas as
unidades Ukies na Novorrússia são agora alvos potenciais desses ataques.
Grad MLRS com alcance de 200 km |
Seja como
for, temos aqui duas opções: ou os russos finalmente decidiram fazer os Ukies
experimentarem um pouco do próprio remédio, nesse caso, fazendo-os pagar pelos
inúmeros ataques contra postos de fronteira russos, ou a Resistência realmente
pôs as mãos em Grads suficientes para um ataque desse tipo. Nesse caso é
bem óbvia a origem desses Grads, embora, claro, ninguém admita coisa alguma.
A fronteira
russa com a Ucrânia é porosa? Sim, claro. Mas não a ponto de comboios de MLRS
andarem de um lado para o outro sem serem vistos e sem o acordo do governo
russo. Strelkov e suas forças poderiam ter “nacionalizado” algum dinheiro
confiscado dos bancos de Kolomoiskii. Claro que sim. Mas não o suficiente para
bancar uma guerra. É possível que voluntários russos (inclusive oligarcas
russos) tenham mandado dinheiro para ajudar os novorrussos? Claro que sim, mas
não sem que o serviço secreto russo (FSB) soubesse e permitisse.
Portanto, o
que estamos vendo é claramente o seguinte: o *governo* russo não está mandando
nenhuma ajuda militar “oficial” à Novorrússia; mas a *sociedade* russa, com
pleno conhecimento e as bênçãos do governo russo, está fazendo exatamente isso.
Daí o sorriso de felicidade no rosto de Borodai quando falou sobre suas
“consultas” em Moscou.
Fronteira Ucrânia-Rússia (Análise da OTAN de imagens via satélite) |
Está o
Kremlin expondo-se a grande risco, com essa estratégia? Não me parece que
esteja. A ajuda é suficientemente pequena para ter o que a CIA chama de
“negabilidade plausível”; mas, uma vez que seja contínua, pode, sim, fazer
diferença crucial. Além disso, tudo que o Kremlin está *realmente* fazendo não
é propriamente ajuda; apenas se pôs numa posição passiva que pode ser
facilmente explicada com “tentamos”, “não é fácil”, “vocês conhecem os nossos
problemas de corrupção”, etc..
Para
finalizar, arrisco uma ideia. Estou sentindo que os Integracionistas
Atlanticistas no Kremlin e à volta dele não estão absolutamente contentes com a
ajuda que a Rússia está dando, e há boa chance de que Putin esteja usando seus
antigos contatos com o serviço secreto para fazer acontecerem as coisas.
Examinando as recentes ações de Strelkov, Borodai e Antiufeev, tenho a forte
sensação de que essa recente “consolidação do poder” traz consigo um típico
“toque KGB”. E não atrapalha, é claro, nas atuais circunstâncias.
Há uma
palavra em russo, difícil de traduzir, que significa, mais ou menos, “perto/em
torno dos círculos do Kremlin” (околокремлевские круги). Refere-se,
basicamente, à base “silenciosa” de poder pró-Putin, que tem grande influência
política, mas não é parte formal da estrutura do governo.
Esses
círculos – que são o suplício dos liberais russos – têm acesso ao Kremlin e
apoiam o presidente, mas não integram formalmente a administração, nem o
governo nem o gabinete do presidente nem qualquer outra entidade do estado e,
por isso, não podem ser controlados por ninguém, exceto, claro, o serviço
secreto federal, FSB. Estou sentindo que esses círculos, que são
furiosamente antinazistas e antinorte-americanos, já se organizaram
informalmente para criar uma rede de assistência à Novorrússia. Que ninguém
jamais subestime o poder e as capacidades desses círculos.
Por exemplo,
durante o regime pró-EUA de Yeltsin, aqueles círculos não apenas organizaram
assistência secreta à Transdniestria; tiveram até meios para conseguir que seus
próprios aviões militares voassem para lá, sem que ninguém a bordo precisasse
se identificar a nenhuma autoridade, em nenhuma escala da viagem. Sei disso,
porque me ofereceram lugar num desses voos e me disseram: Damos um uniforme a você, você veste e ninguém fará perguntas. Foi
em 1993. Ninguém nem imagina o que esses sujeitos podem fazer hoje, com acesso
ao Kremlin...
Que tipo de
gente reúne-se nesses ‘círculos’? Militares, claro, sobretudo aposentados dos
serviços especiais, oficiais do FSB que não se incomodam de negar
sempre, oficiais das unidades especiais GRU que negam sempre, sempre;
mas também empresários, jornalistas e alguns “inovadores”, muitos deles
conectados às máfias russas. É uma mistura eclética de gente, de idealistas a
gente que apenas sabe que o “poder-na-sombra” [orig. “shadow power”] desses
círculos também pode ser muito útil para promover seus próprios interesses.
Vladimir Putin |
Para
concluir, digo que enquanto tudo aqui dito, até aqui, são, sem dúvida alguma,
excelentes notícias, a coisa toda está longe de estar resolvida. Os
Integracionistas Atlanticistas continuam muito poderosos. Putin falou
abertamente sobre uma “5ª coluna”, e eles resistirão com todas as suas forças.
Quanto a Putin, está engajado num ato de equilibrismo difícil e perigoso, no
qual qualquer coisa que saia errado lhe será atribuído, como culpa exclusiva e
pessoal dele. Putin sabe disso e faz o que pode para mostrar-se o mais distante
possível do dia-a-dia dos combates na Novorrússia. Seus adversários também veem
claramente que, com essa guerra na Novorrússia, têm oportunidade perfeita para
enfraquecê-lo e até desacreditá-lo, mas, dessa vez, de uma posição
aparentemente “patriótica” (porque a posição pró-EUA, agora, basicamente, é
fracasso garantido).
Supersimplificando
muito, eu diria que essa luta envolveu “big Money x serviços secretos” e
que, até aqui, os serviços secretos parecem estar no controle da situação, o
que é bom para a Novorrússia. Mas tudo pode mudar muito, dependendo de como a
situação evolua.
The Saker
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