quinta-feira, 4 de novembro de 2010

MEMÓRIAS NÃO REVELADAS


Só quem foi preso – ou investigado - por ter se colocado contra a ditadura, pode dizer se são verdadeiras as informações contidas nos “documentos arquivados” a seu respeito

Foi correta a posição do STM em não permitir que um jornal tivesse acesso ao inquérito que resultou na condenação da “terrorista” Dilma Rousseff, após depoimento sob tortura.

Digo isto de cadeira, não apenas por ter sido investigado, preso e interrogado, mas por ter recebido documentos arquivados contendo meu nome - para juntar ao meu pedido de Anistia - e ser prejudicado pelo que ali está escrito.

Quem não viveu uma ditadura no papel de investigado, interrogado, e “julgado” não pode ter a menor idéia de como os agentes da repressão agiam.

Os que se arriscam comentar sem conhecer esse lado do fato correm o risco de se deixarem envolver pela opinião de quem presidiu o inquérito. Isto por que, o que existe ali são informações que visam levar à conclusão de uma investigação com óbvios objetivos. Ou seja: a condenação do investigado à partir do ponto de vista do investigador.

E para chegar a esse objetivo vale tudo. Culminando com a transcrição de um “depoimento” sem que o preso tenha qualquer direito de questionar o que está sendo transcrito. Era a palavra da autoridade que presidia o inquérito contra o silêncio do depoente.

NA VIGÊNCIA DO AI5

Diriam os entendidos que isto ocorre em qualquer inquérito, e o indiciado tem o direito de desmentir tudo na Justiça. Mas na vigência do AI5, não havia direito a ser respeitado. A justiça agia de acordo com a conveniência do juiz e sua relação com o órgão que presidia o inquérito. Isto quando a “justiça” não era feita – sumariamente - pelo próprio órgão repressor.

Quem tiver alguma dúvida pode ler um depoimento qualquer. O texto é transcrito pelo escrivão à partir da declaração de quem preside o inquérito, na linguagem de praxe: “O depoente disse que ....” ou “... Que o depoente ....”.

Sempre na terceira pessoa.

Nesses inquéritos os agentes da repressão juntavam as “provas” e “relatórios” que achavam conveniente para reforçar sua opinião de que o investigado era um inimigo da ditadura.

AGORA EU PERGUNTO

Nas vésperas da eleição, qual era a intenção do jornal, ou jornalista, quando pediu para ter acesso aos documentos que fazem parte do “inquérito” que levou a ativista política Dilma Rousseff à condenação por atos de terrorismo contra o regime então vigente?

Agiu dentro da lei o presidente do STM. E se isto não basta, agiu com a imparcialidade que a mídia negava à candidata.



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2 comentários:

  1. O objetivo da calhorda FSP é exatamente o mesmo objetivo do calhorda Augusto Nunes que disse (no Roda Viva, 2a.-feira), como "prova" das acusações contra o Ministro José Dirceu, que "...o procurador aceitou a denúncia. Quem escreveu "formação de quadrilha", na denúncia contra você, foi o procurador!"

    O que nem a FSP calhorda nem o Augusto Nunes calhorda dizem é que NÃO HÁ NADA QUE CONDENE (nem tribunais da ditadura -- no caso de D.; nem sentenças de qualquer tribunal no caso do ministro José Dirceu) nem D., nem o ministro José Dirceu.

    A FSP calhorda, exatamente como fez o calhorda do Augusto Nunes quer, apenas, USAR a autoridade de uma “autoridade” -- para IMPOR, como verdade, o que:

    (1) é só denúncias, ainda não examinadas, julgadas, no caso do Ministro José Dirceu; e
    (2) são acusações tomadas sob condição de prisão e sob tortura e num TRIBUNAL DE EXCEÇÃO.

    Os dois tipos de calhordas que aí se reúnem querem REINVENTAR as “verdades” da ditadura calhorda como se fossem verdade; e querem também JULGAR, CONDENAR e EXECUTAR o ministro José Dirceu SEM QUE ELE TENHA SIDO JULGADO por qualquer tribunal legal.

    O ministro José Dirceu pode vir a ser a primeira GRANDE, GIGANTESCA, vítima dessa merda de "Lei da Ficha Limpa" que os éticos-otários, moralistas fascistas, por aí, vivem a elogiar.

    Comentário da Vila Vudu

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  2. A Presidenta eleita tem conhecimento disso e, contrariamente à maioria dos apoios que obteve, evita falar e comentar sobre seus tempos de guerrilheira, prisão e tortura. A campanha suja que a Oposição lhe moveu deve-se, em boa parte, à insistência dos que insistiram em “pasquinar” seu “curriculum” na ação direta de resistência à ditadura.

    O curioso é que, salvo as pessoas que lhe foram próximas e vizinhas, poucos estão a par de detalhes de seus feitos e desfeitos. Até as alas mais fascistas e direitistas do serrismo ficaram desnorteadas, recorrendo às aleivosias forjadas na imaginação dos seus arautos diabólicos.

    Dilma Rousseff sempre se recusou, salvo quando forçada pelas circunstâncias (o episódio da maliciosa intervenção do senador Agripino Maia, v.g.), a palrar e contar vantagens. sobre aquele trágico período que os brasileiros experimentamos. O seu é um discurso de presente-futuro, “benjamineano”, de vez que o primeiro nos permite sonhar e trabalhar com metas para o outro. O passado é um montão de ruínas e amarguras, cabendo apenas à Presidenta eleita selecionar - é um assunto pessoal, íntimo - as que lhe servem como materiais de construção do que pretende.

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