Zheng
Yongnian
é diretor do Instituto Ásia Oriental, da Universidade Nacional de
Cingapura.
Os
EUA dizem que sua estratégia fartamente noticiada de “movimento de pivô na
direção da Ásia” visa a “conter” a ameaça de uma China emergente, para manter a
ordem existente. Mas os efeitos dessa estratégia parecem estar resultando
exatamente no contrário disso.
A
Ásia estaria hoje mais estável do que antes de os EUA adotarem a nova estratégia
para a região do Pacífico Asiático? Muito evidentemente, não está. A China e os
EUA viviam antes em relativos bons termos. Mas várias mudanças dramáticas
ocorreram na Ásia, que só se explicam como efeito da nova política dos EUA.
Antes
dessa nova política, a China e outras nações asiáticas constantemente
ajustavam-se umas às outras, para atender as necessidades umas das outras.
Muitos países asiáticos, em especial as nações reunidas desde 1967 na Associação
das Nações do Sudeste da Ásia (Association of South-East Asian Nations - ASEAN), adotaram política externa
pragmática. Viram o crescimento econômico da China como oportunidade e,
resultado disso, ajustaram adequadamente suas relações com a China. A China, por
sua vez, deu prioridade às suas relações comerciais e econômicas com outros
países asiáticos; e, coerente com isso, manteve posição comedida e discreta nas
questões políticas e estratégicas e reconheceu a liderança da ASEAN.
Graças
a esse esforço mútuo e coordenado, o relacionamento entre as nações reunidas na
ASEAN e a China conheceu rápido progresso; e as relações entre a China e
outros países asiáticos foram-se gradualmente institucionalizando através de
vários canais regionais, internacionais, bilaterais e multilaterais.
Muitos
especialistas ocidentais já reconheceram essa evidência, ao longo dos últimos 30
anos. A Ásia preservou a paz, apesar do rápido crescimento da China – como a
demonstrar o erro da teoria que fala da “tragédia política das grandes
potências”, segundo a qual toda potência emergente fatalmente desafiaria a
potência existente. A paz na Ásia, em larga medida, foi resultado de decisões
racionais e do mútuo ajustamento dos países asiáticos, incluindo a China. A
China deu absoluta prioridade estratégica à economia e ao comércio, não à força
militar.
Por
tudo isso, a dita “ameaça” que os EUA enfrentariam na Ásia – os temores de que a
China venha eventualmente a “exportar-se” como potência para fora da Ásia – tem
muito mais de imaginação e fantasia, que de realidade.
Assim
sendo, de onde vem os medos dos norte-americanos? Inúmeros fatores contribuem
para esses medos, dentre os quais o chamado “dilema de segurança” causado pela
anarquia estrutural nas relações internacionais, diferenças de ideologia
política e falta de confiança na China.
Como
o “movimento de pivô na direção da Ásia”, dos EUA, afeta a política regional? É
preciso aqui considerar as relações entre China e EUA; entre China e outros
países asiáticos; e entre EUA e outros países asiáticos.
Para
começar, a estratégia dos EUA mudou – pode-se dizer que interrompeu – o processo
de mútua adaptação da China e outros países asiáticos. Embora o governo Obama só
tenha falado da nova estratégia, e tudo esteja ainda no campo da retórica
política, a mudança foi suficiente para que muitos países asiáticos passassem a
esperar cada dia mais ajuda dos EUA. Supondo que os EUA investirão quantidades
descomunais de recursos para impor-se ante a China, como os EUA fizeram contra a
União Soviética durante a Guerra Fria, esses países, especialmente os que têm
disputas de fronteiras marítimas com a China, optaram por alinhar-se aos EUA.
Apesar de a resposta da China à estratégia dos EUA ter sido em larga medida
defensiva, mesmo assim houve mudança suficiente para impedir que as relações com
aqueles países continuassem a evoluir.
Em
segundo lugar, o “movimento de pivô” dos EUA modificou a prioridade na Ásia, que
passou, de política econômica, para política estratégica.
Isso
foi feito, pelo menos em parte, porque os EUA reavaliaram suas próprias forças.
Depois do início da crise financeira, o domínio econômico dos EUA enfraqueceu;
mas os EUA ainda são a maior potência bélica do mundo. Durante a Guerra Fria,
presença militar e presença econômica tiveram pesos equivalentes na política
externa dos EUA. Mas agora, com o “movimento de pivô”, os EUA estão
reintroduzindo a competição estratégico-bélica na Ásia. Essa alteração forçou a
China a também mover seu foco: da economia para a estratégia militar.
Ao
longo de muitos anos de esforços conjuntos, China e EUA realmente chegaram a
construir relações bilaterais muito próximas, sobretudo na cooperação econômica,
comércio e finanças. Resultado desses esforços, especialistas norte-americanos
cunharam a palavra “ChinAmérica” para descrever as interações e interdependência
entre China e EUA. Mas esse relacionamento foi alterado, quando os EUA
reintroduziram na equação, a competição estratégica.
A
história já mostrou várias vezes que a competição econômica pode ser benigna.
Mas o confronto estratégico só pode levar, como sempre levou, ao confronto
militar. Quando EUA e China chegarem a esse confronto, estarão inevitavelmente
reproduzindo os papéis das duas antigas cidades-estado gregas, Atenas e Esparta;
ou de EUA e União Soviética, na Guerra Fria.
Os
EUA baseiam seu “movimento de pivô na direção da Ásia” no que entendem como
“interesse nacional”. E também é difícil para a China mudar a compreensão dos
próprios interesses nacionais. Mas isso não implica que o confronto militar
China-EUA seja inevitável.
Se
os EUA querem contrabalançar a China na Ásia, movendo-se como pivô de volta para
cá, caberá à China encontrar meios para contrabalançar os EUA, porque encontrar
esses meios é a garantia de paz.
A
guerra ao terror inventada pelo governo Bush é como um maná que não para de cair
do céu – por vias não exatamente muito misteriosas.
Na
mesma semana da Assembleia Geral da ONU – em que competiam discursadores como o
presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad e o primeiro-ministro de Israel Bibi
Netanyahu – o governo dos EUA tira da lista dos grupos terroristas o grupo
anti-Irã, com base no Iraque, conhecido como Mujahideen-e-Khalq
(MEK).
Jamal
Abdi, diretor de política do Conselho Nacional Americano Iraniano [orig.
National Iranian American Council (NIAC)] não precisou de muitas palavras
para explicar do que se trata:
A
decisão abre o caminho para que o Congresso aprove envio de dinheiro ao MEK para promover novos ataques
terroristas no Irã e tornar muito mais provável a guerra contra o Irã. Além
disso, a decisão agride diretamente o movimento pacífico pró-democracia no Irã e
destrói alguma boa imagem dos EUA que ainda haja entre os iranianos
comuns.[1]
Segundo
o jornal iraniano pró-democracia Kaleme – dirigido pelo Movimento Verde –
“não há organização, nem partido, nem
culto mais infame que o MEK, na
opinião pública da nação iraniana”. Indiscutível. Milhões de iranianos
desprezam grupos de fanáticos armados, do tipo MEK, especialmente porque
foram aliados de Saddam Hussein durante a guerra Irã-Iraque, de 1980 a
1988.
O Mujahideen-e-Khalq foi
definitivamente removido da lista de “organizações terroristas” pelos EUA esta
semana
Durante
a guerra, a ideia fixa e obsessiva dos MEK era destruir o Supremo Líder
Aiatolá Khomeini. Nunca chegaram nem perto de ter alguma chance, porque não
passavam de exército de fanáticos maltrapilhos reunido no Iraque, que lançou
ofensiva patética em
território do Irã, em 1988.
Depois
do cessar-fogo Teerã-Bagdá, negociado pela ONU em 1988, o MEK continuou
ativo no Iraque de Saddam durante os anos 1990s – já então dedicado a atacar os
curdos iraquianos. Foi quando o governo Clinton incluiu o grupo na lista de
“terroristas” – responsável pelo assassinato de cidadãos norte-americanos no
Irã, antes da Revolução Islâmica.
Unha e
carne com o pessoal do Mossad
Uma das principais razões para a
recente “promoção” é que o MEK parece ter concordado em deixar sua base
no Iraque em Camp Ashraf[2]e está
de mudança para um novo campo construído pelos EUA próximo a
Bagdá.
Camp Ashraf (Iraque) - Vista aérea
Apesar
da catarata de desmentidos e negativas, todos os botequins em todo o Oriente
Médio sabem que os terroristas do MEK são treinados – e
pagos – por Washington e Telavive, o que inclui treinamento em território dos
EUA.
Porque
o MEK e seu autodefinido “setor político” – Conselho Nacional de
Resistência do Irã [orig. National Council of Resistance of Iran (NCRI) –
são fontes conhecidas (extremamente pouco fidedignas) de informação de
inteligência, para os EUA, sobre o programa nuclear
iraniano.
Dana Rohrabacher
Em
fevereiro, a rede de televisão NBC
News admitiu que “atentados mortais contra cientistas nucleares iranianos”
eram executados por membros do MEK, “financiados, treinados e armados
pelo serviço secreto de Israel”. Muito previsivelmente, a rede NBC atentamente
não investigou qualquer conexão com os EUA.
Também
muito previsivelmente, o Congresso dos EUA – cuja popularidade está em níveis
muito baixos – irrompeu em manifestações de alegria e felicidade e saudou a
decisão do Departamento de Estado, com especial destaque para os suspeitos de
sempre como Dana Rohrabacher (Republicano da California), Ileana Ros-Lehtinen
(Republicana da Florida e presidente da Comissão de Relações Internacionais da
Câmara de Deputados) e Ted Poe (Republicano do Texas). Todos esses saudaram o
MEK como “organização democrática”.
Ileana Ros-Lehtinen
Quer
dizer... Como se consegue ser promovido, de terrorista, a democrata? Essa é
fácil. Basta contratar a melhor equipe de lobbying que o dinheiro possa
comprar e investir pesado em “Relações Públicas” eficazes.
No
caso dos ex-terroristas e atuais democratas do MEK, foi serviço de três
grandes firmas de lobbying de Washington: DLA Piper; Akin Gump Strauss
Hauer & Feld; e DiGenova & Toensing. As três embolsaram cerca de 1,5
milhão de dólares, ano passado, para “democratizar” os MEK a qualquer
custo.
Mais
uma vez se comprova que esse é o meio certo e provado para enterrar história
sangrenta de atentados à bomba e assassinatos que mataram, não só empresários
norte-americanos e cientistas iranianos mas, também, milhares de civis iranianos
jamais contabilizados.
Ted Poe
Nada
como o toque cool de um especialista em Relações Públicas – PR, em
inglês, por favor, sempre – para reformatar um bando de doidos assassinos e
reapresentá-los como leais aliados dos EUA na luta contra o regime de Teerã “do
mal”. Deputados, senadores e os proverbiais exércitos de “ex-ministros” e
ex-altos funcionários de ex-governos – onipresentes na mídia – são os puxa-sacos
e mercenários que se prestam a esse tipo de serviço.
Como
é que a al-Qaeda nunca pensou nisso?!
O modo
“terrorcrático” de governar
O
dinheiro do MEK – doações da diáspora iraniana canalizado por uma rede do
organizações de fachada na Florida, no Texas, no Colorado e na California –
comprou um gordo portfólio bipartidário.
Lá
estão todos, do ex-prefeito de New
York e eterno relembrador do 11/9, Rudy Giuliani, ao jornalista Carl
Bernstein; no mínimo, dois ex-diretores da CIA; o ex-governador da Pennsylvania,
Ed Rendell; o ex-chefe da OTAN, Wesley Clark; o ex-governador do Novo México,
Bill Richardson; e o ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA,
general Hugh Shelton.
Está provado, por exemplo, que
Shelton, o ex-diretor do FBI, Louis Freeh e o ex-procurador-geral dos EUA,
Michael Mukasey (que examinava casos de terrorismo), dentre outros,
comprovadamente receberam dinheiro. Os jornais já publicaram o que se pode
aceitar como satisfatória lista dos que se uniram ao bando.[3]
Maryam Rajavi
Em
junho, o ex-candidato Republicano à presidência Newt Gingrich foi a Paris para
participar de um evento pro-MEK ao lado da co-líder do “movimento”,
Maryam Rajavi.
O Departamento do Tesouro iniciou
investigação[4] de
“contribuições para financiar palestrantes” – algumas contribuições chegam a $40
mil – recolhidas em
nome do MEK. Mas nada garante que essa investigação
progrida. Em casos que envolviam o Hamás e o Hezbollah, gente foi para a cadeia
por oferecer apoio financeiro indireto a essas organizações. Mas, ora... Essas
organizações não foram promovidas ao status de “democráticas” nos EUA.
E
há o ângulo Clinton, mais estranho a cada minuto.
O MEK foi incluído na lista
das organizações terroristas no governo Clinton, porque Bill Clinton tentava
seduzir o ex-presidente do Irã, Muhammad Khatami. Agora, como secretária de
estado, Hillary Clinton divulgou informação secreta[5] sobre
o MEK ao Congresso a qual, certamente, envolve a identidade de cientistas
nucleares iranianos.
Assim,
de fantoche de Saddam, o MEK finalmente conseguiu ser promovido a
fantoche da CIA e do Mossad. Esperem, doravante, a torrente de “funcionários do
governo dos EUA que pediram para não ser identificados” de sempre, a repetir que
a promoção não implica que o governo dos EUA tenha passado a apoiar oficialmente
os doidos do MEK. Teremos mais um caso de “liderar pela retaguarda”.
Desnecessário
dizer que a coisa também opera como golpe de “PR” de valor inestimável a
favor da ditadura do mulariato em Teerã – que não poupará ninguém, na operação
para provar que Washington amasiou-se com grupo de terroristas conhecidos, que
até a inteligência dos EUA já admitiu que agiu como facilitador no assassinato à
moda Mossad de cientistas iranianos.
Grupos
terroristas do mundo, uni-vos. Nada tendes a perder além da proibição de subir
no elevador de uma das empresas-ás de PR de Washington. É mais que hora
de reposicionarem as respectivas marcas: todos têm idêntico direito ao título de
“organizações terrorcráticas”.
Que
ninguém se engane (Make no mistake, como diria o presidente Barack
Obama): o Emir do Qatar entrou na dança.
Hamad bin Khalifa al-Thani
Que aparição, na Assembleia Geral
da ONU em New York! O Xeique Hamad
bin Khalifa al-Thani convocou uma coalizão de vontades árabes, nada mais nada
menos, para invadir a Síria.[1]
Nas
palavras o Emir, “Melhor para os países árabes que eles mesmos interfiram,
cumprindo seus deveres nacionais, humanitários, políticos e militares e façam o
que tem de ser feito para parar o banho de sangue na Síria”. Destacou que os
países árabes têm um “dever militar” de invadir.
“Países
árabes” significa, nessa frase, as petromonarquias do Clube
Contrarrevolucionário do Golfo (CCG), antes chamado Conselho de Cooperação do
Golfo (CCG) – com ajuda implícita da Turquia, com a qual o CCG tem um amplo
acordo estratégico.
Não
há botequim no Oriente Médio em que todos não saibam que Doha, Riad e Ankara
estão armando/ financiando/ abastecendo com ajuda logística as várias tendências
da oposição armada na Síria que obram pela mudança de regime.
O Emir até citou um “precedente
similar” dessa invasão, quando “forças árabes intervieram no Líbano” nos anos
1970s. Já que ele tocou no assunto: durante boa parte daqueles anos 1970s, o
próprio Emir vivia engajado em intervenções mais mundanas, como deixar crescer
os cabelos, ombro a ombro com outros membros da realeza golfista em seletos
destinos à moda do Club Med, como mostra a foto abaixo (o Emir é o da
esquerda[2]).
O
Emir, pois, está pregando uma versão árabe da doutrina da R2P
(“responsabilidade de proteger”) proposta anteriormente pela Três Graças da
Intervenção Humanitária (Hillary Clinton, Susan Rice e Samantha Power)?
É
mensagem que com certeza já chegara a Washington – para nem falar de Ankara e
mesmo a Paris, dado que o presidente francês François Hollande acaba de pedir
que a ONU dê proteção a “zonas libertadas” na Síria.
Quanto
ao precedente libanês que o Emir lembra, não é coisa que se recomende, para
dizer o mínimo. A chamada Força Árabe de Contenção, de 20 mil soldados, que
entrou no Líbano para tentar conter a guerra civil, lá ficou por nada menos de
sete anos, convertida em força militar da ocupação síria no norte do Líbano, de
onde só saiu oficialmente em 1982, com a guerra civil ainda rugindo solta.
Imaginem
cenário semelhante na Síria – super bombado.
“Sujeito
muito influente”
Quanto ao ardor humanitário do
Emir – além de democrático –, ajuda saber o que pensa dele o presidente Barack
Obama.[3]Obama –
para quem o Emir é “sujeito muito influente” – parece sugerir nessa fala que,
embora “pessoalmente, não esteja reformando muito” e “não se vê grande movimento
na direção da democracia no Qatar”, só porque a renda per capita do
emirado é gigantesca... Nenhum movimento pró-democracia seria, assim, digamos,
muito urgente. OK. Nada sugere, mesmo, que o Emir esteja muito interessado
em fazer da
Síria uma Escandinávia.
Assim,
afinal, se abre o caminho que leva a um motivo do qual ninguém nunca consegue
escapar – ligado a, e a o que mais seria? – o Oleogasodutostão.
Vijay Prashad
Vijay
Prashad, autor do recente Arab Spring, Libya Winter, está preparando uma
série sobre o Grupo de Contato Sírio, para Asia Times Online. Vijay
recebeu um telefonema de um especialista em energia, que lhe disse que
investigasse urgentemente “a ambição do Qatar de levar seus oleodutos até a
Europa”. Segundo essa fonte, “a rota proposta passaria pelo Iraque e Turquia. O
país de passagem antes cogitado está dando problemas. Mais fácil seguir para o
norte (o Qatar prometera gás gratuito à Jordânia)”.
Mesmo antes de Prashad terminar
sua pesquisa, já está claro o plano do Qatar: matar o óleogasoduto de US$10
bilhões Irã-Iraque-Síria, negócio firmado apesar de o levante sírio já estar em
andamento.[4]
Aqui
se vê o Qatar concorrendo diretamente contra, ao mesmo tempo o Irã (como
produtor) e a Síria (como destino) e também, em menor extensão, contra o Iraque
(como país de passagem). Bom lembrar que Teerã e Bagdá são figadalmente contra
mudança de regime em Damasco.
O
gás viria da mesma base geográfica/geológica – de Pars Sul, o maior campo de gás
do mundo, partilhado por Irã e Qatar. O gasoduto Irã-Iraque-Síria – se algum dia
for construído – solidificaria um eixo predominantemente xiita, costurado por um
cordão umbelical econômico, de aço.
O
Qatar, por sua vez, construiria seu gasoduto por uma via “sem Crescente Xiita”,
com a Jordânia como destino; as exportações partiriam do Golfo de Aqaba para o
Golfo de Suez e dali para o Mediterrâneo. Seria o Plano B ideal, com as
negociações com Bagdá tornando-se cada vez mais complicadas (além do que, a rota
que atravessa Iraque e Turquia é muito mais longa).
Washington
– e os consumidores europeus – muito apreciariam um gambito crucial no
Oleogasodutostão que passasse a perna no Gasoduto Islâmico.
Oleogasodutostão na Eurasia
Claro
que, com mudança de regime na Síria – ajudada pela invasão que o Emir do Qatar
propôs – as coisas ficariam muito mais fáceis em termos de Oleogasodutostão.
Um regime pós-Assad, em mãos muito muito provavelmente da
Fraternidade Muçulmana, seria muito, muito bem-vindo ao oleogasoduto qatari. E
uma extensão para a Turquia seria ainda mais fácil.
Ankara e Washington venceriam.
Ankara, porque o objetivo estratégico da Turquia é converter-se em principal
entroncamento da passagem de energia do Oriente Médio/Europa Central, para a
Europa (e o Oleogasoduto Islâmico deixa de fora a Turquia). Washington, porque
toda sua estratégia energética no sudoeste da Ásia desde o governo Clinton
sempre foi passar a perna, contornar, isolar e ferir de morte o Irã, servindo-se
para isso de qualquer meio necessário.[5]
O
periclitante trono hashemita
Tudo
isso aponta para a Jordânia como peão essencial no audacioso jogo
geopolítico/energético do Qatar. A Jordânia foi convidada a integrar o CCG –
embora não fique exatamente no Golfo Persa (mas não importa. O que importa é que
é monarquia).
No
momento, a monarquia hashemita jordaniana periclita, o que é subavaliação de
proporções transcendentais.
Há
fluxo ininterrupto de refugiados sírios. Que se somam aos refugiados palestinos
chegados em ondas durante as fases cruciais da guerra árabes-Israel, em 1948,
1967 e 1973. Acrescente-se a isso um sólido contingente de jihadistas-salafistas
que lutam contra Damasco. Há poucos dias, foi preso Abu Usseid. Sobrinho de
ninguém menos que Abu Musab al-Zarqawi, ex-líder da al-Qaeda no Iraque, morto em
2006. Usseid estava a um passo de cruzar o deserto, da Jordânia para a Síria.
Rei "Play Station"
Amã
enfrenta protestos desde janeiro de 2011 – iniciados antes de a Primavera Árabe
alastrar-se. O rei Abdullah, também conhecido como Reizinho Playstation, e a fotogênica queridinha
de Washington/Hollywood rainha Rania, não têm sido poupados.
A
Fraternidade Muçulmana na Jordânia não é o único ator na onda de protestos:
sindicatos e movimentos sociais também são ativos. Muitos manifestantes são
jordanianos – e, historicamente, sempre controlaram os altos postos da
burocracia do estado. Mas o neoliberalismo bateu duro ali; a Jordânia viveu
processo selvagem de privatizações nos anos 1990s. O reino empobrecido depende
hoje do Fundo Monetário Internacional e de doações extras que recebe dos EUA, do
CCG e até da União Europeia.
O
parlamento é piada – dominado pelas afiliações tribais e devoto da monarquia.
Reformas, nem cosméticas. Um primeiro-ministro foi trocado em abril e
praticamente ninguém nem viu. Monarquia árabe clássica, o regime combate as
reivindicações, com mais repressão.
Nesse
pandemônio, entra em
cena o Qatar. Doha quer que o Rei Playstation acolha o Hamás. Foi o Qatar
que promoveu o encontro, em janeiro, entre o rei e o líder do Hamás, Khaled
Meshaal – expulso da Jordânia em 1999. A reunião fez os jordanianos
nativos temerem que o reino fosse inundado por nova onda de refugiados
palestinos.
A
mídia árabe – quase toda ela controlada pela Casa de Saud – está sendo inundada,
isso sim, por matérias e editoriais que pregam que, depois de a Fraternidade
Muçulmana subir ao poder na Síria, chegará a vez da Jordânia. Mas o Qatar está
dando tempo ao tempo. A Fraternidade Muçulmana quer a Jordânia convertida em
monarquia constitucional; assim, os Irmãos chegarão ao poder na sequência de uma
reforma eleitoral contra a qual o rei Abdullah luta há anos.
Hoje,
a Fraternidade Muçulmana já conta até com o apoio das tribos beduínas, cuja
tradicional submissão ao trono hashemita nunca foi mais periclitante. O regime
ignorou os protestos por tempo demais; agora, paga o preço. A Fraternidade
Muçulmana já convocou manifestação de massa contra o rei, para o próximo dia
10/10. O trono hashemita cairá, mais cedo ou mais tarde.
Ainda
não se sabe como Obama reagirá – além de continuar a rezar para que nada de
substancial aconteça até 6/11. Quanto ao Emir do Qatar, tem todo o tempo do
mundo. Quanto mais regimes caiam (no colo da Fraternidade Muçulmana), tantos
mais oleogasodutos se constroem.
Escrevo
de Caracas, Venezuela, de olho no relógio, porque tenho outros encontros
marcados. Tenho de escrever depressa. (...) Já falei do deslocamento militante e
insisto nisso. Estamos aqui para, modestamente (mas muito ambiciosamente),
ajudar nossos camaradas que, há meses, estão plenamente engajados na campanha
para as eleições presidenciais do dia 7/10, em apoio ao candidato Hugo Chávez.
Ter
vindo para cá é útil para poder conhecer (ou, pelo menos, começar a conhecer) o
processo político profundo que se desenrola aqui, já há vários anos, e que, em
breve, ultrapassará mais uma etapa, daqui a só uma semana. Como três franceses
como nós podemos ajudar os companheiros que trabalham aqui?
O
que temos feito é falar, com a máxima clareza possível, do que a Europa vive
hoje, a Europa e a França. Falamos da crise econômica e social que atinge em
cheio o que, na Venezuela, é chamado “o velho continente”, e apresentamos as
respostas e análises que a Frente de Esquerda vem construindo sobre essa crise,
que é ameaça real a todo o mundo.
Para fazer isso, aceitamos todos os convites
para falar pelo rádio e pela televisão.
Ao
programa “midiático”, somou-se ontem nossa participação, durante toda a tarde,
num seminário organizado sob o título “O neoliberalismo do velho mundo
versus o socialismo do novo mundo”
François
e Corinne honraram o Partido de Esquerda francês, com a qualidade de suas
contribuições. François falou do golpe-de-estado financeiro que atinge hoje a
Europa. Corinne falou das consequências ecológicas dessa crise. Depois falei eu,
para lembrar o perigo que é o crescimento da extrema direita na Europa,
crescimento que se alimenta da crise provocada pelo neoliberalismo. A imprensa
local comentou o seminário.
Logo
depois de chegarmos aqui, fui convidado para um debate transmitido pela Rede
TeleSur. Podem ver e ouvir o programa, de grande audiência, a seguir:
A
curiosidade intelectual dos que nos recebem, militantes, jornalistas ou simples
cidadãos é, para mim, impressionante. Constato que, aqui, o debate político é
permanente.
Ninguém
pode negar que nessa parte do mundo há um povo mobilizado, envolvido, implicado,
que toma partido, escolhe campos. Vê-se e ouve-se pelas ruas. Reina aqui uma
paixão política que aquece a minha alma militante.
Propaganda em Mural
Nas
paredes, nos muros, nas varandas e janelas das casas, nas camisetas que vestem,
todos exibem suas cores políticas. Sem dúvida os partidários de Chávez são
maioria. É visível. Mas descubro, com certa surpresa, presença significativa de
apoiadores de Henrique Capriles, candidato da direita, nas ruas de Caracas.
De
fato, é o desmentido completo às bobagens que se publicam na França, dos de
sempre, que só fazem repetir que as liberdades públicas estariam ameaçadas na
Venezuela. Que grande mentira! E que vergonha para os que repetem sem saber esse
tipo de mentira. Mas não subestimemos o problema. “Mentira repetida mil vezes
vira verdade” – como ensinava o infame Goebbels, o nazista que conhecia muito
bem os artifícios da manipulação da opinião pública.
Às
vezes me pergunto se já não fomos apanhados, nós também. Conheço gente de boa
fé, que tem sincera e real convicção de esquerda, muitos são meus amigos
pessoais, e que me disseram várias vezes que eu tivesse cuidado, na Venezuela,
que a situação aqui seria de semiditadura, ou que, no mínimo, o país vivia sob
regime autoritário. Aqui, vendo as coisas como de fato são, me pergunto como é
possível que essas asneiras tenham atravessado o oceano.
Jornais circulam livremente
A
verdade é que a oposição a Chávez conta com consideráveis meios de propaganda, o
que se constata por todos os lados, na rua. E, em casa, basta ligar a televisão.
Mas aqui, diferente da França, vê-se que há divisão na opinião pública. Há
canais de televisão diferentes! Conforme o canal a que você assista, a
informação muda. Conforme o quarteirão da cidade por onde você ande, muda a
proporção de cartazes para um e outro candidato. Se você anda pelos bairros
populares, só se veem cartazes de Hugo Chávez, praticamente em todos os muros.
Mas, se você anda pelos bairros ricos, praticamente só há cartazes de Henrique
Capriles. Há um impressionante (para mim) recorte geográfico. Pode-se saber em
que parte da cidade se anda, só de ler os muros das ruas.
Mas
isso muda se se consideram as bancas de jornais. Ali, praticamente todos os
jornais impressos só falam a favor do candidato da direita, desqualificando
sempre a candidatura de Chávez. Não há dúvida de que, se se examinam os jornais
expostos à venda nas bancas, há grande desequilíbrio a favor do candidato da
direita.
A
campanha do candidato da direita tem claro apoio dos jornais e televisões
comerciais – o grupo Cadena Capriles, da família do candidato, é proprietário de
vários jornais, entre os quais o influente Ultimas noticias. Pelo que
dizem alguns estudos, 82% por cento das matérias publicadas na imprensa
comercial sobre Capriles são favoráveis; e a proporção de artigos favoráveis cai
para 26%, quando os jornalistas falam de Hugo Chávez. Na Europa, quem
acreditaria? Visto aqui, salta aos olhos. Se a liberdade de imprensa está sob
ameaça na Venezuela, o responsável por isso não é Chávez, como dizem tantos na
França.
Portanto,
quando Chávez diz, nos seus comícios, sempre muito maiores que os do adversário,
que Capriles “é o candidato da burguesia”, além da correta caracterização
política, está falando de uma realidade palpável: Henrique Capriles é, antes de
qualquer outra coisa, o candidato da burguesia venezuelana, ultracatólica,
proprietária dos principais jornais e redes de televisão, a mesma burguesia que
habita bairros ricos e que tenta manter seus privilégios.
Se
a clivagem é visível nos quarteirões mais afastados do centro, nas ruas do
centro de Caracas os grupos de militantes dos principais candidatos também se
distribuem em esquinas diferentes.
Nas grandes avenidas, veem-se militantes de um, num dos lados
da rua; e militantes do outro, na calçada oposta. Convivem, separados por alguns
metros, com gritos, sim, uns contra os outros, mas, afinal, respeitando-se
democraticamente. Gritam muito. Os alto falantes de um lado, tentam encobrir os
do outro lado, com músicas e slogans. Mas não vi violência física nem policiais
nas ruas.
O
que se vê – e chamou-nos a atenção – é gente que ri. Os partidários de Chávez
parecem-me sempre mais animados. Às vezes, num sinal de trânsito vermelho, levas
de jovens militantes chavistas aparecem, não se sabe de onde, como uma onda
festiva e colorida e compõem, com seus cartazes escritos à mão, feitos em casa,
um painel de slogans favoráveis à revolução bolivariana. Quando o semáforo fica
verde, eles novamente somem.
Não
há dúvidas de que os partidários de Henrique Capriles são menos numerosos, menos
animados e muito menos envolvidos na militância de rua. Também são menos
convictos do que dizem, quando se fala com eles, mesmo que informalmente, nas
ruas, que os que apoiam Hugo Chávez.
O
que alguns jornais franceses publicam, sobre Capriles, mais confunde que
informa. Nós conhecemos mais sobre Chávez, que sobre Capriles. Falo então, um
pouco, sobre o candidato da direita.
É
muito jovem, cerca de 40 anos. É herdeiro de uma das famílias mais ricas da
Venezuela e esteve na linha de frente do golpe de 11/4/2002 contra Chávez, com
um grupo de putschistas. Participou do ataque à embaixada de Cuba em Caracas.
Também participou pessoalmente, pela força, na “neutralização” do então Ministro
do Interior. Mas apresenta-se hoje como “humanista”, quase como se fosse de
centro-esquerda. É devoto há muito tempo da organização internacional
ultraconservadora “Tradição, Família e Propriedade” (TFP) próxima da “Opus Dei”,
organização cujo ramo venezuelano foi fundado por Capriles.
Apesar
da roupagem “quase-social” com que está sendo apresentado, seu programa real é
liberal: quer privatizar setores estratégicos da economia que foram estatizados;
quer a autonomia do Banco Central da Venezuela; quer por fim ao que chama de
“capitalismo de Estado”, etc. Apesar do programa muito claramente privatista
neoliberal e do pesado pedigree político, ainda há jornais franceses que
o pintam como “homem de centro-esquerda”. É verdade que, na coalizão que o
apoia, MUD, conta com o apoio da Ação Democrática (AD), ligada à Internacional
Socialista. Mas é apoiado, sobretudo, isso sim, pela extrema direita. É isso. Na
Venezuela, os amigos de François Hollande apoiam o candidato único da extrema
direita.
É
uma vergonha que a 2ª Internacional, que acaba de realizar um Congresso, apoie
esse candidato reacionário. E não apareceu uma voz socialista francesa para
denunciar esse escândalo.
Vale
lembrar que Hugo Chávez conta com o apoio anunciado publicamente do
ex-presidente Lula do Brasil, pelo qual os socialistas franceses fingem grande
simpatia.
Nos
comícios, para mascarar sua verdadeira filiação, Capriles sempre tenta
conquistar votos da esquerda. Henrique Capriles apresenta-se como candidatura
“leve” e tenta pegar todos os incautos. De fato, sua rede não pega ninguém.
Ontem, por exemplo, numa reunião pública, lá estava Capriles, atacando o governo
Chávez: “Nunca mais a escuridão entrará na vida dos venezuelanos” – disse ele. A
frase diz muito sobre o desprezo que lhe inspira a obra social do atual governo,
que já fez diminuir o analfabetismo e aumentou muito significativamente o acesso
da população à saúde pública e o nível de vida das populações mais pobres. Que
ninguém tome Henrique Capriles por candidato moderado.
Capriles
é homem da direita dura, que, no momento, mascara seu projeto. Toda sua vida
passada, contudo, mostra que é homem capaz de participar de golpe armado contra
presidente eleito.
Quem
não acreditar no que estou dizendo sobre quem é o verdadeiro Capriles, ou quem
pense que Chávez teria o monopólio da palavra “agressiva”, pode ler (ou reler)
no Libération da 2ª-feira passada. Ali, numa entrevista de página inteira
(?!) em que só
Capriles fala e Chávez nem foi ouvido, Capriles diz: “Aqui,
vivemos um governo da esquerda mais retrógrada, que, por alguns de seus atos,
assemelha-se ao fascismo”. UAU! Pois é. Nada mais, nada menos.
Aqui,
nesse país apaixonado pelo beisebol, faz-se política como se se manobrasse um
porrete. “Esquerda retrógrada”, “obscurantismo”, “fascismo”, a lista é longa,
das calúnias, das loucuras que a direita publica livremente contra Chávez, em
todo o mundo, ou, pelo menos, durante essa campanha.
Pois
pasmem: para o jornalista do Libération e seu correspondente, isso seria
apenas “a face amena d’O Anti-Chávez” que, segundo o simpático jornal da
esquerda francesa, “faz Chávez tremer”. Quanta bobagem! Aqui na Venezuela,
nenhuma das pessoas que encontro, em reuniões ou pelas ruas, está tremendo de
medo, nem de Capriles nem da campanha do candidato da direita. Os números
mostram: até as pesquisas mais favoráveis a Capriles mostram diferença mínima, a
favor de Chávez, de 14%. E várias pesquisas mostram diferença de 20%, sempre a
favor de Chávez.
Hugo
Chávez vencerá. Mas está buscando vitória por grande diferença, para tentar
neutralizar a infindável contestação que sempre vem, da direita. A direita
absolutamente não aceita as repetidas derrotas que tem sofrido desde 1998 e
insiste em apresentar-se como “injustiçada”.
Além
do mais, o campo chavista não faz campanha apenas para ultrapassar os 50% dos
votos. Trabalha também para convencer o maior número possível de eleitores, para
conquistar base popular suficientemente ampla para poder avançar mais
rapidamente nas reformas.
Por
isso, os comícios de Chávez sempre são grandes momentos de pedagogia política,
para convencer, convencer, convencer sempre mais. E funciona, porque a campanha
de Capriles patina – diferente de tudo que a imprensa francesa insiste em
noticiar.
Nossa
presença aqui, para participar dessa campanha tão importante, é mais um episódio
de uma luta que se trava no plano mundial.
Lutar
na França contra as mentiras que se publicam contra a Revolução Bolivariana e o
presidente Chávez está em perfeita coerência com explicar aqui, em Caracas, os
motivos pelos quais, há apenas dois dias, centenas de milhares de pessoas saíram
às ruas, em Madrid, em luta contra a “austeridade”. Ontem, também havia centenas
de milhares de pessoas nas ruas de Atenas. E o mesmo em Lisboa. E dia 30/9 será
o dia de Paris manifestar-se.
Os
franceses que queiram engajar-se na luta a favor dos companheiros da Venezuela,
façam da manifestação do domingo, em Paris, um grande sucesso!
Escrevendo
isso, lembrei-me de uma frase de Jean Jaurès:
“Um
pouco de internacionalismo nos distancia de casa; muito internacionalismo nos
reaproxima de casa”
De
Caracas, desse apaixonante banho de internacionalismo, que já está para acabar,
tudo me mantém cada vez mais próximo da necessidade de continuar a construir
nossa Frente de Esquerda, empenhada cada dia mais em derrotar, também na França,
as políticas de “rigor” e de “austeridade”.
Apesar
de todas as diferenças que há entre França e Venezuela, nosso combate é
fundamentalmente o mesmo.
Não
se trata de copiar nem de cultuar “heróis”. Trata-se de nos inspirar a nunca
desistir de uma experiência complexa e muito viva.
Na
política, como no amor, é preciso às vezes afastar-se um pouco da rotina da vida
cotidiana. Ganham-se perspectivas novas. Muito internacionalismo nos devolve,
renovados, às ruas de Paris.