segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Por trás da provocação dos EUA à China: a sobrevivência do dólar

1/12/2013, [*] Finian Cunningham, Information Clearing House
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

ZAID - Zona Aérea de Identificação e Defesa da China
A escalada das tensões militares entre Washington e Pequim no Mar do Leste da China tem sido explicada, sempre superficialmente, por a China ter declarado uma Zona Aérea de Identificação de Defesa (ZAID). Mas a razão real da ira de Washington é o anúncio, pela China, de que o país planeja reduzir suas reservas de dólares norte-americanos. [1]

O movimento de descarregar parte significativa dos 3,5 trilhões de dólares norte-americanos que a China armazena como reservas, combinado à sempre crescente compra de petróleo em todo o planeta em que os chineses estão empenhados, usando nessas compras moedas nacionais, é ameaça mortal contra o petrodólar norte-americano e toda a economia norte-americana.

Essa ameaça contra a viabilidade dos EUA – que já balança à beira da bancarrota, endividamento recorde e quebradeira generalizada – pode explicar por que Washington respondeu com tanta beligerância à decisão dos chineses, semana passada, de definir uma Zona Aérea de Identificação da Defesa (ZAID) que cobre cerca de 400 milhas do litoral do Mar do Leste da China. Pequim informou que a ZAID visa a impedir manobras de aviões espiões sobre o território chinês (há décadas há aviões militares dos EUA que sobrevoam, sem qualquer notificação, território chinês. (...)


Além de tudo mais, como Pequim já comentou, os EUA e o Japão, aliado dos EUA depois da guerra, têm, os dois países, suas próprias Zonas Aéreas de Identificação da Defesa. É absolutamente inconcebível que aviões espiões e grandes bombardeiros chineses apareçam nos céus da Costa Oeste dos EUA, sem que o Pentágono ordene feroz retaliação. Aparentemente, o Pentágono pode(ria), mas o resto do planeta, não. (...)

Os EUA e a imprensa-empresa norte-americana controlada estão apresentando a ZAID que Pequim acaba de declarar como se se tratasse de a China “flexionar os músculos e escalar tensões”. E Washington insiste que estaria nobremente defendendo seus aliados japoneses e sul-coreanos contra o expansionismo chinês.

De fato, as explicações devem ser buscadas noutro lugar.

A causa mais provável para o surto de militarismo de Washington contra Pequim é o anúncio de que os chineses começam a desinteressar-se de “salvar” o dólar norte-americano. Os EUA estão, isso sim, ameaçando agredir a China, se o país insistir na decisão de política econômica anunciada no final de novembro. (...)

A China – a segunda maior economia e a maior importadora de petróleo – construiu e continua a construir negócios de compra de petróleo com seus principais fornecedores (entre os quais Rússia, Arábia Saudita, Irã e Venezuela) que implicam compra e venda nas respectivas moedas nacionais desses países. Esse desenvolvimento é grave ameaça ao petrodólar e ao status do dólar como moeda de reserva global.


O mais recente movimento de Pequim, anunciado dia 20/11 e que dá notícia de que a China trabalha para livrar-se de suas depauperadas notas de dólar, trocando-as por uma cesta de outras moedas, é sinal claro de que os dias da economia dos EUA estão contados – como Paul Craig Roberts observou semana passada. [2]

É claro que a China tem pleno direito de declarar sua ZAID, como tem pleno direito de defender o próprio território. Mas, para a forma mentis imperialista, megalômana de Washington, a “ameaça” chinesa à economia dos EUA e ao fracassado “modo de viver” norte-americano seria ato de guerra. Por isso – não por causa de alguma ZAID – é que Washington está reagindo tão furiosamente (e tão desesperadamente) contra um simples corredor aéreo declarado pela China, que foi usado como o pretexto de que os EUA precisavam, para mais violência.
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Notas dos tradutores
[1] A verdadeira bomba chinesa foi lançada dia 20/11, por um dos vice-presidentes do Banco do Povo da China, em conferência num fórum econômico na Universidade Tsinghua: “Já não interessa à China acumular moedas estrangeiras [dólares] de reserva”. (29/11/2013, citado em Valentin Katasonov, Strategic Culture e Blog do Gilson Sampaio (em português): A morte anunciada do Fed)
[2] 25/11/2013, redecastorphoto, Paul Craig Roberts em: “A Morte do Dóllar.
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[*] Finian Cunningham nasceu em Belfast, Irlanda do Norte, em 1963. Especialista em política internacional. Autor de artigos para várias publicações e comentarista de mídia. Recentemente foi expulso do Bahrain (em 6/2011) por seu jornalismo crítico no qual destacou as violações dos direitos humanos por parte do regime barahini apoiado pelo Ocidente. É pós-graduado com mestrado em Química Agrícola e trabalhou como editor científico da Royal Society of Chemistry, Cambridge, Inglaterra, antes de seguir carreira no jornalismo. Também é músico e compositor. Por muitos anos, trabalhou como editor e articulista nos meios de comunicação tradicionais, incluindo os jornais Irish Times e The Independent. Atualmente está baseado na África Oriental, onde escreve um livro sobre o Bahrain e a Primavera Árabe.


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