segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Bashar al-Assad: “Nossa guerra contra os sauditas continua”

30/11/2013, Al-Akhbar (ed. em inglês), Líbano
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Soldados do exército sírio, com um tanque, patrulham rua devastada no distrito de
al-Khalidiyah, centro da cidade síria de Homs, em 31/7/2013. (Foto: Joseph Eid)

Há dez dias, o presidente da Síria, Bashar al-Assad reuniu-se com uma delegação de políticos e líderes partidários de países árabes. Disse claramente: estamos em guerra contra os sauditas, e a batalha continuará, enquanto os sauditas continuarem a “apoiar o terrorismo” e continuar o fluxo de extremistas armados, dinheiro e mais armas para a Síria.

O presidente sírio Bashar al-Assad disse que o apoio dos sauditas e de outros países aos grupos terroristas adiará qualquer solução para a crise. Disse também que o governo sírio está avançando em mais de um front contra o terror e na guerra contra a Síria. Disse que seu governo não irá a Genebra, se esperarem que entregue o poder.

A fala de Assad aconteceu durante reunião que aconteceu à margem da Conferência de Países Árabes na Síria, há dez dias. Al-Akhbar entrevistou o presidente de um partido político do Maghreb que participou da reunião.

O Presidente Assad fala durante a reunião com políticos árabes em 20/11/2013
Em resposta sobre o que está acontecendo na Síria, Assad disse:

Fomos alvo de guerra de grandes proporções. Na primeira fase, tivemos de nos focar em nos defender, e foi o que fizemos no primeiro ano. Em seguida, passamos a lutar para desalojar o inimigo. Agora estamos derrotando os que nos atacaram. Há experiências na história recente, inclusive o que aconteceu com a Resistência no Líbano, que teve de defender suas posições durante longos anos, até começar a alcançar suas grandes vitórias em 2000 e 2006.

Sempre soubemos, desde o início, que o alvo da guerra era nossa capacidade para decidir com independência. E essa capacidade para decidir com independência foi um dos principais fatores de nossa firmeza e de nossa vitória. Mas apreciamos todo o apoio que recebemos de nossos aliados, e alguns aliados tiveram papel chave, como a Rússia, que permanece ao nosso lado, porque seus interesses também estão sendo ameaçados. Ouvi diretamente da liderança russa, que estão ao lado da Síria para defender Moscou, não só para defender Damasco.

Logo da al-Qaeda
O tempo necessário até o fim da crise da Síria depende, em larga medida, do apoio e do dinheiro que grupos armados recebem de atores na região. A Arábia Saudita e outros países são fortes apoiadores declarados do terrorismo. 

Despacharam dezenas de milhares de takfiris para a Síria. E a Arábia Saudita está pagando salário de até US $2,000 por mês a todos que se alistem para lutar ao seu lado. Há outro problema também, relacionado à infiltração, pela al-Qaeda, através da fronteira com o Iraque. As autoridades em Bagdá estão lutando contra isso, mas ainda sem completo sucesso. 

Consequentemente, pôr fim ao apoio que os sauditas dão aos terroristas terá impacto decisivo, especialmente porque os militantes e os que lhes pagam foram surpreendidos por nossa capacidade militar de defesa. Nós sabemos, e todo o mundo sabe, que a al-Qaeda não ameaça só a Síria. Por isso esperamos que surjam soluções racionais nos próximos meses. Mas tudo também depende de nossa capacidade para fazer frente aos sauditas, e estamos decididos a lutar até o fim.

À luz da situação em campo, não acreditamos que seja possível alcançar algum acordo em breve. Enquanto persistir o fluxo de milicianos, armas e dinheiro para dentro da Síria, pelas fronteiras, continuaremos a caçá-los. Ninguém no mundo pode impedir-nos de exercer o direito de nos defender. Além do mais, hoje, vemos que é muito pouco o que possa ser acordado em Genebra, sobretudo porque há quem ainda creia, erradamente, que o que estamos fazendo aqui é feito para entregar o poder a eles.

Ainda que consigam indicar algum nome como líder da oposição [Coalizão Nacional] al-Jarba para a presidência, como conseguirão pôr os pés na Síria?

A Arábia Saudita está liderando a mais extensa operação de sabotagem direta contra todo o mundo árabe. A Arábia Saudita arrastou os países do Conselho de Cooperação do Golfo para a guerra contra todas as nações e partidos que se opõem a Israel. Os sauditas deram cobertura aos acordos de Camp David, apoiaram a guerra contra o Líbano em 1982 e, hoje, estão engajados em guerra aberta contra a Síria. Aqui dizemos abertamente que estamos em guerra contra eles. É verdade: noutras ocasiões, fizemos acomodações com eles. Mas os sauditas querem tudo conforme os interesses deles, a visão deles.

Sobre a posição de países ocidentais que apoiam a oposição armada na Síria, Assad disse que:

O ocidente colonialista ainda age com a mesma mentalidade vã. Agem como se os últimos 20 anos não tivessem existido. Ignoram que os EUA foram derrotados no Iraque. E agem como se a União Soviética tivesse acabado ontem.

Nouri al -Maliki
Sobre a atual situação do mundo árabe e da Liga Árabe, o presidente Assad disse que:

Se a Liga permanecer sob influência e tutela de regimes retrógrados como os dos países do Golfo, ela não terá papel ou valor algum. Mas nem todos os países árabes tiveram roubada a própria independência. Hoje, há um bravo homem no Iraque, o Primeiro-Ministro Nouri al-Maliki. É homem de posições importantes, apesar de seu país estar em ruínas e de haver quem queira continuar a destruição. Também a posição da Argélia pode ser vista como adiantada, em relação a outros. Mas, mais importante, temos de prestar atenção ao que está acontecendo hoje no Egito.

Vemos, como o resto dos árabes veem, que alguém, no Cairo, já está dizendo aos norte-americanos, abertamente, claramente: “Vocês nada têm a ver com assuntos internos do Egito”. Essa é posição importante, que tem de ser apoiada.

O presidente da Síria também falou sobre a situação dos partidos políticos na Síria e no mundo árabe:

O vácuo político é uma das razões pelas quais os grupos extremistas se disseminaram. Mas outra razão tem a ver com o fato de que os partidos não se atualizaram, não rejuvenesceram, e continuam fracos. Nós, como estado, temos interesse em estimular o trabalho deles. Também temos observado o reflexo da força da Síria, na realidade árabe em geral, e especialmente no Maghreb o qual, tememos, pode vir a ser submetido ao poder da OTAN.

Colin Powell
O presidente Assad também alertou contra a disseminação da ideologia wahhabista no mundo árabe:

Para opor-se a isso, é preciso uma nova abordagem das instituições religiosas, mas, em primeiro lugar e sobretudo, exige que se apoie um estado civil baseado na co-cidadania. A geração de hoje foi submetida a um processo de promoção sempre crescente da ignorância. A geração que nos antecedeu tinha mais informação, e esse processo de disseminar a ignorância tem a ver com manter o mundo árabe sempre em estado de atraso perene.

Devo lembrá-los de que o ocidente não quer ver evolução nessa nossa parte do mundo. Lembro da visita que nos fez o Secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, em 2003, para dizer-nos o que os EUA queriam da Síria depois da ocupação do Iraque. Queriam, principalmente, que não recebêssemos os cientistas iraquianos. Rejeitamos o pedido dele. Então, a inteligência dos EUA e de Israel liquidou vários daqueles cientistas. Hoje, querem matar todos os cientistas iranianos.

Gamal Abdel Nasser
Mas Assad observou que, diferente disso, a inteligência parece estar despertando novamente entre os povos árabes. Ver cartazes com fotos do falecido presidente Gamal Abdul-Nasser do Egito, em muitas manifestações árabes, é sinal disso. Disse também que:

Não somos contra a religião. Mas somos contra invocar a religião em todos os aspectos da vida diária do povo. Mesmo nós, que somos seculares, garantimos o lugar da religião em nossa Constituição síria, que declara, explicitamente, que a Xaria é fonte de direito. Mas recusamos qualquer politização da religião, no sentido qe leva a resultados negativos. Exemplo de que nós não somos contra a religião é o caso do Hezbollah no Líbano. É partido ideológico cujas ideias são derivadas da religião. Nós não discordamos politicamente do Hezbollah. É prova de que não temos posição contra a religião. Mas recusamos qualquer força religiosa que opere em acordo com takfiri ou com a ideologia wahhabista.

Por isso, dizemos que não negociamos com a Fraternidade Muçulmana. Entendo que os sírios não podemos tolerar essa facção. Jamais, em momento algum, nos ofereceram modelo positivo. Operam a partir de uma posição sectária. E de que outro modo se explicaria a oposição que fazem ao Hezbollah? Aceitam a politização de qualquer assunto e usam seu discurso sectário para incendiar a luta entre sunitas e xiitas.

A Síria, como o Irã e o Hezbollah toleramos muitas coisas, para evitar a sedição. Exatamente por essa razão, temos abordagem muito cuidadosa para a situação no Bahrain.

(Al-Akhbar)


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.