8/12/2013, [*] Seymour M. Hersh,
London Review of Books
Whose sarin? (Online only)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
“O artigo de Hersh foi publicado na London
Review of Books, não na coluna onde Hersh escreve normalmente na New
Yorker. Segundo nota publicada em Buzzfeed, [1] o artigo deveria ser publicado
inicialmente no Washington Post. A LRB é publicação respeitada,
com sede no Reino Unido, e com certeza verificou os dados do artigo de Hersh. E
fica-se a conjecturar: por que o Post não publicou o artigo nos EUA?”.
(Moon of Alabama, 10/12/2013 [2])
As mentiras dos EUA sobre o ataque de gás sarin na Síria |
Barack
Obama não contou a história inteira esse outono, quando tentou argumentar que
Bashar al-Assad seria responsável pelo ataque com armas química próximo de
Damasco, dia 21 de agosto. Em alguns pontos omitiu inteligência importante, em
outros apresentou pressuposições como se fossem fatos. Mais importante, não
reconheceu algo que toda a comunidade de inteligência dos EUA já sabe: que o
exército sírio não é o único envolvido na guerra civil síria que tem acesso ao
gás sarin, o agente de ação neurológica que, conforme estudo da ONU – sem
competência para fazer esse tipo de avaliação – teria sido usado no ataque com
foguete. Nos meses anteriores ao ataque, as agências de inteligência
norte-americanas produziram vários relatórios altamente secretos, que
culminaram numa Operations Order formal – documento de planejamento que
precede invasão por terra – que cita provas de que a Frente al-Nusra, grupo
jihadista afiliado à al-Qaeda, já dominava a mecânica da produção de gás sarin
e podia produzir em grandes quantidades. Quando o ataque aconteceu, a Frente
al-Nusra tinha de estar na lista de suspeitos; mas o governo Obama selecionou a
dedo a inteligência que lhe interessava para justificar um ataque contra Assad.
Obama Cara-de-Pau |
Em seu
discurso em rede nacional de televisão sobre a Síria, dia 10/9, Obama culpou
fortemente o governo Assad pelo ataque de gás neurológico no subúrbio de Ghouta
Leste, e deixou bem claro que estava preparado para fazer valer o alerta
público que havia feito, de que qualquer uso de armas infringiria uma “linha
vermelha”:
O governo Assad matou com gás mais de mil
pessoas – disse Obama. – Sabemos
que o regime de Assad foi responsável (...) E por isso, depois de cuidadosa deliberação, determinei que é do
interesse da segurança nacional dos EUA responder ao uso de armas químicas pelo
governo de Assad com ataque militar focado.
Obama
estava indo à guerra para “confirmar” uma ameaça que fizera publicamente, mas o
fazia sem saber com certeza quem fizera o quê a quem no início da manhã de 21
de agosto.
Citou uma
lista do que parecia ser evidência bem comprovada da culpa de Assad:
Nos dias que levaram ao 21/8, sabemos que o
pessoal das armas químicas de Assad preparava-se para um ataque próximo à área
onde misturam o gás sarin. Distribuíram máscaras de gás aos seus soldados.
Dispararam foguetes de uma área controlada pelo governo na direção de 11
bairros que o regime tentava limpar de forças da oposição.
A certeza
de Obama, naquele momento, encontrou eco imediato em Denis McDonough, seu chefe
de gabinete, que disse ao New York Times:
Ninguém com quem eu falei duvida dessa
inteligência que liga diretamente Assad e seu governo, aos ataques com gás
sarin.
Mas em
recentes entrevistas com oficiais e consultores militares e de inteligência,
atuais e aposentados, descobri grave preocupação, vez ou outra até medo, em
torno do que vários deles veem como deliberada manipulação de inteligência. Um
oficial de inteligência de alto nível, em e-mail para um colega, chamou
de “farsa” as provas que o governo estava apresentando como tais, da
responsabilidade de Assad. O ataque “não
foi obra do atual governo” – escreveu ele. Outro ex-funcionário sênior de
inteligência disse-me que o governo Obama alterara a informação disponível –
alterara o timing e a sequência dos eventos – para permitir que o
presidente e seus conselheiros usassem informação recolhida dias depois do
ataque, como se tivesse sido recolhida e analisada em tempo real, durante o
ataque.
Essa
distorção, disse ele, lembrou-o do incidente no Golfo de Tonkin em 1964, quando
o governo Johnson inverteu a sequência de informação interceptada pela Agência
de Segurança Nacional, para assim justificar um dos primeiros ataques com
bombas dos EUA contra o Vietnã do Norte. O mesmo funcionário disse que há
imensa frustração nos quadros da burocracia militar e da inteligência dos EUA:
Os rapazes erguem os braços aos céus e
perguntam: “Como se pode ajudar
esse cara” – Obama – “se ele e o
pessoal dele na Casa Branca, cada vez que se reúnem, inventam inteligência?”.
As
reclamações focam-se no que Washington não teve: qualquer informação antecipada
da fonte presumida do ataque. A comunidade militar de inteligência há anos
produz um sumário matinal, super secreto, conhecido como Morning Report,
para o secretário da Defesa e o comandante do Estado-Maior das Forças
Conjuntas; uma cópia é enviada para o conselheiro de Segurança Nacional e para
o diretor da Inteligência Nacional. O Morning Report não inclui
informação política ou econômica, mas oferece um resumo de importantes eventos
militares pelo mundo, com toda a inteligência existente sobre eles.
Um
consultor sênior de inteligência disse-me que um pouco depois do ataque ele
revisou os relatórios de 20 a
23/8. Em dois dias – 20 e 21/8 – não havia menção à Síria. Dia 22/8, o
principal item no Morning Report falava do Egito; item subsequente
discutia uma mudança interna na estrutura de comando de um dos grupos rebeldes
na Síria. Nada sobre uso de gás de efeito neurológico em Damasco naquele dia.
Só no dia 23/8 é que o sarin
tornou-se questão dominante, embora centenas de fotos e vídeos do massacre já
fossem virais, em questão de horas, por YouTube,
Facebook e outras páginas de mídias
sociais. Nesse momento, o governo não sabia mais que o público.
Jen Psaki |
Obama
deixou Washington dia 21/8, cedo, para um frenético tour de discursos em
New York e Pennsylvania; segundo o gabinete de imprensa da Casa Branca, foi
informado naquele dia, mais tarde, sobre o ataque e o crescente furor na
imprensa e na opinião pública. A falta de qualquer inteligência imediata ficou
evidente dia 22/8, quando Jen Psaki, um dos porta-vozes do Departamento de
Estado, disse a repórteres:
Não conseguimos determinar conclusivamente [o uso de]
armas químicas. Mas estamos focados em cada minuto de cada dia, desde que aconteceram
os eventos (...) fazendo todo o
possível ao nosso alcance, para conhecer todos os detalhes dos fatos.
Dia 27/8 o
tom do governo endureceu, quando o secretário de imprensa de Obama, Jay Carney,
disse a repórteres – sem oferecer qualquer informação específica – que qualquer
sugestão de que o governo sírio não foi o responsável “é tão absurda e sem sentido quanto sugerir que o próprio ataque não
aconteceu”.
A ausência
de alarme imediato dentro da comunidade norte-americana de inteligência
demonstra que não havia inteligência sobre intenções dos sírios nos dias
anteriores ao ataque. E há pelo menos dois modos pelos quais os EUA poderiam
ter sabido antecipadamente: os dois foram abordados num dos documentos top
secret da inteligência dos EUA divulgados em meses recentes por Edward
Snowden, ex-empregado terceirizado da Agência de Segurança Nacional dos EUA.
Dia
29/8, o Washington Post publicou excertos do orçamento anual para
programas da inteligência nacional, agência por agência, fornecidos por
Snowden. Em consulta com o governo Obama, o jornal optou por publicar apenas
uma mínima parte do documento de 178 páginas, classificado acima do mais top
secret, mas resumiu e publicou uma seção relacionada a áreas-problema. Uma
dessas áreas-problema era o “buraco” na cobertura de espionagem do gabinete de
Assad.
Bashar al-Assad em 20-11-2013 |
O documento
dizia que as instalações de escuta eletrônica da Agência de Segurança Nacional
dos EUA em todo o mundo haviam “conseguido
monitorar comunicações encriptadas entre altos oficiais militares sírios no
início da guerra civil lá”. Mas havia “uma
vulnerabilidade, que as forças do presidente Bashar al-Assad aparentemente
descobriram logo depois”. Em outras palavras, significa que a Agência de
Segurança Nacional dos EUA já não conseguia acesso às conversas dos principais
comandantes militares na Síria, o que incluiria comunicações cruciais de Assad
– como ordens para um ataque com gás de efeito neurológico. (Em suas falas
públicas desde 21/8, o governo Obama jamais disse que teria informação
específica que ligasse o próprio presidente Assad aos ataques).
A matéria
publicada no Post também trouxe a primeira indicação de que
havia um sistema sensor secreto dentro da Síria, instalado para garantir alerta
imediato de qualquer mudança no status
do arsenal de armas químicas do governo. Os sensores são monitorados pelo National Reconnaissance Office [Gabinete
Nacional de Reconhecimento], a agência que controla todos os satélites de
inteligência dos EUA em órbita. Segundo o resumo do Post, o Gabinete
Nacional de Reconhecimento tem também a tarefa de “extrair dados de sensores plantados no solo” dentro da Síria.
O
ex-funcionário sênior de inteligência, que tinha conhecimento direto do
programa, disse-me que os sensores do Gabinete Nacional de Reconhecimento foram
plantados próximos de todos os pontos conhecidos na Síria onde há equipamento
para guerra química. São concebidos para garantir monitoramento constante da
movimentação das ogivas químicas armazenadas pelos militares. Mas, muito mais
importante em termos de alerta precoce, é a capacidade desses sensores para
alertar a inteligência dos EUA e de Israel sempre que as ogivas forem
carregadas com gás sarin. (País
vizinho, Israel há muito tempo monitora mudanças que haja no arsenal químico da
Síria, e trabalha em íntima conexão com a inteligência dos EUA, para alertas
muito rápidos.) Uma ogiva química, depois de carregada com gás sarin, tem vida útil de poucos, bem
poucos dias – porque o gás começa a corroer a própria ogiva: é arma de
destruição em massa do tipo “para consumir imediatamente”.
O exército sírio não tem três dias para
preparar um ataque químico, disse-me aquele ex-funcionário sênior de
inteligência. Criamos o sistema de
sensores para reação imediata, como um alarme de incêndio ou um raid aéreo de advertência. Não se
pode pensar em alarme para dali a três dias, porque todos os envolvidos já
estariam mortos. É já, ou você virou história. Ninguém passa três dias
preparando-se para disparar gás de efeito neurológico.
E nenhum
sensor detectou qualquer movimento nos meses e dias antes de 21/8, disse aquele
ex-funcionário sênior da inteligência. É claro que é possível que o sarin tenha sido fornecido por outros
meios ao exército sírio, mas a ausência de qualquer sinal de alarme significou
que Washington não conseguira monitorar os eventos de Ghouta Leste enquanto se
desenrolavam.
Mortos no massacre de Ghouta Leste em Damasco |
Os sensores,
antes, já funcionaram, como os comandantes sírios sabem muito bem. Em dezembro
passado o sistema de sensores recolheu sinais do que parecia ser produção de
gás sarin num depósito de armas químicas. No primeiro momento, não se pôde
saber se o movimento indicava exercícios do exército sírio, para treinamento
(todos os exércitos do mundo fazem esse tipo de exercício “químico”, ou se
haveria algum ataque real em preparação. Na ocasião, Obama preveniu
publicamente a Síria de que o uso de gás sarin
seria “totalmente inaceitável”; e mensagem semelhante foi encaminhada por vias
diplomáticas. O evento era parte de exercícios, como adiante se confirmou,
segundo o ex-funcionário sênior de inteligência:
Se o que os sensores viram em dezembro
passado era tão importante que o presidente teve de dizer que parassem, por que
o presidente Obama não fez exatamente o mesmo, três dias antes do ataque com
gás, em agosto?
É claro que
a Agência de Segurança Nacional monitoraria o gabinete de Assad 24 horas por
dia, todos os dias, disse o mesmo ex-funcionário. Outras comunicações – de
várias unidades de combate dentro da Síria – sempre serão de longe muito menos
importantes e não são analisadas em tempo real.
Há literalmente milhares de rádio frequências
táticas usadas por unidades de campo na Síria para comunicações comuns de
rotina – disse ele – e
seria necessário um número imenso de técnicos em decriptação para ouvir tudo –
e o retorno aproveitável seria zero.
Mas essa
“conversa” é rotineiramente arquivada em computadores. Tão logo se entendeu a
escala dos eventos de 21 de agosto, a Agência de Segurança Nacional montou um
vasto esforço de busca de qualquer informe relacionável ao ataque, trabalhando
no arquivo geral de comunicações arquivadas. Selecionaram-se uma ou duas
palavras chaves e aplicou-se um filtro para separar as conversações relevantes.
O que aconteceu aqui é que o pessoal da
Agência de Segurança Nacional começou com um evento – o uso de gás sarin – e saiu à procura de conversas que parecessem
ter relação com aquele evento – disse o ex-funcionário.
Isso não
leva a avaliação muito confiável, a menos que você assuma como verdade indiscutível
que Bashar Assad ordenou o ataque e saia à procura de qualquer coisa em que
apoiar seu pressuposto inicial. Essa
busca só pelos feijões “que interessam” foi similar ao processo usado para
justificar a guerra do Iraque.
***
Jonathan Landay |
A Casa
Branca precisou de nove dias para montar o seu caso contra o governo sírio. Dia
30/8 convidou um grupo seleto de jornalistas de Washington (pelo menos um repórter
crítico, Jonathan Landay, correspondente de segurança nacional da rede McClatchy Newspapers, não foi
convidado), aos quais entregou um documento cuidadosamente rotulado como “uma
avaliação feita pelo governo”, em vez de avaliação feita pela comunidade de
inteligência. O documento expunha o que, na essência, não passava de argumento
político para inflar o caso do governo Obama contra o governo Assad. Mas era
mais específico do que Obama seria adiante, em seu discurso de 10/9: a
inteligência dos EUA, disse ele, sabia que a Síria “começou a preparar munição química” três dias antes do ataque. Em
discurso agressivo, naquele mesmo dia, John Kerry deu mais detalhes. Disse que
“pessoal sírio de armas químicas estava
em solo na área, fazendo preparativos” no dia 18/8. “Sabemos que elementos do governo sírio receberam ordens para
preparar-se para o ataque, vestindo máscaras contra gases e tomando precauções
associadas a armas químicas”. A avaliação pelo governo e os comentários de
Kerry fizeram parecer que o governo estivera acompanhando o ataque com sarin enquanto acontecia. Essa versão
dos eventos, falsa, mas que não foi desmentida, foi fartamente reproduzida e
noticiada naquele momento.
Razan Zaitouneh |
Uma reação
não prevista veio sob a forma de reclamações da liderança do Exército Sírio
Livre e outros, indignados por não terem sido prevenidos.
“É inacreditável que não tenham alertado as
pessoas, nem tentado deter os criminosos antes do crime” – disse à Foreign
Policy, Razan Zaitouneh, membro da oposição, que vivia numa das cidades
atingidas pelo gás sarin. O Daily Mail foi mais incisivo:
O relatório da Inteligência diz que os
funcionários dos EUA sabiam sobre o ataque com gás sarin na Síria, três dias
antes de o gás matar mais de 1.400 pessoas – inclusive mais de 400 crianças.
(O número
de mortes pelo ataque varia muito, de pelo menos 1.429, como disse inicialmente
o governo Obama, a número bem inferior. Um grupo sírio de direitos humanos
relatou 502 mortos; Médicos sem Fronteiras falam de 355; e matéria francesa
listou 281 mortos. O número espantosamente preciso de que os EUA falaram, como
disse mais tarde o Wall Street Journal, foi baseado não em alguma
contagem real de corpos, mas numa extrapolação feita por analistas da CIA, que
escanearam mais de cem vídeos de YouTube de Ghouta Leste num sistema de
computação à procura de imagens de mortos. Em outras palavras: foi pouco mais
que simples palpite).
Cinco dias
depois, um porta-voz do Gabinete do Diretor da Inteligência respondeu às
reclamações. Declaração à Associated Press dizia que a inteligência na
qual se apoiaram as primeiras declarações do governo ainda não era conhecida no
momento do ataque; que fora recuperada só subsequentemente:
Sejamos claros: os EUA não estavam vigiando,
em tempo integral, quando aconteceu esse horrível ataque. A comunidade de
inteligência conseguiu reunir e analisar informação depois do fato, e
determinar que elementos do regime Assad, sim, deram passos para preparar-se
antes de usar armas químicas.
Mas, dado
que a imprensa-empresa norte-americana já tinha a história à qual se agarrar,
deu-se rala atenção à retratação. Dia 31/8, o Washington Post, repetindo
a avaliação do governo, noticiou com destaque, na primeira página, que a
inteligência norte-americana conseguira gravar “cada passo” do ataque pelo
Exército Sírio em tempo real, “das
extensivas preparações para o lançamento dos foguetes, até as avaliações
posteriores por oficiais sírios”. O Post não publicou a retratação
distribuída pela AP. Assim, a Casa Branca manteve o controle sobre a narrativa.
Portanto,
quando Obama disse, dia 10/9, que seu governo sabia que o pessoal de Assad
preparara o ataque, baseava sua fala não em inteligência interceptada enquanto
acontecia, mas em comunicações analisadas dias depois de 21/8. O ex-funcionário
sênior explicou que a caça por conversa “que
interessasse” voltou ao exercício detectado em dezembro, sobre a qual, como
Obama disse depois publicamente, o Exército Sírio mobilizara pessoal das armas
químicas e distribuíra máscaras entre os soldados. A avaliação distribuída pela
Casa Branca e a fala de Obama nada tinham, em dezembro, a ver com os
específicos eventos que levaram ao ataque do dia 21/8; eram simples
reprodução do que os militares sírios fariam no caso de algum ataque químico.
Requentaram uma história já passada – disse o
ex-funcionário sênior – e há muitas peças
e partes diferentes. O modelão que usaram foi o modelão de dezembro.
É possível,
é claro, que Obama não soubesse que aquele relato havia sido obtido de uma
análise dos manuais e protocolos sírio a serem usados para ataque com gás, e
não eram conclusão a partir de provas reais de eventos reais. Fosse como fosse,
Obama analisou precipitadamente, temerariamente, e só superficialmente, as (nenhuma)
provas que lhe exibiram.
Toda a imprensa-empresa
entrou no mesmo jogo e o manteve pautado. O relatório da ONU de 16/9,
confirmando o uso de sarin, foi
suficientemente cauteloso; observou que o acesso de seus investigadores aos
sítios dos ataques, que só aconteceu cinco dias depois, fora controlado por
forças rebeldes.
Como com outros sítios – dizia o
relatório – as locações foram pisoteadas
por outros indivíduos antes da chegada da missão (...). Durante o tempo que passamos nessas
locações, chegavam indivíduos carregando munição suspeita, indicado que provas
potenciais estejam sendo retiradas e possivelmente manipuladas.
Apesar
disso tudo, o New York Times avaliou o relatório, como o avaliaram
oficiais britânicos e norte-americanos, e disseram que ali havia provas
cruciais em apoio ao que dizia o governo. Um anexo ao relatório da ONU
reproduzia fotografias publicadas em YouTube
de munição recolhida, inclusive um foguete que “sugestivamente combina” com as especificações de munição de
artilharia de 330mm de calibre. O New York Times escreveu que a
existência dos foguetes provaria, essencialmente, que o governo sírio foi
responsável pelo ataque, “porque a arma
em questão não havia sido documentada nem relatada como pertencente à
insurgência”.
Theodore Postol |
Theodore
Postol, professor de tecnologia e segurança nacional no MIT, revistou,
trabalhando com um grupo de colegas especialistas, as fotos feitas pelos
inspetores da ONU, e concluíram que o foguete de grande calibre eram munição
improvisada de fabricação, provavelmente, local. Disse-me que seria “algo que se pode fabricar num ateliê modesto
de ferramentaria”. O foguete nas fotos, acrescentou, absolutamente não
satisfaz as especificações de foguete similar, embora menor, que se sabe que
existe no arsenal sírio.
O New
York Times, mais uma vez confiando nos dados do relatório da ONU, também
analisou a linha de voo de dois foguetes disparados, os quais se supõe que
tenham transportado sarin, e concluiu
que o ângulo de descida “aponta diretamente” para provar que foram lançados de
uma base síria localizada a mais de 9 km da zona de aterrissagem.
Postol, que
trabalhou como conselheiro científico do chefe de operações navais no
Pentágono, disse que as asserções no Times e noutras publicações “não se baseiam em observação real”.
Concluiu que as análises da linha de voo, sobretudo, são, como escreveu num e-mail,
“totalmente doidas”, porque estudo
aprofundado comprovou que “não há
qualquer evidência, e nada sugere” que o alcance dos foguetes improvisados
fosse superior a dois quilômetros. Postol e um colega, Richard M. Lloyd,
publicaram uma análise duas semanas depois de 21/8, no qual avaliavam,
corretamente, que os foguetes envolvidos carregavam quantidade de sarin muito superior à estimada antes. O
Times noticiou extensamente essa análise, apresentando Postol e Lloyd
como “importantes especialistas em armas”.
O mais recente estudo dos dois sobre o alcance e a rota de voo dos foguetes,
que desmente matéria anterior do Times, foi enviado por e-mail ao
jornal na semana passada; até essa data, ainda não foi nem comentado nem
publicado.
***
A falsa
interpretação que a Casa Branca deu ao que sabia sobre o ataque, e quando
soube, correspondeu à rapidez com que ignorou toda a inteligência que poderia
minar sua narrativa: a informação sobre a Frente al-Nusra, o grupo islamista
rebelde que EUA e ONU classificaram como organização terrorista. A Frente
Al-Nusra é conhecida por ter executado muitos ataques de suicidas-bombas contra
cristãos e outras seitas muçulmanas não sunitas dentro da Síria, e por ter
atacado também seu aliado nominal na guerra civil, o secular Exército Sírio
Livre. O seu objetivo declarado é derrubar o governo de Assad e estabelecer a
Lei da Xaria. (Dia 25/9, a frente al-Nusra uniu-se a outros grupos de
islamistas rebeldes, para repudiarem o Exército Sírio Livre e também outra
facção secular, a Coalizão Nacional Síria).
Terroristas da Frente al-Nusra, braço armado da al-Qaeda e aliada dos EUA |
A onda de
interesse norte-americano na Frente al-Nusra e no gás sarin começou de uma série de ataques químicos de pequena escala em
março e abril; naquele momento, o governo sírio e os rebeldes insistiam, cada
um, que o responsável era o outro. Por fim, a ONU concluiu que quatro ataques
químicos, sim, haviam acontecido; mas não atribuiu a responsabilidade a nenhum
dos lados. Um funcionário da Casa Branca disse à imprensa no final de abril que
a comunidade de inteligência avaliara “com
variáveis graus de certeza” que o governo sírio fora responsável pelos
ataques. Assad, sim, havia transgredido a “linha vermelha” de Obama.
A avaliação
de abril ganhou manchetes, mas detalhes muito significativos perderam-se no
processo. Um funcionário não identificado que coordenava o briefing reconheceu
que as avaliações da comunidade de inteligência:
(...) não só, só elas, suficientes. Queremos – disse ele – investigar acima e além dessas avaliações da
inteligência, para reunir os fatos de modo a podermos estabelecer um conjunto
confiável e comprovável de informação que possa embasar então nossa tomada de
decisão.
Em outras
palavras, a Casa Branca não tinha nenhuma prova direta do envolvimento do Exército
Sírio ou do governo do presidente Bashar al-Assad, fato que só muito
ocasionalmente apareceu registrado na cobertura oferecida pela imprensa-empresa.
E a conversa “durona” de Obama funcionou bem com a opinião pública e o
Congresso, que via Assad como assassino cruel e sanguinário.
Dois meses
depois, uma declaração da Casa Branca anunciou mudança na avaliação da
culpabilidade síria; e declarou que a comunidade de inteligência, agora, tinha
“alta certeza” de que o governo Assad
fora responsável pelas 150 mortes nos ataques com sarin. Mais e mais manchetes foram geradas e a imprensa-empresa foi
informada de que Obama, em resposta à nova inteligência, havia ordenado em
ajuda não letal à oposição síria. Não se ofereciam detalhes, nem se
identificavam os detalhes nos quais se baseava a matéria. A declaração da Casa
Branca dizia que análises laboratoriais confirmaram o uso de sarin, mas que prova positiva da
presença de sarin “nada diz sobre como os indivíduos foram
expostos ou sobre quem foi o responsável pela disseminação”. A Casa Branca
também declarou que:
Não temos relatório confiável provado, que
indique que a oposição na Síria adquiriu ou usou armas químicas.
A
declaração acima contrariava as provas que, naquele momento, fluíam em
quantidade para as agências de inteligência dos EUA.
Já no final
de maio, o ex-funcionário sênior da inteligência contou-me, a CIA já levara ao
conhecimento do governo Obama o que se sabia sobre a Frente al-Nusra e seu
trabalho com sarin; e enviara
relatórios alarmantes de que outro grupo sunita fundamentalista ativo na Síria
– al-Qaeda in Iraq (AQI) – também já dominava o processo de produzir sarin. Naquele momento, a Frente
Al-Nusra estava operando em áreas próximas de Damasco, incluindo Goutha do
Leste. Documento da inteligência distribuído em meados do verão tratava
longamente de Ziyaad Tariq Ahmed, especialista em armas químicas dos militares
iraquianos, que ter-se-ia mudado para a Síria e que estaria operando em Ghouta
Leste. O consultor disse-me que Tariq havia sido identificado como “um sujeito da al-Nusra, com currículo de ter
preparado gás mostarda no Iraque e homem que está implicado na produção e uso
do gás sarin”. Os militares dos EUA o consideram alvo “de alto valor”.
David R. Shedd |
Dia 20/6,
um telegrama top secret de quatro páginas, reunindo tudo o que se sabia
sobre as capacidades da al-Nusra para produzir/usar gás sarin, foi passado para David R. Shedd, vice-diretor da Agência de Inteligência
da Defesa.
O que passaram para Shedd foi informação
ampla e extensa – disse o consultor. Não
foi um punhado de “acreditamos que”.
O mesmo
consultor disse-me que esse telegrama não dizia nem sugeria que nem os rebeldes
nem o Exército Sírio teriam iniciado os ataques em março e abril; mas, sim,
confirmava relatórios anteriores de que a Frente al-Nusra tinha meios e
competências para comprar e usar gás sarin.
Uma amostra do sarin que havia sido usado também fora recuperada – com a ajuda
de um agente israelense – mas, segundo o consultor com o qual falei, não há
nenhuma referência à amostra, naquele telegrama nem em outros.
Independentemente
dessas avaliações, o Estado-Maior das Forças Conjuntas dos EUA, sob a
pressuposição de que soldados dos EUA poderiam ser mandados à Síria para
capturar o estoque de agentes químicos, requereu uma análise de todas as fontes,
sobre a ameaça potencial.
A Ordem de Operação é base para a execução de
operação militar, se for ordenada – explicou-me o ex-funcionário sênior
da inteligência. – Inclui a possível
necessidade de mandar soldados dos EUA para um sítio químico na Síria, para
impedir que seja tomado por rebeldes. Se os rebeldes jihadistas estivessem
prestes a tomar o sítio químico, os EUA pressupúnhamos que Assad não lutaria
contra nós porque estaríamos protegendo os [produtos] químicos de serem
capturados pelos rebeldes.
Todas as Ordens de Operação contêm um item
que trata de alguma específica ameaça de inteligência. Tínhamos analistas da
CIA, da Agência de Inteligência da Defesa, especialistas em armas e gente de “I
& W” [orig. indications and warnings] trabalhando naquele problema (...). Concluíram que as forças rebeldes eram
capazes de atacar com gás sarin uma força dos EUA, porque sabiam e podiam
produzir o gás letal. O exame fora feito a partir de sinais e de inteligência
humana, e considerava também intenções manifestas e a capacidade técnica
comprovada dos rebeldes.
Há provas
de que durante o verão alguns membros do Comando do Estado-Maior das Forças
Conjuntas dos EUA estavam preocupados ante a possibilidade de invasão por terra
à Síria, e pelo desejo manifesto de Obama de oferecer apoio não letal a facções
rebeldes. Em julho, o general Martin Dempsey, comandante do Estado-Maior das
Forças Conjuntas, apresentou avaliação sombria e disse à Comissão de Serviços
Armados do Senado, em audiência pública, que “milhares de forças de operações
especiais e outras forças de terra” serão necessárias para tomar todo o arsenal
químico da Síria, extremamente disperso, além de “centenas de aviões, barcos, submarinos e outros tipos de veículos”.
Estimativas do Pentágono falam em cerca de 70 mil soldados necessários nessa
operação, em parte porque as forças dos EUA teriam de proteger também a frota
de foguetes sírios: capturar grandes volumes dos produtos químicos que produzem
gás sarin, sem ter os meios para lançar o gás, pouca utilidade teria para
alguma força rebelde.
Martin Dempsey |
Numa carta
para o senador Carl Levin, Dempsey alerta que qualquer decisão de capturar o
arsenal sírio traria consequências não desejadas:
Ao longo dos últimos dez anos, aprendemos porém
que não basta simplesmente alterar o equilíbrio do poder militar, sem
considerar atenta e cuidadosamente o que é necessário para preservar o
funcionamento do estado (...) Se
as instituições do regime entrarem em colapso na ausência de qualquer oposição viável,
podemos acabar, inadvertidamente, empoderando extremistas ou lançando em
operação as mesmas armas químicas que estamos tentando controlar.
Consultada
sobre essa carta, a CIA preferiu não se manifestar. Porta-vozes da Agência de
Inteligência da Defesa e do Gabinete do Diretor da Inteligência Nacional
disseram que não sabiam do relatório enviado a Shedd; depois de receber os
dados de identificação do telegrama, enviados por nós, disseram que não haviam
localizado o telegrama. Shawn Turner, relações públicas do Gabinete do Diretor
da Inteligência Nacional, disse que nenhuma agência de inteligência dos EUA,
incluída a Agência de Inteligência da Defesa, “avalia que a Frente al-Nusra tenha conseguido desenvolver alguma capacidade
para produzir gás sarin”.
Os
funcionários de Relações Públicas do governo Obama não estão tão preocupados
com o potencial militar da Frente al-Nusra quanto Shedd nas suas declarações
públicas. No final de julho, Shedd apresentou relatório alarmante da força da
Frente al-Nusra, durante o Aspen Security
Forum, no Colorado. “Contabilizo nada
menos que 1.200 diferentes grupos na oposição [ao governo de Bashar Al-Assad]”
– disse Shedd, como se ouve nas gravações de sua conferência. E dentro da oposição, a Frente al-Nusra é a
mais efetiva e está ganhando força. Isso,
disse Shedd, é motivo de grave
preocupação para nós. Se essa força for deixada agir sem qualquer oposição,
temo muito que os elementos mais radicais – e citou também o grupo al-Qaeda
in Iraq – prevaleçam. A guerra civil - ele continuou - só ficará cada vez pior ao longo do tempo
(...) Há inominável violência ainda por vir. Shedd não fez qualquer
referência a armas químicas em sua fala, porque, de fato, não podia: os
relatórios que seu gabinete recebera eram todos ultra top secret.
***
Uma série
de despachos secretos vindos da Síria durante o verão relatavam que membros do
Exército Sírio Livre andavam reclamando a agentes da inteligência dos EUA sobre
repetidos ataques que estavam sofrendo de combatentes da Frente al-Nusra e da
al-Qaeda. Os relatórios, segundo o consultor sênior de inteligência com o qual
falamos e que leu aqueles relatórios, traziam provas de que o Exército Sírio
Livre está “mais preocupado com aqueles
doidos do que com o governo de Assad”. O Exército Sírio Livre é formado em
grande parte por desertores do exército sírio. O governo Obama, empenhado em
derrubar Assad e em manter o apoio aos rebeldes, procurou, em todas as falas
públicas a partir do ataque [com gás sarin], apagar a influência das facções
salafistas e wahhabistas.
John Kerry |
No início
de setembro, John Kerry disse, tolamente, numa audiência no Congresso, que a
Frente al-Nusra e outros grupos islamistas seriam minoria na oposição síria.
Adiante, se autodesmentiu e retirou o que dissera.
Em todos as
suas falas públicas e privadas depois do dia 21/8, o governo Obama
desconsiderou toda a inteligência que havia sobre a possibilidade real de que a
Frente al-Nusra tivesse acesso possível ao gás sarin; e continuou a afirmar que só o governo Assad teria armas químicas.
Essa foi a mensagem que se lia nos vários memorandos secretos distribuídos aos
membros do Congresso nos dias depois do ataque, quando Obama tentava obter
apoio para sua planejada ofensiva aérea contra instalações dos militares
sírios. Um deputado, com mais de duas décadas de experiência em questões
militares, disse-me que concluiu a leitura de um daqueles memorandos secretos
absolutamente convencido de que “só o
governo de Assad, não os rebeldes, tinham gás sarin”.
Samantha Power |
Assim
também, depois da divulgação do relatório da ONU, dia 16/9, confirmando que
havia sido usado gás sarin no ataque de 21/8, Samantha Power, embaixadora dos
EUA à ONU, disse, numa conferência de imprensa:
É muito importante observar que só o governo [de Assad] possui sarin, e que não temos prova de que a
oposição possua sarin.
Não se sabe
se os relatórios ultra top secret sobre a Frente al-Nusra chegaram ao
gabinete de Power, mas o comentário dela é reflexo da atitude que, então, se
via em todo o governo Obama.
“A conclusão imediata e geral era que Assad
fizera tudo” – disse-me o ex-funcionário sênior de inteligência. – “O novo diretor da CIA, [John] Brennan, pula sobre essa conclusão (...) corre até a Casa Branca e diz: “Vejam o que
consegui!”. Foi tudo verbal; eles só tinham, de prova, as camisas manchadas de
sangue.
Houve muita
pressão para arrastar Obama à mesa, para ajudar os rebeldes, e o pensamento
desejante de que isso [ligar Assad ao ataque com sarin] forçaria a mão de
Obama:
“É o telegrama Zimmermann [3] da rebelião síria! E
agora Obama pode reagir”. Puro
pensamento desejante, na ala Samantha Power dentro do governo Obama.
Infelizmente, alguns dos comandantes das Forças Conjuntas que foram alertados
de que Obama preparava-se para atacar não tinham certeza de que fosse má ideia.
O proposto
ataque com mísseis norte-americanos contra a Síria jamais recebeu apoio da
opinião pública; e Obama rapidamente mudou de ideia e agarrou-se à ONU e à
proposta dos russos, a favor do desmonte dos arsenais químicos sírios. Qualquer
possibilidade de ação militar foi afinal definitivamente descartada dia 26/9,
quando o governo Obama acompanhou o voto da Rússia e aprovou projeto de
resolução da ONU que pedia que o governo Assad se livrasse de seu arsenal
químico. O recuo de Obama trouxe alívio e vários altos comandantes militares.
(Um
conselheiro de alto nível de operações especiais disse-me que o mal concebido
ataque de mísseis dos EUA contra instalações da Força Aérea síria e silos de
mísseis sírios, como foi concebido inicialmente pela Casa Branca, teria sido “praticamente como garantir apoio aéreo
próximo à Frente al-Nusra”.).
A distorção
que o governo Obama criou em todos os fatos que cercam o gás sarin obriga a
fazer uma pergunta inevitável: será que afinal conhecemos toda a história do
muito que Obama desejava afastar-se da “linha vermelha” que ele mesmo criara,
sua ameaça de bombardear a Síria? Primeiro, disse que tinha “caso muito firme”
a favor do ataque, e então, de repente, aceita entregar a decisão ao Congresso;
e em seguida aceita a oferta de Assad, que se dispõe a entregar seu arsenal
químico. Parece razoável e possível que, em algum momento desse processo, Obama
tenha recebido informação que andava na direção contrária de tudo que a
inteligência dos EUA lhe dizia: provas suficientemente fortes para convencê-lo,
rapidamente, a cancelar o plano de ataque e ver-se obrigado a encarar a crítica
que, sem dúvida possível, receberia dos Republicanos.
Conselho de Segurança da ONU |
A Resolução
da ONU, que foi adotada dia 27/9 pelo Conselho de Segurança, tratava indiretamente
da noção de que forças rebeldes como a al-Nusra também seriam obrigadas a
desarmar-se:
(...) nenhuma parte na Síria deve usar,
desenvolver, produzir, comprar, armazenar, possuir ou transferir armas
[químicas].
A Resolução
também exige que o Conselho de Segurança seja notificado imediatamente no caso
de qualquer dos “atores não estatais” adquirirem armas químicas. Nenhum grupo
foi citado nominalmente.
Enquanto o
governo sírio continua a processar a eliminação de seu arsenal químico, a ironia
é que, depois que os agentes precursores encontrados nos arsenais do governo do
presidente Bashar al-Assad tiverem sido destruídos, a Frente al-Nusra e seus
aliados islamitas talvez acabem sendo a única facção dentro da Síria com acesso
aos ingredientes que produzem o gás sarin, arma estratégica sem concorrente
naquela zona de guerra. Pode haver muito mais a negociar.
Notas dos tradutores:
[1] 8/12/2013, BuzzFeed Politics, Rosie Gray em: “Report:
Obama Administration Knew Syrian Rebels Could Make Chemical Weapons”.
[2] 8/12/2013, Moon of Alabama
em: “Hersh
On Obama’s Lies About Syrian Chemical Weapons”
[3] O “Telegrama
Zimmermann” é um telegrama enviado pelo Secretário de Assuntos
Exteriores do Império Alemão, Arthur Zimmermann, dia 16/1/1917, ao embaixador
alemão em México, Heinrich von Eckardt, durante a Primeira Guerra Mundial.
Nesse telegrama instruía-se ao embaixador para que se acercasse ao Governo
mexicano com uma proposta para formar uma aliança contra os Estados Unidos. Foi
interceptado pelos britânicos, e seu conteúdo acelerou a entrada dos Estados
Unidos na 1ª. Grande Guerra.
_____________________
[*] Seymour Myron “Cy” Hersh
(Chicago, 8/4/1937)
é jornalista de investigação norte-americano, ganhador do prêmio Pulitzer e
especializado em geopolítica, atividades dos serviços secretos e assuntos
militares dos Estados Unidos.
Principais feitos jornalísticos
- Revelação do massacre de My Lai, no Vietnam, em novembro de 1969, o que lhe valeu o prêmio Pulitzer de 1970.
- Revelação do projeto Jennifer (tentativa de resgate dos destroços do submarino soviéticoK-129 promovida pela CIA, também em 1969, visando recuperar, em proveito dos Estados Unidos, dados e tecnologias soviéticas).
- Revelação das atividades ilegais da CIA contra organizações pacifistas e outros movimentos políticos de oposição, nos Estados Unidos, em 1974, o que resultou na demissão de James Jesus Angleton, chefe da contraespionagem da CIA.
- Revelação da existência do Office of Special Plans (OSP) do Departamento de Defesa norte-americano, ao publicar o artigo “Selective Intelligence”, em 2003.
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