11/12/2013, Thomas Drake, Daniel Ellsberg, Katharine Gun, Peter Kofod, Ray McGovern, Jesselyn Radack, Coleen Rowley – The Guardian
Traduzido por João Aroldo
Revelar segredos de facções poderosas não é uma coisa divertida, mas é a
última via para um debate verdadeiro, equilibrado e democracia.
Edward Snowden |
Pelo
menos desde Setembro de 2001, os governos ocidentais e agências de inteligência
estão trabalhando duro para expandir o escopo de seu próprio poder, enquanto
corroem a privacidade, liberdades civis e controle público da política. O que
era visto como fantasias conspiratórias paranoicas, orwellianas se mostraram após Snowden, não ser nem a
história completa.
O
que é realmente notável é que há anos avisávamos que essas coisas estavam
acontecendo: vigilância completa de populações inteiras, militarização da
internet, o fim da privacidade. Tudo é feito em nome da "segurança
nacional", o que se tornou mais ou menos uma ladainha para evitar o debate
e garantir que os governos não sejam responsabilizados – que não possam ser
responsabilizados – porque tudo é feito no escuro. Leis secretas,
interpretações secretas de leis secretas por tribunais secretos e nenhum
controle do poder legislativo.
John Kiriakou |
Em
geral a mídia deu pouca atenção a isso, mesmo que mais e mais pessoas corajosas
e de princípios revelassem segredos. A perseguição sem precedentes daqueles que
contam verdades, iniciada pela administração Bush e acelerada severamente pela
administração Obama, foi ignorada, enquanto números recordes de pessoas bem
intencionadas são acusadas de graves delitos simplesmente por dizerem aos seus
concidadãos o que está acontecendo.
É
uma das amargas ironias de nosso tempo que enquanto John Kiriakou (ex-CIA) está na prisão por revelar a
tortura dos EUA, os torturadores e seus responsáveis estão livres.
Do
mesmo modo, a fonte do WikiLeaks Chelsea (previamente Bradley) Manning foi acusada de – entre outros sérios crimes – ajudar o inimigo (leia-se: o
público). Manning foi sentenciada a 35 anos de prisão, enquanto as pessoas que
planejaram a guerra ilegal e desastrosa do Iraque em 2003 ainda são tratadas
como dignitários.
Diversos
ex-analistas da NSA vieram a
público na década passada, revelando fraude em massa, vastas ilegalidades e
abuso de poder na agência citada, incluindo Thomas Drake, William Binney e Kirk Wiebe. A resposta foi 100% perseguição
e 0% responsabilização, tanto pela NSA quanto pelo resto do governo. Revelar
segredos de facções poderosas não é algo divertido, mas apesar do pobre
histórico da mídia ocidental, a divulgação ainda é a última via para um debate
verdadeiro e equilibrado defesa da democracia – essa frágil construção que,
segundo Winston Churchill, é “o pior tipo de governo, com exceção de todos os
outros”.
Kirk Wiebe |
Desde
o verão de 2013, o público tem testemunhado uma mudança no debate sobre esses
assuntos. A razão é uma pessoa corajosa: Edward Snowden. Ele
não só revelou a série de abusos do governo mas forneceu uma avalanche de
documentos comprobatórios para alguns poucos jornalistas confiáveis. Os ecos de
suas ações ainda estão sendo ouvidos pelo mundo – e ainda há muitas revelações
por vir.
Para
cada Daniel Ellsberg, Drake, Binney, Katharine Gun, Manning ou Snowden, há
milhares de funcionários públicos que continuam com seu trabalho diário de
espionar todo mundo e fornecer informações fabricadas ou mesmo inventadas ao
público e ao legislativo, destruindo tudo o que nós como sociedade defendemos.
Alguns
deles podem se sentir favoráveis ao que estão fazendo, mas muitos deles são
capazes de ouvir sua voz interior sobre a voz de seus líderes e políticos
desonestos – e das pessoas cuja comunicação íntima eles estão monitorando.
Escondidos
em escritórios de vários departamentos governamentais, agências de inteligência,
forças da polícia e forças armadas há dúzias e dúzias de pessoas que estão
muito irritadas com aquilo em que nossas sociedades estão se transformando: no
mínimo, tiranias completas.
Uma
delas é você.
Você
está pensando:
- Minar a democracia e corroer liberdades civis não está explicitamente em seu contrato de trabalho.
- Você cresceu em uma sociedade democrática e quer continuar assim.
- Você foi ensinado a respeitar o direito das pessoas comuns de viver em privacidade.
- Você não quer um sistema de vigilância estratégica institucionalizada que faria a temida Stasi ficar verde de inveja – ou quer?
Então,
por que se preocupar? O que uma pessoa pode fazer? Bem, Edward Snowden mostrou
justamente o que uma pessoa pode fazer. Ele se sobressai como revelador tanto
pela severidade dos crimes como pela má conduta que ele está divulgando ao
público – e a enorme quantidade de documentos que ele nos apresentou até agora
– ainda há mais. Mas Snowden não deveria ser o único, e suas revelações não
deveriam ser as únicas.
Você
pode ser parte da solução; forneça a jornalistas confiáveis – tanto da velha
mídia (como este jornal) ou da nova mídia (como WikiLeaks) documento que provem
que atividades ilegais, imorais ou dispendiosas estão acontecendo no seu
trabalho.
HÁ
poder na quantidade. Você não será o primeiro – ou o último – a seguir sua
consciência e divulgar o que está sendo feito em nossos nomes. A verdade está a
caminho – ela não pode ser parada. Políticos desonestos serão
responsabilizados. Está em suas mãos estar no lado certo da história e acelerar
o processo.
A
coragem é contagiosa.
Assinado
por:
Peter Kofod, ex-Escudo Humano
no Iraque (Dinamarca)
Thomas Drake, ex-analista
sênior da NSA (EUA)
Daniel Ellsberg, ex-analista
militar (EUA)
Katharine Gun, , ex-GCHQ
(Reino Unido)
Jesselyn Radack,
ex-Departamento da Justiça (EUA)
Ray McGovern, ex-analista
sênior da CIA (EUA)
Coleen Rowley, ex-agente do
FBI (EUA)
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