quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Síria: Em vez de cortejar islamistas, por que a Casa Branca não conversa com Assad?

4/12/2013, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Jabhat (Frente) al-Nusra, braço da al-Qaeda, dialogando com os EUA
Funcionários dos EUA estão conversando com comandantes da nova Frente Islamista na Síria; e inventando que essa seria agora alguma alternativa “moderada” à Al-Qaeda:

Os EUA e aliados mantiveram conversações diretas com milícias islamistas chaves na Síria, disseram funcionários ocidentais, com o objetivo de conter a al-Qaeda, ao mesmo tempo em que reconhecem que as milícias religiosas tantas vezes combatidas por Washington venceram no campo de batalha.

Simultaneamente, a Arábia Saudita vai ainda mais longe, cuidando de armar diretamente e financiar um dos grupos islamistas, o Exército do Islã, o que tem gerado muitas preocupações em Washington.

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Os sauditas e o ocidente estão em movimento de pivô na direção de uma coalizão recém criada de milícias religiosas chamada Frente Islâmica, que exclui os principais grupos ligados à al-Qaeda que lutam na Síria – a Frente Nusra e o Exército Estado Islâmico do Iraque e Levante (Islamic State of Iraq and the Sham, ISIS).
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Diplomatas ocidentais disseram que seu engajamento com os islamistas também visa a afastar algumas milícias poderosas para longe da Frente Al-Nusra e de outros grupos ligados à al-Qaeda. “Entendemos que são grupos que, se não fizermos nada, podem caminhar na direção de mais radicalização” – disse um diplomata ocidental.

Puro absurdo. Os principais grupos que formaram a Frente Islâmica são Liwa al-Tawhid e Ahrar al-Sham, os quais, ambos, regularmente trocam recursos e cooperam com a Frente Jabhat al- Nusra ligada à al-Qaeda e com o grupo Estado Islâmico do Iraque e Levante. Têm as mesmas raízes e constituíram-se antes do início dos primeiros protestos na Síria. Os dois grupos estiveram envolvidos em vários pogroms contra o povo sírio que não aceita o programa desses grupos, de imposição da Lei da Xaria.

Liwa al-Tawhid aliados à al-Qaeda, combatem contra Assad
A única alternativa a uma anarquia comandada pela Al-Qaeda na Síria é um estado presidido pelo presidente Bashar al-Assad e seu partido. Cooperar com Assad é a única via que o “ocidente” tem para impedir que se forme mais um novo estado de islamistas fanáticos junto à fronteira sul da OTAN. E isso já era óbvio há dois anos, quando escrevi, em fevereiro de 2012:

Uma Síria derrotada pelo terror, seguida de grandes massacres sectários e de vastos fluxos de refugiados, o que com certeza fará com que os combates se alastrem para os países vizinhos. Isso não pode interessar a ninguém.

É hora de o “ocidente” não só retroceder, mas dar meia volta e passar a ajudar Assad a combater os terroristas que querem destruir o país dele.


Ryan C. Crocker
Partes do governo Obama parecem estar, finalmente, chegando à mesma conclusão óbvia:

Temos de começar a conversar outra vez com o governo de Assad sobre contraterrorismo e outras questões de nosso mútuo interesse – disse Ryan C. Crocker, veterano diplomata que serviu na Síria, no Iraque e no Afeganistão. – Terá de ser feito muito, muito discretamente. Mas, por pior que Assad seja, ele não é tão ruim quanto os jihadis que assumirão se Assad não estiver lá.

Infelizmente, a Casa Branca (ainda) não está prestando atenção a Crocker:

Ainda não está claro se, ou quando, a Casa Branca se disporá a uma mudança tão abrupta em sua abordagem, depois de anos de apoio à oposição síria e de muito clamar pela deposição do presidente Assad. Com certeza, serão necessárias delicadas negociações com aliados no Oriente Médio que são apoiadores generosos, e há muito tempo, de grupos rebeldes na Síria, sobretudo a Arábia Saudita.

Não sei qual seria o problema com a Arábia Saudita. Esse país não tem alternativa, a não ser permanecer sob o guarda-chuva de segurança dos EUA. A Casa Branca deve dizer ao rei Abdullah saudita que ponha fim ao exército de terroristas mercenários do príncipe Bandar bin Sultan na Síria, “porque se não...”.

Os sauditas realmente desejam confrontação fundamental com os EUA, exatamente quando o Irã já se apresenta como alternativa viável para influenciar o Golfo Persa a favor dos EUA?




[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como“Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). No Brasil, produzimos versão SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em “Cida Moreira canta Brecht”, que incorporamos às nossas traduções desse blog Moon of Alabama, à guisa de homenagem. Pode ser ouvida a seguir:


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