3/12/2013, Al-ManarTV, Líbano
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Sayyed Hassan Nasrallah durante a entrevista no canal OTV, do Líbano |
O
secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, disse na 3ª-feira,
3/12, que o acordo nuclear iraniano teve implicações significativas; e que
acredita que os principais vencedores já são os povos da região.
Nos anos recentes houve interesses regionais
e internacionais que empurraram na direção de guerra contra o Irã. Não foi
fácil ou simples, porque o Irã não é país fraco nem isolado. A opção pela
guerra ao Irã teve implicações sérias sobre a região – disse o
secretário-geral, em entrevista ao vivo ao canal OTV, do Líbano.
Assim sendo, a primeira implicação do acordo
foi o adiamento da guerra contra o Irã – disse Sua Eminência.
Para ele,
não é viável que a entidade sionista venha a atacar as instalações nucleares
iranianas, se não receber luz verde dos EUA. Disse também que entende que o
acordo não terá impactos negativos sobre Líbano ou Síria.
Para Sayyed
Nasrallah, o acordo nuclear firmado no âmbito das negociações entre o P5+1 e o
Irã declarou uma nova realidade de multipolaridade, onde já nenhum estado
comanda o mundo, como antes.
A liderança multipolar impede a dominação e a
ditadura de um sobre todos, e abre espaço para a ação dos países do Terceiro
Mundo – continuou Sua Eminência.
A política
externa dos EUA
Sayyed
Nasrallah disse que há vastos pontos de virada na política externa dos EUA,
lembrando que mesmo o acordo nuclear para o Irã é acordo provisório, por mais
que alguns já tenham dito, até, que seria um acordo entre a Valiye Faqih
(República Islâmica do Irã) e o Grande Satã (os EUA).
A guerra dos EUA contra o Iraque está
condenada ao fracasso. No Afeganistão, os EUA chegaram a um beco sem saída. No
Líbano e em Gaza, o “novo oriente médio” também já fracassou. Como estão
fracassando até aqui, também na Síria. O Irã suportou sanções terríveis, e nem
assim os EUA conseguiram derrubar o regime. Bem ao contrário, a situação
econômica e financeira nos EUA e em países europeus é que é crítica. Por tudo
isso, pode-se dizer que há uma nova situação para EUA e Europa – disse
Sua Eminência.
Justificando
o patrocínio que EUA deram ao acordo Irã-P5+1, Sayyed Nasrallah explicou que os
norte-americanos não querem mais guerras, que a população dos EUA está farta de
guerras. Por isso, se abriu uma porta, e chegou-se ao acordo nuclear
provisório.
O
secretário-geral do Hezbollah explicou também que:
Os negociadores norte-americanos queriam
envolver outros assuntos naquela discussão, mas os iranianos estavam decididos
a negociar a questão nuclear e nada mais. Os iranianos não tinham qualquer
interesse em misturar outras questões naquela discussão e insistiram em que só
se tratasse, ali, da questão nuclear.
Lembrou que:
(...) o Irã já declarou há muito tempo que sua
visão política sobre os EUA é em tudo diferente da visão que os iranianos têm
sobre a entidade sionista. E que, por isso a posição iraniana sobre a entidade
sionista é definitiva e não mudou.
O que os iranianos disseram é que quando os
EUA admitem nossos direitos e mostram-se dispostos a reconhecer aos povos dessa
região os nossos próprios direitos, então estaremos sempre prontos a dialogar
com eles – explicou Sua Eminência.
Os EUA mudaram de posição; e os iranianos
mantêm-se onde sempre estivera. Ainda é cedo para falar de normalização entre
os dois países, e há ainda muitas questões pendentes. Não antevejo que as
relações sejam normalizadas entre esses dois países em futuro próximo –
acrescentou.
Sobre a
recente visita do primeiro-ministro de Relações Exteriores do Irã Mohammad
Javad Zarif aos Estados do Golfo, Sayyed Nasrallah disse que:
(...) o Irã jamais rompeu relações com países
vizinhos. O problema sempre foi do outro lado, não do lado dos iranianos; e o
primeiro-ministro do Irã entendeu que seria importante levar ao conhecimento
dos países do Golfo que nada havia sido acertado que ferisse qualquer de seus
interesses.
A Arábia
Saudita
O
comandante da Resistência libanesa do Hezbollah disse que o Irã sempre buscou
abrir portas para os sauditas, tentativas que nunca tiveram sucesso, porque o
Reino sempre insistiu em fechar todas as portas. Sayyed Nasrallah revelou que
houve uma iniciativa paquistanesa, que foi aceita pelos iranianos, e que os
sauditas também rejeitaram.
Antes do falecimento do príncipe Nayef [dia
16/6/2012], o ministro de segurança do
Irã visitou a Arábia Saudita e teve contato com ele. O ministro tentava criar
compreensão mútua. Mas a reação foi 100% negativa.
Sua
Eminência observou que desde o início a Arábia Saudita lida com o Irã como
inimigo; a guerra de Saddam Hussein contra o Irã foi financiada pelos sauditas.
E os povos do Iraque e do Irã pagaram por aquela guerra, como também pagaram e
pagam os palestinos e o povo do Kuwait.
A guerra saudita contra o Irã nunca parou
desde 1979. Os sauditas não se atrevem a fazer guerra diretamente contra
alguém, e lutam “por procuradores”, e pagam mercenários para lutar na Síria, no
Irã, no Iraque e no Líbano – disse o secretário-geral do Hezbollah.
Sayyed
Nasrallah destacou que o problema entre a Arábia Saudita e o Irã é fundamental;
que o discurso do príncipe Al-Walid Bin Talal não expressa o pensamento dos
sunitas. O problema dos sauditas com o Irã não é sectário, porque já, antes,
tiveram problemas com o Egito, Iêmen e Síria, países que não são xiitas.
A Arábia Saudita não aceita nenhum parceiro.
Quer que todos os países árabes sejam subordinados dela.
Sua
Eminência disse também que:
(...) há espiões e inteligência saudita por trás
de muitas das explosões no Iraque, e operam também alguns ramos da al-Qaeda.
Para ele,
tudo sugere que as Brigadas Abdullah Azzam esteja realmente por trás do ataque
à bomba contra a embaixada do Irã em Beirute, há duas semanas, o que revelaria
que a Arábia Saudita apóia tais grupos.
Sayyed Hassan Nasrallah e entrevistador da OTV, Líbano |
Relações
Hezbollah-Qatar
O
secretário-geral do Hezbollah informou que há alguns dias recebeu uma delegação
do Qatar, e que o Qatar pode vir a revisar sua posição e sua estratégica para a
região; contou também que o país também oferecera boa iniciativa no caso dos libaneses
sequestrados em Aazaz.
Sayyed
Nasrallah destacou que:
(...) o Hezbollah jamais causa problema a quem
quer que seja. O Partido da Resistência sempre insistiu na necessidade de uma
solução política para a Síria, [1] e
que sempre houve uma linha de comunicação entre o Hezbollah e o Qatar, mas as
duas partes sempre tiveram visões políticas diferentes.
Falando da
nova relação Hezbollah-Qatar, Sayyed Nasrallah disse que:
(...) o partido libanês manifestara que a opção
militar na Síria não é a melhor saída e derrubar o atual governo tampouco
melhorará alguma coisa; e conclamou todos os estados que podem influenciar os
eventos na Síria e trabalhar por uma solução política. Nossa conversa com o
Qatar começou assim. E cuidamos de manter o Líbano à parte de qualquer problema
– disse Sua Eminência.
Relações
Hezbollah-Turquia
Nossos contatos com a Turquia não foram
rompidos. Também têm havido reuniões com o embaixador da Turquia no Líbano. Não
há novidades em nossas relações com os turcos – disse Sayyed Nasrallah.
Contudo,
Sua Eminência disse que:
(...) depois dos eventos sírios houve visível
tentativa dos turcos para rearranjar as relações com o Hezbollah, porque os
turcos entendem que perderam muito nas relações com o Líbano, o presidente
Bashar al-Assad e o Irã, que eram relações excelentes antes de a crise síria
irromper.
Agora, estão fora da Síria, enfrentando um
grande problema com o Iraque, com relações frias, semirrompidas com o Irã. O
projeto turco para a Síria falhou. E onde está hoje a Turquia, no Egito e em
toda a região? – perguntou Sua
Eminência.
O Irã na
Região
Sua
Eminência Sayyed Hassan Nasrallah disse que:
(...) a
posição ideológica do Irã sobre Israel não mudará, nem mudará a posição do Irã
sobre a Resistência. Na questão palestina, tampouco o Irã abandonará as
posições que teve até agora.
Sua
Eminência disse que:
(...) não vê horizonte próximo para a solução da
questão palestinos-Israel, porque as negociações não envolvem ainda nem direitos
mínimos para os palestinos.
O Irã é um grande estado regional, com grande
influência hoje em toda a região. Mantemos consultas com o Irã e não raras
vezes o Irã abraço plenamente as nossas posições. Mas isso não envolve o Líbano – disse
Sayyed Nasrallah.
Acrescentou
que:
(...) se as relações do bloco 14 de Março com a
Arábia Saudita fossem iguais à nossa relação com o Irã, o Líbano estaria livre
de problemas. O Irã não interfere em nossos assuntos domésticos. Não nos manda
participar do Gabinete. O que o Irã quer no Líbano é que as pessoas entendam-se
umas as outras; e que o Líbano não seja arrastado para a guerra.
Queria que o outro lado fosse uma Valiye Faqih [República
Islâmica do Irã]!” – disse ele.
Hezbollah
na Síria
Revisando a
participação do Hezbollah na Síria, o secretário-geral do Hezbollah explicou
que a posição do Hezbollah foi-se modificando gradualmente.
Quando irrompeu a crise na Síria, nos
mantivemos em silêncio por três semanas, à espera de ver com clareza a natureza
daqueles eventos. Por outro lado, enquanto ainda estávamos usando nossas boas
relações para não nos envolver sem conhecer os fatos, toda a oposição síria,
líderes da Fraternidade Muçulmana e alguns grupos extremistas puseram-se a nos ameaçar,
antes mesmo de termos decidido qual seria nossa posição política. Apesar disso,
recomendamos solução política, para evitar a opção militar – disse
Sua Eminência.
Sayyed Hassan
Nasrallah explicou a principal causa por trás da intervenção do Partido de Deus
em al-Qussayr, no sul da Síria, na fronteira com o Líbano; disse que:
(...) o Hezbollah nada tem diretamente contra
nenhuma figura da oposição, mas, sim, contra estados que tenham conexão com
eles. O presidente Assad sempre esteve aberto e disposto para o diálogo e as
reformas, já quando muitos na região diziam que seria “coisa rápida”, que
estaria tudo terminado em dois, três meses; e que, portanto, não havia
necessidade alguma de diálogo.
Há países na região trabalhando para derrubar
militarmente o regime sírio, sem jamais ter-se preparado para nenhum diálogo.
Os eventos na Síria prosseguiram, mas nós não interviemos militarmente. Não
interviemos em cidades habitadas por libaneses em al-Qussayr, enquanto o
exército sírio ali esteve – lembrou Nasrallah.
Mas, quando
o exército sírio foi forçado a deixar aquela área, os residentes libaneses
convocaram o Hezbollah para que os ajudassem a defender suas cidades, porque o
governo do Líbano não os estava protegendo e deixara as fronteiras abertas ao
contrabando de armas para al-Qussayr, a partir do norte e do leste do Líbano.
Fomos a al-Qussayr em operação preventiva. Se
não tomássemos a iniciativa, milícias armadas cairiam como enxame sobre todas
as cidades da fronteira com o Líbano.
Sayyed
Nasrallah disse que se as milícias armadas atacassem “o santuário de Sayyed
Zeinab, seria como pôr fogo em toda a região”; acrescentou que o Hezbollah
enviou só 40-50 combatentes para aquela área, para ajudar a proteger o
santuário. Destacou que “nosso interesse na Síria era lógico e realista”.
Sua
Eminência destacou que:
(...) o Hezbollah não destacara combatentes para
outras áreas, mas a situação evoluiu gradualmente; de fato, dezenas de
libaneses foram mortos em guerra, pelas milícias ativas na Síria.
Nós, o Hezbollah, sempre declaramos nossos
mártires. Chegou então o momento de anunciar nossa ação na Síria, porque nós
não nos envergonhamos dos nossos mártires: nós nos orgulhamos deles – disse
Sayyed Nasrallah.
Sua
Eminência disse também que sua fotografia ao lado do Grande Aiatolá Sayyed Ali
Khamenei foi feita dois anos antes do combate em Al-Qussayr; e repetiu:
O Hezbollah não interveio na Síria por
decisão do Irã, mas por decisão nossa. O que se disse sobre o Irã ter
solicitado que interviéssemos na Síria não é verdade; é mentira.
Sua
Eminência disse que
(...) se deixássemos de cumprir nossa obrigação
em al-Qussayr e Qalamoun, dezenas e centenas de toneladas de carros-bomba
teriam entrado no Líbano; tivemos de ir à Síria, para evitar que isso
acontecesse.
Disse
também que:
(...) o carro-bomba que explodiu no Líbano veio de
Yabrood, passando por Arsal. E perguntou: Que destino esperaria o Líbano, se a Síria caísse em mãos de milícias
armadas?
Sayyed
Nasrallah revelou que
(...) o ex-primeiro-ministro Saad Hariri e o
deputado Okaq Sakr estão envolvidos na operação de mandar mercenários e armas
para a Síria. Perguntem ao outro lado que garantias oferecem, se a oposição
vencer... E completou: o nível de
apoio do povo libanês à nossa intervenção na Síria é mais alto que o nível de
apoio aos movimentos de Resistência entre 1982 e 1990.
Dia virá em que nos agradecerão por nossa
intervenção na Síria – disse Sayyed Nasrallah.
Sua
Eminência disse que:
(...) há muito exagero no que se diz sobre a
intervenção do Hezbollah na Síria. Os que estão lutando na Síria na defesa do
regime são o Exército Sírio e as forças de defesa nacional, formadas pelo
próprio povo, nas áreas onde têm de se autodefender. E disse: Não há combatentes do Hezbollah nas
províncias de Daraa, Soweida', Qunitra, Deir Ezzor e em Aleppo, no norte.
Nossa presença na Síria está limitada a
Damasco, Homs e em áreas próximas do Líbano. Estamos em al-Qussayr e Damascus.
Hoje o Exército Sírio está em operações em Qalamoun, com forças de defesa
nacional.
Perguntado
sobre o número de combatentes que o Hezbollah teria deslocado para a Síria,
Sayyed Nasrallah disse:
(...) alguns no Líbano dizem que 250 combatentes
do Hezbollah foram mortos lá, e alguns dos jornais do bloco 14 de Março falam
de 600 mortos do Hezbollah em Ghota. É o que queriam que fosse. É delírio. São
números do delírio deles.
Nasrallah
disse também que:
(...) nenhum combatente do Hezbollah foi
sequestrado na Síria, mas as milícias capturaram os corpos de alguns de nossos mártires;
não os deixaremos lá.
Sua
Eminência disse que
(...) desde o início dos eventos na Síria, o
número de nossos mártires não chegou aos 200 de que tanto falam, conforme a
natureza dos combates. E lembrou que: hoje
a ameaça já é menor e que o número de mártires foi menor que o que se previa no
início.
Sayyed
Nasrallah disse que:
(...) espera novos confrontos, em mais de uma
área, mas que todas as provocações fracassarão, como aconteceu em Ghota, e
completou: há gente trabalhando para
desmontar a Conferência Genebra-2.
Sayyed Hassan Nasrallah ao final da entrevista de 3/12/2013 |
Líbano
Sayyed
Nasrallah lembrou que o Hezbollah foi o primeiro a condenar as bombas de
Trípoli; disse que aquele foi dia ainda mais triste que o dia das bombas de
Ruwais e Bir al-Abed, porque se via claramente que “alguém quer arrastar o Líbano para a guerra”.
Sobre a
situação da segurança na cidade de Trípoli, norte do Líbano, Sua Eminência
disse:
(...) o que se noticiou sobre o Mufti de Trípoli e o xeique Malek
Al-Shaa'r no norte, e relações entre os pistoleiros e os serviços de segurança,
é informação verdadeira. E continuou, dizendo que: sabemos que o Diretorado Geral das Forças Internas de Segurança, e há
muitos anos, paga para armar grupos e transportar munição em carros das forças
de segurança interna; e já há vários anos . A solução, aí, é que o estado deve assumir logo o controle da segurança
em Trípoli; deve, em seguida, organizar uma “célula de crise”. Trípoli e o
Norte têm de dialogar; todos os partidos têm de reunir-se.
Sobre a
cena política no Líbano, Sayyed Nasrallah disse que:
(...) as escolhas e opções políticas para o Bloco
8 de Março têm-se revelado acertadas e vão-se impondo como ganhadoras; e o
Blovo 14 de Março só perde posições e espaços. Nós não temos qualquer grande
projeto para o Líbano; nós apoiamos uma parceria real no Líbano, com a
participação de todos.
Finalizando,
Sua Eminência disse que:
(...) o Hezbollah crê no Líbano. E conclamou os
apoiadores da Resistência e os que o assistiam a defender a ordem e a não
promover manifestações de rua, ainda que provocados. Quem tiver objeções, que
use os canais formais, judiciais. É importante, hoje mais do que nunca, que não
insultemos ninguém. E esperemos que não nos insultem.
Nota dos tradutores
[1] Sobre isso ver: 18/4/2012, redecastorphoto em: “Assange
entrevista Nasrallah”, Russia Today (traduzido)
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