Zoroastro
Sant’Anna -
Jornalista e cineasta
Nosso
Homem nº 22
Ilustrações
e legendas - redecastorphoto
O que tem a
ver a campanha da preservação do rio Sergipe, liderada pelo jornalista Osmário
Santos e a preservação do rio Nilo, no Egito, defendida pela ONU?
Resposta:
tudo a ver. Tudo faz parte do movimento universal erroneamente chamado de
preservação do planeta.
Como
correspondente do Jornal do Dia no evento da ONU
Rio+20 me vejo na obrigação de fazer algumas considerações que
certamente vão desagradar a muitos setores do ambientalismo
moderno.
Já
participei de muitos eventos em várias partes do mundo e sobre os mais diversos
assuntos, mas nunca vi um encontro tão organizado, tão diversificado e tão
inútil quanto esse Rio+20.
Temos
boletins de hora em hora em inglês, francês, espanhol e português. Tradução
simultânea em mais de dez idiomas, telões, resumos, avisos, chamadas, segurança
máxima e folgas mínimas. Tablets, I-pods, smartphones, rádios, televisões e
satélites. Uma parafernália digna de um evento mundial, o mundo mudou para o
Pavilhão 3 do Riocentro, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro
onde chefes de Estado, Ministros e as mais importantes autoridades se movimentam
pelos auditórios cercados por uma aparato paramilitar nunca antes visto,
helicópteros cruzando os céus e agentes secretos futucando todos os cantos e
labirintos. São representantes de mais de 200 países e mais de 1.500
jornalistas.
O encontro
chama Rio+20 porque durante a ECO
92, também realizada no Rio, foi decidido que 20 anos depois todo mundo se
reuniria novamente pra discutir o resultado das resoluções adotadas na época e
avançar em novas decisões para o futuro.
Lembro que a
ECO 92, realizada durante o
vergonhoso governo Collor, foi cercada de esperanças e de tanques. As ruas do
Rio se transformaram em verdadeiras praças de guerra, com tapumes escondendo dos
visitantes estrangeiros as favelas ainda não pacificadas onde o tráfico
esbanjava poder e balas rasgavam os céus dos morros onde se disputavam
lucrativos pontos de drogas.
Vinte anos
depois, os parcos resultados daquele encontro serão pinçados dos relatórios que
começam a ser apresentados.
O mundo vai
passar vergonha diante do mundo.
Nenhum dos
objetivos traçados em 1992 foi atingido. Nenhum.
Só uma visão
nihilista poderia afirmar que a ECO 92 não serviu para nada e que a Rio+20 é uma
perda de tempo e de dinheiro. Mas também seria uma ingenuidade juvenil dizer que
tanto um evento quanto o outro são ou serão responsáveis por algum avanço da
Humanidade.
A ECO 92
colaborou para a proliferação de ONGs e organismos voltados para o meio
ambiente. A própria consciência universal do eco-sistema tomou corpo e fez com
que parte das populações compreenda a responsabilidade pessoal e coletiva que
temos para com o mundo onde vivemos.
Pense numa
proposta para melhorar alguma coisa no planeta, a Rio+20 tem. Da equivalência
salarial da mulher, defendida pela ex-presidente do Chile Michele Bachelet, ao
buraco na ozonosfera existem propostas, várias propostas para cada tema.
Ninguém será
capaz de acompanhar todos os assuntos desse encontro, até mesmo porque muitos
serão simultâneos, nem nunca haverá tempo suficiente pra se ler todos os
relatórios.
Tem quem
proponha desde a extinção do capitalismo até a criação da bolsa poluição.
Uma feira
livre da criatividade e da dispersão humanas, uma prova cabal da nossa
incapacidade de sermos pragmáticos.
Um dos
pontos mais polêmicos será proposto pelo Brasil; a criação de um fundo mundial
de US$ 30 bilhões para ajudar o desenvolvimento sustentável dos países pobres,
assunto que os países ricos não querem nem ouvir falar pois estão mergulhados em
suas próprias crises, embora os membros do G20 tenham crescido 8% nos últimos
dois anos.
Aliás,
desenvolvimento sustentável e inclusão social são os dois pilares mestres desse
evento, expressões máximas das preocupações universais. Tudo deságua nestes dois
postulados. O grande nó dessa movimentação toda reside em dois fatores:
O primeiro é
quem quer salvar quem?
E o segundo
é quem quer salvar o que?
O pessoal do
BRICS (Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul) além de querer salvar a si mesmos quer salvar todos os
outros países em desenvolvimento criando mecanismos que os ajudem a crescer sem
ter que pagar o alto preço da degradação ambiental.
Os países
ricos querem salvar eles próprios transferindo o ônus ambiental para os mais
pobres.
O ponto
comum é que todos querem “salvar o
planeta”, hipocrisia de uns, ignorância de outros.
A grande
questão não é salvar o planeta. Ele não está nem nunca esteve em risco.
O planeta
está aí há bilhões de anos e vai
continuar por muitos outros bilhões. Quem acredita na ciência evolucionista de
Darwin em contraposição ao obscurantismo criacionista do século XIX sabe que na
era arqueozóica a terra era três vezes mais quente do que agora, bombardeada por
meteoros e foi quando surgiram as
primeiras células vivas.
Na era
proterozóica começou a se formar a camada de ozônio que permitiu as formas de
vida mais complexas, multicelulares. Na era paleozóica a Terra era um continente
único onde começaram a surgir os primeiro vertebrados anfíbios que iniciam o
processo de sair da água e a viver na Pangéia, quando se inicia o acúmulo de
oxigênio na litosfera. No final dessa era surgem as plantas primitivas e os
primeiros dinossauros e os insetos.
Já na era
mesozóica o planeta é dominado pelos dinossauros, surgem as primeiras flores e
os primeiros mamíferos.
Na era
cenozóica que começa a 65 milhões de anos e dura até hoje acontece a formação de
cadeias montanhosas e ocorre a extinção dos dinossauros e acontece também um
grande desenvolvimento das espécies de animais mamíferos, que se tornam maiores,
mais complexos e diversificados. Depois do término da migração dos continentes,
o planeta assume o formato atual.- Por volta de 3,9 milhões de anos atrás surge,
no continente
africano, o Australopithecus (espécie de hominídeo já extinta).
O surgimento
do homo sapiens ocorre por volta de
130 mil a 200 mil anos atrás.A espécie humana é a caçula do
planeta.
Vem era do
fogo, vai era do fogo, vem era do gelo, vai era do gelo e o planeta continua aí.
O que acontece hoje é que em nome do “salve o planeta” o que se quer, na
verdade, é salvar a própria pele.
O que está
em perigo não é o planeta mas sim a vida dos humanos que aqui habitam e que
optaram por um meio de existir absolutamente anacrônico e contraditório.
Se Deus, em
pessoa, baixasse no Maracanã no dia do final
da Copa e decidisse que o mundo seria justo e igualitário, que todos
passariam a ter direito ao ideal de modo americano de viver, ou seja, três
refeições por dia, uma casa própria, um automóvel e o os seus eletrodomésticos,
nada disso aconteceria, mesmo com a decisão Dele. Não existe no mundo alimentos
ou matéria prima para se fazer cumprir essa ordem divina. É
impossível.
Portanto, o
que está na verdade em discussão são os modos de produção e consumo adotados
pelas sociedades ditas modernas.
No meio dos
salves as baleias, os rios, os oceanos, os micos-dourados, as araras-azuis, as
florestas, os peixes-anãos e as quase-virgens, o que se tem que salvar é a
Humanidade, essa espécie predadora que ocupa o alto da cadeia alimentar e que
faz tempo anda comendo uns aos outros.
As medidas
paliativas a serem propostas durante a Rio+20 serão inúteis e ineficazes. A
questão é estrutural. Daqui a 20 anos vamos voltar ao Riocentro e constatar que
tudo está igual a 20 anos atrás, como na ECO 92, ou pior.
A Rio+20 é
uma operação de guerra contra o futuro incerto e ameaçado do planeta Terra,
invadido pelo medo de que tudo que é sólido se desmanche no ar e que tenhamos
que viver entre os escombros de uma civilização que nós mesmos desconstruímos.
O filósofo
alemão Friederich Wilhelm
Nietzche (1844-1900) costumava dizer que a Humanidade
era aquele “bolor” que vive numa crosta de 2 mil quilômetros de altura
em volta da
Terra. Basta o planeta dar uma sacudidela mais forte para
estirpar essa espécie daninha que até agora nem Deus foi capaz de salvar.
Haja o que
houver, o planeta vai continuar, vai estar aí, Com ou sem a Green Economy.
Vivemos em
pecado eterno do consumismo,da usura e do lucro por todos os saecula saeculorum,
amém.
(Comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirEu diria que o Zoroastro tem e não tem razão.
Tem razão quando desdenha da Rio + 20, que mais não fará senão implantar a Economia Verde, que também pode ser chamada de neoliberalismo reloaded. Uma armadilha que as esquerdas do mundo já denunciaram em todas as suas nuances.
Ele não tem razão ao jogar nas mãos desse tal javeh-deus uma solução inexistente. Enquanto houver sociedade de classes dominada pela burguesia haverá todos os problemas que a matéria cita e mais um monte. O resto é paliativo.
Por fim, eu, já cansada da maldade humana, quero mais é que o ser humano se autodestrua. Como na série Missão Impossível, a antiga, dos anos 1960: assim como a fita consome a si mesma, a humanidade vai se consumindo. Que essa tortura termine logo, por favor. Quanto antes, melhor.
Baby Siqueira Abrão