12/6/2012, *Alexis
Tsipras, Financial Times, Londres
Traduzidopelo pessoal da Vila Vudu
Alexis Tsipras |
Para que não reste qualquer
dúvida: nosso movimento – Syriza – compromete-se a manter a Grécia na eurozona.
O presidente Barack Obama acertou,
quando disse, 6ª-feira passada: “Agora,
faremos todo o possível para crescer, ao mesmo tempo em que nos engajamos num
plano de longo prazo para estabilizar nossa dívida e nossos déficits, e
começamos a forçá-los para baixo, de modo sensível, continuado”. O mesmo se
aplica à Grécia. A necessidade de dar à Grécia uma chance de crescimento real e
um novo futuro é hoje mais amplamente reconhecida do que jamais antes.
Creio firmemente que receberemos
um claro aval democrático do povo da República Helênica, no próximo domingo. Com
esse aval, entraremos em ação imediatamente para por fim à corrupção e às
ineficiências dos sistemas político e regulatórios que devastam nossa economia
há décadas. O povo grego também espera que assumamos imediatamente plena
responsabilidade por tirar o país da crescente crise humanitária que nos assola.
A Coalizão Syriza é hoje, na
Grécia, o único movimento político que pode oferecer estabilidade econômica,
social e política ao nosso país. A estabilização da Grécia, no curto prazo,
trará benefícios para a Eurozona, num momento crítico na evolução da moeda
única. Se não alterarmos nosso rumo, a austeridade, ela sim, acabará por nos
jogar para fora do euro.
Coalizão Syriza - Logo |
Só a Coalizão Syriza pode garantir
a estabilidade grega, porque não temos de carregar a pesada carga política dos
partidos do establishment que
arrastaram a Grécia até a beira da ruína. Por isso os eleitores apoiam nosso
compromisso de salvar nosso país da destruição. Veremos a Grécia seguir nova
trilha rumo ao desenvolvimento, com governo transparente. Uma Grécia renovada
contribuirá para dar novas bases a uma Europa mais solidamente unificada. Os
acontecimentos do fim de semana na Espanha confirmam que a crise é pan-europeia,
e o modo como vem sendo conduzida até agora absolutamente não produziu qualquer
bom resultado.
O povo grego quer substituir o
fracassado Memorando de Entendimento (assinado em março com a União Europeia e o
FMI), por um “plano nacional para reconstrução e crescimento”. É indispensável
fazê-lo, para, simultaneamente, impedir que se alastre a crise humanitária na
Grécia e salvar a moeda comum.
Os problemas fiscais sistêmicos da
Grécia são, em larga parte, problema de não haver recursos públicos. Milhões em
isenções de impostos e renúncia fiscal concedidos por governos anteriores para
favorecer alguns interesses especiais, somados a impostos mal distribuídos sobre
a renda pessoal e o capital, explicam grande parte do problema. E os problemas
de arrecadação ineficiente explicam outra parte.
Segundo Eurostat, a Grécia está 4%
abaixo da média da eurozona na relação recursos públicos/PIB. O sistema político
bipartidário desperdiçou décadas ignorando, para sua conveniência, a grave
necessidade de promover reforma fiscal profunda e efetiva. Concentrou-se em
esforços para arrancar impostos de uma única fonte, limitada e exaurível: as
famílias de renda média e baixa.
Nos termos do nosso plano de
reconstrução e crescimento, a Coalizão Syriza compromete-se a seguir um programa
de estabilização fiscal pragmático e socialmente justo. A estrutura desse
programa implica estabilizar o gasto público em aproximadamente 44% do PIB e
reorientar os gastos públicos para que sejam socialmente mais justos; aumentar a
arrecadação com impostos diretos que acompanhem os níveis médios na Eurozona
(cerca de mais de 4% do PIB), num período de quatro anos; e reformar o regime de
impostos de modo a equalizar a riqueza e a renda de todos os cidadãos; e
distribuir equitativamente a carga tributária.
A Troika (FMI, BCE e CE) |
Continua a faltar transparência
financeira, mesmo que os bancos gregos sejam recapitalizados com empréstimos
recebidos da Troika (União Europeia,
Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu). Garantiremos que os
bancos viáveis sejam recapitalizados de modo transparente e compatível com o
interesse público. Só assim será possível garantir que todo o sistema financeiro
recupere plena estabilidade.
Arthur Miller escreveu que “uma
era pode ser considerada acabada, quando se esgotaram todas as suas ilusões
básicas”. A ilusão básica de bom governo na Grécia sob o antigo regime de dois
partido esgotou-se. O sistema velho é hoje absolutamente incapaz de assegurar
que a Grécia volte a crescer e possa integrar-se plenamente à Eurozona.
No domingo, começaremos a
construir novos tempos de crescimento e prosperidade. Segunda-feira, a Grécia
entra em uma nova era.
*O autor deste artigo é candidato a presidente da Grécia pela Coalizão Syriza, principal grupo da atual oposição grega.
- 8/5/2012, Helena Smith, The Guardian, UK (de Atenas) em: Crise na Eurozona: Esquerda grega rejeita plano de resgate
- 8/5/2012, Seumas Milne, The Guardian, UK em: Eleições na Europa: Se a esquerda não organizar a revolta contra a “austeridade”...
- 15/5/2012, James Meadway, New Economics Forum em: Grécia: o fim da linha da “austeridade”
- 16/5/2012, Richard Gott, The Guardian, UK em: “Hugo Chávez dá lição de economia política à Europa”
- 19/5/2012, Yorgos Mitralias Γιώργος Μητραλιάς – Rede Tlaxcala em: SYRIZA: o avanço magistral de uma experiência original de unidade
- 19/5/2012, Helena Smith - The Guardian, UK em: Alexis Tsipras: “Os povos estão em guerra contra o capitalismo”
- 21/5/2012 Luís Branco, Esquerda.net (Portugal) em: O que é a Syriza?
- 21/5/2012, Parti du Front de Gauche, Assembleia Nacional, Paris em: Alexis Tsipras, da Coalisão Syriza, Grécia, na França!
Leia
também
28/5/2012, Slavoj Žižek, London Review of Books (online) em: “A
Europa e os gregos: Deus nos salve dos salvadores!”
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