Laerte Braga |
Laerte
Braga
O
golpe sumário dado pelo Parlamento do Paraguai contra o presidente Fernando Lugo
tem a marca registrada da classe dominante naquele país. Latifundiários
associados a multinacionais, Forças Armadas corrompidas e cooptadas por
interesses de grandes corporações, bancos e os donos da
terra.
O
Paraguai jamais se recuperou da guerra contra o Brasil, a Argentina e o Uruguai
(1864/1870). O conflito foi estimulado pela Inglaterra, então maior potência do
mundo, em defesa de seus interesses econômicos.
O Paraguai era o país mais industrializado e socialmente desenvolvido da América Latina. Não dependia de países da Europa, tinha uma indústria têxtil competitiva e era um dos grandes exportadores de mate, além de exportar manufaturados em ferro fundido (Fundición de Hierro Ybycui) e outros manufaturados para países vizinhos e Europa, concorrendo com o império britânico. [1]
O Paraguai era o país mais industrializado e socialmente desenvolvido da América Latina. Não dependia de países da Europa, tinha uma indústria têxtil competitiva e era um dos grandes exportadores de mate, além de exportar manufaturados em ferro fundido (Fundición de Hierro Ybycui) e outros manufaturados para países vizinhos e Europa, concorrendo com o império britânico. [1]
O
capital para a guerra foi dos ingleses e, em meio ao conflito é que,
praticamente, se construíram as forças armadas brasileiras, inteiramente
despreparadas para um confronto de tal envergadura. Nos primeiros anos da guerra
os soldados brasileiros passavam fome e os armamentos eram mínimos,
insuficientes para o genocídio que viria mais à frente. Foi a consequência
inicial da avidez do governo imperial brasileiro de aceitar as libras inglesas.
[2]
Os
países que formaram a chamada Tríplice Aliança, numa selvageria sem tamanho,
mataram 70% da população paraguaia e até hoje a maioria acentuada entre os que
nascem naquele país é de homens.
De
lá para cá o Paraguai tem sido governado por ditadores, numa sucessão de golpes
de estados e o breve período “democrático” que se seguiu à deposição do último
general, Alfredo Stroessner (morreu exilado no Brasil; era capacho da ditadura
militar brasileira), encerra-se agora com a deposição branca de Fernando Lugo.
Um ex-bispo católico, conhecido como o “bispo dos pobres”. O mandato de Lugo
terminaria no próximo ano. O vice-presidente é do Partido Liberal, aquele jogo
político de amigos e inimigos cordiais, onde os donos se revezam no
poder.
O
pretexto para a deposição de Lugo foi um massacre de trabalhadores rurais sem
terra, numa região próxima à fronteira com o Brasil. Morreram manifestantes e
integrantes das forças de repressão. De lá para cá Lugo enfrenta um
inferno.
Latifundiários
brasileiros, a classe dominante paraguaia – subordinada a interesses do Brasil e
de corporações internacionais – se uniram contra Lugo e o apoio de empresas como
a MONSANTO, a DOW CHEMICAL. o silêncio formal e proposital dos EUA, todos esses
ingredientes foram misturados e transformados em golpe de
estado.
Tal
e qual aconteceu em Honduras contra Manoel
Zelaya. A nova “fórmula” para golpes de estado na América
Latina. A farsa democrática, o rito constitucional transformado em instrumento
golpista na falta de pudor da classe dominante. No caso do Paraguai, como no de
Honduras, miquinhos amestrados do capitalismo
internacional.
A
elite paraguaia jamais permitiu ao longo desses anos todos, desde 1870, que o
país se colocasse de pé novamente. Tem sido um apêndice de interesses políticos
e econômicos de corporações estrangeiras e do sub-imperialismo brasileiro.
Carregam as malas dos donos enquanto submetem os trabalhadores a um regime
desumano e cruel que não mudou e nem vai mudar enquanto não houver resistência
efetiva e nas ruas contra esse tipo de procedimento, contra essa subserviência
corrupta e golpista.
E
cumplicidade de governos vizinhos. Mesmo que por omissão, ou fingir que faz
alguma coisa.
E
necessária a consciência dos governos de países como o Brasil que situações de
golpe são inaceitáveis. Que a integração latino americana é fundamental e se faz
com democracia e participação popular.
Fernando
Lugo cometeu erros. O maior deles o de acreditar que era possível governar o
país com grupos da direita. As políticas de conciliação onde a elite é
implacável e medieval, as forças armadas são agentes – em sua maioria esmagadora
– de interesses contrários aos nacionais e as forças populares sistematicamente
encurraladas pela violência e barbárie.
Ou
se percebe que o golpe contra Lugo é um golpe contra toda a América Latina, ou
breve situações semelhantes em outros países. Por trás de
tudo isso, em maior ou menor escala, mas de forma direta os EUA e o que
significam no mundo de hoje.
No
que o presidente do Irã, Mahamoud Ahmadinejad chama de colonizadores. No ano
2000 o economista César Benjamin, numa palestra na cidade mineira de Juiz de
Fora espantou os ouvintes ao dizer que “o século XIX foi o dos grandes impérios
colonizadores, o século XX o do fim do colonialismo, o século XXI vai assistir a
um novo ciclo de colonização de países periféricos às grandes
potências”.
A
previsão está se confirmando.
O
secretário geral da UNASUL, Ali
Rodriguez disse em entrevista a vários jornalistas que “o Paraguai
pode estar em meio a golpe de Estado devido à rapidez do julgamento político do
presidente do país, Fernando Lugo” e mostrou-se preocupado com um possível
“processo de violência; tudo indica que uma decisão já foi tomada e que pela
rapidez com a qual os eventos estão acontecendo, poderíamos estar perante um
golpe de Estado”.
Basta
que países como o Brasil e a Argentina, por exemplo, asfixiem econômica e
politicamente o novo governo para que ele não se sustente. Depende da vontade
política de um e outro de manter a democracia no Paraguai, mesmo frágil, de
pé.
A
classe dominante paraguaia nunca deu muita importância a isso, pois sempre
consegue espaço para se acomodar e continuar a transformação do país em uma
espécie de vagão a reboque principalmente do Brasil. Desde o fim da guerra, em
1870 tem sido assim.
Fernando
Lugo foi acusado, entre as farsas várias, de humilhar as forças armadas
(existem, ou são esbirros do capitalismo?) e colocar-se ao lado dos
trabalhadores sem terra.
É
o velho e boçal latifúndio que no Paraguai é a força econômica mais
poderosa.
Os
protestos populares acontecem próximo ao Parlamento, mas já com forças policiais
prontas para massacrar e impedir qualquer reação.
É
preciso ir às ruas em toda a América Latina e
é fundamental asfixiar essa elite que cheira a esgoto.
Se
o governo brasileiro quiser não tem golpe que sobreviva. O problema é querer. A
preocupação hoje, no entanto, é de “consenso possível” (um fracasso na RIO+20) e
as eleições de outubro.
A
mídia de mercado – fétida também – no Brasil já desestimula qualquer atitude
mais forte do governo. Afirma que Lugo declarou que aceitará o “julgamento
político”. É mais uma das muitas e constantes mentiras padrão da
imprensa-de-mercado.
O
golpe no Paraguai fere o arremedo de democracia que sub-existe no Brasil e
outros países com o consentimento dos “poderes moderadores”. As elites políticas
e econômicas são as mesmas, arcaicas, podres e totalitárias. Quando querem
colocam as garras de fora.
Foi
o que fizeram com Lugo. O que querem fazer com Chávez. Com Evo Morales e outros
tantos.
E
no fim de tudo atribuir a culpa ao Irã.
__________________________
Notas da
redecastorphoto
[1] Ver em:
“Imagens
da Desordem – A Iconografia da Guerra do Paraguai”
[2] Ver em: Estante Virtual: Júlio José Chiavenato
[2] Ver em: Estante Virtual: Júlio José Chiavenato
Artigo enviado por Sílvio de Barros
Pinheiro
Excelente sítese desse momento negro, que estamos presenciando. Haveremos de lutar contra mais esse golpe contra a democracia.
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