Publicado
em 12/06/2012 por Mário Augusto
Jacobskind*
Na
Argentina, após intensa mobilização popular contra decisão do governador da
região do Chaco, Jorge Capitanich, foi suspensa a instalação de uma base militar
do Comando Sul dos Estados Unidos.
Um
fato chama a atenção, o total silêncio da mídia de mercado sobre o tema. Ou
seja, se não fossem os movimentos sociais, a base militar seria instalada sem
que a maioria do povo soubesse o que estava acontecendo em matéria de
envolvimento da Argentina com a nação do Norte que ainda acredita que o
continente latinoamericano não passa de um quintal ou pátio
traseiro.
A
história começou em setembro de 2010 quando o governador de Chaco autorizou a
instalação da base e em pronunciamento para uma delegação de parlamentares
estadunidenses disse em alto e bom som: “Defendo uma aliança estratégica com os
Estados Unidos e estou disposto a lutar por essa ideia”.
Na
verdade, políticos do gênero Capitanich existem aos borbotões por esta América
Latina e o melhor antídoto para evitar que prosperem é a mobilização, como
fizeram os argentinos no Chaco. O silêncio quase total da mídia de mercado sobre
o tema é sintomático.
Mas
todo cuidado é pouco, porque tanto o governo dos EUA como seus aliados na
América Latina não descansam e se utilizam de métodos sofisticados para
conseguir os objetivos. Ou seja, tentam enganar meio mundo com linguagem do
gênero altruísta.
No
caso do Chaco, a base militar foi apresentada inicialmente como “centro de ajuda
humanitária, de atenção a emergências ou de treinamento”. Como essa linguagem
dissimulada, os “altruistas” do Pentágono vão tentando conseguir os
objetivos.
Mas
a tentativa de enganar os argentinos foi abortada e se não fosse prejudicaria
não apenas o país anfitrião, como os vizinhos, inclusive os
brasileiros.
Enquanto
isso, no Chile, saudosistas dos tempos de torturas e assassinatos praticados por
um Estado terrorista decidiram fechar um teatro para homenagear nada mais nada
menos do que Augusto Pinochet, uma figura sanguinária que se equipara a
Calígula, Hitler, Mussolini e tantos outros criminosos do
gênero.
A
homenagem foi coordenada por militares da reserva que tinham comando durante
aqueles trágicos anos e cuja figura principal reverenciam onde for
possível.
A
Justiça chilena permitiu a realização da homenagem em nome do direito e da
democracia. Algo do gênero como se na Alemanha a justiça autorizasse neonazistas
a reverenciarem o patrono Adolf Hitler. Qual a diferença entre um e outro?
Os
chilenos saudosistas de um tempo de trevas se equiparam a alguns brasileiros do
gênero do capitão da reserva José Geraldo Pimentel, um dos organizadores de um
manifesto indecoroso exortando militares da ativa a ocultar documentos que
possam vir a ser requisitados pela Comissão da Verdade.
Nesse
sentido, o Ministério Público Militar (MPM) pediu que o Exército instale
Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar a criação de uma cartilha de
uma autodenominada Frente Nacional contra a Comissão da
Verdade.
Pimentel
comporta-se como um marginal e ainda por cima conclama os militares da ativa a
não informarem os locais em que foram enterrados os corpos de vítimas da
repressão política.
Além
das providências legais a serem adotadas pelas autoridades, outro antídoto
contra esta gente é a mobilização popular, do tipo como tem feito o Levante
Popular da Juventude esculachando torturadores e assassinos na porta de suas
residências.
Nesse
sentido, os ainda adeptos de Pinochet e os saudosistas da ditadura brasileira se
encontram ao longo da vida. Até porque, os militares que tinham comando naquela
época no Chile não esquecem do pleito de gratidão que nutrem aos companheiros de
farda brasileiros que colaboraram com o golpe de 11 de setembro de
1973.
Já
em
Washington, Robert Zöellick , presidente do Banco Mundial e que
deixará o cargo no fim do mês, confirmou sua presença no rol dos defensores do
enquadramento do continente latinoamericano aos interesses dos Estados
Unidos.
Como
os tempos hoje são distintos dos de 30 e 40 anos atrás, quando organismos
internacionais em conluio com sucessivos governos estadunidenses davam total
apoio a regimes de força, figuras como Zöellick saem em campo para combater o
governo bolivariano da Venezuela, de quebra Cuba e outros países que não aceitam
as regras estabelecidas por Washington.
Nesse
sentido, Robert Zöellick apenas está cumprindo um papel que lhe cabe no jogo da
tentativa de retomar a hegemonia em um continente que não aceita mais ser
considerado quintal ou pátio traseiro de quem quem quer que
seja.
E,
por fim, Zöellick em seus pronunciamentos ainda fala em defesa da democracia. Ou
seja, a mesma retórica utilizada por generais de plantão nos anos de
chumbo.
O
Rio entrou no clima de Rio + 20. O lobby da economia verde, uma estratégia
do capital que visa manter a hegemonia do setor com o papo verde, já está em
ação. Mas os movimentos sociais do Brasil e de várias partes do mundo que
estarão reunidos na Cúpula dos Povos estão alertas e não querem se enganados com
discursos e belas palavras, que não dão em nada ou apontam até para um
retrocesso ambiental sem tamanho.
O
ceticismo de alguns setores é tão grande que já tem gente mudando o nome de Rio
+ 20 por Rio – 20 ou Rio + 20 é igual a zero.
Os
Estados Unidos de antemão vetou o Irã, numa demonstração prática de que a única
saída defendida por Washington é que a crise se encerre com a vitória de um dos
lados, exatamente o dos mercenários que recebem seu apoio.
Mário Augusto Jakobskind* é correspondente no Brasil do semanário uruguaio
Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor
internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário
Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia,
Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE.
Enviado por Direto
da Redação
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