15/6/2012, Chris Woods, The Bureau of Investigative Journalism
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Chris Woods |
Em
movimento que está sendo apresentado como significativo, na direção de maior
transparência, o presidente Obama reconheceu oficialmente, pela primeira vez,
que estão em curso operações militares de combate dos EUA no Iêmen e na Somália,
até agora mantidas em segredo.
Nos
dois países, militares dos EUA vêm empreendendo operações de combate
crescentemente agressivas, já há alguns anos. Os ataques começaram na Somália,
em janeiro de 2007; e no Iêmen, em dezembro de 2009. Este Bureau de Jornalismo
Investigativo monitora as operações nos dois países. Nossos dados sugerem que,
nos dois países, até agora, houve cerca de 180 assaltos de guerra. Mas, até
agora, os EUA jamais admitiram a existência desses assaltos naqueles países.
Agora,
aparece uma repentina e inesperada admissão, em carta que o presidente Obama
enviou ao Congresso, na noite de 15 de junho – cumprindo dever de informar sobre
ações militares no exterior, que é parte dos deveres do presidente, nos termos
da Resolução dos Poderes de Guerra, aprovada pelo Congresso em 1973. Na carta, o
presidente Obama afinal admite que:
Na Somália, os militares dos EUA
trabalharam para conter a ameaça terrorista da al-Qa'ida e elementos associado à
al-Qaeda do grupo al-Shabaab. Em número limitado de caos, os militares dos EUA
empreenderam ação direta contra membros da al-Qaeda, incluídos aí os que também
são membros do grupo al-Shabaab, engajados em esforços para consumar ataques
terroristas contra os EUA e nossos interesses. [1]
E
sobre no Iêmen, afinal admite que:
Os
militares dos EUA também estão trabalhando bem próximos [orig. closely] do governo
do Iêmen para desmantelar operacionalmente e eliminar completamente a ameaça
terrorista da al-Qaeda na Península Arábica [orig. Al-Qa’ida in the Arabian
Peninsula (AQAP)], hoje o mais ativo e perigoso grupo afiliado à
al-Qaeda. Nossos esforços conjuntos resultaram em ação direta contra número
limitado de agentes da AQAP e altos líderes
naquele país que representavam ameaça aos EUA e nossos interesses.
General Martin Dempsey |
Antes,
detalhes como esses só apareciam no anexo confidencial dos relatórios e os
militares recusavam-se a confirmar ou negar que estivessem acontecendo ataques
militares nos dois países, posição que já se tornara bizarra, dado o vasto
noticiário, em outras partes do mundo, sobre aquelas operações.
O
Wall Street Journal comentou que parte do ímpeto para esse reconhecimento
parcial é resultado de decisão do general Martin Dempsey, comandante do
Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA.
Porta-voz
do general disse ao jornal que:
Quando
forças militares dos EUA estão envolvidas em combate em qualquer parte do mundo,
e a informação não crie risco de segurança nacional ou para as operações, o
general Dempsey entende que a opinião pública deva ser mantida adequadamente
informada.
Mas
o jornal observa também que “os mesmos
oficiais disseram que detalhes dos ataques militares no Iêmen e na Somália
permanecerão sob sigilo”.
A
confusão persiste
Este
Bureau de Jornalismo Investigativo é das raras organizações jornalísticas que
monitoram a atividade de guerra dos EUA naqueles dois países. Na Somália, entre
10 e 21 ataques de guerra conduzidos por forças dos EUA já deixaram 169 mortos.
E no Iêmen temos, confirmados, mais 106 ataques, com entre 317 e 879 mortos. Não
foi possível ainda fixar números mais precisos, porque o Pentágono não esclarece
se os ataques são comandados por forças dos EUA ou o Iêmen.
Míssil Cruise disparado de um navio (arte) |
Os
EUA sempre usaram vários tipos de recursos – ataques aéreos, bombardeio naval e
mísseis Cruise nos dois países. Em
2011, começaram a usar aviões-robôs tripulados à distância, os drones. A
CIA também opera frota própria de drones no Iêmen – operações que
permanecem sob sigilo total, absolutamente sem qualquer informação conhecida.
Obama em discurso no Pentágono |
A
inesperada fala de Obama é o mais recente de vários movimentos de seu governo na
direção de maior transparência. A admissão de mais dois cenários de guerra nos
quais os EUA já operam veio depois que 26 deputados e senadores dos EUA
escreveram ao presidente, manifestando graves preocupações sobre o programa
secreto de drones, que, de fato, o Congresso não sabe onde operam hoje,
pelo mundo. Os congressistas – entre os quais dois Republicanos –
escreveram:
As
implicações do uso de aviões-robôs tripulados à distância, drones, para a
segurança de nosso país, são profundas. Os drones são
embaixadores sem rosto que matam civis e, com frequência, são o único contato
direto com os norte-americanos, que as comunidades-alvos algum dia têm. Os drones podem gerar
profundo sentimento antiamericano, fácil de implantar-se e difícil de
erradicar-se.
[2]
Drone |
A
União Americana pelas Liberdades Civis [orig. The American Civil Liberties
Union], embora reconheça a importância de Obama quebrar, pelo menos em
parte, o sigilo que cerca as operações de guerra no Iêmen e na Somália, quer
saber mais:
A
opinião pública tem direito a informação mais completa sobre os padrões adotados
e os processos pelos quais a ação dos drones contribui
para acrescentar nomes e mais nomes na “lista de pessoas a serem assassinadas”
[orig. kill
list] e os fatos nos quais se baseiam para justificar os assassinatos
predefinidos.
Steve
Aftergood, da Federação de Cientistas dos EUA, disse ao New York Times
que,
Embora
seja bem-vindo qualquer movimento contra a paranoia do segredo, não houve, de
fato, qualquer novidade. A era das guerras secretas acabou. Jamais houve
qualquer segredo sobre os ataques mortíferos dos drones dos EUA em
várias partes do mundo. Basta perguntar aos sobreviventes ou à família dos
mortos.
Notas dos
tradutores
[1] 15/6/2012, White House - carta pode ser lida na
íntegra em: “Presidential
Letter -- 2012 War Powers Resolution 6-Month Report” (em
inglês).
[2] 12/6/2012, Congress of the
United States na íntegra, em: “Letter
on drone strikes” (assinam vários deputados).
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