29/6/2012, M K
Bhadrakumar*, Indian
Punchline blog
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Leia
também:
- 16/6/2012, redecastorphoto, MK Bhadrakumar, em: “O estranho relacionamento entre os EUA e os BRICS: “Obama telefona para a Índia, na calada da noite”
- 17/6/2012, redecastorphoto, Charles Gray, em: “Sanções dos EUA são ameaça mais grave que o Irã”
Hillary Clinton |
A coisa ‘tá feia. Os chamados
“dividendos da Guerra Fria” parecem passado longínquo. A secretária de Estado
dos EUA, Hillary Clinton, ao que se sabe, prepara-se para um confronto “cara a
cara”
[1] com seu
contraparte russo, Sergey Lavrov, já iniciada a contagem regressiva para a
conferência internacional patrocinada pela ONU, a acontecer em Genebra, no
sábado. Clinton vai a São Petersburgo, a caminho de Genebra, para o
confronto-cara-a-cara mãe de todos os confrontos-cara-a-cara da era pós-Guerra
Fria.
Ótimo que Clinton tenha deixado
serviço pronto – um “alvará” cômico – em Washington; antes de partir. Clinton
decidiu, com muito aplomb, recomendar que o Congresso dos EUA conceda
“alvará” [2] à China, na
questão das sanções contra o Irã. Para essa sua “determinação”, Clinton
considerou que a China “reduziu significativamente” as importações de petróleo
iraniano. Só não se sabe como a secretária Clinton teria chegado a conclusão tão
intrigante, que a teria levado à tal “determinação”. Mistério. Boca fechada.
O
que importa anotar é que Washington está tirando o corpo, escapando como pode,
de um confronto cara-a-cara com Pequim. A vida, às vezes, é muito simples:
ninguém morde a mão que o alimenta. A última coisa que os EUA querem é guerra
comercial com a China.
Os
EUA insistiram o mais que puderam, com a China, sobre as sanções contra o Irã.
Os mais altos funcionários do governo Obama, inclusive o Secretário de Tesouro,
Timothy Geithner, viajaram a Pequim, tentando defender a causa. A China
ignorou-os todos. Insistiu que só respeita sanções determinadas pela ONU. O
ministro chinês das Relações Exteriores repetiu, ainda semana passada, que as
compras de petróleo iraniano são “legítimas”.
E
o que dizem os fatos? Dizem que, sim, nos primeiros meses do ano, as compras
russas de petróleo iraniano diminuíram, por causa de uma disputa de preços (que,
em seguida, foi resolvida).
Os
fatos dizem também que as compras russas de petróleo iraniano, isso sim,
aumentaram cerca de 40%, a partir de abril: chegam hoje a mais de meio milhão de
barris/dia. Os especialistas preveem que as importações chinesas subirão ainda
mais, nos meses de junho e julho.
Mas
os EUA preferem fingir que não estão vendo. Nesse episódio bizarro, há boa
lição, que a Índia bem faria se aprendesse.
Os
especialistas indianos não têm motivo algum para rolar pelo chão em pânico,
sofrendo preventivamente as penas do inferno, ante o risco de os EUA
amaldiçoarem a Índia por causa da questão iraniana. Os EUA não podem dispensar o
mercado indiano – sobretudo pelos altos lucros gerados pelas exportações de
armas dos EUA para a Índia. Na Índia, os fabricantes norte-americanos de armas
sequer participam de concorrências oficiais!
O
fato de que há hoje um ex-secretário de Estado dos EUA acampado em Delhi para
defender a causa de Wal-Mart mostra
bem de que lado sopra o vento. Em que outro lugar do mundo a indústria Wal-Mart poderia sonhar com abocanhar um
mercado de $430 bilhões e mantê-lo abocanhado até o final do século 21?
O
“alvará” para que a Índia continue a importar petróleo iraniano (já anunciada em
Washington na véspera do Diálogo Estratégico EUA-Índia) foi favor que Washington
quis assegurar-se, ela mesma para ela mesma, no exclusivo interesse de
Washington.
Notas
de rodapé
[1] 29/6/2012, Washington
Post, Associated Press em: “Clinton,
Lavrov set for showdown over Syria ahead of international conference on
transition”
[2] 28/6/2012, US Departamentt of State, Hillary Rodham Clinton em: “Regarding
Significant Reductions of Iranian Crude Oil
Purchases”
MK
Bhadrakumar* foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve
sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais The
Hindu, Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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