Publicado em 21/06/2012 por
Urariano
Motta *
Recife (PE) - Eu sempre soube que
escrever com liberdade trazia riscos. Mas jamais poderia imaginar que alguns
artigos escritos pudessem, mais de 5 meses depois, ser atualizados com assaltos
em massa de insultos e ameaças. Assim foi com “Planos
de Saúde versus
Anestesistas” em dois textos, e a tal ponto, que levou Eliakim
Araújo a estampar o aviso esta semana:
“Tendo em vista o tom agressivo, e
até ameaçador ao colunista, determinei que só sejam postados os comentários que
contenham argumentos e informações concretas que ajudem no esclarecimento do
assunto objeto da presente coluna. Editor do Direto da
Redação”.
E por quê? Em 5 de janeiro deste
ano, com base em exemplos vivos da Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas -
PE, eu chamei a atenção para que os anestesistas haviam transformado a dor do
povo em monopólio de mercado. E resumia: os planos de saúde alegam que não podem
pagar os preços arbitrados pelos anestesistas. Estes, por sua vez, não levantam
a voz, atacam de surpresa os responsáveis pelos pacientes na hora da cirurgia.
Nesse cabo de guerra, o grande público é a corda. Ou melhor, os seus órgãos
vivos é que são a corda. Puxados pelos anestesiologistas, que têm o domínio do
sofrimento.
Este é o livre mercado, amigos.
E sugeria então ao leitor a
escolha, de se ele queria ser operado com ou sem dor. Assim foi em 5 de janeiro.
E para quê, amigos? Olhem o que o artigo colheu, em lugar de uma crítica
racional, civilizada, 5 meses depois:
Só lhe desejo que quando precisar
dos cuidados de um anestesiologista, o sr. seja atendido por um que se contente
em receber 50 reais ou menos por um procedimento. E reze meu amigo, pois você
vai precisar!!!!
Sugiro que primeiro aprenda que
anestesiar não é injetar remédio contra a dor. É te manter vivo e confortável
enquanto vão te rachar no meio. Quanto isso vale?
Quanto aos anestesistas, eles
cuidam para que você esteja mais perto da morte como nunca esteve, e o trazem de
volta.
Aos que choram o preço que
reflitam quanto vale o seu ente mais querido ser cuidado a que horas for de modo
intensivo e individual por um médico formado ao longo de no mínimo 9 anos. 1500
reais? E se sua mulher morresse, quanto pedirias de indenização: 200mil? Quanto
pagarias de advogado, cujo honorário é também livre: 20 ou 50mil? Saiu até
barato !
Precisa ser operado? Quer um
profissional com 10 anos de formação, passado em inúmeros concursos, e que
procura estar atualizado, para cuidar da parte mais misteriosa da vida e usando
a maior invenção da história da humanidade que é permitir o corpo tolerar uma
cirurgia e voltar igualzinho chegou? Tem sim valor.
Notem que por trás dessas
agressões ocorre uma raiz de classe. Médicos, de modo geral, não se formam para
servir ao povo. Eles se formam para ascender socialmente, ou para cravar com
mais bisturis e costuras a posição da família em uma sociedade de classes.
Nas mensagens ou avisos do meu fim
recebidos, percebe-se que anestesistas exercem suas profissões para “recuperar”
o investimento: mais de nove anos de tenebrosos estudos! Quanto sofrimento,
quanto amor a uma vocação. Isso tem um custo. Como recuperar tal sacrifício? É
natural que seja então no corpo do paciente, o elo mais frágil da
cadeia.
É claro, ninguém pode ser contra
cooperativas de médicos, como em relação a qualquer categoria. No entanto, seria
melhor que se formassem para, num protesto contra os planos de saúde
empresarial, a cobrança do serviço – pois que é um serviço, ainda que nobre,
digamos – fosse feita conforme as condições populares. Ah, que proposta! Aí, em
vez de ai, aí com acento agudo no i, se perderiam mais de 9 anos de torturante
estudo e o consequente direito universal, para os médicos, da posse de um bom
apartamento, conforto e viagens aos paraísos de compras. Ah, desse modo não
seria mais possível a nobilíssima função da anestesia.
Enfim, que o Ministério Público se
manifeste, é a conclusão parcial deste artigo. Faço minha, faço nossa a proposta
de um comentário de um paciente leitor:
Nós queremos que os legisladores
ou a justiça interfiram nesta questão e definam uma regra definitiva para este
impasse que está prejudicando o usuário. E se depois disto houver algum tipo de
resistência, que se puna por exemplo o profissional cassando-lhe o direito de
clinicar ou retirando o direito de trabalhar no INSS, pois lá eles aceitam
trabalhar ganhando menos.
E que Deus nos salve e ajude,
enquanto a consciência popular não exigir uma nova ordem.
Enviado por Direto
da Redação
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