Sayyed Hasan Nasrallah |
7/2/2011, Al-Manar TV
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
O secretário-geral do Hezbollah Sayyed Hasan Nasrallah anunciou agora, há alguns minutos, seu apoio ao povo egípcio e tunisiano, que se rebelam contra os respectivos governos ditatoriais. Sua Eminência destacou que se assiste hoje a uma revolução verdadeira e patriótica no Egito.
Sayyed Nasrallah disse que crê que a vitória do povo egípcio mudará a face da Região. “Em nome do Hezbollah e de todos os partidos de resistência, aqui estamos para nos por a serviço do povo egípcio” – disse Sua Eminência, pela televisão.
Sayyed Nasrallah falou por televisão, ao final de uma manifestação em solidariedade ao povo egípcio, organizada por partidos políticos e figuras de destaque no Líbano, reunidos na praça Ghobeiry, em Beirute. A manifestação foi convocada sob as bandeiras de “Apoio à revolução popular egípcia, contra o regime de Camp David” e “Em apoio à identidade árabe do Egito”.
A demora para falar não implica nem hesitação nem confusão
Sua Eminência iniciou sua fala pedindo desculpas a egípcios e tunisianos por ter demorado a manifestar seu apoio, demora que não implica nem hesitação nem confusão. “Depois de toda a experiência que acumulamos, resistindo aos esquemas norte-americanos-sionistas no Líbano e na Região, não deixaríamos de nos manifestar quando a disputa acontece entre opressor e oprimido, entre o certo e o errado” – disse Sayyed Nasrallah.
Sayyed Nasrallah enfatizou que seu partido e outros partidos nacionais libaneses decidiram esperar até ter certeza de que o apoio que oferecessem aos patriotas egípcios não seria usado contra eles, sob forma de acusação de que estariam sendo influenciados ‘de fora’. “Entendemos que, se manifestássemos nossa solidariedade no primeiro momento, os sionistas diriam que a revolução egípcia teria sido motivada por ‘células’ do Hezbollah ou do Hamás ou, mesmo, pelos Guardas Revolucionários do Irã. E o movimento real, original e patriótico dos egípcios seria acusado de obedecer a alguma ‘agenda’ estrangeira.”
Já tivemos dolorosas experiências na resistência contra a ditadura egípcia
O secretário-geral do Hezbollah lembrou que o Partido da Resistência passou por dolorosa experiência na resistência contra a ditadura egípcia, quando um membro do Hezbollah foi preso, acusado de cooperar com alguns jovens egípcios e palestinos, no esforço para ajudar os palestinos de Gaza. “Um de nossos irmãos foi preso numa operação logística, de apoio à Resistência em Gaza. Foi o que bastou para que fôssemos acusados de manter uma célula que operaria para derrubar o regime de Mubarak, como se nos interessasse converter todos os egípcios em xiitas”, disse Sua Eminência. “Por tudo isso, decidimos adiar por alguns dias nossa manifestação de apoio, por respeito aos egípcios, acolhendo conselho que recebemos de amigos egípcios.”
Assistimos hoje a uma revolução verdadeira e patriótica
O secretário-geral do Hezbollah declarou-se solidário à nação egípcia em sua revolução patriótica contra o regime atual. “Umas das faces de nosso apoio a essa grande revolução, revolução histórica, é defendê-la; e defender implica respeitar sempre a verdadeira imagem do que se defende” – disse Sua Eminência.
Para Sayyed Nasrallah, assistimos hoje a uma revolução popular real, verdadeira e patriótica, da qual participam muçulmanos e cristãos, além de vários movimentos de intelectuais e de nacionalistas islâmicos. “Nessa revolução, todos os egípcios estão ativos, crianças, mulheres, homens, intelectuais, professores, trabalhadores. Mas a maior força, o elemento mais potente nessa revolução ainda é a nova geração, os jovens. Por isso se vê que estamos diante de uma revolução completa.”
As acusações de que a revolução segue alguma ‘agenda externa’ cairão
“O próprio povo está na rua, protestando, oferecendo seus mártires à revolução. O povo decidirá o que quer, que sistema haverá no Egito, que soluções se adotarão. Todas as acusações de que a revolução seguiria alguma ‘agenda externa’ cairão, desmascaradas, ante o desejo potente do valente povo egípcio” – disse Nasrallah.
O Egito vive completa intifada humanitária e política
O secretário-geral do Hezbollah comparou o conteúdo da revolução egípcia e a Intifada. “É revolução dos pobres, revolução por liberdade e democracia, uma Intifada política, relacionada às políticas exteriores do atual regime, tanto quanto à posição do Egito na Região?” – perguntou Sua Eminência.
Sayyed Nasrallah chamou a atenção para diferentes interpretações da Revolução, quando cada lado quer tomar os fatos numa determinada linha de interpretação. “Por exemplo, Israel e os aliados dos EUA querem convencer o mundo de que o que se passa no Egito nada é além de revolução humanitária”.
“Mas a verdade já está claramente declarada pelos próprios manifestantes, com seus cartazes, seus slogans, seu sangue, sorrisos, posições, coragem, sua loucura. Claro que dizem que sua revolução é tudo isso. Estamos, isso sim, ante uma completa revolução feita pelos pobres, pelos livres, pelos estudantes, pelos que buscam a liberdade, as pessoas que rejeitaram o servilismo aos planos de norte-americanos e israelenses. Estamos ante uma revolução humanitária, social e política contra tudo, contra a opressão e a corrupção, mas também contra as políticas que cercam o conflito entre Israel e os árabes.”
É insulto pretender que a revolução egípcia seria controlada ‘de fora’
Sayyed Nasrallah disse que a acusação mais grave que se fez contra a revolução no Egito, e que se fez também contra a revolução na Tunísia, é a de que seria produto norte-americano, que o aparelho de inteligência dos EUA teria induzido os jovens e os teria incitado à revolta contra a atual ditadura.
“É insulto, e insulto grave, aos jovens da Tunísia e do Egito, pretender que sua revolução seria dirigida pelos EUA” – disse Sua Eminência. “Difícil acreditar que os EUA encontrariam tal aliado, disposto a lutar dia e noite para proteger interesses de Washington na Região. Isso não acontece, nunca aconteceu, não acontecerá.”
Sayyed Nasrallah lembrou que a mesma retórica já foi ouvida em 1979 durante a grande revolução islâmica no Irã, quando o Imã Khomeini foi acusado de ser agente da CIA. “A verdade, que a vitória revelou ao mundo, com os dias, as décadas, é que o Imã Khomeini sempre foi leal às aspirações de seu povo, e jamais foi aliado dos EUA”.
“O mesmo acontece hoje, na Tunísia e no Egito”.
Os EUA tentam conter a revolução
“Os EUA procuram apresentar-se como defensores das nações e de seus direitos, seus desejos, sua liberdade. Aí está a maior ameaça que pesa sobre os povos. Todos os povos e nações revolucionárias e todos os movimentos de resistência na Região devem manter-se alerta contra essa ameaça.”
Sua Eminência destacou que há estudos norte-americanos que mostram que a vasta maioria dos povos no mundo árabe rejeita as políticas dos EUA por motivos óbvios e bem conhecidos, como a adesão cega dos EUA ao projeto israelense e suas guerras, desde o estabelecimento da entidade sionista, além de os EUA sempre terem apoiado as ditaduras na Região, de fazerem guerras criminosas no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão. “Estudos norte-americanos mostram também que estão acontecendo mudanças importantes na Região. Os EUA já sabem que os regimes seus aliados não conseguirão resistir à pressão popular, das massas já cansadas das políticas norte-americanas.”
Para os EUA, não faz diferença que o poder passe para mãos de governos islâmicos ou seculares
Sayyed Nasrallah disse que o governo dos EUA está obrigado a manter posição indefinida na disputa sangrenta que se trava na Região, porque sabe que o resultado da disputa afetará os próprios EUA e seus aliados. “Para os EUA, não faz diferença que o poder passe para mãos de governos islâmicos ou seculares. Eles não têm poder de veto e só se preocupam com seus interesses e com os interesses de Israel. Sejam quais forem as novas forças que se configurarem na Região, aos EUA só interessa que se preservem os interesses dos EUA e de Israel.”
Sua Eminência destacou que o povo egípcio deve manter clara consciência sobre os efeitos que sua revolução terão no mundo e na Região, e tratar de entender com clareza a confusão que reina hoje nos EUA e entre seus aliados.
Israel trabalha dia e noite para evitar a queda do regime
O secretário-geral do Hezbollah falou então da grande preocupação e do medo que reinam em Israel, depois de 14 dias de levante popular no Egito, e conclamou todos a que prestem atenção a mudanças nas estratégias nacionais de segurança.
“Israel trabalha dia e noite para impedir a queda do governo Mubarak no Egito” – disse Sua Eminência. “Israel está assistindo à queda de seu último aliado no Oriente Médio. Ainda não estamos julgando o governo egípcio e os serviços estratégicos que prestaram a Israel, desde os acordos de Camp David” – disse o secretário-geral do Hezbollah. “Por hora, apenas chamamos atenção para o pânico que reina em Israel.”
“Estamos diante de uma cena bem clara: há em Israel um governo que trabalha dia e noite para manter no poder o governo que o povo egípcio quer derrubar. De que lado estamos e sempre estaremos: do lado de Israel, defendendo o governo Mubarak, ou do lado do povo egípcio que quer derrubar o governo Mubarak?”
A juventude egípcia combate para defender a dignidade dos árabes
“Não interferiremos em assuntos internos do Egito. Os egípcios e só eles decidirão o que fazer. Mas como amigos e irmãos, aqui estamos para manifestar nossa certeza de que o movimento dos egípcios é enorme. Cremos no sucesso dos egípcios e cremos que esse sucesso mudará a face de nossa Região, com vantagem para os povos que aqui vivem” – disse Sayyed Nasrallah, falando aos egípcios e seus jovens.
“Hoje, a juventude do Egito combate para defender a dignidade dos árabes, depois de anos de humilhação por governos submissos aos EUA. A ação dos jovens egípcios é tão importante quanto a vitória da Resistência na guerra de julho de 2006” .
Queríamos poder estar com vocês na Praça Tahrir
“Queríamos poder estar com vocês e com o Egito na Praça Tahrir” – disse Sayyed Nasrallah na conclusão de sua fala, manifestando a certeza de que os egípcios alcançarão a mudança a que aspiram e devolverão o Egito à posição histórica avançada que sempre ocupou.
Em nome do Partido da Resistência e de outras forças da resistência, Sua Eminência pôs todas as suas capacidades e competências a serviço dos jovens egípcios.
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Comentário:
Nasrallah na Al-Arabiyyah TV
7/2/2011, The Angry Arab - Posted by As'ad
Hasan Nasrallah acaba de falar em apoio aos manifestantes egípcios. Nada de muito novo, no discurso: por um lado, quis manifestar apoio aos manifestantes, mas, por outro, não quis dar munição à propaganda de Mubarak sobre “influências externas” (o regime tem atribuído as manifestações a uma conspiração de EUA, Mossad, Hamás, Irã e Hezbollah).
O que mais me surpreendeu, de fato, foi a fala ter sido transmitida pela rede Al-Arabiyyah TV (a nova estação de televisão do cunhado do rei Fahd, que cumpre seu destino e transmite, 24 horas por dia, exclusivamente, propaganda pró-Mubarak) e, além do mais, ao vivo: não há dúvida que tentavam oferecer munição à propaganda pró-Mubarak.
Caro Castor
ResponderExcluirGostei do blogue já esta nos meus favoritos.
Quanto ao Egito, o super ultra direitista, capitão américa, já não faz mais sucesso.
Saudações