Faraó Abdel Fattah al Sisi (charge de Dessis) |
Publicado
em 20/08/2013 por Mário Augusto Jakobskind*
Há
muita hipocrisia por parte do governo Barack Obama ao criticar o banho de sangue
provocado pelo Exército egípcio contra adeptos da Irmandade Muçulmana. O
Presidente estadunidense anunciou a suspensão de manobras conjuntas com
militares egípcios, mas não cortou a ajuda anual de 1,3 bilhão de dólares,
embora setores do establishment tenham sugerido a medida.
Cortar
a ajuda anual significa também prejuízo para o complexo industrial militar
estadunidense, uma vez que com o dinheiro recebido o Egito adquire no próprio
Estados Unidos seu material bélico. E, diga-se de passagem, uma cifra nada
desprezível. Por isso seria bastante incômodo para Obama cortar a
ajuda.
Mas
de qualquer forma, se a pressão for grande, Washington aciona a Arábia Saudita
e o Qatar de forma que os militares egípcios e o complexo industrial militar não
tenham prejuízo.
Para
quem não sabe, desde 1987, o investimento financeiro e militar norte-americano
ao aliado árabe totalizou $66 bilhões. Tem mais, todo ano mais de 500 oficiais
egípcios participam de algum curso militar em alguma academia
estadunidense.
O
comandante da Defesa Nacional egípcia, general Abdel Fattah al-Sisi (foto) se
formou na Academia de Guerra dos EUA, na Pensilvânia, o mesmo acontecendo com o
comandante da Força Aérea, Reda Mahmoud. Eles que comandaram o golpe que
derrubou o Presidente Mohamed Mursi.
São,
portanto, vínculos estreitos que não podem ser desconhecidos quando se tenta
entender os acontecimentos no Egito.
Imaginava-se
que a chamada Primavera Árabe, que acabou virando inverno glacial, conduzisse o
maior país árabe a novos tempos. Foi eleito o candidato da Irmandade Muçulmana,
Mohamed Mursi, que teve o sinal verde de Washington, mas acabou derrubado por um
golpe militar depois de intensas mobilizações populares que não aceitavam mais
as imposições do governo.
Em
vez de governar para todos, Mursi priorizou o seu grupo islâmico querendo impor
inclusive uma legislação que contrariava os fundamentos do estado laico. Ou
seja, não governou para todos, como deveria ser o seu papel, mas apenas para os
seus seguidores.
Com
a derrubada do Presidente eleito, seus partidários reagem diariamente e tiveram
de enfrentar as forças de segurança, que também sofreram
baixas.
Da
mesma forma que acertou um acordo com a Fraternidade Muçulmana, o governo
estadunidense seguiu mantendo proximidade com a cúpula militar, que em todos
estes anos não dava um passo adiante sem consultar
Washington.
Por
estas e muitas outras, não se exclui a possibilidade de o movimento de derrubada
de Mursi tenha tido o respaldo inicial do governo Barack Obama, que agora tenta
demonstrar à opinião pública o descontentamento com os últimos acontecimentos
sangrentos que já provocaram cerca de mil mortos.
O
Egito retorna ao contexto anterior das mobilizações populares que antecederam o
fim do ditador Hosni Mubarak. Agora, embora sem Mubarak, os mesmos segmentos que
sustentavam o preferido dos EUA voltaram a ter o comando absoluto do país. Ou
seja, o próprio Mubarak poderia até ser anistiado já que tudo voltou a ser o que
era com algum teatro de ilusões.
A
cúpula militar da qual faz parte o general Abdel Fattah al-Sisi prefere não
correr riscos, porque se o anistiasse poderia despertar rancor de amplos setores
da sociedade que imaginavam se ver livre tanto de Mubarak como da própria cúpúla
militar. Mas como ele acabou de ser absolvido de uma das acusações relacionadas
com corrupção, a partir de agora tudo é possível.
As
perspectivas imediatas de uma saída para a crise a cada dia ficam mais
distantes. Pelo menos a curto prazo não se vislumbra uma luz no fim do túnel. Os
primeiros ocupantes da Praça Tahir que se voltaram contra Mursi saíram de cena,
porque como libertários não aceitam compactuar com o banho de
sangue.
Perda
de controle no Rio -
Já por estas bandas, como se previa, continuam as manifestações populares, não
tão intensas em termos quantitativos, mas também
expressivas. Assista a seguir:
Na
área de segurança, as novas revelações sobre o desaparecimento do pedreiro
Amarildo revelam total descontrole policial. Depois de a opinião pública ser
informada, com exclusividade pela TV Globo, o que é também passível de
interpretações das mais variadas, foi reconstituído o trajeto de uma viatura da
PM que conduziu o pedreiro desparecido até a Unidade de Polícia Pacificador
(UPP) da Rocinha.
A
viatura deu voltas e voltas pela cidade e no retorno a Rocinha, segundo
informação oficial da PM, os militares condutores do veículo se perderam. Seria
cômica se não fosse trágica toda a história da viatura.
O
Rio de Janeiro está desgovernado e as perspectivas de solução da crise também
estão cada vez mais distantes. Se por aqui existisse uma legislação prevendo a
possibilidade de uma consulta popular para decidir se determinado ocupante de
cargo, seja executivo ou parlamentar, continuaria, nesta altura poderia haver
uma saída. Os eleitores decidiriam se Sergio Cabral continuaria ou não.
Mário
Augusto Jakobskind* é correspondente no
Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da
Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o
Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de
América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE.
Enviado por Direto da Redação
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