E
o que significa “ataques limitados”
27/8/2013, [*] Tony
Cartalucci, The Land Destroier
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Mapa político da Síria mostrando os alvos que serão atacados pelos terroristas ocidentais (clique no mapa para visualizar melhor) |
Os
EUA acusaram o governo sírio de ter atrasado a chegada dos inspetores da ONU ao
local do alegado ataque com armas químicas em Damasco. Mas, agora, segundo a
Reuters, os EUA parecem estar-se preparando para atacar militarmente a Síria,
mesmo antes da conclusão das investigações que estão em andamento e antes de que
se conheçam provas que ou confirmem ou desmintam as alegações, até aqui sem
qualquer fundamento, dos norte-americanos.
O artigo da Reuters, “Ataque à Síria esperado para os próximos dias, o ocidente
informa à oposição: fontes”,diz que:
As
potências ocidentais alertaram a oposição síria para que se prepare para ataque
às forças do presidente Bashar al-Assad nos próximos dias, segundo fontes que
participaram de reuniões entre enviados do ocidente e a Coalizão Nacional Síria
em Istambul A
oposição foi informada em termos claros de que a ação para impedir que o regime
de Assad volte a usar armas químicas pode acontecer dentro de dias, e que a
oposição deve preparar-se também para conversas de paz em Genebra
– disse uma das fontes
que participaram da reunião na 2ª-feira.
Como
se vê facilmente, ataque desse tipo desconsidera completamente tanto a equipe de
inspetores da ONU quanto qualquer prova que venham a obter. A acusação que os
EUA fizeram ao governo sírio, de que estaria obstruindo uma investigação que já
estava em andamento, e o ataque iminente estão pondo fim, na prática, aos
esforços da ONU.
Se,
como supõem os EUA, obstruir alguma investigação da ONU implicasse culpa, a
verdade bem clara é que os EUA acabam de expor-se como principais suspeitos do
que, a cada minuto, mais parece provocação encenada para tentar salvar uma
guerra por procuração que os EUA e aliados já perderam absoluta e completamente.
O
que significa “ataques limitados”
Antes
que os EUA e seus aliados arrastem o mundo para o pântano de outra aventura
militar não provocada, que custará milhares, talvez milhões, de vidas, é
necessário compreender bem a estratégia mais ampla que se esconde por trás do
que os EUA estão chamando de “ataques limitados”.
Praticamente
toda a guerra por procuração do ocidente contra a Síria foi planejada em
documento da Brookings Institution
versus o Irã, em
documento de 2009, intitulado “Which Path to Persia?” [Qual o caminho
para a Pérsia?]. Aquele
documento diz:
(...)
será muito preferível se os EUA citarem
alguma provocação iraniana como justificativa para o ataque, antes de atacar.
Evidentemente, quanto mais terrível, mais mortal, menos provocada a ação
iraniana, melhor será para os EUA. Claro, será muito difícil para os EUA
empurrar o Irã para tal provocação, sem que o resto do mundo perceba o jogo; e
isso reduzirá a eficácia do truque. (Um método que terá alguma possibilidade de
sucesso é estimular clandestinamente esforços para mudança de regime, na
esperança de que Teerã retalie abertamente, ou semiabertamente, o que, poderá
ser apresentado como ato de agressão iraniana não provocado.) [Relatório Brookings Institution’s 2009 “Which Path to Persia?”, pp. 84-85, (em
inglês)].
Como
se vê, os ocidentais que desejavam naquele momento atacar o Irã (e que hoje
atacam a Síria) perceberam perfeitamente a dificuldade para encontrar
justificação plausível; e sabiam, como hoje sabem, em que não encontrarão apoio
global para um ataque que eles próprios têm tanta dificuldade para justificar, e
mesmo que consigam inventar um pretexto razoável.
Artigo
recentemente publicado em
Slate estima em 9% a
proporção de norte-americanos que aprovam o assalto contra a Síria – o que faz
dessa nova guerra a mais impopular de toda a história dos EUA.
Mas
ao longo do relatório, os estrategistas da Brookings sugerem vários métodos para
provocar o Irã, inclusive o projeto de financiar grupos da oposição para que
derrubem o governo; meios para paralisar e arruinar a economia nacional; e ajuda
financeira a organizações que o Departamento de Estado dos EUA defina como
organizações terroristas, para que promovam atentados mortais dentro do Irã.
Seymour Hersh |
Na Síria, já foram tentadas cada uma e todas essas
opções. E todas falharam, uma depois da outra. Já em 2007, revelou-se que os EUA
planejavam armar e financiar terroristas para derrubarem o governo sírio – como
revelou o jornalista Seymour Hersh, vencedor do Prêmio Pulitzer, em artigo
publicado na revista New Yorker,
“O redirecionamento: a nova política oficial beneficia os
inimigos dos EUA na guerra ao terrorismo?”.
A
partir de 2011, tornou-se cada vez mais claro que os ditos “combatentes da
liberdade” na Síria eram de fato terroristas saídos diretamente das fileiras da al-Qaeda, armados, pagos e apoiados de vários modos pela OTAN – exatamente o que
Hersh já expusera em sua matéria de 2007.
Apesar
desses declarados atos de guerra e ainda que se considerassem como opção ataques
unilaterais contra alvos iranianos ou, como agora, contra alvos sírios, os
“especialistas” da Brookings indicavam que continuava a haver forte
possibilidade de o Irã (e agora, a Síria) não se darem por suficientemente
provocados:
Não
se pode dar por garantido que o Irã ofereça resposta violenta em resposta a
campanha aérea norte-americana, mas nenhum presidente norte-americano deve
assumir ingenuamente que os iranianos não o farão. E
o relatório prossegue: Contudo, porque
muitos líderes iranianos gostariam de emergir dos combates na posição
estrategicamente mais valiosa possível, e porque provavelmente calcularão que se
apresentarem como vítimas é a melhor forma de alcançarem aquele objetivo, é
possível que não respondam com ataques de retaliação. [Relatório “Brookings
Institution’s 2009 “Which Path to Persia?”, p. 95, (ing.)].
Tanto
o atual governo da Turquia quanto seu parceiro regional, Israel, já atacaram
várias vezes a Síria; e em todas essas ocasiões, a Síria teve comportamento de
paciência e moderação infinitas.
Foi
quando afinal se entendeu que a expressão “ataques limitados” é forma
eufemística para dizer “provocações tentadas e mal-sucedidas” para iniciar
intencionalmente um conflito mais amplo.
O
relatório Brookings refere-se ao Irã, mas é claro que hoje, depois de o ocidente
já ter consumido grande parte de seus “trunfos” por procuração e de seus truques
de dissimulação e mentira, e se quiser derrubar o governo sírio, o ocidente já
se autocondenou a ter de agir sozinho. E é perfeitamente claro que terá de
fazê-lo por campanha militar que, fatalmente, terá de ser maior que os hoje
anunciados “ataques limitados”.
Além
disso, já sabendo que praticamente não há apoio popular algum para guerra
alguma, nem contra a Síria nem contra o Irã, os interesses especiais
disseminados no ocidente tentam arrastar o mundo para esse conflito letal,
falando, primeiro, de algum objetivo relativamente benigno que contariam
alcançar, mesmo sem qualquer apoio popular.
Os
interesses ocidentais em especial esperam que uma eventual resposta síria e a
morte de soldados norte-americanos ou israelenses – o afundamento talvez de um
navio norte-americano e, mesmo, a derrubada de vários aviões dos EUA –
conseguirão transformar a diminuta proporção de 9% dos que apoiam hoje a
consumação do crime premeditado contra a Síria, em estridente coro de vozes de
massas no ocidente, que logo começarão a exigir sangue e mais sangue. E, não
sendo possível gerar resposta síria violenta, o mesmo resultado pode ser obtido
com ataques encenados, apresentados sob falsa autoria [orig. false flag attacks] – como os EUA já
fizeram no incidente do Golfo de Tonkin, que deu início à Guerra do Vietnã.
Golfo de Tonkin no Vietnã |
Apagar
da discussão pública o risco ao qual estão sendo intencionalmente expostos
soldados norte-americanos e dos países aliados dos EUA é parte do plano para
iniciar uma guerra mais ampla que, sem isso, seria impossível. Assim –
servindo-se intensamente de uma mídia-empresa já completamente desfibrada,
arrendada, subserviente – os interesses ocidentais especiais esperam conseguir
mudar a tendência de populações já cansadas de guerra, inoculando-as, pode-se
dizer, com o vírus mortal da “mobilização para defender nossa bandeira”... da
qual aqueles mesmos interesses especiais dependem para dar nova energia à sua
fracassada aventura no Oriente Médio.
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Tony
Cartalucci
é pesquisador em geopolítica e escritor baseado em Bangkok, Tailândia. Seu
trabalho visa cobrir eventos de mundo de uma perspectiva do Sudeste Asiático,
bem como promover a auto-suficiência como uma das chaves para a verdadeira
liberdade. Website: The Land
Destroyer.
Castor, primeiramente parabéns pela página, eu a acompanho há anos. Se me permitir uma sugestão, por várias vezes eu tenho vontade de compartilhar conteúdo daqui com amigos que não partilham da mesma visão aberta de mundo, pessoal que costuma ler Globo, Folha, Veja mas que está aberto a novas perspectivas, e fico sem graça de mandar links daqui para eles por um simples motivo: aquele dizer sobre os "Milicanalhas" no título.
ResponderExcluirFica complicado de eu enviar sua página a amigos professores universitários ou mesmo a universitários (alunos) pois dá-lhes a impressão inicial, aos desavisados que não conhecem a seriedade do seu site, que se trata de uma página não-séria, muito revolucionária. Enfim, a impressão inicial não fica legal para os novos leitores. Teria como colocar tal dizer em outro lugar da página?
Espero não ter me intrometido demais. Abç.
Prezado Trava
ExcluirCompreendo seu sentimento, mas NÃO vou alterar o cabeçalho da página.
No Brasil temos pouquíssimos MILITARES e muitos MILICANALHAS.
Explico; a formação de oficiais das FFAA brasileiras pouco ou nada tem a ver com até mesmo as origens dos cadetes. Esses proto-oficiais são formados por "professores" obscurantistas e "induzidos" a acreditar que o golpe militar de 1964 que foi aplicado por assassinos e torturadores COVARDES foi "heroico" e "salvou o Brasil do comunismo" entre outras MENTIRAS e SANDICES.
Por essa razão logo que começamos construir a redecastorphoto, uma de nossas correspondentes sugeriu o apodo MILICANALHA para designar essa corja.
Recente vaia recebida na AMAN pelo Ministro da Defesa e o Vice-Presidente quando da entrega dos espadins demonstra bem a corja MILICANALHA que está sendo formada nos nossos colégios e escolas militares. Recebi intensa correspondência de MILICANALHAS da reserva e da ativa que, infelizmente, tem meu endereço de e-mail LOUVANDO o desrespeitoso e injustificável ato COLETIVO e COVARDE. São GOLPISTAS empedernidos e, portanto, CANALHAS da pior espécie.
Espero ter demonstrado meu ponto. Entrementes sugiro que você recorte esta resposta/explicação e a repasse, em rodapé (p.ex.) com sua indicação dos nossos blogs.
Grande abraço
Castor Filho
Pois é, Castor, ao invés de gastarmos nosso tempo para boicotar mais uma avanço bárbaro no Oriente, conformamo-nos em propagandear o jogo das guerras econômicas, sob o argumento de informação. Não seria mais producente produzir matérias de inteligências nativas para denunciar a farsa da ONU, ou exigir uma posição racional do Brasil, por exemplo, na área da produção, compra e exportação das armas letais?
ResponderExcluirClaro, Vera! É só produzir ou encontrar quem produza essas matérias "de inteligências nativas" que teremos o máximo prazer em postar nos blogs e distribuir na redecastorphoto. Enquanto isso vamos fazendo o que podemos... Estudamos GEOPOLÍTICA!
ExcluirAbração
Castor Filho