Plano
B dos EUA para o Egito: trazer de volta o Regime de
Mubarak
6/7/2013,
[*] Mahdi Darius Nazemroaya, Strategic Culture [excerto]
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Protestos dos apoiadores da Fraternidade Muçulmana e de Mohamed Mursi (ago/2013) |
Apesar
do que a imprensa-empresa ocidental diz, repete e “comenta”, a Fraternidade
Muçulmana jamais esteve em pleno comando do Egito ou do governo egípcio. Teve
sempre de dividir o poder com segmentos do velho regime e com “homens de
Washington e de Telavive”. Atores chaves do velho regime foram mantidos em seus
cargos, em diferentes setores do governo e corpos da administração. Até no
gabinete do presidente Mursi havia gente do velho regime. As discussões sobre a
lei da Xaria foram predominantemente manipuladas pelos inimigos da Fraternidade
Muçulmana, sobretudo para consumo fora do país, para países predominantemente
não muçulmanos e para mobilizar contra Mursi os cristãos egípcios e as correntes
socialistas locais.
Mohamed Mursi |
Quanto
aos problemas econômicos que o Egito enfrentava, há muito tempo são resultado
combinado de vários fatores: o legado do velho regime, a ganância das elites
egípcias e dos militares de mais alto escalão, a crise global e o capitalismo
predatório que EUA e União Europeia assestaram contra o Egito. Os que culparam
Mursi pelos problemas econômicos do Egito e pelo desemprego fizeram-no ou por
erro de análise ou por oportunismo e má fé. A incompetência de seu governo
evidentemente não ajudou a superar as dificuldades, mas com certeza não as
criou. Mursi tentava dirigir um navio que naufragava, depois de ter sido
devastado economicamente em 2011 por estados estrangeiros e por financistas,
agiotas, especuladores, investidores e empresas estrangeiros e
locais.
Houve
inegável esforço para sabotar o governo da Fraternidade Muçulmana – o que
evidentemente não explica nem justifica a incompetência e a corrupção dos
Irmãos. O esforço para adquirir respeitabilidade internacional mostrando-se em
eventos como a Clinton Global
Initiative, hóspede da Clinton
Foundation, só apressou seu declínio. A hesitação para restaurar laços
diplomáticos com o Irã; o antagonismo contra a Síria, o Hezbollah e seus aliados
palestinos só fizeram encurtar cada dia mais a lista de amigos e
apoiadores.
A
Fraternidade Muçulmana deixou-se usar, praticamente sem qualquer resistência,
por EUA, Israel, Arábia Saudita e Qatar, na operação para pacificar o Hamás, na
tentativa de separar os palestinos de Gaza e o Bloco da Resistência.
A
Fraternidade Muçulmana manteve o sítio contra Gaza e continuou a destruir os
túneis usados para abastecer os palestinos com alguns itens de primeira
necessidade. Talvez os Irmãos tivessem medo. Talvez tivessem pouco a dizer
nessas questões. Mas o fato é que os Irmãos mantiveram as condições pelas quais
os militares e os aparelhos de segurança e de inteligência do Egito puderam
continuar a colaborar com Israel. Durante o governo da Fraternidade Muçulmana,
grande número de palestinos desaparecia no Egito, para reaparecerem em prisões
israelenses. O governo de Mursi “esqueceu” a anistia que havia dado a apoiadores
da
Jamahiriya líbia que buscaram refúgio no
Egito.
Os
EUA e Israel sempre quiseram que o Egito se consumisse olhando sempre para
dentro, mantido em estado de patética paralisia. Washington sempre tentou manter
o Egito como estado dependente, que sem a ajuda dos EUA racharia aos pedaços,
política e economicamente. Por isso os EUA deixaram degenerar a situação no
Egito, como meio de neutralizar qualquer resistência, mantendo os egípcios
divididos e exauridos. Agora, porém, o golpe contra Mursi começará a assustar os
EUA, como uma assombração.
Praça Tahrir (Cairo - Egito) em janeiro de 2011 |
Washington
sentirá profundamente as repercussões do que aconteceu no Egito. A derrubada de
Mursi envia mensagem muito negativa a todos os aliados dos EUA. Todos, no mundo
árabe – corruptos e semicorruptos – estão hoje mais conscientes do que nunca de
que nenhuma aliança com Washington ou Telavive jamais significará proteção
eterna. Diferente disso começam a dar-se contar de que os que se saem melhor
hoje são os que se aliaram aos iranianos e aos russos.
Império
incapaz de garantir a segurança de seus sátrapas é império que, mais dia menos
dia, perderá muitos dos próprios clientes e aliados, que lhe dão as costas, ou o
traem. Assim como está fracassando o projeto de mudança de regime que os EUA
conceberam para a Síria, assim também o “turno” norte-americano no Oriente Médio
aproxima-se do epílogo.
Os
que apostaram no sucesso de Washington – os reis sauditas, a Fraternidade
Muçulmana, o Primeiro-Ministro turco Recep Erdogan – em breve descobrirão que
deixaram-se prender no lado perdedor da equação regional do Oriente
Médio...
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[*] Mahdi
Darius Nazemroay é cientista social, escritor premiado,
colunista e pesquisador. Suas obras têm sido publicadas
internacionalmente em uma ampla série de revistas, sítios e jornais. São
traduzidos em mais de vinte idiomas, incluindo alemão, árabe, italiano, russo,
turco, espanhol, português, persa chinês, coreano, polonês, armênio, holandês e
românico. Seus trabalhos em ciências geopolíticas e
estudos estratégicos têm sido usados por vários estabelecimentos de ensino e de
defesa. É convidado frequentemente por redes
internacionais de notícias como analista e especialista em geopolítica no
Oriente Médio.
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