10/3/2014, [*] Marco Aurélio Cabral Pinto
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Dogmas e Enigmas, Brasil
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu
Guerra Fria |
Um dos debates mais importantes do século XX se deu no
interior do Estado norte-americano quanto a estratégia geopolítica a ser
adotada no imediato pós-guerra. À época formuladores dividiam-se entre duas
propostas não necessariamente substitutas.
A primeira veio da NASA e compreendeu o que prevaleceu na
história como “estratégia de retaliação total”, centrada na distribuição de
ogivas nucleares em mísseis balísticos intercontinentais (Classes Titan e Atlas) e submarinos (Classe Polaris),
bem como bombas termonucleares apoiadas em aeronáutica supersônica. Claramente,
nesse contexto, na “missão a Lua” permitiu-se justificar perante a opinião
pública vultuosas inversões públicas em tecnologias com emprego apenas indireto
para aumento de bem estar.
A segunda proposta, aparentemente derrotada, previa emprego
de rede de satélites de baixa órbita com objetivo de monitoramento de ameaças e
identificação de alvos, tal como adotado a partir dos anos noventa pelos EUA.
Esta segunda proposta foi defendida por pesquisadores do RAND (instituto sem fins lucrativos criado em 1948 a partir de equipe da Douglas Aircraft), sendo reunidos desde
então no RAND cientistas e
engenheiros para assuntos de defesa.
A queda do muro de Berlim |
Desde o final dos anos setenta até a queda do muro de Berlim
(1989), o esforço militar empreendido por EUA e Rússia foi revisto por onda
financeira liberalizante que impôs progressivamente restrições para gastos
públicos. Com isso, acentuou-se necessidade de revisão na estratégia externa
norte-americana, adaptando-se a configuração até então inesperada – a condição
de ausência de desafiadores diretos ao projeto expansionista dos EUA.
Com o avanço das tecnologias de informação, a serviço da
montagem de um “cassino” internacional real
time on line nos anos 90, tornou possível ao complexo industrial-militar
atualizar estratégia proposta pelo RAND, potencializada com capacidade de
processamento e integração de informações colhidas através de diferentes
artefatos, incluindo-se satélites e telefones celulares.
Além do usual acesso discricionário a recursos públicos
subsidiados para pesquisa e desenvolvimento, a partir de 2000 o complexo
industrial-militar passou também a participar dos benefícios diretos da função
inteligência para o sucesso na concorrência internacional.
A partir dos documentos históricos secretos revelados pelo
espião duplo norte-americano E. Snowden, tornou-se possível aos demais Estados
Nacionais, incluindo-se potências ocidentais e asiáticas, perceberem
imbricações existentes entre o poder, o dinheiro e o novo imperialismo
norte-americano. Desta vez com pretensões a império global.
Edward Snowden |
No entanto, o sucesso no projeto de poder norte-americano
pressupõe consolidação de alianças mais ou menos estáveis com elites locais,
supostas de ocupar alto comando das maiores empresas em cada país. Bancos e
firmas industriais nacionais são esperadas de disputar acesso privilegiado a
dólares e tecnologias superiores, respectivamente.
Enquanto esse é o caso dentro das fronteiras ocidentais do
império, o mesmo não acontece na Ásia. Rússia e China, as quais dispõem de
recursos para se configurarem em ameaça, defendem territórios da invasão
norte-americana. Essa, por sua vez, tem sido executada em diversas frentes,
dissolvendo-se resistências para o desembarque da cultura consumista ocidental.
Atacam-se formas de organização política distintas da
“democracia-modelo” dos EUA, cuja aderência aos interesses do grande capital é
quase irrestrita. O resultado encontra-se na cooptação de países do leste
europeu à OTAN, bem como nas desordens sociais que depuseram líderes
autocráticos (nacionalistas) na primavera árabe.
Enquanto as fronteiras do império avançam em direção á Ásia,
as elites russas e chinesas parecem não compreender exatamente qual papel terão
as maiores corporações nacionais em jogo de xadrez em que pesam assimetrias de
informação importantes. Enquanto isso, as elites industriais ocidentais possuem
interesse no aumento das tensões militares como oportunidade para novo ciclo de
crescimento baseado em keynesianismo
bélico.
Naturalmente, as projeções de banqueiros para recuperação
mundial não levam em consideração as importantes relações circulares entre
crises econômicas e políticas propagadas assimetricamente pelo sistema
internacional. Insistem em narrativas comceteris
paribus sem conflitos ou rupturas, o que soa como patético em bases ex post.
Crise política e econômica ucraniana. Grívinia (moeda local) em queda livre |
Conclusivamente, a crise política que se anuncia na Ucrânia
deve desempenhar papel de acelerador das tensões internacionais, ao ponto de
ignição de gastos militares extraordinários, principalmente na Europa.
Não há necessidade de explicar o quanto uma ameaça militar
na Europa pode justificar mudança nas políticas até aqui favoráveis aos
interesses financeiros na região (metas fiscais). Neste contexto, dificilmente
prevalecerá contracionismo na Alemanha pós-Merkel ou integridade do arcabouço
supranacional da União Européia. Isso sem, necessariamente, mover os EUA na
direção de uma guerra real, tal como ocorrido durante o período da guerra fria.
Como todo processo de longo prazo, contudo, demora-se o
tempo a passar antes que hipóteses como esta possam ser testadas em bases ex post. É esperar e conferir.
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[*] Marco
Aurélio Cabral Pinto - Graduação em Engenharia Elétrica
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (1988), mestrado em
Administração de Empresas pela COPPEAD/UFRJ (1996) e doutorado em Economia pelo
IE/UFRJ (2005).. Atualmente engenheiro no Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social e professor adjunto do Departamento de Engenharia de
Produção da Universidade Federal Fluminense. Experiência em comércio exterior,
inovação e meio ambiente, Tenho contribuído como professor convidado pelo
jornalismo da Globonews, entre outros
veículos (Estado de São Paulo, Jornal Extra), desde setembro de 2008. Tenho
ainda atuado na elaboração de propostas para o desenvolvimento brasileiro como
professor convidado pela Federação Nacional dos Engenheiros - FNE desde 2006.
Sou atualmente membro do Conselho Consultivo da Confederação Nacional de
Trabalhadores Universitários (CNTU).
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