[*] Adriano Benayon — 09.03.2014
Guerra e depressão
1. O móvel da oligarquia financeira para desencadear guerras
em grande escala, bem como conflitos localizados, é ganhar mais poder, subordinando
países e regiões ao império e enfraquecendo os que poderiam conter essa
expansão.
2. Nas Iª e IIª Guerras Mundiais, respectivamente França versus Alemanha e Alemanha versus Rússia (União Soviética), as
potências angloamericanas só se engajaram, com intensidade, no final das mesmas
para ocupar espaços estando aqueles contendores desgastados.
3. As duas grandes conflagrações eclodiram após longos
períodos de depressão econômica e serviram como manobra de diversão em face das
consequências sociais e políticas da depressão.
4. No Século XXI, os conflitos armados grandemente
destrutivos estão tornando-se mais frequentes após o golpe preparatório: a
implosão das Torres Gêmeas, em setembro de 2001.
5. Os principais alvos têm sido países islâmicos, envolvendo
a geopolítica da energia. Desde 2001 o Afeganistão está sob agressão. Em 2003,
destruição e ocupação do Iraque. Ataques a Sudão, Somália e Iêmen. Em 2011 a brutal agressão e
intervenção da OTAN na Líbia. Durante todo o tempo, pressão e hostilização a
Síria e Irã.
6. Em 2013,
a agressão à Síria foi intensificada com a invasão por
mercenários e extremistas, grandemente armados, com participação das monarquias
petroleiras do Golfo Pérsico, lideradas pela Arábia Saudita, e colaboração da
Turquia e de outros membros da OTAN.
7. Mas, na Síria, o governo conseguiu resistir, com seus
recursos e disposição e com apoio militar e político da Rússia e da China,
inclusive no Conselho de Segurança da ONU.
Yulia Timoshenko e Vitali Klitschko, dois dos títeres do ocidente na Ucrânia |
Ucrânia
8. O êxito, até o momento, dessa resistência, levou a
potência hegemônica retornar a ataques mais incisivos contra a ex-superpotência,
que busca reconstruir-se. Daí, o recente golpe de Estado na Ucrânia.
9. Ademais, Putin fortaleceu os laços econômicos e políticos
da Rússia com a China e países da Ásia Central, frustrando a estratégia
angloamericana de manter divididas e vulneráveis as potências capazes de alguma
resistência a seu projeto de governo mundial absoluto.
10. Claro que os EUA nunca deixaram de reforçar o cerco à
Rússia, desde a desmontagem da União Soviética, instalando bases de mísseis em
ex-aliados de Moscou, com destaque para a Polônia. Teleguiaram a “revolução
laranja” na Ucrânia, em 2004, mais um marco no enfraquecimento desse país de
consideráveis dimensões e recursos naturais e população em grande parte russa.
11. Ao verem contida a intervenção na Síria — e presenciar o
Irã muito pouco abalado pelas sanções e incessantes hostilizações — os EUA
trataram de atingir o flanco da própria Rússia.
12. Instaram a União Europeia (UE), sua satélite, a fazer ingressar
nela a Ucrânia, visando pô-la na OTAN, colocando bases militares contra a
Rússia virtualmente dentro desta.
13. Entretanto, o presidente da Ucrânia, Yanukovich,
constitucionalmente eleito, não concordou em aderir à UE sem discutir as draconianas
condições impostas: adotar as medidas econômicas do figurino do FMI: cortar
pela metade o valor das pensões, suprimir benefícios sociais, demitir
funcionários, privatizar mais patrimônio público em favor de plutocratas, tudo
para pagar dívidas com bancos ocidentais.
14. Essas são as medidas às quais estão amarrados os pífios
empréstimos que UE e EUA acabam de conceder após o golpe, desencadeado sob
comando da Subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, e seu Embaixador
na Ucrânia.
15. Utilizaram-se de redes sociais e outros meios para
arrebanhar “forças políticas descontentes” e as levaram à Praça Maidan,
ignorando elas que suas lastimáveis condições de vida vão piorar muito após o
golpe.
16.
A polícia foi acusada
de autora dos disparos feitos por gangs
neonazistas e outras extremistas (as tais “forças políticas descontentes”),
como foi constatado pela chefe das relações exteriores da União Europeia e pelo
ministro do exterior da Estônia, conforme conversação
telefônica entre ambos, cuja autenticidade
foi confirmada pelo ministro.
17. Isso é evidentemente omitido pela grande mídia
(imprensa-empresa), que só publica o que interessa aos governos dos EUA,
aliados e satélites, todos subordinados à alta finança e ao big business.
18. Ninguém deveria desconhecer que a grande mídia
(imprensa-empresa) mente, 24 horas por dia, e ainda mais, desde a destruição,
por dentro, das Torres Gêmeas em New
York, golpe a partir do qual os EUA institucionalizaram mais instrumentos
totalitários de repressão.
19. Golpe engana muita gente, mesmo após ter sido desmascarada
inúmeras vezes, como quando se comprovou ter o Secretário de Estado de Bush,
Colin Powell, mentido descaradamente sobre a existência de armas de destruição
de massa no Iraque, negada pelo próprio observador das Nações Unidas.
20. É ao big business
que agrada o golpe na Ucrânia, após já vir lucrando, antes dele, em negócios
com os oligarcas corruptos atraídos para a órbita da oligarquia financeira,
principalmente britânica.
21. De fato, anunciam-se novos acordos com as petroleiras
angloamericanas (Chevron, Exxon, Repsol etc.) para extrair xisto, pelo processo
altamente poluente de fracking, bem
como a cessão de terras ao agronegócio norte-americano, Monsanto à frente, com
intenso uso dos letais transgênicos e agrotóxicos, nas grandes extensões
férteis da Ucrânia.
22. O destino dos ucranianos, se confirmado o ingresso na UE,
não diferirá do que assola a Grécia, Portugal, Espanha, etc. e se abaterá
também sobre os russos e outras nacionalidades que vivem em territórios cedidos
à Ucrânia por Khustchev.
23. Putin está agindo com extrema cautela, tendo-se limitado a
apoiar o parlamento da Crimeia em seu desejo de unir-se à Rússia, reforçando efetivos
militares na península, no Mar Negro e no Mediterrâneo.
24.
A China manifestou-se
solidária à Rússia, inclusive por estar investindo na Ucrânia, como faz em todo
lugar suscetível de exportar alimentos e outras matérias-primas.
25.
A renda por habitante
da Ucrânia equivale a 1/3 da russa, que não é alta, e a Rússia já acolheu três
milhões de ucranianos em seu território. O agravamento das condições sociais
levará a maior êxodo para a Europa Ocidental, que já tem enorme desemprego.
O Brasil está na fase dos quebra-quebras e arruaças... |
Brasil
26. O processo aqui em curso tem semelhanças com o da Ucrânia:
insatisfação com as condições de vida e com a corrupção; e a ignorância das
causas desses males.
27. Na nova ágora da internet e redes sociais, circulam
versões absurdas como a de que o governo petista tem por objetivo implantar o
comunismo.
28. Na realidade, esse governo, como seus predecessores,
depende do big business
transnacional, cujo domínio intensifica os problemas do País: concentração,
desnacionalização e desindustrialização da economia; dependência tecnológica.
29. Difundiu-se muito no Brasil vídeo em que uma jovem
ucraniana defende liberdade e democracia no errado contexto das massas iludidas
na Ucrânia pelos mobilizadores do golpe. Na realidade, uma peça produzida por
empresa de marketing político, sob os
auspícios da agência norte-americana NED
— National Endowment for Democracy — patrocinada pelo governo e o Partido
Republicano dos EUA.
30. Este e outros braços do império acionaram as ONGs a seu
serviço, a par dos nazistas, conforme a tradição da CIA, desde o final da 2ª
Guerra Mundial. O que se vê na Ucrânia são homicídios,
vandalismo e torturas, reiteradas agora com tiros sobre manifestantes
pró-Rússia.
31. O objetivo da oligarquia financeira angloamericana no
Brasil, até para prosseguir apropriando-se de seus recursos de toda ordem, é intensificar
a desnacionalização e demais instrumentos para enfraquecê-lo.
32. Os meios de controle da informação − inclusive espionagem
eletrônica, hacking − combinam-se com
a corrupção de todo o sistema institucional. A presidente é acuada para
aumentar o ritmo das concessões através, principalmente, de juros escorchantes (Taxa
SELIC) e remessa de lucros e dividendos para matrizes das empresas
internacionais.
33. Estão presentes as consequências das falhas estruturais da
economia brasileira, que venho, de há muito, denunciando, as quais se poderão
manifestar de forma aguda após julho, apesar de haver eleições em outubro.
34. A crise brasileira tem face interna − física e financeira −
como o serviço da dívida: R$ 900 bilhões para 2014; e face externa: déficit nas
transações correntes com o exterior acumulando US$ 188,1 bilhões em três anos
(US$ 81,4 bilhões só em 2013).
35. Além disso, seus efeitos econômicos e sociais podem ser
agravados pelas repercussões do colapso financeiro no Hemisfério Norte, próximo
de ressurgir.
[*]Adriano Benayon: Consultor em finanças e em biomassa. Doutor em Economia, pela
Universidade de Hamburgo, Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro - UFRJ. Diplomado no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco,
Itamaraty. Diplomata de carreira, postos na Holanda, Paraguai, Bulgária,
Alemanha, Estados Unidos e México. Delegado do Brasil em reuniões multilaterais
nas áreas econômica e tecnológica. Consultor Legislativo da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal na área de economia. Professor da Universidade de
Brasília (Empresas Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e
Desenvolvimento no Brasil). Autor de Globalização versus Desenvolvimento, 2ª
ed. Editora Escrituras, São Paulo.
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