16/3/2014, [*] Moon
of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Entreouvido
no frege do Fala-Fino na Vila Vudu: Moon of Alabama distribui praticamente a mesma importante notícia que não se lê em NENHUM
jornal brasileiro e que o Embaixador MK Bhadrakumar distribuiu (e já
traduzimos), há pouco. Mas Moon, menos interessado em promover a ação
diplomática, promove menos os embaixadores e o próprio governo Obama, que o
embaixador Bhadrakumar. E vai, mais diretamente, ao ponto. Ótimo Moon of
Alabama! Cheers!
Sergey Lavrov e John Kerry |
Houve hoje outro telefonema entre o Secretário de Estado
Kerry e o Ministro Lavrov de Relações Exteriores da Rússia. O telefonema
aconteceu depois de uma reunião estratégica sobre a Ucrânia na Casa Branca.
Nesse telefonema, Kerry aceitou as demandas russas de que a Ucrânia seja
convertida numa federação, na qual os estados federados tenham forte autonomia
em relação ao governo central, numa Ucrânia finlandizada.
Putin ofereceu essa rampa de saída da escalada, e Obama enveredou por ali.
Lavrov e Kerry concordam em trabalhar para uma reforma constitucional na
Ucrânia: ministério da Rússia.
(Reuters) – O ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergei Lavrov e o
secretário de Estado dos EUA John Kerry acertaram, nesse domingo, que buscarão
juntos uma solução para a Ucrânia, promovendo ali reformas constitucionais,
disse o ministério russo.
Não há ainda detalhes sobre o tipo de reformas necessária, exceto que
devem ser feitas “de forma aceitável para todos e levando em conta os interesses
de todas as regiões da Ucrânia”.
...
“Sergei Viktorovich Lavrov e John Kerry concordaram que continuarão a
trabalhar para encontrar uma resolução final sobre a Ucrânia mediante o rápido
lançamento de reformas constitucionais com o apoio da comunidade internacional”
disse o Ministério, em declaração.
A ideia de “reforma constitucional” e “os interesses de
todas as regiões” é dos russos, como
documentada neste “não-jornal
russo”.(ing.).
O não-jornal descreve o processo de como chegar a uma nova
Constituição ucraniana e demarca alguns parâmetros. O russo voltará a ser
língua co-oficial da Ucrânia; as regiões terão grande autonomia; não haverá
interferência em assuntos religiosos; e a Ucrânia permanecerá politicamente e
militarmente neutra. Será aceita qualquer decisão sobre autonomia que se decida
na Crimeia. O acordo será garantido por um “Grupo de Apoio à Ucrânia”,
constituído de EUA, União Europeia e Rússia, e será cimentado por uma Resolução
do Conselho de Segurança da ONU.
Parece que Kerry e Obama aceitaram todos esses parâmetros.
Agora, se tratará de vender essa solução como se fosse ideia deles, o que –
como o não-jornal o comprova suficientemente – é inconsistente com a realidade.
Aqui aparece Kerry repentinamente “exigindo da Rússia” que aceite as condições
que a Rússia propôs e que Kerry jamais antes havia mencionado:
O secretário de Estado John Kerry exigiu de Moscou que recolha às bases
suas tropas na Crimeia, retire os soldados da fronteira da Ucrânia, pare de
incitar o leste da Ucrânia e apoie as reformas políticas na Ucrânia que
protegerão os russos étnicos, os falantes de russo e outros na ex-República
Soviética com a qual a Rússia se diz preocupada.
Em telefonema ao Ministro de Relações Exteriores da Rússia, Lavrov, o segundo entre ambos depois do fracasso do encontro que tiveram na
6ª-feira (14/3/2014) [1] em Londres, Kerry
exigiu que a Rússia “apoie os esforços dos ucranianos de todo o espectro para
resolver a partilha de poder e a descentralização, mediante um processo de
reformas constitucionais amplo e inclusivo, que proteja os direitos das
minorias” – disse o Departamento de Estado.
Obama cedeu. Suas ameaças ocas não funcionaram e, agora,
Obama está, em vasta medida, aceitando as condições que os russos propuseram
para sair da crise.
O golpe que os EUA armaram para roubar a Ucrânia da Rússia
e para integrá-la à OTAN e à União Europeia parece ter fracassado. A Rússia
ficará com a Crimeia, agora com apoio de 93% da população ucraniana – o que
torna impossível realizar o projeto dos EUA de espantar os russos para longe de
Sebastopol e, portanto, também para longe do Oriente Médio.
A ameaça dos russos (que não veio a público) de
imediatamente invadir e anexar as províncias leste e sul da Ucrânia, empurrou
os EUA a aceitar as condições russas mencionadas acima. A única alternativa,
naquele caso, seria confronto militar que nem EUA nem os europeus querem arriscar.
Apesar da campanha anti-russos na imprensa-empresa nos EUA, a maioria dos
norte-americanos e dos europeus estão contra qualquer confrontação desse tipo.
Como se vê agora, os EUA jamais tiveram as cartas que precisariam ter para
vencer esse jogo.
Se tudo correr bem e uma nova Constituição ucraniana
satisfizer as condições que os russos impuseram e obtiveram, o “ocidente” no
futuro poderá ser autorizado a pagar mensalmente, à Gazprom, as contas que a
empresa continuará a enviar para o endereço de Kiev.
Demorará algum tempo para implementar tudo isso. Que
truques sujos os neoconservadores de Washington tentarão agora, para impedir
esse desfecho pacífico?
Nota dos tradutores
[1] Como se
lê em “EUA
e Rússia concordam em deixar rolar a bola na Ucrânia” − 16/3/2014, MK Bhadrakumar, Indian Punchline − redecastorphoto, essa reunião não fracassou.
Foi, de fato, muito bem sucedida e levou ao bom resultado que hoje se anuncia.
Quem precisa do jornalismo de imprensa-empresa?!
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[*] “Moon of Alabama” é
título popular de “Alabama Song” (também conhecida como“Whisky
Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na
peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com música de Kurt
Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A
Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece
cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a
ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês.
Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e
The Doors (1967). No Brasil, produzimos versão SENSACIONAL, na voz de Cida
Moreira, gravada em “Cida Moreira canta Brecht”, que incorporamos às nossas
traduções desse blogMoon of Alabama, à guisa de homenagem. Pode ser
ouvida a seguir:
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