segunda-feira, 17 de março de 2014

Ucrânia: EUA toma a rampa de saída e aceita as exigências russas

16/3/2014, [*] Moon of Alabama  
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Entreouvido no frege do Fala-Fino na Vila Vudu: Moon of Alabama distribui praticamente a mesma importante notícia que não se lê em NENHUM jornal brasileiro e que o Embaixador MK Bhadrakumar distribuiu (e já traduzimos), há pouco. Mas Moon, menos interessado em promover a ação diplomática, promove menos os embaixadores e o próprio governo Obama, que o embaixador Bhadrakumar. E vai, mais diretamente, ao ponto. Ótimo Moon of Alabama! Cheers!

Sergey Lavrov e John Kerry
Houve hoje outro telefonema entre o Secretário de Estado Kerry e o Ministro Lavrov de Relações Exteriores da Rússia. O telefonema aconteceu depois de uma reunião estratégica sobre a Ucrânia na Casa Branca. Nesse telefonema, Kerry aceitou as demandas russas de que a Ucrânia seja convertida numa federação, na qual os estados federados tenham forte autonomia em relação ao governo central, numa Ucrânia finlandizada. Putin ofereceu essa rampa de saída da escalada, e Obama enveredou por ali.


Lavrov e Kerry concordam em trabalhar para uma reforma constitucional na Ucrânia: ministério da Rússia.

(Reuters) – O ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergei Lavrov e o secretário de Estado dos EUA John Kerry acertaram, nesse domingo, que buscarão juntos uma solução para a Ucrânia, promovendo ali reformas constitucionais, disse o ministério russo.

Não há ainda detalhes sobre o tipo de reformas necessária, exceto que devem ser feitas “de forma aceitável para todos e levando em conta os interesses de todas as regiões da Ucrânia”.
...

“Sergei Viktorovich Lavrov e John Kerry concordaram que continuarão a trabalhar para encontrar uma resolução final sobre a Ucrânia mediante o rápido lançamento de reformas constitucionais com o apoio da comunidade internacional” disse o Ministério, em declaração.

A ideia de “reforma constitucional” e “os interesses de todas as regiões” é dos russos, como documentada neste não-jornal russo.(ing.).

O não-jornal descreve o processo de como chegar a uma nova Constituição ucraniana e demarca alguns parâmetros. O russo voltará a ser língua co-oficial da Ucrânia; as regiões terão grande autonomia; não haverá interferência em assuntos religiosos; e a Ucrânia permanecerá politicamente e militarmente neutra. Será aceita qualquer decisão sobre autonomia que se decida na Crimeia. O acordo será garantido por um “Grupo de Apoio à Ucrânia”, constituído de EUA, União Europeia e Rússia, e será cimentado por uma Resolução do Conselho de Segurança da ONU.

Soldados ucranianos mantém “check-point”, na aldeia de Strilkove, Ucrânia, neste domingo, 16/3/2014. A Rússia elevou as apostas de sábado, quando as suas forças, apoiadas por helicópteros e veículos blindados, assumiram o controle da aldeia ucraniana de Strilkove e de uma planta de distribuição de gás natural nas proximidades. Foi o primeiro movimento militar russo na Ucrânia para além da península da Criméia. As forças russas retornaram à aldeia, mas mantiveram o controle da planta de gás. A relação entre as forças russas e ucranianas foi amigável (Foto: Sergei Grits)
Parece que Kerry e Obama aceitaram todos esses parâmetros. Agora, se tratará de vender essa solução como se fosse ideia deles, o que – como o não-jornal o comprova suficientemente – é inconsistente com a realidade.

Aqui aparece Kerry repentinamente “exigindo da Rússia” que aceite as condições que a Rússia propôs e que Kerry jamais antes havia mencionado:

O secretário de Estado John Kerry exigiu de Moscou que recolha às bases suas tropas na Crimeia, retire os soldados da fronteira da Ucrânia, pare de incitar o leste da Ucrânia e apoie as reformas políticas na Ucrânia que protegerão os russos étnicos, os falantes de russo e outros na ex-República Soviética com a qual a Rússia se diz preocupada.

Em telefonema ao Ministro de Relações Exteriores da Rússia,  Lavrov, o segundo entre ambos depois do fracasso do encontro que tiveram na 6ª-feira (14/3/2014) [1] em Londres, Kerry exigiu que a Rússia “apoie os esforços dos ucranianos de todo o espectro para resolver a partilha de poder e a descentralização, mediante um processo de reformas constitucionais amplo e inclusivo, que proteja os direitos das minorias” – disse o Departamento de Estado.

Obama cedeu. Suas ameaças ocas não funcionaram e, agora, Obama está, em vasta medida, aceitando as condições que os russos propuseram para sair da crise.

O golpe que os EUA armaram para roubar a Ucrânia da Rússia e para integrá-la à OTAN e à União Europeia parece ter fracassado. A Rússia ficará com a Crimeia, agora com apoio de 93% da população ucraniana – o que torna impossível realizar o projeto dos EUA de espantar os russos para longe de Sebastopol e, portanto, também para longe do Oriente Médio. 

A ameaça dos russos (que não veio a público) de imediatamente invadir e anexar as províncias leste e sul da Ucrânia, empurrou os EUA a aceitar as condições russas mencionadas acima. A única alternativa, naquele caso, seria confronto militar que nem EUA nem os europeus querem arriscar. Apesar da campanha anti-russos na imprensa-empresa nos EUA, a maioria dos norte-americanos e dos europeus estão contra qualquer confrontação desse tipo. Como se vê agora, os EUA jamais tiveram as cartas que precisariam ter para vencer esse jogo.

Se tudo correr bem e uma nova Constituição ucraniana satisfizer as condições que os russos impuseram e obtiveram, o “ocidente” no futuro poderá ser autorizado a pagar mensalmente, à Gazprom, as contas que a empresa continuará a enviar para o endereço de Kiev.

Demorará algum tempo para implementar tudo isso. Que truques sujos os neoconservadores de Washington tentarão agora, para impedir esse desfecho pacífico?  
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Nota dos tradutores
[1] Como se lê em EUA e Rússia concordam em deixar rolar a bola na Ucrânia − 16/3/2014, MK Bhadrakumar, Indian Punchline − redecastorphoto, essa reunião não fracassou. Foi, de fato, muito bem sucedida e levou ao bom resultado que hoje se anuncia. Quem precisa do jornalismo de imprensa-empresa?!
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[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como“Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). No Brasil, produzimos versão SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em “Cida Moreira canta Brecht”, que incorporamos às nossas traduções desse blogMoon of Alabama, à guisa de homenagem. Pode ser ouvida a seguir:


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